Explosão cósmica: a terceira porta se abre

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Explosão cósmica: a terceira porta se abre

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Explosão cósmica: a terceira porta se abre
Nosso “aposentado” Luis Nakajo, editor anterior desta sessão, dá aos leitores do Potterish o gostinho de ter um texto seu novamente aqui na área de colunas, com um brilhante ensaio sobre teorias astronômicas e suas respectivas referências.

Partindo do polêmico Departamento de Mistérios, Luis adentra uma sala em particular: a do curioso planetário, a partir da qual desenvolve um resumo esclarecedor da astronomia, paralelo à recordação de uma seqüência memorável de personagens fictícios e reais e ainda de algumas obras que fizeram ou fazem parte de nossa vida.

Por Luis Nakajo,
8 de janeiro de 2009.


De certa forma, Luna também rebaixou Plutão. À categoria de pó, ao explodi-lo na cara de um Comensal da Morte.

No intrigante Departamento dos Mistérios, são pesquisadas várias das questões que inquietam a humanidade desde sua gênese. Por uma das portas, temos acesso ao tanque dos cérebros e ao mistério da memória; por outra, metafórica, que não podemos abrir, ao amor, esta força estranha. Nestas duas portas nós já batemos em dois ensaios anteriores: respectivamente Esquecimento em Harry Potter e Eros em Harry Potter.

Agora forçaremos uma terceira porta, que J K Rowling abre bem de leve em seus livros –e, quando tivermos um tempinho, sondaremos as outras que estão lá para ser abertas. Vários filósofos, cientistas, cineastas e escritores nos ajudarão a destrancá-las. Ao Big Bang, pois.

BOIANDO NO AIRE
Ao fugir dos Comensais da Morte, Luna, Gina e Rony acabam presos numa estranha sala, em que planetas flutuam em meio à escuridão. Em parte do tempo, eles também “flutuam no escuro” [in the dark]. Longe dos planetários normais, trata-se, claramente, de uma reconstituição em maior escala do universo. Nela, os Inomináveis devem estudar alguns dos fenômenos que o homem aborda desde que se tomou conta deste céu que nos domina. Emmanuel Kant já dizia que há apenas duas coisas que intrigam: o firmamento sobre nós e a lei moral dentro de nós.
As constelações que ainda hoje figuram na Astronomia como ensinada em Hogwarts e nas escolas de ensino básico trouxa são herança dos gregos; mas as civilizações chinesa, egípcia e suméria detinham alto grau de acuidade, às vezes superior à grega. Prediziam eclipses e bizarrices outras. O céu, além disso, sempre conteve alta carga simbólica –desagrado dos deuses, alegria de Tupã, morte (inverno) e ressurreição (primavera) de Odin. Pouco a pouco, com a emergência da ordem racional culminante no Iluminismo, sua investigação ganhou status de ciência separada de sistemas que implicassem crenças místicas ou leituras do destino, como as de centauros e Sibilas Trelawneys que nos perseguem (mais sobre este assunto quando tratarmos do Hall das Profecias, numa coluna futura).

AS BOLOTAS DE FOGO
A ordem do cosmos, questão espinhosa, foi proposta por Ptolomeu como geocêntrica. A Terra estaria no centro de um sistema, com gigantescas bolotas de matéria rodando ao seu redor. O Sol, aquela bolota em chamas, também rodopiava servilmente em torno de nós, para dar espetáculos luminosos no pôr-do-sol e no amanhecer. Bullshit, retrucou Copérnico, usando uma expressão bem ao gosto do Tio Válter. Galileu Galilei quase foi para a fogueira ao apoiar a tese heliocêntrica de Copérnico. De acordo com este, a Terra seria apenas mais uma das bolotas de rocha e gás rebolando pelo escuro do Sistema Solar.

Inicialmente, acreditava-se que a órbita destes planetas em torno do Sol era circular. Mas observações por telescópio e cálculos de duração da órbita dos planetas e a influência da gravidade entre um corpo e outro (o que fazem os estudantes de Hogwarts nas provas suarentas dos NOMs) definiram posteriormente que a órbita estava mais para elipse (um círculo com dois centros) do que qualquer outra coisa. Curiosamente, Rutherford propôs um sistema como este para o átomo: elétrons como planetas, que giram em torno de um núcleo solar de nêutrons e prótons.
A ordem de planetas hoje definida pela comunidade científica é a de Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno –sendo Plutão, em 2006, rebaixado à categoria de planetóide. No centro, está o Sol. De certa forma, Luna também rebaixou Plutão. À “categoria” de pó, ao explodi-lo na cara de um Comensal da Morte.

O BIG BANG
Mas de onde veio tudo isto? De onde veio a matéria que constitui planetas, cometas, satélites, nuvens de proteínas, pulsares, quasares, supernovas, estas estrelas, bolotas de gás (como diria o Pumba de ‘O Rei Leão’) que estão a anos-luz de nós terráqueos (que somos, se pararmos para pensar, feitos de poeira cósmica)?

A Teoria do Big Bang é amplamente conhecida e divulgada como a mais consistente (se bem que com vários pontos cegos) para explicar a origem de tudo o que existe. O que ela implica, sem muitas complicações, é que tudo veio do nada, em algum momento x. Lembrem-se de MacGonnagal respondendo à maçaneta da porta de Corvinal: quando os objetos desaparecem no mundo mágico, eles simplesmente vão para o “nada” [nothingness].

Este “nada” virou matéria em etapas. Antes de tudo, existia esta densa quantidade de energia acumulada em uma esfera de 1 cm de diâmetro (imagine apenas, ciência também envolve alta carga de crença, ao contrário do que dizem). A bolota de energia sofreu brusca queda de temperatura e deu origem a uma densa nuvem de partículas –uma nuvem tão densa que eu não saberia qualificá-la. Tão densa era, que explodiu e pôs em marcha os astros através do cosmos. Hoje, nossas galáxias, seguindo este impulso inicial, se expandem “lentamente”, em termos astronômicos, se separando umas das outras a alguns milhões de quilômetros por hora.

Cuidado, MacGonnagal… não apenas os objetos mágicos vão para o nada. Alguns teóricos afirmam que, chegado um ponto, o universo se contrairá e voltará ao nada –e depois um novo Big Bang vai recriar tudo de novo, mais ou menos como uma fênix ou uma cabeça humana que oscila entre o bebê e o adulto… (mais sobre o assunto tempo também em uma coluna a ser concluída).

A energia primordial que se condensa em matéria, alguns chamam de Deus, um Deus cósmico em que Voltaire acreditava e de que falava no século 18, com seu Micrômegas. Este conceito de Deus como lei universal fez parte da concepção divina de muitos cientistas e livre-pensadores (inclusive é o único conceito de Deus aceitável para o venerável Richard Dawkins, autor de “Deus, um delírio”).

DARK MATTER
O curioso de tudo isto é que a grande parte do que “existe” no Universo é matéria escura, dark matter, partículas que não podem ser vistas, nem no espectro de luz que enxergamos nem nas eletromagnéticas. A matéria escura envolve corpos celestes, provavelmente preenche os buracos negros e –eu não duvidaria- está insinuada em cada átomo –que é um enorme campo magnético de elétrons que navegam em espaço vazio.

O vácuo (em que não há nada, nem matéria escura) e a matéria escura são quase tudo o que “existe” (mais de 90%, dizem alguns pesquisadores). É muito tênue, portanto, o espaço entre o que entendemos por “nada” e “alguma coisa”.

Partículas são sintetizadas em laboratório (lembra de “Anjos e demônios”?), mas envolvendo altas doses de energia, a qual não é constituída de átomos, mas de subpartículas atômicas (elétrons, como na energia elétrica) e até mesmo de subsubpartículas (fótons, constituintes da luz, que são sintetizadas, caso você lembre das aulas de química, quando um elétron “pula” de uma camada de energia para outra).

A trilogia Fronteiras do Universo aborda toda esta piração de dark matter através do famoso Pó, que não é branco. Mas é uma viagem muito louca (a trilogia, quero dizer).

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Um dos mais de 60 livros do astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, ‘O livro de ouro do Universo’, é especialmente bom para leigos como nós. Editado pela Ediouro, a obra tem muitas fotografias e referências populares, como canções de Gilberto Gil, Lulu Santos e samba-enredos que abordam os mistérios do Universo. Mourão manteve colunas de divulgação científica em muitos jornais e, desconfio (memória de velho é assim mesmo), na revista Superinteressante, por um longo tempo. Além do Big Bang em detalhes, ele fala de alguns mistérios astronômicos, como o do meteoro de Tunguska, que, em 1908, queimou uma área enorme de florestas na Sibéria e excitou os ufólogos de plantão –simplesmente porque não deixou cratera.

Luis Nakajo gosta de brincar com palavras, quando elas deveriam ser um trabalho “sério”. Mas fuck it (por ele mesmo).
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