Oneshot
Desejo. Era isso que fazia com que te aproximasses de mim quando eu estava sozinha na Sala Comum. A tua voz rouca profunda quando te sentavas ao meu lado às refeições a murmurar ao meu ouvido, a gargalhada glacial quando estávamos todos juntos, o latido suave que fazia com que o mundo – o meu pequeno mundo - parasse naquele instante, só para poder saboreá-la com todo o tempo e toda a minuciosidade. Quando chegavas perto de mim, eu pensava que não podia ser. Eu não queria que fosse.
Havia as noites de aula de Astrologia e tu insistias em fazer o trabalho comigo. No cimo da torre víamos a Lua a brilhar – somente para nós – e tu agarravas-me a mão, beijavas-me o cabelo e sussurravas que eu era a mais linda, que era única. E eu acreditava. Era por essa tua lata que eu ficava ansiosa pelas noites, confusa quando havia raparigas por toda a escola a falar do teu desempenho e enojada quando James me pegava na mão.
E por mais que eu não quisesse, era o teu desejo e o meu que nos mantinha sãos. E divertidos. Fazias-me esquecer o mundo lá fora – e passávamos a ser somente o meu pequeno mundo. Nunca passaste dos olhares, das provações, dos beijinhos no cabelo e das palavras suadas. Nunca deste o passo que eu precisava – e eu apenas podia ansiar pelas noites.
- Estás ai, Lily? – perguntas-te quando entraste numa sala escura e vazia, num corredor pouco movimentado, a meio da noite, onde eu esperava por ti.
- Estou aqui, Sirius.
Avançaste para mim, quase silencioso na escuridão, onde mesmo assim era possível ver o teu sorriso brilhante e radiante, desejoso. E a minha pele tornava-se quente, quase inflamável.
Agarraste-me na cintura e eu encostei a minha cabeça no teu peito. Apertaste-me entre os teus braços e pude sentir que o teu coração batia rápido, desenfreado, como o meu. E eles batiam em uníssono, enquanto a tua voz sussurrava num gemido:
- Isto é tão errado.
- Porquê? – perguntei. Eu sabia que era errado. Mas naquele momento – no nosso pequeno mundo - era tão certo, tão perfeito, tão bom.
- Porque és a namorada do meu melhor amigo. – murmuraste, dolorosamente. Amavas-me, mas amavas mais James.
Tentei olhar-te nos olhos. Nessa noite, eram dourados, tão intensos quanto a tua essência. O teu aroma era canela e tabaco.
- Se for só esta noite? Se cometermos apenas um erro? Só hoje. – desafiei-te, implorando. Tu fitaste-me com os teus enormes olhos abertos, mas hesitante. Então, eu cheguei-me junto a ti e beijei-te os lábios suavemente. Passei a minha língua sobre os teus lábios e insisti até que deixaste que os nossos lábios e as nossas línguas se fundissem, numa perfeita harmonia. A minha mão foi ao encontro dos teus cabelos, enquanto a tua guardava-me junto ao teu peito, tão apertada que não sabia se o calor vinha de estarmos tão juntos ou do beijo intenso que trocávamos.
Eu não me sentia assim quando beijava James.
Pressionaste os teus lábios contra os meus três vezes até que te afastaste. Eu quis agarrar-te, mas seguraste-me os ombros, fitando-me.
- Já cometemos o nosso erro, Lily. Nada mais. – murmuraste, contra tua própria vontade. Sangravas tanto como eu. Experimentaste o desejado e não querias parar. E eu também não.
- Por favor, Sirius… - gemi. Os meus olhos deviam estar arregalados e naquele verde liquido. Os meus caracóis ruivos estavam suados devido á temperatura perigosa que o meu corpo atingira.
Passaste a tua mão na minha cara, afagaste-me as faces e o nariz e pressionas-te as pálpebras dos olhos quando estes começaram a derramar lágrimas. Enxaguaste-as com o teu dedo e depois passaste-o sobre os meus lábios ressequidos. As minhas lágrimas eram salgadas. Tristes. Implorantes por ti.
- Não chores, minha doce Lily. Um dia, estaremos juntos, sem restrições.
- Não há restrições agora. – disse, enquanto a figura de James assolava-me a mente.
- Amo-te, Lilian Evans.
Tentaste-me enganar com o tempo, tentei permanecer naquele sonho proibido por tempo demais, magoando as pessoas erradas. Mas tudo chegara ao fim – tu ditavas o final. Nada poderia ser mais intenso do que tu. E essas noites de Lua brilhante e de palavras sussurradas no meu ouvido ficaram embelezadas e guardadas pelas caixinhas de lembranças na minha mente. Um desejo frustrado. Um amor cego. Falso mas eterno.
