Sempre vai haver cosplay

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Sheila Vieira

Sempre vai haver cosplay

Post by Sheila Vieira »

Em meio à tristeza/euforia pela chegada do último filme, pensamos em mil maneiras de não-deixar-o-fandom-morrer. Pois bem, nossa colunista e editora Bruna Moreno fala hoje sobre um dos jeitos mais divertidos de deixar a magia viva: cosplay!

Para nosso divertimento, ela conta a história de cinco cosplayers que conheceu no último evento potteriano que compareceu. Tem gente de várias idades e estilos de caracterização. Confira as histórias na coluna desta semana e, se fizer cosplay, conte sua história!

 



por Bruna Moreno




O primeiro evento de Harry Potter em que fui aconteceu, com muita falta de sorte, no lançamento do último livro. O acidente (porque a presença fã-clube que montou todo o evento foi uma surpresa) me foi muito feliz: brinquei, respondi perguntas (que revelaram um lugar sombrio da minha memória que, embora não saiba precisar quais são as relíquias da morte [admito], afirma com uma certeza irrefutável que Hermione Granger nasceu em 19 de setembro de 1979) e, em um dado jogo, ganhei uma varinha ― de plástico, lógico, bem pouco parecida com aquelas lindas de madeira que se pode comprar n’O Mundo Mágico de Harry Potter por alguns muitos dólares.

Então vocês unem o título ao meu relato e concluem: assim nasceu o primeiro cosplay da Bruna! Bom, leitores, sinto informar que não ―eu nunca fiz um cosplay. Quero dizer, nos moldes do que se entende por cosplay: o ato de vestir-se e por vezes também interpretar o personagem de algum fandom. Eu já a levei para outros (seguintes) eventos potterianos e já me fiz muito de bruxa com ela, mas cosplay-cosplay mesmo não posso afirmar que já tenha feito ― afinal, comparar-me com tantos outros fãs nesse sentido chega a ser até mesmo vergonhoso.

Vocês sabem do que eu estou falando. Se não, agora ficam sabendo: conto a vocês os perfis de 5 cosplayers, legítimos e comprometidos, que conheci no último evento em que fui (o lançamento do DVD e do blu-ray de Relíquias parte I).

Harry tatuado: “Ser ele por um dia é... indescritível”

O organizador do evento, Tales, infelizmente estava loiro no dia, exatamente como veio ao mundo ― é que ele me contou que já chegou a tingir o cabelo de preto só para viver a emoção “indescritível” de ser “Harry por um dia”. Ele não estava de Draco, ressaltou.

Não sei realmente se Tato, como é chamado (e daí veio a brincadeira do “Harry tatuado” ― só para as mentes mais brilhantes!), é tatuado (há!), mas asseguro que seu estudante da Grifinória é um tanto quanto inusitado com seus dois alargadores nas orelhas. Mas não o imaginem como um garoto revoltado ― pelo contrário, Tato fala baixo e pouco. Ou talvez fosse a fome, que ele segurou até as 16h, horário em que finalmente conseguiu almoçar... E quem aí pensou que organizar evento é coisa fácil?

Coisa de criança: “Eu tenho (risos) vinte e... três (risos) anos...”

A estudante da Sonserina parecia carrancuda e brava sentada a um canto do evento. Quando a chamei para conversar, eis que, para minha surpresa, veio o sorriso, adorável e cativante. Débora Maria, profissional de comércio exterior, riu-se ainda mais ao responder sua idade: vinte (pausa) e três (risos) anos. Quase de vergonha.

Pior, então, foi quando perguntei o motivo de sua vontade: “É aquela coisa”, me disse, “Seus amigos fazem, você quer fazer também... bem coisa de criança, né?”. Débora sente na pele aquilo que, me arrisco a dizer, se expande a todos os fãs de Harry Potter, eternamente estigmatizado como literatura infanto-juvenil: a provocação (no sentido de “gozação”) por um adulto gostar de uma coisa de “criança”. Quantos de nós já não ouvimos expressões equivalentes de “você é grandinho demais para isso”?

Eu considero Débora uma heroína na luta contra tamanha injustiça. Ela tem, sim, vinte e três anos e ela faz, sim, cosplay: e o de estudante de Sonserina é somente o primeiro de muitos, ela garante. “Quero fazer de padawan [Star Wars] e de hobbit [O Senhor dos Anéis]. É o mesmo estilão!”, ela brinca, sempre.

Desde sempre: “Eu saía correndo pela casa com as roupas da minha mãe”

Não precisava supor que ela estava de estudante de Grifinória: não, senhor, bati o olho e vi que era Hermione Granger. Daniele Pinto, estudante de Estatística, alcançou a vontade de todo cosplayer, que é parecer-se naturalmente com o personagem. Não, ela não é nenhuma Emma Watson ― talvez seja por isso mesmo que ela se pareça tanto.

Ela justificou sua prática de hoje com as lembranças da infância, contando que uma de suas grandes alegrias era sair pela casa vestindo as roupas da mãe. O faz-de-conta certamente é (ao menos na minha concepção de colunista e ficwriter) uma das melhores brincadeiras do mundo... será que as crianças da internet de hoje ainda farão cosplays no futuro?

Profissão cosplayer: “Eu sou meio que, ham, obcecada. Tenho mais de 40 cosplays”

Seu Harry tinha peruca e lentes de contato verdes (eu jurei que eram seus olhos!). Sem dúvida era muito bom, mas eu jamais poderia imaginar que Jéssica Moreira, mais conhecida como Pandy, era campeã de vários concursos, nacionais e internacionais, e já fora dona do título de melhor cosplayer do mundo em 2008. Pois é, eu estava falando com uma celebridade!

Acreditem em mim, era impossível supor que aquela garota tímida e de fala baixa vive viajando pelo Brasil para participar de eventos e apresentações. Embora Pandy defina seu hobby, que concilia a faculdade de TI, como obsessão, eu não consigo enxergar como outra coisa além de paixão. “Você tem que ter amor pelo personagem, admirar alguma qualidade dele, se identificar realmente”, ela me conta, quando pergunto como é feita sua seleção de fantasias. “Eu já fiz personagem que não parecido fisicamente comigo, e foi um desafio. O melhor é quando o resultado final fica parecido; não aceito qualquer personagem”.

Pandy investe bastante dinheiro e tempo em suas fantasias, mais do que, acredito, a maioria das pessoas. Mas o resultado é compensador. Mal posso esperar para ver o cosplay de Snape dela!

Dumbledore instantâneo: “Eu fui montado aqui (risos)”

Não contei a vocês, mas no fim das contas me convidaram para ser jurada do concurso cosplay deste tal evento. Orgulho-me de dizer que meu voto conseguiu o primeiro lugar: Gabriel Rocha de Souza, estudante de Letras, encarnou Albus Dumbledore, um cosplay que eu nunca tinha visto antes. Mais espantada ainda fiquei ao descobrir que sua intenção ao ir ao evento não era se fantasiar. “Peguei um casaco no carro, usei um spray de cabelo que meu amigo comprou, e o cosplay nasceu”, me contou, admitindo a improvisação do seu diretor de Hogwarts megaoriginal.

Seu ato segue uma filosofia clara: “fantasia é legal”, diz. E não precisa ser mais que isso ― a vontade nasceu, um amigo deu a ideia, por que não fazer cosplay? Quando há amor pelo personagem, não são precisos grandes investimentos; um cosplayer apaixonado pode ganhar mais prêmios que uma fantasia importada do Japão.

Moral das histórias

A cada um deles eu perguntei o que achavam sobre o fim de “Harry Potter”, e qual seria o futuro de seus cosplays agora. Eles estão felizes.

Sim! Felizes, é claro, porque fazer cosplay é dar continuidade ao personagem e mantê-lo vivo, sustentar um amor infindável. “Vai acabar a série, mas nunca o gosto por ela”, me disse Gabriel, “e por isso sempre vai haver cosplay”.

Bastidores: os cosplays que pararam o evento

A sala encheu de “óóóóóóóuns” quando Gabriela, de seis anos, surgiu segurando, de um lado, a mãe da mãe e, do outro, a mão do irmão, talvez de três ou quatro anos. A Hermioninha e o Harrizinho roubaram os flashes de todos e, por pouco, quase também levam os prêmios dos vencedores.

Não resisti e conversei com a mãe, Andréia, que me contou que as roupas surgiram da festa de aniversário de cinco anos da própria Gabriela, cujo tema, obviamente, fora a história do nosso querido bruxo. “Então quer dizer que você gosta de Harry Potter?!”, eu perguntei à menininha, mal me contendo em mim, atônita, animada, oh my God eles amam Harry Potter! ―mas ela balançou a cabeça negativamente. “Agora ela gosta mais ou menos, não é, Gabriela?”, a mãe respondeu para nós duas.

Tudo bem, pelo menos agora nós rimos.

 

Bruna Moreno poderia nos contar o personagem que ela gostaria de vestir...
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