Harry Potter e o Segredo de Corvinal (Atualizado - 23/03/11)

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Belzinha
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Harry Potter e o Segredo de Corvinal (Atualizado - 23/03/11)

Post by Belzinha »

Aviso:
Esta é uma continuação de Harry Potter e o Segredo de Sonserina (http://forum.potterish.com/viewtopic.php?t=18251). Seria interessante ler primeiro a fic anterior, por razões óbvias de continuidade. Outra coisa a mencionar, é que vários dos personagens criados nesta e na outra fic, são criação conjunta com a Sally Owens (Harry Potter e o Retorno das Trevashttp://forum.potterish.com/viewtopic.php?t=26744).


Ver, ainda, "O Paciente Inglês", da Regina McGonagall:
http://forum.potterish.com/viewtopic.php?t=26259

COM COMUNIDADE NO ORKUT:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=14959861

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1. A Família da Noiva

Mais nervosa do que nunca, Ana olhava para sua família, conversando e brincando entre si. Os tios, Antônio e Bianca, que a criaram, estavam conversando com o genro, Marcos. Sua prima, Patrícia, estava ajudando-a com o almoço, e os "sobrinhos" (Ana os considerava assim porque realmente tinha os primos como seus irmãos), estavam assistindo TV.

Todos estavam esperando para conhecer o noivo de Ana. E, se em uma situação normal isso já é de deixar qualquer mulher com os nervos à flor da pele, imagine se o noivo for...

Carlinhos Weasley!

O que aquele encontro iria ocasionar?

A campainha tocou. Ana apressou-se a abrir a porta, o coração batendo rápido. Graças a Deus, Carlinhos tinha se lembrado de entrar "do jeito normal" no apartamento dela, e não simplesmente aparatando nele, como estava acostumado.

Mas, ao abrir a porta, não foi o noivo que viu. Fernando, outro de seus primos, sorriu para ela. Depois, espiando por sobre os ombros dela, exclamou:

- Alguém sai pela janela, que eu vou entrar!

Ana revirou os olhos. Típico. Nando, como o chamavam, sempre fazia piada do diminuto tamanho de seu apartamento. Relevando mais uma vez o comportamento do primo, ela o abraçou e se afastou para que ele entrasse.

- Ainda bem que conseguiu vir, Nando. - Ana disse. - Como está indo a turnê?

Nando era vocalista de uma banda de música.

- Muito bem. Estamos assinando cada vez mais contratos! - ele exclamou, entusiasmado.

- E... - Patrícia começou, com um sorrisinho e olhando para o marido, que tinha se aproximado deles. - Já achou o amor da sua vida entre as suas fãs?

O sorriso de Nando desapareceu:

- O que...?

Os três se olharam e cantaram alguns versos daquela velha canção:

- "Há um alguém-ém.... Na multidão-ão..."

- Quem...? - Nando começou a perguntar, suspirando para conter a zanga.

- Chuca. - Ana respondeu. Chuca era o baterista avoado da banda de Nando, e o melhor amigo dele também. O nome verdadeiro dele era Asdrúbal, e quase ninguém sabia disso. Chuca preferia que continuasse assim, é claro. - Ele não fez por mal, você sabe.

Chuca contara que Nando estava encantado por uma fã que sempre aparecia em seus shows, mas até agora não descobrira quem era. A garota era um mistério, e ele não conseguia parar de pensar nela.

- Tio... - Mel, a filha de dez anos de Patrícia e de Marcos, interrompeu a resposta que Nando iria dar. - Já pensou naquilo que eu te falei? Em mudar o nome da sua banda para "As Esquisitonas"?

- Docinho... - Nando disse pacientemente. - Somos uma banda só de homens. Como é que poderíamos ter um nome desses?

- A do filme também era, mas não foi problema...

Ana gelou. Claro, estava consciente que aquele encontro não iria passar sem que Mel e seu irmão de nove anos, Felipe, se dessem conta de quem era Carlinhos. Mas o comentário da sobrinha reavivou em sua memória o fato de que as crianças eram tão ou mais fanáticas que ela por Harry Potter.

Teria que conversar com elas antes que...

- Ana, como é o sobrenome desse seu noivo?

Ela suspendeu a respiração e olhou furtivamente a sobrinha, agora entretida em uma aposta com Nando: que poderia atravessar o apartamento da tia em apenas dez ou quinze passos.

- Weasley...

Mel parou de súbito com o nome. Ana viu a sobrinha balançar a cabeça, como que dizendo a si mesma: "Bobagem. Coincidência", e continuou a andar.

- Você disse que a família dele era grande. - Patrícia perguntou enquanto temperava a salada, alheia ao desconforto da prima. - Quantos irmãos ele tem?

- Seis... - a resposta saiu quase em um gemido. Olhou para a sobrinha, que agora tinha parado, e se voltara para as duas mulheres arregalando os olhinhos amendoados.

- Nossa! Família grande, igual a nossa. E, como ele é?

O golpe final, Ana pensou. Suspirando, começou a responder:

- Ruivo e...

- Ô, tia?!? - Mel chamou, as mãos na cintura, a voz indignada. - Não leva a mal não, mas... Esse seu noivo realmente existe?

Se não fosse complicar ainda mais a sua situação, Ana teria rido. A sobrinha reagira exatamente como tinha previsto.

- Mel! – Patrícia exclamara, censurando a filha. Era evidente que não estava entendendo porque a menina estava agindo assim.

“Muito bem...”, pensou Ana, “É hora de agir. E rápido”. Teria que se arriscar a “deixar o posto” antes que Carlinhos chegasse, mas...

Unindo as mãos e fazendo uma expressão de quem tinha grandes novidades, ela olhou para Mel e Felipe, dizendo, com um sorriso:

- Crianças! Tenho uma surpresa para vocês! Venham comigo até a área de serviço.

- Quanto mistério... – brincou Patrícia.

- Coisa de fã. – Ana respondeu.

- Então deve estar relacionado ao tal Harry Potter! – implicou Marcos.

Ana forçou um sorriso, agradecendo aos céus pelos pais das crianças serem alheios à série. Sempre fora Ana quem assistia aos filmes com os garotos, que lia os livros tão avidamente quanto eles.

Com um levantar de ombros, começou a caminhar em direção à lavanderia. Mas a tia a chamou:

- E se ele chegar? – perguntou, evidentemente sem saber como agir com o noivo estrangeiro da sobrinha.

- Não se preocupe, tia. Charlie fala português e, qualquer coisa, Marcos e Patrícia se viram no inglês, não é mesmo? – ela a tranqüilizou.

Ana gostaria que o problema fosse só esse...

- Humpf! – resmungou o tio – O mínimo que se esperaria ao querer casar com uma brasileira é que soubesse falar português!

- Tio... – agora era Ana que estava preocupada. – Prometa-me que vai tratar bem o Charlie. – acrescentou suavemente: - Ele é o homem que eu amo.

O tio amoleceu por alguns segundos. Dificilmente se negava a fazer algo que deixasse a sua “menorzinha” feliz. Ele e a esposa tinham criado a sobrinha desde que ela era bebê, quando o irmão e a cunhada morreram tragicamente em um acidente de avião. Ao menos, era assim que ele e o resto do mundo trouxa achavam os pais de Ana tinham morrido.

Voltando ao seu costumeiro estado de rabugice, retrucou:

- E desde quando eu sou grosseiro?

- Desde que alguém “ouse” roubar uma de suas meninas. – devolveu tia Bianca. – Você sempre fez isso com todos os namorados de nossas filhas. É de dar medo ao mais determinado dos homens!

- Bobagem! Eu te assustei, Marcos? – ele voltou-se para o genro, a voz lembrando mais do que nunca o lado “tenente reformado do Exército” de tio Antônio.

- Er... B-bem... Hum... N-não exatamente... – Marcos começou a gaguejar, sem fitar o sogro.

Ana revirou os olhos. Tio Antônio AINDA dava medo em Marcos. Nele, e nos outros genros também.

- Tia... - Ana lançou uma súplica subentendida à única capaz de controlar o tio.

- Pode deixar, querida. Eu “amanso” a fera. – ela a tranqüilizou.

Mais aliviada, ela fez um sinal para as crianças segui-la até a lavanderia.

Mel e Felipe lançaram olhares questionadores um ao outro, mas seguiram a tia. Assim que Ana se viu segura com eles no apertado aposento, abaixou-se até ficar na altura deles e disse:

- Pessoalzinho – abriu um sorriso nervoso, tentando impor segurança na voz. – O que diriam se eu contasse que descobri que o Harry Potter existe? Ou melhor: que tudo o que está nos livros é verdade?

Os dois se olharam, entediados. A tia só podia estar querendo pregar uma peça neles.

- Diríamos que, ou que está louca, ou acha que somos idiotas. – respondeu Mel.

Felipe balançou a cabeça, apoiando a resposta da irmã:

- Tia, somos crianças, não retardados.

Ana suspirou, exasperada. Por um momento, esquecera-se que aqueles dois tinham genes em comum com ela. Pelo jeito, teria que fazer uma demonstração prática.

- Bem... – começou enquanto abria a porta do armário suspenso que havia na lavanderia e tirava sua varinha de lá. – Sabem o que é isso?

- Claro! – exclamou Felipe, os olhos brilhando. – Você comprou pela Internet?

- Não! – Ana franziu o cenho. – Foi em uma loja...

- Então a Warner vai cair em cima deste pessoal. – disse Mel. – É violação dos direitos deles sobre os modelos das varinhas.

- Sim... – Ana se deu conta do que estava falando e, sacudindo a cabeça, emendou: - Quer dizer, não! Mel, andou lendo meus velhos livros de Direito de novo?

- Desta vez não. – a menina sorriu, brejeira. Mel lia tudo o que encontrava pela frente, especialmente quando estava entediada.

- Está no rodapé da página da Warner, tia. – Felipe explicou.

- Ah, sei... – ela resolveu dar fim ao assunto: - Não. Não é uma varinha da Warner. É uma varinha de verdade. Cedro, vinte e seis centímetros, corda de coração de dragão. – sorriu, orgulhosa: - A minha varinha.

Mel franziu o cenho e pôs a mão na cintura, daquele seu jeito que indicava que estava perdendo a paciência. Ela abriu a boca para falar algo, mas Ana foi mais rápida e, apontando a varinha para uma minúscula aranha na parede, disse:

- “Engorgio”!

A aranha triplicou de tamanho, bem diante dos olhos das crianças, que emitiram um grito assustado.

Em poucos segundos, os outros estavam dentro da lavanderia, querendo saber o que tinha provocado tanto rebuliço.

- O quê? Onde? Ah! – Marcos exclamara. – Que aranhão! – e já levantava o pé para esmagar o aracnídeo, que escapou bem a tempo.

Após algum tempo de caça ao “monstro”, o pobre inseto foi abatido. Naqueles segundos, os sobrinhos ficaram alheios ao “espetáculo”, olhando para a tia, boquiabertos e arregalados.

- Nossa, você viu o tamanho? – Patrícia dizia enquanto eles iam saindo.

- Não me admira que tenham gritado! – concordou Marcos.

- Ana, detetize este apartamento antes de pô-lo à venda... – ordenou Bianca, completando com ar de desaprovação, enquanto olhava a varinha: - E pare de brincar de fazer mágica, você já é bem grandinha! – torceu o nariz: - Até parece a avoada da Agatha! – e saiu também.

Ana reprimiu uma gargalhada: “Brincar de fazer magia? Se ela soubesse...”.

Tão logo os adultos saíram, Mel soltou:

- Tia... – a menina parecia sem ar. – Você... É uma bruxa!

- É isso que estou tentando dizer... – Ana sorriu fracamente.

- U-A-U!!! – Felipe parecia ter se recuperado mais depressa que a irmã. – E sempre foi? – disparou sem rodeios, lembrando muito um certo ruivo que Ana conhecia, e que em breve seria seu cunhado.

- Não, Lipe. – ela mordeu o lábio, sem saber por onde começar. – Esta é uma longa história e nós não temos tempo. Mas eu queria a ajuda de vocês para deixar isso só entre nós, por enquanto, tá?

- Por quê? – Mel erguera uma sobrancelha, ainda assombrada. A garota era bem mais cética que o irmão e estava encontrando dificuldades em assimilar tudo.

- Quero que a família conheça o Charlie primeiro, que tenham um tempo com ele para perceberem a pessoa maravilhosa que ele é antes de saberem. Entenderam?

- Charlie? Peraí... – os olhos de Felipe se acenderam ainda mais.

- Sim, Charles Weasley. Charlie. Na versão dos livros no Brasil, Carlinhos. – Ana sorriu para o garoto ao pronunciar o nome.

- Uau! “O Charlie”? Quer dizer... Carlinhos, o irmão do Rony?

- Ai, garoto! – Mel revirou os olhos, finalmente se recuperando do choque. – Ela deu nome, sobrenome e até os apelidos em duas línguas, o que você quer mais?

- É sim, Lipe. – Ana respondeu compreensiva com o encantamento do sobrinho. – É o irmão do Rony, o que estuda dragões.

- Nossa! – o menino começou a andar de um lado para o outro, empolgado. – Nossa! Nossa! NOSSA!

- Tia... – Mel estava com mil “como”, “onde” e “por quês” naquela cabecinha castanho-clara (com algumas mechas douradas).

Mas a campainha tocou.

- É ele! – Ana abriu um sorriso de alegria e apreensão ao mesmo tempo.

Ela saiu correndo, sendo seguida pelo eufórico Lipe. Mel ficou paralisada por alguns segundos. As coisas estavam indo rápido! Acordou em seguida, tratando de correr também para a sala.

Tio Antônio tinha aberto a porta e agora estava medindo Carlinhos de cima a baixo, a expressão desafiadora. Então, finalmente exclamou:

- Meu Deus, rapaz! Sua mãe colocou fermento na sua mamadeira ao invés de leite?

Não havia um pingo de humor na voz do tio quando ele disse isso. Apenas fazia a constatação do tamanho descomunal do ruivo, fazendo pouco caso disso: estava disposto a dificultar a vida dele.

Afinal... Era a “caçula” dele que aquele gringo estava querendo levar!

- Desculpe... – Carlinhos disse em português, confuso, o sotaque em evidência. – Acho que não entendi...

Ana correu em socorro do noivo. Pôs-se na frente da porta, afastando delicadamente o tio:

- Foi uma piada, amor. – ela disse enquanto o beijava rapidamente e, sorrindo de forma calorosa, entrelaçou sua mão na dele.

Os olhos de Carlinhos brilharam assim que viu a noiva, e lhe retribuiu o sorriso enquanto ela o puxava para dentro e fechava a porta. Ele tinha um buquê de flores silvestres nas mãos, as flores contrastando a sua delicadeza com a visão daquele homem grande e forte.

- Carlinhos... – Ana falou tentando parecer calma. – Gostaria de apresentar a minha família: - e foi apresentando um a um, enquanto eles trocavam cumprimentos - Este é meu tio Antônio Anhangüera... e sua esposa, tia Bianca... Minha prima Patrícia... E o marido dela, Marcos Warmlling... Meu primo Fernando... E estes – disse olhando para os sobrinhos – São Mel e Felipe, filhos de Patrícia e Marcos.

Carlinhos fitou as crianças (que estavam boquiabertas), sorrindo amigavelmente para elas:

- Olá!

Os dois apenas conseguiram exibir um sorriso maravilhado e continuaram admirando-o silenciosamente. Carlinhos ficou preocupado, achando que talvez tivesse assuntado as crianças com o seu tamanho. Mas Ana sussurrou em seu ouvido: “Eles sabem”, fazendo-o entender a atitude dos sobrinhos dela.

- Ah! – Carlinhos balançou a cabeça, lembrando-se de algo: - Isto é para a senhora: - e estendeu, sem jeito, o buquê de flores para Bianca.

A mulher enrubesceu e sorriu, agraciada com a gentileza.

- Pronto! Ganhou a sogra, amigão! – brincou Nando.

Bianca lançou um olhar “mãe-repreendendo-o-filho” para Nando e depois agradeceu a Carlinhos, toda sorrisos, ignorando o marido bufante ao seu lado.

Um silêncio constrangedor se seguiu. Então, milagrosamente, Mel e Felipe saíram de seu elevado torpor, pondo-se a falar sem parar:

- Você pode falar em inglês com a gente – Felipe se adiantou, falando naquela língua.

- É, nós crescemos em Nova Iorque. – Mel completou o irmão. – Mamãe e papai também falam.

- Não tão bem quanto nós, mas eles se viram. – Felipe continuou.

Eles puxaram Carlinhos para um dos sofás e, dali por diante, monopolizaram a atenção do ruivo até que o almoço fosse servido. Ana olhava apreensiva para o grupo, temendo que eles deixassem alguma coisa escapar, mas “seus” meninos estavam se saindo muito bem.

- Ana... – Patrícia falou perto de seu ouvido, entusiasmada. – Que galante! Praticamente um cavaleiro inglês em uma armadura!

- Com direito a dragões e tudo... – Ana completou.

Patrícia riu, achando que a prima estava brincando, e interpretando o comentário de outra forma:

- O quê? Sua futura sogra é tão ruim assim?

- A senhora Weasley? É claro que não! – Ana afirmou convicta: - Ela é um amor de pessoa!

Assim que se sentarem à mesa, os adultos acharam que era hora de saber mais sobre o homem com quem Ana se casaria, e as perguntas começaram:

- Então, rapaz... – tio Antônio, naturalmente, foi o primeiro a “atacar”. – O que você faz, exatamente?

- Eu... – ele se interrompeu ao sentir a mão de Ana apertando seu joelho por debaixo da mesa. – Eu estudo animais selvagens.

- Ah... Um naturalista – o tio forçou um sorriso. – Veio estudar nossa fauna... Gostou dos segredos que descobriu? Quando vai vendê-los para uma indústria européia?

- Tio! – Ana o censurou, chocada, sendo acompanhada pelas outras mulheres.

- Tudo bem... – Carlinhos apressou-se a apaziguar as coisas. – Seu tio é um homem empenhado nos interesses nacionais. Isso é louvável. – voltando-se para Antônio, explicou: - Os animais que estudo só existem em abundância na Europa. Na realidade, só há uma espécie fora dela, no Peru.

- É mesmo? Achei que os europeus já tinham extinto seus animais selvagens...

- Tio! – Ana se exasperou mais uma vez.

- Mas será possível que não se pode ter uma conversa civilizada? – Antônio comentou, fingindo a maior inocência.

- Continue com esta “civilidade” toda e você vai dormir no sofá hoje. – Bianca disse baixinho ao marido, mas Ana conseguiu ouvir.

Aquilo pareceu ser suficiente para controlar o ex-militar. Mel veio ao socorro da tia, quebrando o silêncio constrangedor:

- Está enganado, Vô. Inclusive, a Rainha Victória, em seu tempo, decretou uma lei de proteção aos flamingos. Eu li isto em um livro.

Carlinhos sorriu para a menina, agradecido pela intervenção. Ele tinha certeza que poderia dar conta do difícil tio de Ana, mas a verdade é que estava nervoso. Aquela era a família de Ana. A família da mulher que ele amava e com quem queria se casar. Ele TINHA que fazer tudo dar certo.

- E o quê você não leu, meu bem? – o avô se derreteu. Em seguida, voltou à inquisição, embora mais “brando” depois da advertência da esposa: - Mas que animais você estuda, afinal?

Ana prendeu a respiração. Não tinha como ele responder àquela pergunta sem mentir. No entanto, Carlinhos a surpreendeu:

- Grandes, com caldas, escamas, dentes enormes e garras afiadas. – sorriu como se estivesse querendo ser divertido.

- Répteis? – Marcos franziu o cenho. – Não sabia que existiam répteis de grande porte na Europa. Que interessante! Bem, mas minha área é a engenharia, o que eu entendo disso não é?

Carlinhos percebeu que iria se dar bem com Marcos. Ele parecia ser um bom sujeito. E acabara de salva-lo. Ia suspirar aliviado quando percebeu que Ana ainda não estava tranqüila. Ela olhava discretamente o tio, sabendo que ele ainda não tinha se dado por satisfeito. Realmente, Antônio iria fazer outra pergunta, mas Felipe desviou sua atenção:

- Vô, passa a travessa da salada?

Patrícia levantou a cabeça, intrigada. Seu filho pedindo mais do que ele chamava de “comida de vaca”?

- Você vai trabalhar com Carlinhos, então, querida? – Bianca perguntou.

- Não... Eu vou trabalhar mais ou menos no que eu trabalho agora...

- Mais ou menos? – tio Antônio ficou alerta no mesmo instante. – Desde quando os ingleses põem estrangeiros no serviço de inteligência?

- Não é exatamente no serviço de inteligência... – ela procurou as palavras. – Eu vou... Reforçar a segurança. O Ministro achou que alguém com as minhas qualidades seria útil no... Setor.

Ana sentiu que o tio iria fazer mais perguntas específicas, mas desta vez foi Nando quem salvou o dia:

- Ministro? Desde quando você tem intimidade com o Tony Blair?

- Não é esse Ministro... – Ana sorriu, nervosa.

- Mesmo? Existem outros ministros?

- Claro, né, tio? – Mel interferiu. – É por isso que é chamado de PRIMEIRO Ministro! Hããããããã!

Nando fez uma careta para a sobrinha:

- Você, sempre me lembrando tão “jeitosamente” da minha ignorância, não é, docinho?

A resposta de Mel foi abrir um largo sorriso e beijar a bochecha do tio.

- Bem, na verdade nem mesmo tenho muita intimidade com esse ministro. Foi um amigo nosso e da família de Carlinhos, Kingsley Shacklebolt, que falou de mim para ele e o convenceu que alguém com os meus conhecimentos seria valioso.

Mel e Felipe se olharam, surpresos, pois, é claro, tinham reconhecido o nome. Em seguida fitaram a tia, como que perguntando: “Auror? Você vai ser Auror”? E Ana fez um sinal discreto de afirmação, o que provocou sorrisos maravilhados nas crianças. Deviam estar pensando: “Nossa tia vai ser Auror! Auror de verdade!”. Ana sabia que eles estavam loucos para lhe fazerem várias perguntas. Agora mais do que nunca.

- Com os seus conhecimentos? – o tio apertou os olhos. – O que isso quer dizer?

Ana entendeu imediatamente as dúvidas do tio. Conhecia-o desde que ela era bebê, e sabia o que aquele tom significava.

- Não se preocupe, tio. – respondeu séria, e um tanto magoada. – Nada que implique em revelar coisas que o Brasil não queira que sejam reveladas. Eu não faria isso.

A expressão de Antônio se suavizou no mesmo instante. Ele pegou a mão da sobrinha por sobre a mesa, evidentemente se sentindo culpado, e tentando consertar a situação que tinha criado:

- Eu sei querida. Não tenho dúvidas quanto a você. Só... Bem, eu acho que já estou reclamando antecipadamente por você ir morar ainda mais longe de nós. Já foi bastante ruim quando você e o Nando vieram para Brasília.

- Tio... – Ana sorriu, enternecida. – A família toda está espalhada pelo país! Apreendemos com você a lidar com despedidas e a amar lugares diferentes cada vez que você era transferido de base.

- Isso não quer dizer que fique mais fácil quando um de vocês sai de casa.

- Querido... – Bianca também se enterneceu com a rara demonstração de afeto do marido. – Eles cresceram. Têm vida própria, agora. Não pode esperar que todos se mudem de mala e cuia para nossa casa em Santa Catarina!

- Por que não?!? – Antônio exclamou, fazendo todos rirem.

O clima se tornou bem mais alegre depois disso. Ana garantiu aos tios que viria com freqüência para o Brasil e não deixaria de escrever. Quando alguém mencionou que hoje também havia a Internet, ela permaneceu em silêncio. Não havia como ela usar coisas como telefones e computadores no Mundo Mágico. Já seria bem difícil ter que explicar para eles como funcionavam as corujas. Depois de passar pela difícil experiência de dizer-lhes que era uma bruxa, é claro.

Após da sobremesa, Marcos sugeriu:

- Vai ter um jogo entre o meu time e o da cidade. Que tal irmos assistir?

- Para quê? – Nando zombou. – Para vê-lo perder? Há quanto tempo que seu time não vence?

Marcos bateu no peito, e fez uma expressão altruísta:

- O clube de futebol de um homem é sagrado, mesmo que não vença!

Antônio aproveitou a ocasião para “alfinetar” um pouquinho a sua vítima. Já estava mais amigável com Carlinhos, mas isso não queria dizer que o ruivo o tinha conquistado:

- A propósito: a Copa desse ano já é nossa, rapaz!

- O quê? – Carlinhos não entendeu. Ele estaria falando da Copa Mundial de Quadribol?

- Carlinhos não se interessa por futebol, tio. – Ana se apressou a explicar.

- Ah... O homem perfeito! – Patrícia disse, com uma expressão de cômico desalento.

Marcos a olhou torcendo o nariz:

- Eu não reclamo das suas novelas!

- Mas alguém com um físico desses deve praticar algum esporte, não é mesmo? – o tio insistira. – Ele não pode ter desenvolvido estes músculos estudando répteis!

- Sim... – Ana estava buscando novamente uma forma de falar sem ter que mentir. – Mas ele pratica outro esporte... – ela engoliu em seco - Outro que também é muito popular do lugar que ele veio.

Realmente, no mundo bruxo, o quadribol era muito popular.

- Hum... – tio Antônio respondeu desgostoso. – Um inglês do rúgbi! Mas uma razão para você assistir esse jogo conosco, rapaz! Assim você se familiariza com o esporte criado por seus compatriotas! – acrescentou com uma risadinha: - É claro que isso não vai alterar o fato que vai ser BRASIL que irá vencer a Copa, se acostume com isso! – Voltando-se para o genro: - E isso serve para você também, alemão.

- Mas eu sou brasileiro! – Marcos protestou. – Meus avós eram alemães, mas eu nasci no Brasil!

- Sei, sei... – Antônio respondeu, sem dar muita importância para o genro. Voltou a atenção para Carlinhos novamente: – E então? Vamos?

- Sim... – o ruivo olhou para Ana: - O que acha?

Tia Bianca respondeu por ela:

- Deixe eles irem, querida. Assim eles aproveitam para se conhecer melhor e nós aproveitamos para botar em dia a conversa!

Ana olhou para a tia, assustada. Deixar Carlinhos sozinho? Ainda mais com o tio?

- Não acho que seria uma boa idéia. – respondeu meio que sem pensar. – Na realidade, seria um desastre!

- Não exagere, Ana! – gracejou Fernando. – Tudo bem que o time do Marcos é um desastre mesmo, mas... O máximo que pode acontecer é seu noivo achar o futebol uma droga, tendo em vista o desempenho do time... He, he!

Ela estava terrificada. Sabia que a intenção do tio era exatamente a de conversar com Carlinhos sem ela por perto – o que não seria uma boa idéia, mesmo que o noivo fosse um trouxa. E não havia jeito de impor a sua presença, pois, uma vez com um propósito na cabeça, o tio dificilmente se deixava desviar dele.

- Eu vou também! – Mel se adiantou.

- Muito bem! – Patrícia estreitou os olhos. – O que está acontecendo aqui, afinal? Primeiro, o Lipe pedindo mais SALADA para o papai? E agora, você quer assistir a um jogo de futebol?

“Valeu pela tentativa, Mel”, pensou Ana.

- Lamento, meu bem. Só homens. – Antônio sorriu para a menina.

Mel fez biquinho com os lábios, franziu o cenho e estreitou os olhos:

- Isso é um tratamento machista e altamente discriminatório! Só porque sou mulher não quer dizer que não possa assistir a um jogo de futebol com os homens da minha família.

- É claro que não, querida, mas... – o avô tentou contornar a situação.

- Vovô, quer que eu cresça traumatizada e com um complexo de inferioridade?

- Céus! Eu devo ter atirado pedra na cruz! – exclamou Antônio. – O que você andou lendo ultimamente? – suspirou, impaciente e derrotado: - Está bem! Venha!

- E eu também? – Felipe perguntou.

- Claro... Não quero ser acusado de causar um complexo de inferioridade em você também!

“Corrigindo”, pensou Ana. “Ninguém consegue dobrar o tio Antônio, exceto a Mel”.

Ela olhou preocupada para o noivo, que tocou de leve o seu braço e sorriu, como que dizendo que tudo iria ficar bem. Meia hora mais tarde, eles já estavam prontos para sair. Ana beijou carinhosamente Carlinhos, murmurando um “tome cuidado”.

- Não se preocupe, tia. – Felipe disse. Mel e ele tinham ficado um pouco para trás para não serem ouvidos pelos outros. – Nós vamos ficar de olho nele.

- Obrigada, meus amores. – Ana agradeceu.

Assim que a porta foi fechada, ela se voltou para as outras mulheres, que estavam sentadas na sala, nem um pouco tranqüila e muito menos com vontade de “por a conversa em dia”. Aquilo não era, definitivamente, hora para conversas femininas.


***


Três horas e meia! Três horas e meia e eles ainda não tinham voltado!

Um jogo de futebol durava apenas noventa minutos, mais o intervalo de quinze minutos. Como levava vinte para se chegar até o campo, eles deveriam estar de volta em exatas duas horas e vinte e cinco minutos!

Alguma coisa tinha acontecido, ela sentia! Merlim! Tremia só de pensar no que poderia ter saído errado.

O barulho de vozes animadas vindo do corredor foi ouvido. Alguns segundos depois, as crianças abriram a porta do apartamento, e entraram, sendo seguidas pelos adultos.

“Finalmente!”, pensou Ana.

Mel se adiantou, sussurrando para ela:

- Não se preocupe, tia. Eu o impedi de fazer um comentário sobre como o jogo seria mais interessante se os jogadores estivessem voando...

Ana gelou com o comentário. Pelo visto, os próximos dias não seriam fáceis se o tio resolvesse repetir a dose.

No entanto, eis que ela viu... Tio Antônio e Carlinhos... Rindo? Juntos? Um com o outro? Amigavelmente?

- Ana! – o tio exclamara. – Sabia que o pai dele também gosta de abrir as coisas para ver como funcionam?

Ela abriu a boca, surpresa. Sim, é claro que sabia que o senhor Weasley gostava de saber como os artefatos trouxas funcionavam. Metade do mundo sabia disso, aliás. O que ela não imaginava, era que isso fosse ajudar no relacionamento entre o noivo e o tio, este último também fascinado com o funcionamento de todo o tipo de aparelhos. Ele tinha um depósito nos fundos da casa, onde passava horas se divertindo desmontando rádios e televisores que ninguém mais queria.

- E tem mais! – o tio exclamara, empolgado. – O pai dele tem um Ford Anglia turquesa... Funcionando! Isto não é incrível? Acho que não vejo um assim desde a minha juventude! Quanto mais em condições de andar!

- E voar... – Felipe completou, as palavras saindo sem querer.

- O quê? – o avô perguntou.

- Ah, ele quis dizer que... – Mel buscou consertar a frase do irmão. – Que o carro está em tão bom estado que seria capaz de... “voar”, pela estrada.

- É, é! – Lipe se apressou em confirmar. – Carlinhos nos disse isso, é. Bom estado. Ótimo estado.

- Fascinante! Incrível! – o tio concordou. – Um Ford Anglia andando! Vou gostar muito de conhecer seu pai, rapaz!

Carlinhos sorriu, e respondeu, depois de lançar um olhar feliz para Ana:

- Tenho certeza que ele também vai gostar de conhecê-lo, senhor.

Sua família ainda ficou ainda mais meia hora no apartamento. Mais confiante de que Carlinhos estava seguro, agora que o tio não iria mais “implicar” tanto com ele, Ana resolvera sair com os sobrinhos por alguns minutos, com a desculpa de comprar qualquer coisa na padaria. Na realidade eles tinham ido para o parquinho e lá, ela contara rapidamente a história toda para eles.

- Nossa, tia, isso é... – Mel começou. – Se eu não tivesse VISTO com meus próprios olhos... Quer dizer... – a menina deu um sorriso fraco.

- Eu entendo, Mel – Ana riu. – Às vezes eu acordo, à noite, e fico oras sem conseguir dormir temendo que tudo tenha sido um sonho...

- De qualquer forma, eu estou feliz que tenha dado tudo certo. Ainda mais sabendo que é verdade. – Mel comentou. – A senhora sabe... Que Harry tenha vencido Voldemort, que todos estejam bem...

- Uau! Deve ter sido uma batalha e tanto! – Felipe comentou, empolgado. O menino adorava aventuras. – Harry deve ter dado uma surra no cara-de-cobra!

Ele se levantou e começou a fazer uns movimentos de luta com os braços e as pernas, juntamente com uns barulhinhos com a boca, imitando aqueles que se escutam nos filmes de ação.

Mel olhou desdenhosamente para o irmão mais novo, franzindo o cenho, até que disse para a tia:

- Mamãe teve a infeliz idéia de colocá-lo em uma aula de karatê. – em seguida voltou-se para Lipe, e comentou: - Ei, garoto!?! Bruxos lutam com varinhas, não dando socos e chutes!

O menino parou o que estava fazendo, subitamente sem jeito. Mas recuperou o orgulho próprio e retrucou:

- Mas... Aposto que iriam se dar melhor se fizessem as duas coisas!

Ana riu e contou que tinha dado uma surra em Lúcio Malfoy uma vez. As crianças exclamaram, impressionadas. Mas ela os avisou, sorrindo, que não deveriam tentar fazer o mesmo caso encontrassem um bruxo das trevas.

- Bem... Vamos andando, senão vão começar a desconfiar.

- Ai! – Mel disse, como se tivesse lembrado de algo: - Se o Harry casou com a Gina, e a Hermione com o Rony, que são irmãos do Carlinhos... Então isso quer dizer que eles vão...

- Vir para o casamento? – Ana entendeu o que ela queria dizer. – Sim, é claro que vão!

As crianças deram gritos histéricos, e começaram a pular feito doidas, chamando a atenção das pessoas que estavam no parque.

- Pessoalzinho... – Ana começou, constrangida, tentando acalmá-los.

- Vamos conhecer Harry Potter! Vamos conhecer Harry Potter! – começaram a dizer, enquanto se abraçavam pulando. – É! Isso! Yupiiiii!

Ana viu um casal que tinha parado de caminhar e olhava para as crianças como se fossem de outro planeta.

- Eles querem dizer... – ela se viu explicando. – Que vão conhecer o Daniel Radcliffe... O ator que faz o Harry Potter – riu nervosamente. – Não o Harry Potter de verdade, naturalmente...

Finalmente eles se aquietaram, e o trio retomou a caminhada para o apartamento de Ana. Os garotos pediram que contasse quem mais viria, e Ana disse que, além de toda a família Weasley, Lupin e Tonks estariam presentes.

- Lupin? – Mel dissera, encantada. – Eu adoro ele! Ele é tão legal, sabe tantas coisas...

- Obaaaaaaaa! Eu acho a Tonks o máximo! – Lipe comentou. – Aquele cabelo rosa dela é muito maneiro, e também aquela coisa dela viver mudando a aparência!

Passaram na padaria (que, na realidade era em frente ao prédio de Ana – mas ninguém sabia disso), e compraram algo para “disfarçar”.

Naquele exato momento, seus parentes tinham acabado de sair. Eles estavam hospedados em um hotel (impossível todos dormirem no cubículo que era o apartamento dela). Assim que fechou a porta, Ana se apoiou nela, exausta. Olhou para o noivo, apreensiva:

- Vai. Pode dizer. Agora que conhece a minha família, desistiu de se casar comigo, não é?

Carlinhos se aproximou lentamente dela, sem desviar os olhos. Segurou-lhe o rosto entre as mãos e disse:

- Primeiro: sua família é maravilhosa.

- Sério? – ela perguntou, levantando uma sobrancelha. – Porque tem muito mais de onde estes vieram, e lhe asseguro. Mais tios, primos, madrinhas, padrinhos, agregados, vizinhos de infância...

Carlinhos olhou algum ponto da porta, acima da cabeça de Ana, parecendo ponderar a informação.

- Posso agüentar. – ele concluiu, voltando a fita-la.

- Fico aliviada. – ela sorriu, divertida.

- Segundo: - ele continuou. – Te esperei muito tempo para desistir agora. Portanto, pode se acostumar com a idéia de que vai ser minha esposa, porque não vou te deixar escapar.

- Acho que consigo conviver com este fato. – ela respondeu, alargando o sorriso e recebendo em troca um beijo lento e carinhoso do noivo.

Depois de algum tempo, ela começou a rir. Carlinhos se afastou, intrigado:

- O que foi?

- É que... – ela se controlou. – Antes de ter “despencado” sobre aquela tenda do casamento do Gui e da Fleur, eu li naquele livro que você tinha pegado, sem querer, o buquê da noiva... – ela observou o ruivo ficar vermelho como os cabelos. – Então... Eu estava pensando que esse negócio de pegar o buquê, na realidade, deve dar azar, porque você vai ser o último dos irmãos Weasley a casar...

Carlinhos também riu. Fitando-a com uma expressão indecifrável, ele respondeu:

- Não. Isso pode ser assim na tradição trouxa, mas os bruxos modificaram o significado de apanhar o buquê.

- Mesmo? – Ana estava genuinamente surpresa. – E que o quê significa?

- Quem apanha o buquê... – Carlinhos a abraçou, puxando-a para mais perto. – Vai ser o próximo a encontrar o amor de sua vida.

Ana ficou subitamente sem ar. Geralmente já ficava assim quando ele a abraçava e fitava daquele jeito. Mas a revelação provocou um turbilhão de sensações dentro dela.

Assim, quando ele a beijou novamente, já não se lembrava mais de tradições, casamentos e buquês. Tudo o que se lembrava... E tudo o que sabia, era que pertencia a aquele homem.

---

(N/A): Ooooooooooooi! *Belzinha hiper-discreta*.
Gente, desculpa pela demora, mas realmente não foi possível postar antes. Espero que gostem desta nova fic. De minha parte, vou me empenhar para que ela seja divertida. Esse primeiro já saiu bem grandinho, né? (para os que sabem o que eu estou falando: um Grawp).

Beijos especiais para a Sally e a Darla.


Comentem sim? Preciso saber se estou no caminho certo.

Beijos, beijos, beijos... Inté!
Last edited by Belzinha on 26/03/11, 15:29, edited 33 times in total.
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Post by Fay »

Nhaai *-*
Bom, eskeci de dizer lah no tópico da outra fic mas eu ameeeei a sua história e tava doida pra ler a continuação!!!
Não demora pra postar os outros capítulos, okay? :mrgreen:
Mesmo q eu ainda nem tenha lido o primeiro xD jah fico ansiosa...
BjOO!!
Jaja Weasley
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Post by Jaja Weasley »

E vamos nós para mais uma montanha russa de emoções.

Arrebenta Belzinha!!!!

Beijokas
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Post by Krol Granger »

Legal
AMO HP PRINCIPALMENTE CEDRICO!!!
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Post by Nany*Potter »

PERFEITO! vc é perfeita eu li o seg da sonserina todinho pra entender esse!
to ansiosa pelo proximo capitu!!!!
continua assim!
E vamos nós para mais uma montanha russa de emoções.
devo dizer q Tio Jaja Weasley tem toda razao vc e perfeita!
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Post by Drusilla_Julli »

E aí, quando vai postar o próximo. Não vai deixar assim, vai? Tio Antônio é o típico sogrão, sei extamente como é que é!
Ser gentil e respeitar os outros não é sinônimo de fraqueza

Vivam um dia de cada vez.
Sejam legais uns com os outros (Bill & Ted)

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Belzinha
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Post by Belzinha »

2. Mais Um Casamento

Os meses passaram, e maio chegou mais rápido do que esperavam. A verdade é que a verdadeira pilha de coisas que tinham a fazer preencheu o tempo de tal forma que nem perceberam o que os tinha atingido.

Foi uma seqüência louca de idas e vindas Brasília/Londres. O Departamento de Aurores testou de todas as formas possíveis a extensão dos conhecimentos que ela recebera do bracelete de Helga Hufflepuff.* Harry e Rony eram Aurores já a algum tempo, e lhe deram apoio. Um dia, depois de um teste prático especialmente difícil, Harry lhe perguntou como estava. Ana respondeu que se sentia como se fosse uma X-Men, e tivesse acabado de sair de um treino com o Logan.

Evidentemente, os bruxos não entenderam nada.

Havia momentos, quando ela estava com todos eles, Harry, Hermione, Gina, Rony, os gêmeos... - enfim, observando como estavam tão bem, anos após todo aquele pesadelo - Que sentia as lágrimas teimosas querendo escapar de seus olhos.

Aliás, quando os reencontrara, tinha sido impossível segurar o choro. Rindo e soluçando ao mesmo tempo, fazia comentários extasiados de como tinham crescido, sobre as mudanças que percebia nos amigos. Rony e Harry estavam mais altos, a constituição desenvolvida. O ruivo tinha alcançado a altura de Carlinhos, embora menos “largo” do que ele. Hermione e Gina já eram mulheres, ainda mais bonitas do que quando eram adolescentes. E Mione contava com o brilho a mais de ser mãe do pequeno Sirius: o bebê ruivo mais fofo do mundo, na opinião de Ana.

Mas, o tempo passara rápido entre tantas mudanças. Uma bela manhã, Ana acordou e descobriu que faltava apenas uma semana para o seu casamento!

Por ela e por Carlinhos, teriam se casado mais cedo. Mas tia Bianca dissera que iria ser impossível fazer um casamento no tempo que eles queriam. Como último recurso, Ana ainda tentara argumentar que desejava fazer uma cerimônia simples. Só tentou. Porque imediatamente Bianca levantara as sobrancelhas, incrédula, e disse: “Simples? Com a quantidade de pessoas que tem em nossa família? A menos, é claro, que queria deixar gente de fora, então...”.

Ana sacudiu a cabeça negativamente, os olhos arregalados. Definitivamente, deixar gente de fora era o mesmo que declarar a Terceira Guerra Mundial. Era só colocar um nome na lista, começando com os mais chegados, que em breve se descobriria que não havia como convidar este e deixar de convidar aquele, e aquele faria com que se convidasse aquele outro... Ela explicara para Carlinhos que famílias latinas são temperamentais e muito agarradas. Consideram que certas ocasiões são uma espécie de “memória afetiva coletiva”. Não convidar alguém é que como excluí-lo da família, causando a pior das mágoas.

Agora estava na casa dos tios em Santa Catarina, onde moraria até que o casamento se realizasse. Desligara-se da ABIN – não sem certa dificuldade, já que realmente gostava do trabalho – e se dedicara à transição para o novo emprego e aos preparativos para o casamento.

No entanto, naquele exato momento, estava totalmente atrasada. Os Weasleys chegariam hoje, e ela tinha que “busca-los no aeroporto”. Felizmente os tios não insistiram em ir com ela. A Divina Providência tinha sido muito generosa ao deixar os seus parentes tão ocupados com o casamento que não tinham mais tanta disposição para serem insistentes como antes.

Na realidade, não havia aeroporto. A chave de portal que usariam os levaria até um descampado deserto. O lugar era de difícil acesso, e o Ministério da Magia do Brasil o usava para esta finalidade – com o devido feitiço anti-trouxas o envolvendo, é claro.

Terminou de tomar o café correndo, mesmo sob os protestos de Bianca de que ela não havia comido nada. A tia ainda a recordou que as amigas de Brasília chegariam em três dias, e ela, naquele frenesi todo se lembrou de outros amigos.

- Tia, a senhora lembrou de convidar a Kika e a Morgana, né? – a um gesto de afirmação da tia, recomeçou: - Que bom! E a Drusilla? Ela não pode faltar! –outro gesto de afirmação da tia. – E a Bruninha? E o Jaja? E a Regina? Céus! Foi enviado um convite para a Darla? E a Sally? Tia, se a Sally Owens não recebeu o convite eu nunca vou me perdoar!

- Convidei sim, Ana, acalme-se! Todos eles confirmaram a presença. Só não sei como tanta gente de tantos lugares diferentes do país vai conseguir vir ao casamento.

- Tia, eles devem estar determinados a vir, acredite! – ela fez uma expressão cômica de receio: - Especialmente depois de terem lido o nome do noivo no convite...

- Realmente... – Bianca franziu a testa, intrigada. – Alguns deles me perguntaram, quando ligaram para confirmar a presença, se se tratava de alguma brincadeira. Ana, por que...

- Tenho que ir tia! Tô atrasada! Fui!

Ana tivera a presença de espírito de dizer à tia que a quantidade de pessoas a vir ao casamento não era razão para adotarem formalidades. Por isso, os convites foram enviados em nome apenas dos noivos. Com sorte – que até agora estavam tendo – apenas os mais aficionados pela série Harry Potter iriam prestar atenção no nome “Charles Weasley”. No entanto, se houvesse um “Arthur e Molly Weasley tem o prazer de convidar para o casamento de seu filho...”, daí seria se arriscar demais!

E, é claro, pedira à Bianca que deixasse tia Agatha endereçar e enviar os convites das pessoas que moravam no Reino Unido, pois estava mais “acostumada” aos nomes e formas de endereçamento de lá. Bianca não gostou de dividir as tarefas com a outra (tinham uma implicância mútua desde que Ana se entendia por gente), mas ela acabou cedendo aos argumentos e deixou Agatha se encarregar dos detalhes com os convidados estrangeiros.

Foi um alívio para as bruxas, aliás. Já pensou? Tia Bianca percebendo que havia um tal “Harry Potter” na lista de convidados de Ana? Ela iria pensar que a sobrinha tinha enlouquecido!

Ao abrir a porta do carro, deu de cara com os sobrinhos, sentados muito tranquilamente no banco traseiro do carro e já com os cintos de segurança posicionados.

- Não esperava que a gente fosse ficar quietinho, aguardando conhecer nossos personagens favoritos junto com os outros, esperava? – Mel sorriu inocentemente para Ana.

- Gente... – ela suspirou, buscando um jeito de convencê-los a sair do carro, mas mudou de idéia: – Tudo bem, é melhor que a primeira reação de vocês seja longe de todo mundo mesmo. Mas quero que se lembrem de uma coisa: eles não são personagens. São gente de verdade, por isso maneirem na tietagem, ouviram?

Ela sentou no banco do motorista, sentindo seu rosto ficar em brasa de tanta vergonha, diante da lembrança da sua própria reação de fã quando conhecera a família Weasley. E não era somente o caso de ser fã: os livros revelavam muitas coisas sobre as vidas deles e, quando percebia, já tinha feito comentários sobre o passado deles. Ainda tinha certas recaídas, aliás. Como tivera coragem de dar conselhos aos sobrinhos?

Dirigiu por vinte minutos, até que a paisagem urbana os abandonou, dando lugar a uma visão cheia de vales e montanhas. Havia grandes pedras incrustadas no chão verdejante, do alto das colinas até o sopé: herança dos milhares de séculos de erosão que a região tinha sofrido. Para Ana, era uma paisagem de sonhos.

Estacionou o carro em um rancho com aparência abandonada, exatamente como o Ministério havia descrito. Descendo do carro com as crianças, e caminhou até um velhinho que estava sentado em um tronco de arvore caído. Ele tinha um chapéu de palha na cabeça e uma folha de capim pendendo no canto da boca.

- Er... Com licença, senhor. O senhor é Roberval de Freitas?

- Sim. Sou eu.

- Ah, que bom! O Ministério disse que falasse com o senhor.

- Hum. São bruxos, então. – ele pareceu aliviado. – Primeira vez por aqui?

- Sim. – Ana iria deixá-lo pensar que as crianças também eram, mas se lembrou do feitiço anti-trouxas. – Quer dizer... Eles não são. – e apressou-se a explicar: - São meus sobrinhos, mas sabem de tudo. O Ministério aprovou que tivessem conhecimento.

- Tudo bem, moça. Se aparatarem com um bruxo, não vão ter problemas para atravessar o feitiço. É só aparatar a uns seiscentos metros para dentro da mata – ele apontou para algum lugar ao norte. – Lá tem uma clareira. É onde seus amigos vão chegar. – ele se inclinou para frente, olhou para os lados, e cochichou: - Escute, tem um figuraço chegando por aqui hoje. Mas não conte para ninguém. Só estou avisando porque vocês podem reconhecê-lo e o Ministério já me mandou uma coruja com determinações muito claras para não deixar isso vazar. Sabe como o Ministério pode complicar a vida de quem o desobedece, não é?

- Por acaso seria o Harry Potter? – Lipe comentou e Ana sorriu diante do arregalar de olhos do ancião.

- Como sabe disso? – ele estreitou os olhos: - Não são repórteres enxeridos, são?

- Não, senhor. – Ana apressou-se a explicar. – Ele vem para o meu casamento. Aliás, é a família do meu noivo que está chegando.

- Curupiras endoidecidos! – ele sorriu, empolgado. – E o que estão esperando? Vão, vão!

Ana deu instruções para os sobrinhos segurarem em seus braços, e aparatou com eles até a clareira indicada por Roberval. Aparatar deixava uma sensação desagradável, como toda forma de viajar dos bruxos. No entanto, Ana achava o máximo aquilo! E sua empolgação foi acompanhada pelos sobrinhos, lógico (depois que eles abandonaram aquela expressão de quem estava com vontade de vomitar).

- Quando eles vão chegar, tia? – Mel perguntou olhando ao redor.

- Em... – Ana fitou o relógio de pulso. – Cinco, quatro, três, dois, um... Agora!

Ouviu-se um som alto, como o de um trovão. Em seguida, uma nuvem tomou a forma de um cone. Então, três corpos caíram, chocando-se desajeitadamente contra o chão. Outras cinco pessoas desceram, mas elas o fizeram suavemente.

- Querrida, tudo bem com focê? – Fleur acudiu a filha de cinco anos, Chantal. A loirinha sorriu afirmativamente para a mãe, ainda atordoada.

- Eeeeei! – Ana gritou e acenou para eles a fim de ser vista. – Aqui!

Os visitantes começaram a caminhar até eles. Ana correu até Carlinhos, praticamente pulando sobre ele quando o abraçou:

- Amor! Não sabia que viria junto! Como estão as coisas na reserva em Gales? Olá, senhor e senhora Weasley! Fleur, Gui! Olá, Chantal!

- Tudo certo. As coisas se resolveram antes do esperado, e então vim junto.

- Hum-Hum! – duas vozinhas pigarrearam, chamando a atenção.

- Ah! – Ana exclamou, sorrindo. – Senhor e senhora Weasley, estes são meus sobrinhos: - Mel e Felipe.

- O-oi! – as crianças disseram ao mesmo tempo, tentando parecerem naturais.

- Olá! É um prazer conhece-los! – o senhor Weasley cumprimentou, com aquela costumeira animação. – Sua tia fala muito de vocês.

- Como vão queridos? – a senhora Weasley passou a mão pelos cabelos das crianças. – Oh, são tão bonitos! – ela comentou para Ana. Depois perguntou para os garotos: – Estão com fome? Eu tenho uns biscoitos na bolsa, se quiserem, viu?

Mel e Felipe abriram um sorriso, diante do comentário tipicamente “senhora Weasley”. Maravilhados, acenaram afirmativamente.

Eles foram apresentados também à Gui, Fleur e Chantal (cuja existência provocou exclamações entusiasmadas, deixando a menininha com a sensação que era uma “superstar”). Mel não parava de falar sobre o torneio tribruxo com Fleur e tudo o que Lipe parecia conhecer no mundo dizia respeito a como Gui fora corajoso ao enfrentar Greyback.

Então, gemidos baixinhos os fizeram olhar para um local a uns dez metros dali.

- Merlim! Eles já deviam ter se acostumado com uma chave de portal de grande potência depois de todos estes anos! – o senhor Weasley disse em tom de desaprovação.

Duas pessoas começaram a se levantar, parecendo bem doloridas. Ana observou que, pelo olhar arregalado das crianças, elas já tinham identificado a dupla. Quando o casal chegou perto do grupo, ela os abraçou afetuasamente e os introduziu também aos garotos:

- Crianças, estes são Harry e Gina Potter. Harry, Gina... Estes são meus sobrinhos, Mel e Felipe Warmlling.

Dez segundos inteiros se passaram antes que os garotos conseguissem exibir alguma reação:

- Crianças... – Ana alertou-as.

- Oi, Harry! – Lipe disse. Levando um cutucão da irmã, ele se corrigiu: - Quer dizer... Senhor Potter!

- Pode me chamar de Harry. – ele ajeitou os óculos redondos, sorriu, e em seguida apertou a mão de Felipe.

- Desculpem nosso jeito, é que... – Mel olhava de Gina para Harry, sem fôlego. – Nós sabemos tanto sobre vocês... Quer dizer...

- Nós entendemos, não se preocupe, Mel. – Gina sorriu.

- Nooooosa... – Mel abriu um pequeno sorriso nervoso, ainda não acreditando. – Gina Weasley!

- Bem, é “Potter” agora. – Gina corrigiu, piscando de um jeito cúmplice.

- Ah, claro! – a menina deu um risinho mais nervoso ainda. – Isso foi um alívio, sabe? Eu não gostava da Cho Chang! – ela completou, provocando risos sufocados dos presentes.

- MEL! – Ana a repreendeu. – Desculpe, Gina, mas ela é sua fã. Por ela, a série se chamaria “Gina Weasley”. Mas, mudando de assunto... Onde estão os outros?

- Ah, já devem estar chegando! - Gina respondeu. - A chave de portal deles é mais lenta por causa dos bebês, sabe?

- Bebês? – Mel olhou para a tia, questionadora.

Ana não teve tempo de responder. Outro cone se formou naquele momento, e dele saíram mais seis pessoas. Três homens ruivos com “mochilas” nas costas e três mulheres. Ao se aproximarem do grupo, eles perceberam que as “mochilas” eram bebês em canguruzinhos. Eles também foram saudados com festa por Ana, e os bebês mais ainda.

Ela apresentou Fred e Jorge, as respectivas esposas deles e os bebês. As crianças começaram a rir só de ver os gêmeos, certamente lembrando-se de tudo o que eles tinham aprontado. Em seguida foi a vez de Rony e Hermione, esta última mais uma senhora Weasley agora.

- Sirius? – Mel dissera, encantada. – O Rony e a Hermione tem um filho chamado Sirius! Isso não é demais, tia?

- É sim, querida. – Ana riu do entusiasmo da menina.

- Posso segurar? Por favor, por favor! – a menina pedia, e Rony foi obrigado a ceder àquele rostinho de boneca que olhava seu filho com adoração, pondo o bebê nos braços da menina.

- Eu morri e fui para o céu! – Felipe exclamara, olhando todos ao redor, enquanto brincava com os bebês dos gêmeos.

- Que nada, amiguinho! - Fred dissera.

- Você está bem vivo! - Jorge completou. - Quer uma goma de mascar das Gemialidades Weasley?

Felipe parou de sorrir:

- Eu sou um trouxa, mas não sou burro! Humpf! Eu, comer algo preparado pelos gêmeos Weasley! Ainda não fiquei maluco!

- Esses livros da Rowling estão acabando com o nosso elemento surpresa, Fred!

- Ainda bem que eles são proibidos no Mundo Bruxo, maninho! - concordou Fred.

- Eles são tão... Fofinhos! - Mel exclamara, olhando para os bebês.

- Ah, a fofura ataca novamente! - Rony provocou. - Definitivamente, ela é sobrinha da Ana!

Ana revirou os olhos e disse que era melhor todos irem, agora que não estava faltando mais ninguém. Mas Mel contou nos dedos, constatando que só havia seis "garotos" Weasley ali. O senhor Weasley explicou que Percy só na véspera do casamento, com a esposa.

- Imagine se a mulher dele iria perder o casamento! Não por ser um da família Weasley, mas por seu o de uma Smith! - Jorge comentou, olhando para Ana.

As crianças se olharam, sorrindo. Percy ainda era a pedra no sapato dos Weasleys. Nem a guerra tinha mudado isso! Mas Ana não deu muita importância, já acostumada às alfinetadas que os cunhados davam no irmão, que se casara com uma mulher que era uma versão bruxa de uma socialite. Sabendo como estes comentários deixavam a senhora Weasley triste, ela apressou o grupo. Felizmente, Hermione lançou um olhar mortal aos gêmeos, que se calaram.

Aparataram de volta ao local onde Ana tinha deixado o carro. Roberval se aproximou, correndo, com uma chave de carro nas mâos:

- Esta é a chave da minivã que o Ministério deixou à disposição, senhorita. - ele entregou a chave à Ana e, com um movimento de varinha, descobriu o veículo, que estava debaixo de uma lona.

- Ah, mas... Eu estava pensando em enfeitiçar o interior do meu carro...

- Como o senhor Weasley fez com o Ford Anglia? - Felipe comentou, empolgado.

Arthur sorria satisfeito e orgulhoso para o menino, até que notou o olhar da esposa sobre ele:

- Enfeitiçado? Quer dizer que o espaço amplo não era coisa dos trouxas? Arthur, você jurou que ia parar de enfeitiçar artefatos trouxas...

- Parabéns amiguinho! - Fred riu, divertido. - Esse ERA o segredo mais bem guardado do papai há mais de dez anos!

Lipe se encolheu, enquanto lançava um olhar de desculpas ao senhor Weasley. Este, por sua vez, fez um gesto de "tudo bem" para o garoto e se apressou a entrar no veículo antes de ter que responder aos questionamentos da esposa.

- Bem... - Ana disse. - É melhor mesmo termos um carro à disposição de vocês, já que vamos ter que fingir que são trouxas não poderão ir e vir aparatando, não é?

Voltaram para a casa dos tios de Ana nos dois carros. Jorge dirigia a vã (depois dela ter feito mil recomendações a respeito dele não a perder de vista e de se lembrar, pelo amor de Merlim, que no Brasil se dirigia pelo lado direito). Milagrosamente, chegaram todos sãos e salvos.

Ana notou, com prazer, que o carro de um outro tio seu, José, estava estacionado em frente de casa... E coberto de lama, como sempre. Seu tio, era o mais novo dos irmãos, tendo nascido depois do pai de Ana. Ele gostava de fazer trilhas e, evidentemente, tinha voltado de uma.

- O que está escrito no vidro? - Fred perguntou, ao ver algo escrito à dedo entre a poeira acumulada no vidro traseiro.

Ana franziu o nariz, e respondeu, traduzindo a frase para o inglês:

- "Lave-me".

Os gêmeos se olharam e riram:

- Já vi que vou adorar este país, Jorge! - Fred dissera.

***

Os Weasleys já tinham sido levados para o hotel bruxo onde ficariam hospedados. A família de Ana e os Weasleys tinham se dado muito bem, a maioria das vezes se comunicando por gestos, é claro. Tia Bianca tinha se encantado com Fleur, e dizia que finalmente tinha alguém para treinar o seu francês.

O único incidente tinha sido quando as crianças estavam assistindo televisão na sala, e Harry, Gina e ela estavam conversando por perto. Como que por inspiração divina ela tinha olhado para a tela da TV e reconhecera aquele episódio em específico de "Jimmy Nêutron, O Menino Gênio". Harry olhou para a tela, ao mesmo tempo que as crianças tentavam achar o controle remoto a todo o custo, sem sucesso.

Na tela, o cachorro-robô do personagem principal acabara de engolir o chiclete de livros. Ana entendera o empenho dos meninos em parar o DVD que viam com Chantal, mas já era tarde demais. O cachorro já dizia:

- "Harry, você é um bruxo".

Do jeito que os bruxos adultos pararam, olhando preocupados para Harry, Ana deu graças a Deus por nenhum dos seus parentes trouxas estarem por perto. No entanto, após um momento surpreso, Harry começou a rir, mostrando que aquilo não o tinha o perturbado.

Agora, três dias depois, estava sozinha em casa com as com as três melhores amigas, Débora, Luíza e Carolina, que tinham chegado naquela tarde. As garotas seriam suas madrinhas e agora estavam pondo a conversa em dia, pois não as via há dois meses, quando se desligara da ABIN e voltou a Santa Catarina.

- Ai, Ana, deixa eu te dizer uma coisa: que MA-RA-VI-LHA de noivo! – Carol comentou, empolgada. Elas o tinham conhecido ainda em Brasília, mas o reviram no aeroporto, quando ela fora buscá-las. - Não, sério, eu estou de queixo caído até agora! Ele tem irmãos, né?

Ela riu do jeito da amiga:

- Tem sim: cinco irmãos...

- YES! – Carol e Déb comemoraram.

- ...todos casados. – ela acrescentou, não contendo um certo divertimento frente ao leve desapontamento das amigas:

- Ana! – Déb a censurou: - Você pegou o último biscoitinho do pacote?

Desta vez Ana riu com vontade:

- Receio que sim... - mas logo mudou de assunto: - Então Lu? Como vão os preparativos para as suas merecidas férias?

- Ah, está tudo certo. Aquela mocinha do Departamento Pessoal é muito gentil, ela foi bem prestativa comigo nas últimas duas semanas com a papelada toda... – Lu parou subitamente, franzindo o cenho: - Como é mesmo o nome dela? Er... Amanda... Não, Suellen... Não, não: Carla. – ela levantou o queixo, tentando não dar importância ao assunto e não parecer desapontada por não se lembrar: - Bem... Um destes três, com certeza!

- Puxa, Lu, ainda bem que são nomes tão parecidinhos, né? Isso facilita muito! – Déb não perdeu a oportunidade de pegar no pé da garota.

Luíza não fez mais do que um revirar de olhos impaciente diante dos risinhos das amigas.

A garota não era exatamente comum. Luíza tinha uma memória fotográfica incrível. Lembrava de tudo o que lia, o que a tornava uma ferramenta fantástica para a ABIN. No entanto, a mesma mente que captava e processava milhares de informações diferentes não conseguia se prender a detalhes “menores”. Sua atenção era, predominantemente, visual. Se estava escrito, ela lembrava. No entanto, o nome da pessoa com quem tratou nas últimas duas semanas, por exemplo...

Esta particularidade já tinha metido Luíza em situações embaraçosas, o que não ajudava no jeito estabanado e às vezes tímido dela. Com as amigas, soltava-se mais, e os laços que criara com elas eram tão fortes que não ligava que uma delas implicasse com ela, pois sabia que os comentários eram despidos de maldade: tinham aquelas pinceladas de liberdade que só se vê entre as pessoas mais íntimas.

A campainha tocou e Luíza se prontificou a atender. Ela espiou pelo olho-mágico, dando um grito abafado e um pulinho para trás:

- Ana, por acaso algum irmão do seu noivo é loiro? – a voz da garota estava tão perplexa que saiu quase em um sussurro.

- Não... – Ana estranhou o jeito da amiga. – Os Weasleys são todos ruivos. – ela escutou um suspiro aliviado de Luíza. – Mas, os Smiths são loiros.

- Smith! – ela disse em um novo grito estrangulado enquanto a campainha tocava novamente, de um jeito que demonstrava que a pessoa lá fora estava ficando impaciente. – Eu sabia que conhecia este nome de algum lugar! Sua carteira de identidade! É um dos sobrenomes de sua mãe!

Ana se levantou, visivelmente preocupada:

- Lu, pelo amor de Mér... De Deus, o que está acontecendo? Por que não abre esta porta de uma vez?

- Er... Posso me esconder no seu quarto? – Lu realmente parecia com vontade de desaparecer dali.

- Ana? Tia Agatha? Tem alguém aí? – escutou-se uma voz conhecida para Ana.

- Zach? – agora Ana estava cada vez mais confusa, enquanto olhava interrogativamente para a amiga.

- É que eu e seu... Primo? – diante de um gesto de confirmação da amiga, continuou: - Seu primo e eu tivemos um... “pequeno desentendimento” no aeroporto. Ana, pelo amor de Deus, depois eu explico! Tem alguém lugar onde posso me esconder ou não?

Ana arregalou os olhos, surpresa. Recuperando-se, balançou a cabeça negativamente e disse:

- Francamente, Lu! Pare de se comportar como uma criança. Não pode ter sido tão grave assim. – afastou a amiga da porta, e abriu-a ela mesma:

- Zach! – ela sorriu ao ver o primo e o abraçou.

- Ana! Ainda bem! – ele estava visivelmente contente por estar a vendo. - Pensei que não houvesse ninguém em casa. Então escutei vozes e... – ele parou ao ver Luíza, parada, ao lado da porta. Ela não tivera tempo sequer de correr antes que ele a visse.

Ana voltou-se então para as amigas e apresentou-as a Zacharias Smith. Lu permaneceu com os olhos em qualquer lugar, menos no visitante. Quando Ana os apresentou, ele disse:

- A senhorita Esteves e eu já nos encontramos.

Ela sentiu na voz de Zach aquela implicância tipicamente “Zacharias Smith”. Então olhou para a amiga, e viu os olhos antes sempre serenos de Luíza faiscarem de ódio:

- Sim, foi um prazer revê-lo, senhor Smith. Se nos der licença, nós já estamos atrasadas. Compromissos de madrinhas, não é meninas?

Igualmente surpresas com o tom nunca usado por Luíza, elas balançaram a cabeça afirmativamente, se despediram e saíram atrás da amiga.

Ana, então, virou-se para Zacharias e, estreitando os olhos, disse:

- Muito bem: tenho duas perguntas. Primeiro, o que diabos aconteceu entre você e Luíza?

- Nada demais. Basicamente, uma confusão da companhia aérea que nos venceu o mesmo lugar. O vôo estava lotado e nenhum de nós queria ceder o lugar para o outro. Finalmente ela disse que tinha um casamento para ir. Então eu disse: “Eu também!” Mas eu nunca desconfiei... Bem, não foi uma negociação fácil. Se um lugar não tivesse surgido no último instante... – ele passou a mão pelo cabelo, parecendo desconcertado pela primeira vez: - Ela é mesmo sua amiga?

- Uma das minhas melhores amigas, Zach. – Ana o corrigiu, o tom meio que o avisando da importância da garota para ela. – E vai ser madrinha do meu casamento. – então, um pensamento passou pela cabeça dela e perguntou: - Diga, Lu, quero dizer, Luíza, leu seu nome em algum lugar?

- Não... Ouvimos nossos nomes da boca da atendente do aeroporto em São Paulo, por quê?

Luíza não lera o nome dele em lugar nenhum, e, mesmo em uma situação de estresse não o esqueceu.

- Interessante... – Ana disse mais para si mesma. Antes que Zach tivesse tempo de perguntar o que era interessante, ela lançou: - Segunda pergunta: o que você estava fazendo em um AVIÃO? O que houve? – desta vez o tom de voz era jocoso.

- Culpa de Ronald Weasley. – ele respondeu, torcendo o nariz. – Semana passada eu comentei sobre a ironia dele ter que passar uma semana vivendo como um trouxa.

- Ah, e eu imagino o quão “jeitoso” você deve ter sido ao dizer isso, não é Zach? – ela não resistiu em provocar.

- Ha-Ha! – fingiu achar engraçado. - Bem, Weasley me desafiou a fazer melhor que ele. Como ele teria que passar três dias a mais do que eu por aqui, a aposta começava por eu ter que viajar da maneira trouxa. Aliás... Que coisa maluca, esses aviões!

***

Era o dia do casamento. Ana estava uma pilha de nervos e isso não passou despercebido à tia Agatha, que chegara no dia anterior com os outros membros da família Smith. Realmente, Ana não saberia o que fazer com os convidados bruxos sem a ajuda da tia.

- Querida... Você parece tão cansada! - elas estavam na mesa, tomando o café da manhã.

- Chá de panela organizado pela Tonks. Ela já chegou ontem com o gás todo, querendo ir à forra do que eu aprontei no casamento dela. Foi até tarde...

Não conseguindo evitar um bocejo, continuou:

- O bom foi que eu revi a Marion. A Marion de Burg, sabe? Aquela moça com quem eu fiz amizade no Ministério, em Londres. Ela está no Brasil visitando a família da mãe, e a Tonks eu a encontrou no hotel onde estão hospedados. Convidei-a para o casamento, lógico!

As primas adolescentes de Ana, uma de treze e outra de quinze anos, estavam sentadas à mesa também:

- Foi o melhor chá de panela que a gente já foi, Ana! - Jéssica, a mais nova, comentou.

- Verdade! - Cristiane concordou. - Nossa! Você vai comer tudo isso? - ela falou olhando para a comida que a irmã tinha pegado. - Vai ficar enorme!

- Não enche! Depois eu compenso no almoço, tá? - a outra retrucou.

Analisando a pãozinho francês da prima, Ana não pode deixar de comentar, irônica:

- Caramba! Nunca mais vou comer mais da frente de vocês!

Tio José apareceu na sala, e as duas imediatamente foram se levantando e dizendo:

- Pai, nós vamos dar um pulinho na casa da Elis, tá?

- E porque não podem dar um pulinho aqui mesmo? Por que têm que ir à casa da Elis para pular? - mas as meninas nem tinham ouvido o pai, e já estavam na porta da casa. Voltando-se para as três mulheres na mesa, José perguntou: - O que têm na casa da Elis que não tem aqui?

- Um irmão de dezesseis anos que lembra do Tom Cruise naquela idade. - Ana disse simplesmente, compadecendo-se do tio.

- Ah! Era só o que estava me faltando! Estou ficando velho!

- Por falar em idade... - Bianca disse, voltando-se para Agatha - Quantos anos tem o seu... marido... Agatha?

Ana olhou para cima. "Ah, vai começar", pensou. Bianca ficou chocada quando soube que Agatha tinha se casado novamente na idade dela. O que não diria se visse a verdadeira aparência de Moody? Sim, porque ele estava tomando uma poção polissuco para não "assustar os trouxas".

- Ele tem a mesma idade que eu... Querida Bianca. - Agatha respondeu.

Ana escondeu o rosto entre as mãos: aquele dia não seria fácil.

***

Felizmente, os amigos tinham conseguido vir para o casamento e já estavam na cidade. Já tinha, inclusive encontrado com eles. Marcara de se encontrar no shopping da cidade e lá estavam eles: Kika, Morgana, Drusilla, Jaja, com o filhinho, Lucas, Regina com o marido e os dois filhos, Bruninha e a mãe, Darla, e a Sally e o marido. De todos eles, os únicos que não estavam surpresos com o nome do noivo de Ana eram Darla, Sally (que sabiam de tudo, pois eram bruxas também) e o marido de Sally.

- Calma, gente! Coincidência, tá?

- Ruivo e se chama Charles Weasley? Ah, conta outra, Ana! - provocou Jaja.

- É sim, ué... - afirmou Ana, no meio de tantas vozes com sotaques diferentes falando ao mesmo tempo. - O que vocês queriam que eu dissesse? Que é o Carlinhos dos livros?

Diante deste argumento, ninguém se atreveu a dizer mais nada. Pois o contrário seria pedir para ser chamado de louco. Sally se inclinou, e cochichou no ouvido de Ana:

- Lembre o Harry de esconder a cicatriz...

- Pode deixar! - Ana sussurrou também, percebendo um olhar cúmplice de Darla e um levantar de sobrancelhas intrigado de Regina.

***

Ela estava na porta da igreja, tremendo como vara verde, apesar do clima agradável de maio. Usava um vestido branco de corpete justo de seda até os quadris e saia com camadas e mais camadas do mesmo tecido, caindo solto e armando-se: um vestido de princesa, na opinião de Agatha. Os cabelos estavam presos em um elegante coque, com uma tiara habilmente posta.

Bem, era isso. Iria se casar! Bem, na realidade, pelas leis bruxas já tinham se casado, no dia anterior. E os tios miraculosamente tinham acreditado que aquele era o consulado inglês (embora tivessem comentado como os ingleses estavam se vestindo de forma esquisita ultimamente). Hermione, Rony, Gina e Harry tinham sido seus padrinhos naquela cerimônia.

Os acordes da marcha nupcial começaram a ser ouvidos e ela sorriu nervosamente para o tio, mas de forma feliz e confiante. Começaram a caminhar lentamente pela nave, com Chantal à frente, de madrinha de honra. Os padrinhos e madrinhas já tinham entrado aos pares, na frente, como era o costume latino.

Enquanto caminhava, Ana percebia os rostos familiares e amigos nos bancos e sorria para eles, agradecida por terem comparecido a aquele momento tão especial a fim de dividir com ela sua alegria. Viu Percy e a esposa e pensou, com humor: "Bem, cada um tem sua espécie de felicidade".

Estava agora frente a frente com o noivo. Apertando a mão de Carlinhos, tio Antônio a "entregou". Mas ela nunca saberia, por exemplo, que o tio sussurrara no ouvido do noivo, entre um sorriso:

- Gostei de você e de sua família. Mas eu te estraçalho se a fizer infeliz. Entendeu?

- Sim, senhor. - Carlinhos devolveu o sorriso, já acostumado ao "sogro".

Eles repetiram os votos que tinham feito no dia anterior, provocando o que, para Ana, era um pequeno milagre: Bianca e Agatha chorando e consolando uma à outra.

***

A recepção foi feita no salão paroquial, conforme a melhor tradição das pequenas cidades catarinenses. Os convidados trouxas estavam comentando como a disposição das mesas tinha aproveitado bem o espaço, fazendo parecer que o lugar era maior. Claro que eles nunca iriam saber que, realmente, o lugar ESTAVA maior. Como diria Agatha, nada que um bom feitiço de ampliação não dê conta...

Já tinham passado por toda a sessão de fotos, os cumprimentos na entrada da recepção, e agora estavam em sua mesa, aproveitando o jantar. Ana percebeu que Regina se aproximava, com um sorriso perigosamente satisfeito no rosto. Ela se inclinou para Ana, e disse:

- Vamos fazer o seguinte: Eu finjo que meus filhos e o do Jaja não estão brincando com uma loirinha cujos pais se chamam Gui e Fleur. Finjo que a Drusilla não está senta naquela mesa, onde está ouvindo deliciada as farpas trocadas entre uma de suas madrinhas e um rapaz chamado Zacharias Smith.

- Mas... - Ana tentou falar.

- Vou fingir também que a Darla e a Sally não estão falando de poções com uma moça chamada Hermione, e que o marido dela, Ronald, que também finge que não está entediado com a conversa, brinca com o filhinho deles, Sirius.

- Você não...

- Também que o Jaja e a Kika não estão se divertindo com os gêmeos "Fred" e "Jorge". E que a Morgana e a Bruninha não estão conversando com Remo e Nymphadora Lupin... E que, bom Deus, não tem um moreno de óculos redondos e olhos verdes chamado "Harry", cuja esposa se chama "Ginevra", apelido "Gina", por aqui, e que, com certeza, tem uma cicatriz em forma de raio na testa que foi "magicamente" escondida.

- Bem...

- Farei de conta que nada disso aconteceu, ou melhor, todos nós faremos, e nem sequer vamos insinuar que isso aconteceu lá nos fóruns (até mesmo porque ninguém iria acreditar), se você prometer que não vai lançar um "obliviate" em nós.

Ana exibiu um sorriso divertido para Regina. É claro que não esperava que tudo aquilo passasse despercebido:

- Obrigada, amiga.

- Imagine... - em seguida ela olhou para Carlinhos e disse: - Espero que seu trabalho com dragões esteja indo bem.

- Sim, obrigada, senhora. - Carlinhos, que escutara tudo, não conseguia mais conter o riso.

Alguns minutos depois que Regina se afastara, Patrícia apareceu, anunciando:

- Está na hora, Ana. - falando toda alegre olhando para o palco.

O coração de Ana saltou do peito, enquanto acompanhava o olhar da prima, dando de cara com o batalhão de primos, primas e amigos de infância subindo no palco.

- Bem, eu já vou indo. Acho melhor vocês se apressarem.

- O quê? - Carlinhos perguntou, confuso.

- Patrícia tem razão, é melhor irmos para frente do palco antes que eles comecem a...

- NOIVOS! POR FAVOR, OS NOIVOS TENHAM A BONDADE DE VIR ATÉ A FRENTE DO PALCO, POR FAVOR! ANA! CARLINHOS! NÃO FUJAM NÃO... - Nando, tomando conta do microfone, chamava em alto e bom som.

- Tarde demais... - ela suspirou, resignada, enquanto pegava a mão do marido e o conduzia até a frente do pequeno palco onde as bandas tocavam nos casamentos. No caminho, ela foi explicando: - É uma tradição criada pelos meus primos, que é repetida desde 1992.

- Senhoras e senhores. - Nando começou a explicar. - Alguns de vocês já estão a par de como recebemos nossos novos membros, e como fizemos uma declaração de amor em público para o nosso ente querido que esteja se casando, para o desespero e vergonha dele... - ele riu e foi acompanhado pelas pessoas no salão.

Ana olhou ao redor, percebendo que aqueles que falavam inglês estavam traduzindo para os convidados estrangeiros.

- Bem... - continuou Nando. - É a sua vez priminha. - ele falou olhando para Ana. - E, seja bem-vindo Carlinhos! - abaixou o tom, fingindo estar dizendo só para ele: - Sinceramente, cara, espero que não se arrependa... Você sabe... Ela é doida...

Ana fingiu que iria jogar o buquê no primo, o que o fez se erguer rapidamente e puxar o coro, que era acompanhado pela banda de Nando:

"Eu não tenho nada pra dizer
você parece, no momento
até saber como eu estou sofrendo
vem, veja através dos olhos meus
a emoção que sinto em estar aqui
seguir seu coração e amando

Amigos para sempre é o que nós iremos ser
na primavera ou em qualquer das estações
nas horas tristes nos momentos de prazer
amigos para sempre"

Apesar de já saber o que aconteceria, o que eles cantariam. Apesar dela mesma já ter visto isso um milhão de vezes nos casamentos da família, e dela mesma já ter participando do coro na maioria das vezes... Sentiu um aperto na garganta. Aquilo era para ela. Para Carlinhos. Para a felicidade deles. Pela primeira vez estava entendendo porque as noivas sempre choravam, naquele momento.

"Você pode estar longe, muito longe sim
mas por te amar sinto você perto de mim
e o meu coração contente
não nos perderemos
não te esquecerei
você é minha vida
tudo que eu sonhei
ligues para mim um dia

Amigos para sempre é o que nós iremos ser
na primavera ou em qualquer das estações
nas horas tristes nos momentos de prazer
amigos para sempre"

Pelo rosto de Carlinhos, percebia que ele também estava emocionado. A família de Ana era surpreendente. Podiam ser super-protetores, implicantes e, no instante seguinte, dar demonstrações de carinho e afeto sem restrições... E Carlinhos tinha conquistado esse afeto.

Como que para confirmar isso, os "cantores" (na realidade, exceto por Nando, era o grupo mais desafinado que poderia se imaginar), se entreolharam e surpreendentemente...

"Amigos para siempre
Means you'll always be my friend
Amics per sempre
Means a love that cannot end
Friends for life
Not just a summer or a spring
Amigos para siempre"

Ana soltou uma exclamação admirada, boquiaberta. Eles estavam cantando em inglês. Horrivelmente, é verdade, mas eles tinham feito um esforço extra para aprender a letra, só para homenagear Carlinhos e a família dele, fazendo a já tradicional acolhida na língua deles.

Olhou para os amigos, vendo que os Weasleys estavam, cada um de seu jeito, mostrando o quanto aquilo os estava deixando felizes. Molly estava às lágrimas de tanta felicidade. Voltou-se para Fernando, e murmurou um "Obrigada", emocionada pelo carinho deles. Não agüentou mais: as lágrimas finalmente desceram por seu rosto também.

"I feel you near me
Even when we are apart
Just knowing you are in this world
Can warm my heart
Friends for life
Not just a summer or a spring
Amigos para siempre
Amigos para siempre
Means you'll always be my friend
Amics per sempre
Means a love that cannot end
Friends for life
Not just a summer or a spring
Amigos para siempre
Amigos para siempre"

Quando a música acabou, Nando fez uma reverência, agradecendo os aplausos dados e em seguida anunciou que os noivos iriam iniciar a valsa.

Enxugando os olhos, ela começou a dançar o tradicional "Danúbio Azul", abrindo o baile e sendo seguidos pelos casais mais velhos.

Na mesa onde estava Harry, tia Agatha comentou com ele:

- Vamos, rapaz, tire sua esposa para dançar!

- Ah, Agatha, eu não sei dançar...

- Há! - Felipe riu - Então você tem mais em comum com o Daniel Radcliffe do que a gente imaginava!

O menino já se soltava mais diante do ídolo, embora às vezes ainda ficasse olhando para Harry daquele jeito "fã" que tanto envergonhava o grifinório. Mas Lipe se controlou bastante depois que Mel o avisou que se continuasse babando daquele jeito, o Harry iria morrer afogado...

A valsa acabou, outras músicas soaram: alemãs, italianas, polonesas, portuguesas, espanholas... E quando pareceu que não havia mais músicas tradicionais a serem tocadas, Carlinhos perguntou se Ana queria voltar para a mesa. Ela balançou a cabeça negativamente, e, sorrindo, disse:

- Não dá. Agora é a tradicional dança dos kosakos!

- Hum? Não vai me dizer que a sua família também é descendente de russos? - ele perguntou, desanimado.

- Não. Meus primos é que são bobos! - ela riu - Sou a noiva, tenho que ir! E foi para o meio de uma roda de pessoas, onde Carlinhos reconheceu vários dos primos de Ana.

Os acordes de uma música indubitavelmente russa foram ouvidos, e Nando começou a se abaixar e levantar dentro do círculo, com os braços cruzados em frente ao peito, e alternando o peso do corpo ora na perna esquerda ora na direita nestes movimentos. Enfim, em uma imitação cômica de uma dança da bielo-rússia.

Carlinhos se viu puxado para o círculo também, onde as pessoas botaram os braços em torno dos ombros dos outros, formando um grupo compacto e alegre, enquanto Ana fazia algo que parecia mais uma cancan do que uma dança oriental, e os homens se alternavam na "dança dos kosakos".

Os Weasleys não demoraram muito a se juntar, é claro. Principalmente por que Mel e Felipe começaram a puxar Rony, Gina, Hermione e Harry para lá. Os gêmeos, que não perdiam a oportunidade de se divertirem, puxaram as esposas também. Foi questão de tempo os demais irem. Os Smiths, naturalmente bem-humorados, não precisaram de convites. Ana percebeu que os amigos também estavam na enorme roda.

Foi uma noite memorável...


* Ler Harry Potter e o Segredo de Sonserina.

---

(N/A): Gente, espero que tenham gostado do capítulo... Porque eu estava (e ainda estou) com medo dele. Sinceramente, espero que não tenha saído “viagem” demais. E se deixei algo soltou ou dei mancada, desculpem-me. Eu estava com um monte de idéias na cabeça e um capítulo só... Sabem como é.

Gente, eu queria colocar todos aqui neste capítulo, mas ele ficaria inviável. Não sou tão habilidosa quanto a JK para lidar com tantos personagens ao mesmo tempo.

Detalhe: O que vocês viram foi uma adaptação de fatos reais. Calma! Não estou dizendo que bruxos existem! (Ô fixação por Harry Potter, heim?) Estou dizendo que a dança dos kosakos realmente é dançada nos casamentos... Da minha família!!! (Sim, só de zoeira nossa, é claro).

Gente: agradecimentos especiais ao Jaja, a Drusilla e a Regina McGonnagal, usuários do Grimmauld Place, por serem estas pessoas especiais e terem deixado eu fazer esta homenagem a eles aqui.

E um abraço enorme, grande e apertado para todos que lêem a fic! Valeu mesmo pessoal!

Bem... Inté o três!
Last edited by Belzinha on 13/03/06, 09:51, edited 1 time in total.
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Post by Regina McGonagall »

Nunca fui a um casamento tão memorável (exceto o meu, claro!)

A festa foi realmente linda e estava ótima, tô cansada de tanto dançar até hoje :lol:


hehe... sem zuera agora :mrgreen:
tá mui lindo!!! :palmas :palmas :palmas
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Post by Jaja Weasley »

Querida Belzinha,

Nós é que agradecemos de fazer parte de uma obra-prima como essa.

Continue assim. Vai fuuuuundo!

Beijokas...
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Post by Drusilla_Julli »

Belzinha, terminei agora o segundo capítulo. Você realmente fez o que disse que iria fazer mesmo. Não fique insegura, está ótimo esmo. A cena do casamento foi muito bonita, até mesmo eu me emocionei. Estou louca para ler o terceiro capítulo.
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Post by Nany*Potter »

caraca mt show! Belzinha vc e + q D+! ( desculpa eu nem te conheço bem) mas sou sua fan!!

continua logo! plix!!!! bjos!
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Post by Belzinha »

Regina: Pode ter certeza que a sua presença no casamento também foi muito apreciada! (A Chantal adorou brincar com os seus filhos).

Tio Jaja: o Fred disse que vai mandar ainda esta semana aquele estoque de vomitilhas que prometeu para você.

Drusilla: O Zacharias Smith pediu desculpas pelo comportamento dele no casamento, mas é que a amiga da Ana, a Luíza, realmente acaba com a paciência dele...

Nany*Potter: Obrigada pelos elogios *Ficando vermelha*
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Post by Belzinha »

3. Nasce Uma Nova Bruxa

O despertar foi suave, como se estivesse deitada sobre nuvens. Espreguiçou-se lentamente, sentindo com satisfação os lençóis macios que a cobriam. Um sorriso delineou-se em seus lábios, ante a sensação de que era a mulher mais feliz do mundo.

Estendeu o braço em busca da "fonte" de sua felicidade, mas o lugar ao seu lado no leito estava vazio. Contrariada, abriu os olhos e esquadrinhou ao redor, encontrando o ambiente tão silencioso quanto deveria ser as aulas de Poções quando Severus Snape era professor em Hogwarts.

Teve que admitir que a visão da tenda sob a qual eles estavam vivendo nos últimos dias era de tirar o fôlego. Simples, mas projetada para dar o máximo de conforto a seus ocupantes, e com uma decoração que não deixaria nada a desejar ao próprio Laurence da Arábia. Por falar em conforto, como se não bastasse o colchão sob o qual dormiam ser para lá de macio, ele estava... Flutuando a cinqüenta centímetros do chão! Isso explicava a sensação de estar em uma nuvem quando acordara.

Mas era estranho não ver o marido por ali, Ana ponderou. Acostumara-se a acordar todas as manhãs e dar com o ruivo, já desperto, a observá-la. Aquilo lhe dava uma certa sensação de poder feminino, e isso meio que "compensava" o poder que "ele" tinha de fazer seu coração parar.

Resolveu levantar-se e vestir um dos leves vestidos típicos da região, que adotara desde que tinham chegado ali há uma semana. Saiu da tenda, maravilhando-se mais uma vez com a paisagem à sua frente.

Se uma imagem pudesse traduzir a palavra "paraíso", com toda a certeza seria aquele oásis.

Carlinhos e Ana tinham escolhido o Egito para a sua viajem de lua de mel. Como Ana havia descoberto, o país era o destino favorito dos turistas bruxos. Os locais afastados dos grandes conglomerados das cidades trouxas, somados à amplitude do deserto, eram perfeitos para "resorts", com feitiços protegendo-os do olhar dos trouxas. Os oásis se constituíam, portanto, no refúgio perfeito para bruxos em férias... Ou em lua de mel, como eles.

Ana não era muito de seguir modas. Gostava de ter opinião própria e fazer suas escolhas baseada em prós e contras muito bem definidos, e o marido era de mesma opinião. No entanto, verdade seja dita, ela ainda era a mesma Ana criada no mundo trouxa, e para quem, lógico, o Egito não tinha nada de "comum".

Mas a simplicidade do local a agradara muito. Observando-o agora, ele bem que poderia ser confundido com um oásis ocupado por caravanas de pessoas não-mágicas. Havia tendas, camelos, pessoas vestindo roupas típicas andando para lá e para cá e fazendo os ruídos costumeiros de um acampamento acordando. É claro que, para tanto, deveria se excluir as pessoas chegando em tapetes voadores, objetos sendo conjurados o tempo todo e a presença de comerciantes de artefatos mágicos...

Por falar em comerciantes, acabara de visualizar o marido conversando com um deles. Se não estava enganada, era um dos que vendiam tapetes voadores. O homem, vestido com roupas e turbante brancos, gesticulava muito enquanto respondia aos questionamentos de Carlinhos. Ana balançou a cabeça, sorrindo. Seria possível que o ruivo estivesse pensando em adquirir um tapete voador? E o que eles fariam com um na Inglaterra, se eles eram proibidos por lá? Às vezes, seu marido se comportava como um menino trouxa encantado com as histórias das "Mil e Uma Noites".

Resolveu fazer uma surpresa para ele. Voltou-se para dentro da tenda, e se ocupou com a cesta de frutas e pães que sempre aparecia pela manhã nos "aposentos" dos hóspedes. Com um movimento de varinha, fez com que as frutas se descascassem sozinhas e começassem a serem cortadas em fatias apetitosas. Em seguida foi a vez do pão, que, coberto com porções generosas de mel, ficariam irresistíveis. Finalizando, com mais um movimento de varinha, conjurou leite e suco de abóbora, e o café da manhã estava pronto. Não eram as salsichas com bacon da senhora Weasley, nem o típico café colonial do Brasil... Mas Carlinhos havia demonstrado gostar daquela refeição (e Ana também). Portanto, não havia nada a reclamar e, mesmo havendo a possibilidade de ir à tenda maior, onde os hóspedes em geral poderiam fazer suas refeições e com mais opções, eles vinham preferindo tomar o desjejum na própria tenda.

Enquanto a comida se "acomodava" sozinha nos pratos e bandejas, ela pensou que ser bruxa, afinal, era muito divertido!

Carlinhos chegou naquele momento, dando com a esposa cantando uma música em português que ele não conhecia, toda alegre, e fazendo o café da manhã de ambos. Ana parecia totalmente parte do lugar, como se fosse uma das mulheres do deserto, apenas os olhos azuis denunciando a ascendência européia. Tinha se adaptado rápido e se mostrava à vontade ali, além de ter conquistado com o seu jeito simples e alegre o casal de meia-idade que administrava o local.

Ana usava um cáftã azul, com os cabelos soltos caindo em cascatas de cachos negros sobre os ombros. A pele dourada contrastando com o azul do vestido, cujo tecido insinuava o corpo tentador por baixo dele. Seu coração disparou e sorriu com o pensamento que aquela mulher incrível era SUA esposa.

Não resistindo à tentação, abraçou-a pela cintura e puxou-a para si. Ainda de costas para o marido, ela riu ao sentir um beijo em seu pescoço.

- Ah, então meu ilustríssimo esposo resolveu vir falar comigo. – disse brincalhona. – O que houve? Resolveu aventurar-se esta manhã pelo fascinante mundo da venda dos tapetes mágicos?

- Você gosta de me provocar, não é mesmo?

- O quê? Ainda não tinha notado? – ela riu, maliciosa.

- Esposa ingrata! – ele fingiu indignação. – Saiba que eu fui comprar um presente com Omar.

- Um presente?

Ana fez menção de se virar, mas ele a impediu, bem-humorado:

- Não senhora! Fique assim mesmo. – ele a segurou pelos ombros, instigando-a a ficar de costas. – Achei que isto iria combinar com você.

Ana viu uma fina corrente de ouro ser posta ao redor de seu pescoço. Nela, um pingente em forma de triângulo, com um olho aberto gravado ao centro.

- O Olho Que Tudo Vê! – Ana exclamara.

- Conhece? – Carlinhos levantou uma sobrancelha, enquanto ela se voltava para ele.

Às vezes ela o surpreendia ao revelar ter conhecimento de certas coisas do mundo mágico, mas nunca sabia o que vinha do encantamento do bracelete de Helga ou não.

- Sim! – ela confirmou, empolgada. – Esse símbolo foi usado pelas principais sociedades secretas trouxas: templários, iluminatis, maçons... – ela sorriu mais amplamente ao completar: - Eu adorei o presente!

Carlinhos compreendia que o significado dos objetos tinha mais valor para Ana do que seu preço. E que artefatos ligados a mistérios antigos a fascinavam. Aliás, ambos se entendiam quase que intuitivamente.

O incrível é que o casal tinha se conhecido por umas poucas semanas antes de se descobrirem irremediavelmente apaixonados. Depois, Carlinhos teve que passar oito anos longe dela. Mesmo admitindo-se que o tempo mudava as pessoas, as mudanças pelas quais ele passou não afetaram o que ele sentia por ela. E eles pareciam se entender cada vez melhor. Isso era evidente mesmo quando discutiam por não concordar em algo e amaldiçoavam um ao outro pela teimosia que atribuíam existir exclusivamente no consorte.

As mesmas qualidades que faziam de Carlinhos um tratador de dragões tão bom, como força, observação e instinto apurado, encantavam Ana e a prendiam cada vez mais a ele. E ele precisava da leveza com que ela tratava de tudo, sempre intervindo nas horas certas e o mandando relaxar, com aquela autoridade suave, mas persistente, que só Ana conseguia imprimir.

Ela o beijou, como forma de agradecer por ter dado mais uma prova de entendê-la tão bem (mesmo Carlinhos afirmando, mais de cem vezes, que ela sempre o surpreendia). Ana planejava um beijo rápido e terno quando inclinou a cabeça para trás e, pondo-se na ponta dos pés, tocou os lábios dele com os seus. No entanto, Carlinhos não concordou com este “rápido”. Puxou-a para si, prendendo-a em seu abraço e prolongando a carícia.

- Carlinhos... – ela sussurrou, tentando impor certo tom de zombaria na voz, mas que saiu totalmente ofegante: - Você não está com fome?

- Faminto... – ele respondeu, a voz rouca, arrancando um riso compreensivo de Ana.

Naquele momento, uma coruja entrou afobada pela abertura da tenda, vindo a cair nas inúmeras almofadas do divã, em um dos cantos. Mesmo surpreso, o casal não perdeu tempo em ir ver o que sua inesperada visitante lhes trouxera.

Enquanto Ana tratava de dar água à pobre coruja ressequida da viagem pelo deserto, Carlinhos pegou a carta que ela carregava. Era uma carta de Agatha, e o carimbo que cobria boa parte do envelope, exibindo letras garrafais, provocou uma ruga de preocupação na testa do ruivo:

- “Urgente”?

Ele abriu-a depressa. Correu os olhos pelas linhas escritas e, ao chegar ao fim delas, passou a carta para Ana e disse, com espanto na voz:

- Merlim! Temos que voltar ao Brasil!


***

[Alguns dias antes...]

Agatha e Moody tinham acabado de se despedir dos Weasleys, que haviam ficado alguns dias a mais no Brasil depois da partida dos noivos. A família Anhanguera ainda estava ocupada com os parentes que haviam vindo de várias partes do país, de forma que não foi difícil “leva-los de volta ao aeroporto” sem que nenhum deles insistisse em acompanhá-los.

Exceto por Mel e Felipe, naturalmente. As crianças tinham sido maravilhosas naqueles dias, ajudando em tudo que podiam. E tentando não deixar transparecer muito a empolgação por terem tanta gente de Harry Potter por perto.

Agora eles estavam no carro, retornando para a casa dos tios de Ana. Mel estava pensando que tinham sido os dias mais maravilhosos de sua vida.

Mas agora tinha acabado.

Todos foram embora, sua tia Ana iria morar longe e até mesmo Agatha partiria no dia seguinte (se a menina já gostava daquela senhora, agora, então, que soubera que ela era bruxa e tinha ninguém menos que Olho-Tonto Moody como marido...). No entanto, Mel teria que ficar longe de toda esta magia, junto com os outros “trouxas”.

Não que não gostasse do mundo em que vivia. Mas... Magia! Gostaria de passar mais algum tempo com eles, poder perguntar-lhes sobre tantas coisas que ainda tinha dúvidas! Era, literalmente, um mundo novo, e Mel queria explorá-lo.

Aliás, talvez por isso mesmo a menina tenha se dado tão bem com Lupin. O ex-professor tinha uma paciência de Jó com ela, respondendo tranquilamente aos questionamentos e até mesmo apreciando tanta sede de conhecimento em alguém tão jovem. Tonks simplesmente caiu de amores pela menina, que era uma gracinha quando sorria e fazia uma covinha na bochecha direita, lembrando a Auror de uma boneca que tinha ganhado do pai quando era criança. Alguns dias com eles e pronto: Mel venerava Lupin, a quem achava o mais inteligente e bondoso dos homens, e queria ser tão carismática quanto Tonks – que era o máximo com aquele jeitão atrapalhado, mas sempre sabendo a coisa certa a fazer.

Mel deu um sorriso triste ao pensar que, pelo menos, seus novos amigos tinham se divertido muito no Brasil (e tinha certa nota de orgulho ao pensar neles como “seus amigos”). Fora muito bom ver seu herói, Harry Potter, descontraindo-se em sua visita ao país: onde não havia nem lembrança de Voldemort e, apesar do nome do Menino-Que-Sobreviveu também ser conhecido ali, os bruxos brasileiros não tinham estado tão perto de tudo a ponto de poderem reconhecê-lo na rua, o que demonstrou que os cuidados do Ministério da Magia brasileiro tinham sido exagerados.

A garota quase gargalhou ao lembrar dos gêmeos tendo mil e uma idéias para incrementar os itens da “Gemialidades Weasleys”. Eles disseram que a visita ao Brasil estava sendo profundamente produtiva, porque a cada segundo percebiam mais coisas originais e criativas que os brasileiros inventaram. “Esse país é uma mina de criatividade”, disseram, certa vez.

“É...”, pensava a menina, “Agora o jeito é voltar à rotina casa-escola-casa”.

A idéia não teve o efeito de animá-la, como Mel esperava. Ela apoiou a cabeça no vidro da janela do carro, triste. Tinha conhecido Harry Potter... E daí? A sua vida continuava a mesma. Isso não alterava o fato de ser a mesma CDF com dificuldades de fazer amigos... As lágrimas ameaçaram cair pelo rostinho infantil, e ela deu graças a Deus por ninguém dentro do carro poder ver seu rosto agora.

No mesmo instante que um nó se formara em sua garganta, o apoio no qual estava sua cabeça sumiu. Em um momento tinha a solidez do vidro como suporte e, de repente, sua cabeça estava para fora do carro, e por milímetros não foi decepada pelos carros que passavam no sentido contrário.

- Menina maluca! – alguns dos motoristas gritaram.

- Fecha o vidro! Quer morrer?

Com a confusão, Agatha estacionou o carro rapidamente no acostamento, sem saber direito o que estava acontecendo. Os outros três ocupantes do carro estavam olhando a garota, que se encolhia no banco, assustada.

- O vidro... Sumiu! – a menina balbuciou, tentando explicar que não fora culpa dela. No fundo, imaginava que os dois bruxos sentados nos bancos da frente pudessem ter uma explicação.

Mas foi Felipe quem primeiro matou a charada:

- Como aconteceu com Harry no zoológico!

- Merlim... – Agatha sussurrou, encarando estupefata a menina e compreendendo o que aquilo significava.


***

[Hoje]:

Na sala da casa dos tios de Ana, estavam os pais de Mel, os tios, as crianças, mais Ana e Carlinhos. Ela estava à meia hora dando voltas e mais voltas no assunto, na tentativa de não ser muito “traumatizante” em sua revelação. No entanto, não obtivera resultado nenhum além de deixar os adultos impacientes. Finalmente, Carlinhos resolveu interrompe-la, sugerindo que ela fosse mais direta no assunto.

Ana fuzilou o marido com o olhar, recebendo em troca um calmo dar de ombros dele, e uma expressão de “é o jeito”.

“Mais direita? Di-re-ta?”, pensou. Ora, ele não sabia como era ter uma família trouxa a quem revelar que toda uma série de coisas que eles consideram contos de fadas existe!

Mas teve que dar o braço a torcer. Quem sabe, se ela fosse rápida, também seria indolor? Assim, pôs-se a contar tudo. Eles a ouviam com as expressões mudando à medida que a narrativa avançava. Primeiro, fizeram um ar de riso, achando que era piada. Depois, começaram a ficar assustados, certamente pensando que Ana enlouquecera. Daí, perceberam que Carlinhos ficava quieto, em um mudo consentimento à esposa. Os dois estavam loucos ou... Bem, a certa altura, quando Ana disse que Mel também era uma bruxa, Patrícia levantou-se indignada, perguntando se ela tinha se convertido à Wicca e tinha levado a filha junto.

Ana suspirou, e recomeçou a contar tudo. Não ajudou muito na defesa de sua própria sanidade mencionar Harry Potter. Ainda mais quando revelou que o Harry, o cunhado de Carlinhos que eles conheceram, era o personagem sobre o qual eles ouviam as crianças falarem tanto, mas cuja história nunca tinham se interessado em conhecer.

Marcos, a princípio tão incrédulo quanto os outros, foi ficando cada vez mais taciturno à medida que Ana falava. Quando ela explicou que Mel tinha feito o vidro do carro desaparecer, ele fitou a filha, pensativo, como se tivesse compreendido algo.

Ana já tinha se cansado de rebater tantas objeções ao que ela estava falando, e mandou a idéia de ser cuidadosa às favas. Resolveu que um “tratamento de choque” daria fim àquela agonia. E o “choque” seria ela fazer uma mágica.

Mas um “crack” foi ouvido e Ana percebeu que Agatha tinha acabado de fazer esse favor para ela. A senhora havia aparatado no meio da sala, provocando gritos assustados nos trouxas.

- Desculpe... – Agatha lançou um olhar culpado à Ana quando percebeu o que fizera. – Achei que a esta altura você já tivesse contado...

- Eu contei. – Ana suspirou, cansada. - O problema é que eles não acreditam!

- O que... Foi isso? – Bianca perguntou, em um fio de voz. – Você... É uma bruxa! – afirmou totalmente perplexa para Agatha.

- Eureca! Finalmente! – Felipe exclamou, irônico. Durante toda a conversa Mel e ele tinham tentado se juntar à tia, sempre sendo mandados ficar quietos pelos adultos.

- Espere um pouco! – Antônio ainda se recusava a acreditar. – Meu barbeiro, o Alfredo, também sabe fazer mágica e não se autodenomina “bruxo”. – concluiu com ironia: - Isso pode ter sido um truque!

- Os trouxas mais trouxas que eu já vi... – Agatha resmungou.

- Do que você nos chamou? – Bianca perguntou bem devagar, a voz entre a perplexidade - réstia do choque frente ao que tinha visto - e a indignação.

Ignorando as animosidades entre as duas, Ana explicou ao tio:

- Sim tio, isso mesmo: Alfredo faz truques. Ele faz uma moeda aparecer atrás de sua orelha. Mas é só isso mesmo: um truque. Não é magia de verdade.

- Lógico! – Patrícia, exclamou. Tinha balançado com a aparição de Agatha, mas a intervenção do pai reanimou sua incredulidade: - Porque magia de verdade NÃO EXITE!

Mel e Felipe se olharam e resmungaram, imitando a frase de Valter Dursley:

- “Não existe esta coisa de magia...”.

- Er... – Marcos pigarreou, manifestando-se pela primeira vez. – Eu tenho que concordar com Ana... – e sentenciou, um tanto incomodado em fazê-lo: - Bruxos existem.

- Eu não acredito... Que você acredita! – Patrícia estava chocada e um tanto indignada com o marido. – De onde tirou esta certeza?

- É... De onde? – Mel repetiu, refletindo a perplexidade de todos após a afirmação de Marcos.

- Querida... – ele começou, dirigindo-se à Patrícia: - Lembra-se da vovó Gertrude?

- Claro! Como poderia esquecer? Ela vivia chamando os filhos de abortos! – diante do grito surpreso das crianças, ela apressou-se a explicar: - Não se preocupem, lindinhos, ela nunca aprendeu o português direito, devia fazer confusão...

- Não, mãe! – Lipe a interrompeu – Essa é uma expressão que os bruxos usam para chamar quem não tem magia!

- Trouxa para quem não tem magia, e aborto para quem nasceu de pais bruxos, mas não é um deles. – Mel corrigiu o irmão, retomando a sua costumeira precisão nas coisas.

- Exato. – Marcos concordou. – E vovó Gertrude... Era uma bruxa.

A revelação deixou todos boquiabertos. Marcos pôs-se a explicar que Gertrude Hammer, mais tarde Gertrude Warmlling, havia se apaixonado por um simples operário trouxa ainda na Alemanha (o próprio Marcos estranhou usar a expressão “trouxa”). Os dois se casaram e imigraram para o Brasil no início do século XX. Como nenhum dos filhos ou netos havia apresentado esta... “particularidade”... Bem, a família praticamente nem se lembravam do fato, a não ser quando uma coruja com alguma carta dos parentes de Gertrude chegava, ou quando a avó, brava com alguma coisa, os chamava de “abortos” (se arrependendo imediatamente depois, mas a velhinha não era fácil...).

- Pai... Então, você sabia sobre o Harry? Sobre os outros que estavam aqui? – Mel perguntou.

- Não eu... Querida, para falar a verdade eu nunca assisti aos filmes, você sabe... Eu pensei que fosse apenas mais uma história sobre bruxos. E durante o casamento, tinha tanta coisa a fazer, tanta coisa acontecendo... Confesso que não prestei atenção e, como sei apenas de fragmentos do mundo bruxo, duvido que tivesse percebido, mesmo em outras circunstâncias.

- Bah! – Antônio desdenhou. – Vocês se juntaram para me pregar uma peça!

- Tio, porque eu e Carlinhos sairíamos de nossa lua de mel para aplicar uma peça? – Ana perguntou, tentando ser paciente.

- Não sei! Deve haver uma explicação mais sensata do que essa que vocês estão querendo me fazer engolir! – ele olhou para uma caixinha de papelão que estava em cima do armário, e resmungou: - Alguém passe o meu remédio, quase que vocês me fizeram esquecer com esta bobagem...

Era hora de acabar de vez com aquilo, Ana pensou. Sacou sua varinha, fazendo a caixa com comprimidos flutuar até o tio.

Ele estendeu o braço, impaciente, e enquanto botava as mãos ao redor dela, dizia:

- Truques! Cordas ultrafinas e... – parou subitamente, ao perceber que não havia nada a sustentando.

- Quer um copo de água? – Ana perguntou, séria, enquanto um copo com água conjurado por ela aparecia na frente do tio.

- Meu... Deus! – Antônio empalidecera, AGORA acreditando. Definitivamente.

Diante da capitulação do pai, Patrícia acabou por se render também. Ela já estava praticamente convencida depois que o marido contara tudo aquilo. Marcos nunca foi bom em mentir. Conhecia o marido o suficiente para saber que ele acreditava em cada palavra do que dissera. Pondo as mãos no rosto, aceitou a realidade de que bruxos existiam. E que Ana, Agatha e Carlinhos o eram. Que sua filhinha era!

Bianca perguntou, magoada, se a sobrinha contaria tudo isso a eles se não tivesse acontecido o que aconteceu com Mel. Com uma pontada de culpa, Ana respondeu que estava esperando o momento certo, e que talvez só contasse para os tios... Já com as crianças não tivera jeito, tivera que contar: elas iriam desconfiar, de qualquer forma, sabendo tanto sobre Harry Potter e os Weasleys.

Vendo a expressão desolada da prima, forçou-se a terminar o que tinha começado, por mais duro que fosse:

- Patrícia... Marcos... – Ana pegou as mãos da prima, tentando dizer aquilo da melhor forma possível: - Não foi só para dar esta notícia a vocês que viemos aqui. É importante que você e Marcos entendam uma coisa... Agora, Mel PRECISA de uma educação adequada.

Foi uma nova luta fazer a prima entender que a “educação adequada” para a garota era uma escola de magia. Patrícia insurgiu-se contra a idéia, ainda mais ao saber que o currículo de uma escola assim não tinha nada em comum com o que os trouxas achavam fundamental ser aprendido. E a situação piorou quando ela soube que, em virtude da quantidade de coisas a serem aprendidas e pela necessidade de ficarem em locais isolados, as escolas bruxas funcionavam em regime de internato.

Marcos também pensava que a filha precisava ir para uma escola bruxa. Até mesmo porque ele tinha ouvido certas histórias da avó sobre como é o despertar da magia nas crianças bruxas. Mas lhe custava se separar da filha, queria ter certeza de que era o melhor para ela. Ele disse tudo isso a esposa, e finalizou falando que a decisão tinha que ser dos dois.

Bianca e Antônio faziam intervenções aqui e ali, mas mantinham-se no geral calados, apenas absorvendo todas aquelas informações novas.

Mel permanecia quieta e ansiosa, como se uma palavra sua fosse estragar a chance que estava surgindo na sua vida. Assustada, permaneceu apenas escutando os adultos.

Carlinhos, que até então tinha se mantido calado, achando que o palpite de quem tinha acabado de entrar para a família iria piorar as coisas, resolveu intervir e esclarecer uma coisa muito importante para a mãe de Mel:

- Patrícia... É perigoso para ela ficar sem saber como controlar e usar seus poderes. Quando as habilidades mágicas de Mel foram descobertas, ela havia feito o vidro da janela do carro desaparecer. Felizmente não aconteceu nada naquela ocasião. Mas coisas assim vão voltar a acontecer: objetos se quebrando, ou sumindo, ou pegando fogo... Se o jovem bruxo não for treinado, a menor mudança de humor pode causar um desastre.

Ana percebeu um certo “drama” nas palavras do marido, seguramente no intuito de convencer Patrícia. Mas o que ele falara não tinha nem uma nota de mentira: aquelas coisas realmente iriam acontecer.

- Mãe... – Mel disse com voz suplicante. – A senhora não quer que eu vire uma “Carie: a estranha”, quer?

- Não, claro que não, querida. – Patrícia mordeu os lábios, parecendo balançada. – Mas... Existe uma escola bruxa por aqui?

Ana e Agatha explicaram que havia somente uma no Brasil, apesar do tamanho de nosso país exigir pelo menos três. O “Centro de Excelência em Educação e Pesquisas Mágicas do Rio Negro” ficava na região Amazônica, e sua localização exata, lógico, ninguém estava autorizado a dar a pessoas não-mágicas (tia Bianca tinha ficado especialmente sensível com o termo “trouxas”, ainda mais se usado por Agatha, de forma que eles estavam evitando pronunciá-lo). O local era perfeito para uma grande escola de magia, porque era isolado e a floresta fechada ajudava muito nos feitiços que mantinham as pessoas não-bruxas a uma distância segura. Devido às características da população bruxa do país, o Centro Rio Negro, como era conhecido, funcionava tanto como uma escola para crianças e adolescentes (que despertassem suas características mágicas por volta dos onze anos, como na Europa), quanto um centro de treinamento para aqueles cujos poderes emergissem somente mais tarde. Ao mesmo tempo, desenvolvia pesquisas dentro das Artes Mágicas, funcionando como uma “universidade” bruxa. Em todo o mundo, dizia-se que o Centro Rio Negro realmente merecia a palavra “Excelência” no nome.

- Vocês poderiam mandar Mel para lá. Como brasileira, ela tem vaga garantida, conforme eu me informei com o Diretor do Centro Rio Negro. Nesse caso, ela estaria na segunda melhor escola de magia do mundo. – Ana fez uma pausa ansiosa antes de completar: - Ou, então... Poderiam mandá-la para a “melhor” escola de magia do mundo...

Antes que Patrícia pudesse questionar qual seria essa escola, Lipe e Mel falaram, extasiados, os olhos muito abertos:

- Hogwarts!

- Sim. – Ana disse, sorrindo. – A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, na Grã-Bretanha. A princípio, eles selecionam apenas britânicos para estudarem lá, mas... Bem, tia Agatha e eu somos descendentes de uma das fundadoras da escola. Não gostamos de usar isso como forma de influência, mas desta vez é por uma boa causa. E a Diretora McGonnagal concordou em matricular Mel em setembro. Se vocês concordarem, é claro.

- Mas, qual seria a vantagem? - Marcos perguntou. – Ela estaria ainda mais longe de nós...

- Pensem bem: não vão poder acompanhar Mel até a Amazônia. E ela vai ficar em regime de internato. Só vai poder sair de lá nos feriados e nas férias. Já em Hogwarts, ela vai estar mais perto de mim e de Carlinhos. Como bruxos, podemos acompanhá-la melhor. E Agatha mora em Hogsmeade, um vilarejo bruxo perto de Hogwarts. Mel teria sempre alguém por perto, para auxiliá-la no que fosse preciso. – Ana tinha a voz terna quando completou: - Patrícia, eu te considero minha irmã. Preocupo-me com você e com sua família e, você sabe, faço qualquer coisa para vê-los bem. E, se faço esta sugestão é por pensar no que é melhor para vocês e para Mel. No Centro Rio Negro ela estaria em boas mãos, pois é uma escola muito boa. No entanto, estaria longe de seus familiares. Em Hogwarts, ela teria a nós.

- Mãe... – Mel disse com a voz cheia de esperança, os olhos brilhando como nunca: - Eu... Eu realmente gostaria de ir para Hogwarts. De verdade.

Patrícia respirou fundo, fazendo um sinal de concordância com a cabeça, finalmente capitulando. Mel soltou um gritinho de alegria e beijou os pais.

- Bem... Então acho que agora vocês têm um bom motivo para conhecer o universo harrypotteriano. – Ana comentou. – Sugiro que comecem vendo o primeiro filme...

- Eu vou até a locadora alugar o Pedra Filosofal... – Lipe disse, levando-se e caminhando com a cabeça baixa e passos arrastados.

- Certo. – Ana concordou, não passando despercebido o jeito triste do menino. – E nós vamos dar uma volta enquanto isso.

- Espere! – Patrícia chamou. – Por que não assistem com a gente e explicam o que não entendermos?

- Os bruxos que sabem da existência dos livros e dos filmes não podem lê-los ou assisti-los. Proibição dos Ministérios da Magia do mundo todo. Quer dizer, os governos dos bruxos. – Ana respondeu. – Nem mesmo eu, depois de ter desenvolvido minhas habilidades. Acredito que isso deixaria o mundo bruxo muito... Irrequieto.

- Mas quem vai saber, se vocês assistirem? – Antônio perguntou, falando algo que, para ele, era evidente.

Ana imaginou a casa dos tios sendo invadida por um batalhão de corujas portando cartas do Ministério da Magia do Brasil, informando-os que tinham infringido um decreto mágico. A cena seria hilária, pensou.

- Acredite, tio. O Ministério VAI saber...


***

Maio se fora, junho também, e as férias de julho chegaram (férias de inverno no Brasil). Um dia, uma das corujas de Hogwarts aparecera na casa de Mel, portanto a já tão sonhada carta de admissão.

A garota rodopiara pela sala com o papel, enquanto os pais olhavam um tanto apreensivos para a ave empoleirada na janela. Eles já sabiam desta forma de comunicação dos bruxos, é claro. Assistiram a todos os filmes e leram os livros também. À medida que Patrícia foi tomando conhecimento das aventuras de Harry Potter na escola de Hogwarts, também foi escrevendo cartas cada vez mais apreensivas à Ana. A Auror as respondia tranqüilizando a prima, dizendo que os perigos pelos quais Harry havia passado já não existiam mais, e o máximo que poderia acontecer com Mel seria ela desmaiar no segundo ano, caso ela não pusesse corretamente seus protetores de ouvido ao lidar com mandrágoras nas aulas de Herbologia.

Claro que Ana evitara, estrategicamente, falar sobre os “bichinhos” de Hagrid...

Quando agosto finalmente veio, Mel se preparou para embarcar na maior aventura de sua vida. Isto porque os tios, Ana e Carlinhos, iriam buscá-la para que ela passasse um mês no mundo bruxo com eles, acostumando-se a ele antes de ir para Hogwarts.

Ela estava arrumando as malas quando viu Felipe passar pela milionésima vez pelo corredor, com cara de enterro. Pela primeira vez naqueles meses todos, a menina se deu conta do porquê do irmão estar daquele jeito. Mel não acreditava como pudera ser tão insensível e egoísta! Estava tão absorta na sua própria felicidade, sonhando acordada pelos cantos, que simplesmente “desligara” para tudo ao seu redor.

- Lipe! – Mel o chamou. O menino apareceu na porta do quarto da irmã, totalmente desanimado. – Vem cá. – ela sentou-se na beirada da cama e indicou o lugar ao seu lado.

Felipe, a contragosto, sentou-se ao lado dela, como Mel queria.

- Maninho... Por favor, não fica assim. – pela primeira vez na vida, ela não sabia como colocar em palavras o que queria dizer.

- Assim como? Chateado por ser um simples trouxa? – Lipe respondeu, magoado.

- Não! E trouxas não são simples!

- Você vai aprender um monte de coisas legais...

- E você também. – Mel retrucou. – Não pense só no que eu vou aprender, Lipe. Lembre-se das coisas que eu NÃO VOU aprender também. Ou acha que o conhecimento trouxa não é importante?

- Não é isso é que...

- Lembra do que a gente falava? Que os trouxas eram mais inteligentes, que sabiam se virar melhor do que os bruxos, porque eles não tinham magia para consertar tudo sempre?

- Lembro...

- Então, maninho! Já imaginou o que poderemos alcançar, nós dois juntos? A magia que vou aprender a usar junto com o conhecimento que você vai conseguir? Quando formos adultos, ninguém vai nos segurar!

Lipe deu um meio-sorriso, e Mel continuou:

- E eu vou precisar de você, Lipe. Eu vou para um mundo diferente do que papai e mamãe vivem. Eles não vão entender muitas coisas que vão acontecer comigo de agora em diante. Preciso... Preciso de alguém que me ajude a segurar a barra.

Desta vez, Felipe sorriu amplamente. Agora ele tinha compreendido o quanto seria importante para a irmã.

- Pode deixar, eu cuido dos velhos. Eu detestaria ser uma espécie de “tia Petúnia”. Arg, Deus me livre!

- Isso inclui não por meus filhos vivendo em armários, lembre-se disso! – Mel acrescentou, sorrindo.

- Sem armários – Lipe levantou os dedos indicador e médio, em sinal de jura: - Prometo!

Os dois riram e se abraçaram. Aqueles irmãos implicavam um com o outro, fingiam se odiar... Mas a verdade é que se protegiam constantemente e compravam briga com qualquer um que se atrevesse a falar mal do outro.

Ana e Carlinhos chegaram para buscar Mel. Seus pais e os avós os acompanharam até aquele mesmo lugar de onde os bruxos usavam chaves de portal. Só então eles tinham sabido onde ficava o verdadeiro “aeroporto” para onde Ana e Agatha iam.

No caminho, Mel ia pensando nas coisas que iriam lhe acontecer. Relera “Harry Potter e a Pedra Filosofal” mil vezes (enquanto podia, porque depois de passar pelo Ministério da Magia na Inglaterra, ficaria oficialmente proibida disso). Então sabia de cor o que a esperava: Hagrid os buscaria na estação em Hogsmeade. Depois, seria a seleção para as Casas (mal podia esperar!) e então... O ano letivo em Hogwarts começaria.

Será que iria fazer muitos amigos? Amigos como Harry fizera ao conhecer Rony e Hermione? Tentou se lembrar se haveria alguém “conhecido” freqüentando Hogwarts. Recordou-se que Lupin havia dito que Tonks e ele tinham um filho.

- Ah, vocês têm um filhinho? – Mel perguntara, encantada, imaginando um menininho mais ou menos da idade de Chantal. – Quantos aninhos ele tem?

- Onze. Quer dizer, doze em 16 de agosto. – Remo riu, diante da perplexidade da menina. – Infelizmente ele não pôde vir por causa da escola. Está terminando o primeiro ano em Hogwarts.

Mel sabia que a idade do garoto não batia com nada que ela lera sobre o casal Lupin. Eles se casaram em 1997 e, pelo menos até ali não tinham tido filhos – isto estava muito claro em “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”. A não ser que tivessem criado um menino... Mas não tivera oportunidade de questioná-los, porque já estava na hora de partirem.

Bem... Quem sabe não encontrava o tal menino?

Despediu-se dos pais e dos avós, em lágrimas. Garantiu-lhes que tudo iria ficar bem e até brincou com a mãe que se ela não parasse de chorar iria ficar com olheiras (coisa que sabia que Patrícia detestava). Abraçou o irmão, prometendo escrever-lhe contando tudo.

Quando chegou a hora, seguiu com os tios até a chave de portal. O homem que cuidava do local, Roberval de Freitas, iria levar os “trouxas” de volta até a entrada. Ana apertou a mão da sobrinha, dando-lhe coragem, e a menina sorriu para ela, agradecida.

Os três tocaram no objeto enfeitiçado, e foram tragados por ele.

---

(N/A): Bem... Tá, eu demorei para postar, realmente... Desculpem! Mas é que minha vida anda uma loucura ultimamente, não tive tempo de postar antes. Mas não desisti. Fiquei firme, fazendo um pouquinho de cada vez.

Este capítulo “arruma” as coisas para entrarmos na história propriamente dita (o tal Segredo de Corvinal) e, aos poucos, novos personagens vão aparecendo, ou então velhos personagens sob um novo ponto de vista. (Sim, vão imaginando um monte de personagens harrypotterianos que apareceram na fic anterior...).

Gostaria de fazer outro agradecimento especial à Drusilla por ter me dado a idéia da escola de magia do Brasil ficar na Amazônia.

Valeu por terem chegado até mais este capítulo, gente. Obrigado por estarem acompanhando. Beijos!
Last edited by Belzinha on 23/03/06, 09:37, edited 1 time in total.
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Post by Jaja Weasley »

Hmmm...vc tem crédito e está perdoada pela demora...

MAS QUE ESSA SEJA A ÚLTIMA VEZ!!!

Pra variar, água na boca total...

Beijokas
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Post by Regina McGonagall »

é cá estou, de novo, às lágrimas, nem dando conta de atender ao telefone... :emo11:
(agora mesmo vou ter que começar a dar a velha desculpa da gripe... :mrgreen: )

este capítulo, principalmente a conversa entre os irmãos, foi emocionante e lindo.

de novo, amiga, PARABÉNS! :palmas :palmas :palmas
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Post by Jaja Weasley »

Acabei de ler...

Belzinha tá arrebentando. :palmas :palmas :palmas

Queremos mais, queremos mais... :mrgreen:
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Post by Drusilla_Julli »

Nossa Bel, depois desse capítulo, Mel definitivamente me conquistou, ela é tão doce e compreensiva. Está definitivamente se tornando uma das minhas personagem favorita. Sabe, ele lembra minha irmã mais nova.

A reação da família de Ana foi tão realista, acho que seria a mesma coisa comigo (embora eu ache que no início eu teria um ataque do tipo "por favor, não me machuque", hehe) e a minha família. Fico imaginando os pais de Mel, deve ser bem difícil para eles. Nesse ponto, você fez uma melhor escolha que JKR, que quase não dá antenção a personagens trouxas como os pais de Mione, o que é uma pena pois eles dariam uma nova perspectiva dos trouxas ao mundo da mágica, que não fossem os caricatos Dursleys.

Sempre quis saber mais dos Grangers, às vezes me parece e o mundo mágico "rouba" as crianças trouxas de nascença dos seus pais (mas acredito que não seja bem assim), e que Mione esteja abandonando suas raízes. Outro problema que vejo na história de JKR é a adaptaçaõ das crianças. Mas... bem já estou viajando, voltando a sua história.

Como eu ia dizendo, eu já li muitas fanfictions de personagens trouxas de nascença que descobrem que são bruxos (a grande maioria em inglês) e a sua, é, disparada, a melhor e mais bem escrita reação a essa descoberta que já vi. Me emocionei mais nessa capítulo do que no último. Já disse que amei a Mel? Ela é um doce. E gostei mais ainda de Ana nesse capítulo. Aliás, os todos os Anhanguera me conquistaram.

Quanto a sugestão: De nada!
Ser gentil e respeitar os outros não é sinônimo de fraqueza

Vivam um dia de cada vez.
Sejam legais uns com os outros (Bill & Ted)

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Belzinha
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4. Hogwarts, Aí Vou Eu!


Foi como entrar em outro mundo.

O que eu estou dizendo? ERA um outro mundo. O mundo dos bruxos. Onde varinhas mágicas, penas e frases em línguas estranhas faziam as coisas acontecerem. E Mel estava encantada com tudo (a palavra nunca lhe pareceu tão adequada).

Assim que entrou em contato com tantas novidades, colocou-se em estado de deslumbramento permanente. Sua curiosidade estava sendo atiçada como jamais havia sido antes.

A mente da pequenina fervilhava com as novas informações e experiências. Como funcionava uma lareira bruxa? Como era usada para comunicação? E o Pó de Flu? Só funcionava nas lareiras? E quanto às corujas? Havia um encantamento para fazê-las achar o destinatário das mensagens? Elas eram um tipo especial de animais, ou simplesmente os trouxas nunca haviam percebido seu potencial?

Ana já estava acostumada com a curiosidade da sobrinha, mas a verdade é que o contato com o mundo bruxo havia desencadeado este lado de Mel com tal força, que a Auror não sabia mais como fazer cessar a torrente de perguntas. E se já estava ficando exasperada com a criança, ela imaginava como não deveria estar Carlinhos. Geralmente ele usava a estratégia de desviar a atenção da menina para outro ponto e, enquanto ela analisava o “novo objeto de estudo”, Carlinhos tratava de escapar antes que as perguntas recomeçassem.

“Oh, quanta coragem grifinória!”, Ana sempre sussurrava para o ruivo nestas ocasiões, mal contendo o riso.

Na primeira semana, Mel teve uma entrevista com um funcionário encarregado de recepcionar e orientar os tais casos de... Conhecimento do mundo mágico através dos livros de Rowling. Oficialmente, o cargo nem existia. Por outro lado, finalmente o Ministério havia achado uma função para o pessoal da Seção de Ligação com os Centauros... *

Era um ótimo disfarce.

Não havia problema quanto aos nascidos bruxos, é claro. Um “obliviate” resolvia nestes casos, já que raramente tinham contato com o mundo trouxa. Se por ventura algum bruxo descobrisse a comoção que o nome “Harry Potter” estava causando entre os trouxas, o Ministério sabia quase que imediatamente, e agia apagando a sua memória. O Ministério também controlava e vetava a entrada dos livros no mundo mágico, e monitorava de tal forma as informações, que nenhuma notícia sobre os mesmos chegava até os bruxos. Finalmente, havia feitiços com a finalidade de manter o conhecimento sobre os livros de J.K. Rowling bem longe do Mundo Mágico. Somente os que eram citados nos livros sabiam, e ainda assim foram informados de forma superficial sobre seu conteúdo. Estes sofriam, então, as mesmas restrições que os nascidos trouxas e mestiços. Ana sempre tinha arrepios ao pensar nisso, comparando a forma de agir do Ministério ao romance de George Orwell, “1984”.

A grande “pedra no sapato” eram os mestiços e os nascidos trouxas. O mundo não-mágico havia sido invadido por uma “onda Harry Potter”, de forma que teriam que lançar um feitiço de memória a cada dez minutos nestas crianças para escaparem da “enxurrada” de informações que elas recebiam quando voltavam para casa. Assim, uma “entrevista prévia”, somada a um feitiço inibitório e a ameaça de expulsão do mundo mágico eram as defesas do Ministério para fazer a sua vontade prevalecer.

Por mais esquisito que pareça, estava funcionando!

Então, Ana deixou Mel em uma sala para a esta entrevista, avisando que logo Carlinhos e ela a buscariam para irem comprar seu material para Hogwarts. A menina abriu um sorriso entusiasmado, seus olhos brilhando em expectativa, enquanto a tia deixava a sala e ela sentava-se na cadeira que o funcionário lhe indicava.

O tal funcionário, Ernesto Macmillam, era um ex-aluno de Hogwart. Do mesmo ano de Harry, era um lufa-lufano e monitor daquela Casa em seus anos em Hogwarts. O Ministério o escolheu para aquela seção especialmente por sua compreensão do mundo trouxa.

Embora Ernesto se mostrasse simpático, algo no seu modo de agir indicava que não havia nascido para o serviço burocrático, tal era o enfado com que olhava os papéis à sua frente e como executava suas tarefas. Talvez tivesse sido mais um dos que, como milhares de pessoas no mundo, haviam sido enredados no que “dava para fazer” e não no que “se gostaria de fazer”.

Após averiguar o que a menina sabia (e que não era pouco, pôde constatar), ele começou a explicar-lhe a proibição de falar sobre o que era contado sobre o mundo bruxo através do que Rowling escrevia. Isto tinha sido decidido há quase nove anos pelo Tribunal Bruxo**. E decisões do Tribunal Bruxo não eram contestadas (ele afirmou isso de forma que ficasse indelével na mente de Mel). Em seguida pôs-se a explicar o que tinha acontecido após o que o sexto livro de Rowling narrava. Pelo menos, o que estava escrito atualmente nos livros de História da Magia.

- Er... – a menina o interrompeu, a certa altura, remexendo-se na cadeira, incapaz de segurar a curiosidade: - Você foi monitor na Lufa-Lufa, não foi? Do mesmo ano que Harry? – ela sorriu, criando as conhecidas covinhas, enquanto aguardava a resposta.

- Sim, isso mesmo. – Ernesto confirmou, devolvendo o sorriso. Algumas das crianças nascidas trouxas o reconheciam pelo nome. Ficara surpreso quando soubera que havia sido citado também nos livros.

- O primeiro a acusar o Harry de ter petrificado todo mundo, no segundo ano... – a menina continuou inocentemente. – Mas você se desculpou em tempo. Foi muito correto de sua parte.

- Ah... Sim... – ele respondeu, desconfortável. - Mas, vamos continuar, sim?

Mel ouvia tudo calmamente, já que a maioria das coisas que o funcionário lhe contava ela já sabia: ou de tanto perguntar, ou de ter “fuçado” nos livros da casa dos tios.

No entanto, uma informação em particular fez a garota arregalar os olhos. Aquilo não constava nem os livros nem nas informações dadas pelos tios:

-... E assim, descobriu-se que Severus Snape era um espião duplo a serviço da Ordem da Fênix e, que, inclusive, o episódio de Dumbledore fora planejado pelo próprio Diretor, este já à beira da morte. Snape foi liberado de uma pena em Azkaban...

- O QUÊ?!? – Mel levantou-se, as mãos na cintura, a expressão estarrecida e indignada: - E vocês acreditaram nisso? PELO AMOR DE DEUS! Estamos falando de Severus Snape! O MORCEGÃO!

Ernesto suspirou ruidosamente, desanimado. Aquela reação já era esperada. A grande maioria dos nascidos trouxas que passavam por ali respondiam de forma semelhante quando ele chegava nesta parte da história. Ao que tudo indicava Rowling não tinha sido nem um pouco condescendente com o antigo Mestre de Poções.

Foi quando ele olhou para a porta e viu algo que fez seus olhos arregalarem e seu coração saltar do peito como se ainda estivesse em Hogwarts.

- Quem você está chamando de morcego, sua sangue-ruim?

Mel voltou-se para a porta em um sobressalto, parecendo ter levado uma chicotada. Parado na entrada da sala, estava um homem de pele macilenta, nariz adunco e cabelos negros e compridos com vários fios prateados. Ele avançou alguns passos para dentro da sala, na direção de Mel. Mancava ligeiramente, demonstrando ter um velho ferimento no joelho. O movimento fez a capa negra ondular atrás de si.

- Vamos! – ele exigiu em tom cortante, a voz gélida, mas, por incrível que pareça, a fúria contida nela parecia poder explodir tudo a sua volta. – Eu lhe fiz uma pergunta!

- S-senhor Snape... É só uma criança... U-uma criança impressionável... – Ernesto tentou acalmá-lo.

- Eu perguntei para ela! – Snape retrucou secamente, sem sequer desviar o olhar da menina, estreitando os olhos, desafiando-a a repetir o que havia dito.

O coraçãozinho da garota parecia querer saltar do peito, tão amedrontado que estava. Aquele era... Santo Deus... Severus Snape!

Então, um monte de cenas onde ele humilhava Rony, Hermione, Neville e, especialmente Harry passou-lhe pela cabeça. Seu sangue foi esquentando a cada segundo, no mesmo ritmo que deixava a expressão de paralisado pavor por um apertar de olhos e lábios perigosamente furioso:

- Estou chamando VOCÊ de Morcegão! Um apelido muito bem merecido, diga-se de passagem! – a menina voltou a por as mãos na cintura, sustentando o olhar mortal do antigo Mestre de Poções como poucos adultos o fariam.

Ele ficou levemente surpreso com a reação obstinada da garota. Por poucos segundos, é claro. Porque surpresas não são do tipo de coisas capazes de fazer Severus Snape desviar a atenção de seu objetivo. Na opinião dele, aquela garota atrevida merecia uma lição. Ele havia se isolado do resto do mundo (tanto o bruxo quanto o trouxa) e pouco sabia dos livros, além de que não ajudavam em nada em sua reputação. Como se ele precisasse de mais motivos para o odiarem! Mas o que lhe importava isso? Dar “lições” para crianças mimadas era o que tinha feito durante mais tempo em sua vida. E faria isso com prazer com aquela ali em específico.

Parecia estar prestes a azarar a garota quando o aparecimento de outra figura importante na recente História Bruxa fez Ernesto, que assistia a tudo estupefato, respirar aliviado.

- Pelo que estou vendo... – a voz do visitante se fez ouvir. – Ainda gosta de atormentar criancinhas, não é, Snape?

Harry estava na porta, os braços cruzados sobre o peito. Havia sido informado que seu antigo professor o estava procurando.

O Departamento dos Aurores ficava por ali antigamente, mas foi transferido pelas razões óbvias: o grande movimento de crianças nascidas trouxas pelo Ministério (ainda que às escondidas) iria ficar impossível de se administrar se elas se deparassem com Harry Potter nos corredores, agora adulto e Auror. Não que as crianças bruxas não o admirassem também, mas pelo menos não saiam gritando, a plenos pulmões: “Meu Deus, é Harry Potter! Eu li todos os seus livros!”. Assim, como forma de precaução, o departamento fora para outra ala.

No entanto, Snape não sabia disso.

Escutara as vozes alteradas de longe. Fora impossível não reconhecer a voz de Snape, naquele mesmo tom que costumava usar com Harry quando ele o desafiava. Eis que se deparou com ele e a sobrinha de Ana fuzilando-se com o olhar!

- Harry! – Mel exclamou. – Ainda bem que você está aí! Estão me dizendo que esse... – a menina parou subitamente, procurando as palavras: - Que “ele”...

- E é verdade, Mel. – Harry confirmou, ainda que entendendo a indignação da menina, porque ele mesmo, às vezes, não acreditava.

- Mas... Mas... Você não vai fazer nada?

Harry ajoelhou-se para ficar da altura da menina:

- Olhe... Eu não posso te explicar isso, mas tenho bons motivos para confiar... Nele. – levantou os olhos para Snape, a tempo de ver uma expressão de desdém na face no antigo professor. Contendo o impulso de tirar o sorriso sarcástico do rosto do outro, Harry voltou-se para a garota e disse: – Não se preocupe com isso, viu? Agora, acho que é melhor ir lá para baixo. Encontrei seu tio Carlinhos quando cheguei e ele está te esperando.

- Tio? – Snape comentou, o típico ar altivo e debochado surgindo – Os Weasleys estão se reproduzindo mais rápido do que eu esperava...

“Ele está levando isso longe demais!”, Harry pensou, apertando o maxilar e tentando se conter.

Enquanto Harry lançava um olhar furioso para Snape, Ernesto limitava-se a acompanhar a ação dos dois homens, que se comportavam com mais infantilidade que a garota.

Mas foi Mel que reagiu primeiro:

- Os Weasleys são de um tipo de pessoas que você jamais vai ser: o tipo LEAL! E, para a sua informação, eu sou sobrinha de Ana Weasley! – ela levantou o nariz, não se importando com a súbita palidez que tomou conta do rosto de seu adversário.

- Então... – ele disse, finalmente recuperando-se. – Deve ser da família daquele pai dela...

- “Daquele” pai dela?!? – a garota abandonou o ar altivo, substituindo-o pela surpresa. Ele conhecia tia Ana? Ele tinha conhecido os pais dela? E, porque aquele tom? Era evidente para Mel que havia perdido algum detalhe.

- Já chega, Snape. – Harry cortou a discussão.

Surpreendentemente, o Mestre de Poções pareceu concordar com o antigo aluno, porque desviou o olhar para qualquer ponto da parede, os braços cruzados sobre o peito e a mão apoiando o queixo, mantendo uma expressão indiferente.

- Vai, Mel... – Harry voltou a falar com a garota, o tom suavizando-se.

Harry tinha pedido, e um pedido dele era impossível de ser negado por Mel. Finalmente, a garota foi andando cautelosamente até a porta, sem desviar seu olhar desconfiado da figura de Severus Snape.

- Qualquer coisa... É só gritar, tá? – ela dissera após parar subitamente na porta e voltar-se, séria, para o Menino-Que-Sobreviveu, saindo em seguida.

Harry teve que conter o riso. Percebeu que Ernesto também tinha o ar divertido de quem estava prestes a gargalhar. Então o Grande Harry Potter precisava da proteção de uma menininha de onze anos? Merlin, agora ele se sentia bem mais seguro! Mel era uma gracinha mesmo...

Snape os olhou, irritado, e isso foi o suficiente para fazê-los recuperar o autocontrole. Harry pigarreou:

- Desculpe pela confusão, Ernesto.

- Tudo bem, Harry.

- A criança mais irritante que eu já conheci! – Snape resmungou. Então, olhou para Harry demoradamente, como se lembrasse de algo, e acrescentou com um sorriso cínico: - Bem... Talvez a segunda mais irritante.

- Acho que estava me procurando, não é? – Harry franziu o cenho, resolvendo não cair na provocação.

- Sim... Aquele “assunto” seu...

Imediatamente ambos ficaram sérios. O “assunto” *** que trouxera Snape até ali não poderia ser discutido em salas de pessoas alheias ou em corredores.

- Vamos conversar na minha sala. – Harry falou. Então sorriu, para o ex-colega de escola, tentando parecer tranqüilo: - Até mais, Ernesto.

***

Mel estava no Beco Diagonal, caminhando onde milhares de pessoas haviam visitado apenas em sonhos. Mas para Mel a diversão de passar pelas lojas foi um pouco apagada pelo encontro com Snape.

- Não acredito que vocês também concordam com esta loucura toda!

Carlinhos apenas abriu um sorriso amarelo, como a dizer: “Pois é”. Snape havia passado para o lado deles no final da Guerra***, mas deveria haver algo a mais. Algo que só Harry e Ana sabiam. E todos tinham se dado o benefício da dúvida porque, se o Harry, a pessoa que tinha mais motivos para odiar o Snape, tinha acreditado em suas palavras...

- Mel, você tem que ter mais fé nas pessoas. – Ana respondera.

- Fé? Em Snape? Ah, qual é! Tia, está se esquecendo que eu li o livr... – a menina engasgou. – O Enig... – após várias tentativas frustradas, olhou surpresa para a tia: - O que está acontecendo?

- O feitiço do Ministério. Lembra que você recebeu um quando entrou na sala do Ernesto Macmillam?

- Lmebro... Aliás, é muito trabalho, não acha? – a menina questionou. – Por que o Ministério está tão preocupado em esconder? Esconder o mundo mágico dos trouxas é uma coisa, mas...

- Você já imaginou políticos como Fudge ou Scrimgeour tendo suas exatas descrições circulando pelo mundo bruxo através dos livros? – Carlinhos respondeu.

- Isso não iria ser bom para as carreiras deles... – Mel ponderou.

- Isso mesmo. – Ana concordou. - A nossa sorte foi termos tomado as rédeas naquele julgamento, ainda na primeira publicação, quando nada de muito “perigoso” para os poderosos havia sido contado... Do contrário, nem os trouxas leriam as publicações seguintes.

- Quando “você” tomou as rédeas daquele julgamento, não é, amor? – Carlinhos comentou, todo orgulhoso da esposa e parando para dar-lhe um pequeno beijo.

- Nem tanto, querido, tive ajuda, afinal. Inclusive a de um certo... Cavaleiro que luta com dragões...

Os dois voltaram a se olhar de forma alegre e apaixonada, alheios a tudo e fazendo Mel ficar um tanto embaraçada, porque as pessoas já estavam reparando no jeito “abobalhadamente romântico” dos dois. Sorriu e desviou o olhar, divertida. “Talvez o Rony tenha razão sobre o excesso de açúcar destes dois, afinal...”.

- Hei! Ainda tenho uma lista de material para ser comprado, lembram? – ela reclamou, mostrando o pedaço de pergaminho aos adultos.

O casal pareceu “acordar” e sorriu, encabulado. Retomaram seu caminho para as diversas lojas, parando na Floreios e Borrões para comprar os livros da primeira série.

- É a mesma lista de quinze anos atrás. – a menina comentou, antes de entrarem. – A mesma lista que Harry recebeu.

- Mel, acho que é a mesma lista em uns... Cinqüenta anos. – Ana respondera.

- Exceto pelo exemplar de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, que teve que ser reeditado depois que tio Carlinhos provou que os dragões não são tão indomesticáveis assim... – a menina riu.

- Bem, só alguns... – Carlinhos enrubesceu ao ser lembrado que havia “corrigido” um dos maiores nomes do estudo de animais mágicos, Newt Scamander.

Depois da Floreios (onde a menina se sentiu em casa, no meio de tantos livros), era hora de comprar pergaminhos, tinta e penas. Sim: penas. Mel franziu o nariz enquanto observava o objeto emplumado.

- Tanta magia... E os bruxos ainda escrevem com penas?

Mais uma correria pelas ruas centrais, e pararam em frente a um prédio de aparência muito antiga, e a placa que estava em cima dela tirou o fôlego de Mel:

- “Olivaras”! – ela sentiu um frio na barriga, tamanha era a expectativa.

Eles entraram na loja, sendo recebidos pelo despenteado e estranho senhor Olivaras. Fora um alívio saber que ele tinha voltado do seu cárcere com os Comensais da Morte são e salvo (bem, talvez um pouco mais doido do que a gente o conheceu, mas...). Voldemort queria que ele fizesse uma nova varinha para ele, tão poderosa e adequada quanto a anterior, mas que não tivesse o “probleminha” do “Priori Incantatem” caso tivesse que duelar com Harry, que possuía a varinha-irmã da sua. Felizmente, o Cara-de-Cobra não se contentava com nenhuma, e acabou sendo derrotado antes que Olivaras chegasse a um resultado final.

- Hum... Vamos ver... – Olivaras parou um instante, analisando Mel. – Tente esta. – a menina tentou. – Oh, não! – ele exclamou quando algumas caixas caíram da estante. – Hum... Deixe-me buscar outra...

- Eu já vi esse filme... – Mel sussurrou para a tia. – “Literalmente” já vi este filme... – a menina deu uma risadinha baixinha.

O senhor Olivaras retornou:

- A senhorita disse que é brasileira, com ascendência ameríndia e alemã, estou correto? – ele perguntou, trazendo uma caixinha violeta. Quando Mel confirmou com um aceno de cabeça, estendeu-lhe a varinha: - Tente esta.

Mel a segurou e essa sim, produziu o efeito esperado.

- É esta! – o senhor Olivaras disse, satisfeito. – Ipê, vinte e cinco centímetros, e recheio de crina de pégasus da Floresta Negra. Uma combinação sob medida para você, senhorita Warmlling.

Mas Olivaras não se livrou de Mel por aí. Por que ela começou a perguntar sobre o seu ofício. Como se achavam os materiais adequados para se fazer varinhas? Havia um estudo específico para isso? E as combinações tinham regras pré-estabelecidas, ou o artesão as ia experimentando aleatoriamente...?

- Pretende seguir o ofício, senhorita? – Olivaras perguntara, divertido da curiosidade dela.

- Bem... Não sei... – a menina respondeu, abrindo um sorriso travesso: - Mas a gente tem que explorar as possibilidades, não é?

Quando finalmente conseguiram tirar Mel lá de dentro, ela exibia toda orgulhosa sua varinha para os tios, sacudindo-a para lá e para cá, como se fosse fazer um feitiço.

- Querida, guarde-a. – Ana orientou-a. - Lembre-se que só pode fazer magia dentro de Hogwarts.

Uma passada rápida na Madame Malkin para encomendar as vestes de Mel (devidamente etiquetadas com o nome da menina, conforme instruía a lista de materiais), e eles voltaram para a casa de Ana e Carlinhos carregados de coisas.

Na semana seguinte, Ana levara a sobrinha com ela para o Ministério. Só iria fazer trabalho burocrático naqueles dias mesmo. No entanto, seus planos foram frustrados porque, um dia, em um segundo de distração sua, a menina sumira de dentro de sua sala. Harry e Rony a encontraram prestes a burlar a segurança do Departamento de Mistérios e entrar naquela sala.

Após meia hora ouvindo sermões, não só de Ana, mas de Harry, Rony e Tonks, a menina já estava totalmente arrependida do que tinha feito, e jurando que iria se comportar.

- A palavra “Mistério” foi demais para sua mente bisbilhoteira, não é? – Tonks gracejara, depois que os ânimos se acalmaram, fazendo todos rirem.

Um pouco antes do final do expediente, Tonks juntou suas coisas (derrubando uns dois ou três objetos no processo) e disse para Ana que teria que sair mais cedo para comprar os materiais de Hector.

- Ah, essa semana está sendo tão cheia! Mal dá tempo para respirar!

- Se eu soubesse, teríamos levado Hector conosco. Fomos comprar o material da Mel semana passada.

- Você é um amor, mas Hector estava com mamãe semana passada. E ele vai voltar para lá amanhã – adora a avó. De qualquer forma, eu não delegaria uma tarefa tão extenuante, como acompanhar o meu “pestinha”, para outra vítima... Digo, pessoa. – brincou.

- Há! Por acaso não teve uma amostra de como Mel é? Semana que vem ela vai com Carlinhos para a reserva em Gales. – Ana fez uma careta cômica: – Espero que não tenha nenhuma “idéia” perigosa, como contar as escamas da cauda de um dragão...

***

Mel não havia contado escamas de dragão. Mas tinha resolvido que poderia ajudar o pessoal da reserva com os dragõezinhos órfãos (sem que o tio soubesse, é claro). Depois de quase se queimar dando whisky de fogo para um verde-gaulês, Ana e Carlinhos tinham decidido aceitar a oferta de Molly Weasley de cuidar da menina enquanto trabalhavam.

Pelo menos, achavam que lá não poderia haver nada perigoso. A menos que Mel comprasse briga com os gnomos de jardim – quem sabe, usando uma lupa para vê-los melhor.

A menina havia estado na casa dos Weasleys nas semanas anteriores, mas todas as vezes era uma festa para ela. Na primeira vez, é claro, quase tinha chorado: estava conhecendo A Toca! Se o feitiço do Ministério já não estivesse lançado, Mel desandaria a falar sobre o que os livros contavam. E ela os sabia de cor: na Câmara Secreta, aconteceu isso... No Cálice de Fogo, aquilo...

Naquele dia, Molly iria cuidar de três crianças: Chantal, a filha de Gui e Fleur, Mel, e o pequeno Sirius. O bebê passava de colo em colo, recebendo mimos dos adultos presentes.

- Bon jour, mon petit! – Fleur dizia, enquanto dava beijos estalados no ruivinho fazendo-o rir.

- Ui, que cosa mais fofa da tia, meu deus do ceusi! Tifoi, meu lindo? Tifoi? – Ana dizia em português, tentando “conversar”, e sorrindo abobalhadamente para o bebê.

- Hermione, seu filho está sendo mimado em três línguas, o que acha disso? – Gui provocou.

- Eu acho isso muito instrutivo. – Hermione respondeu, divertindo-se com a brincadeira, mas naquele seu jeito “Hermione Granger”.

- Hã... Se é que dá para considerar o que a tia Ana falou como sendo português... O que seria... “Tifoi”? – Mel riu, provocando a tia.

Ana limitou-se a fingir desdém e acompanhou a sobrinha na risada.

Algum tempo depois, os adultos saíram para os respectivos trabalhos. A senhora Weasley pôs Sirius em uma espécie de chiqueirinho e, vendo que as crianças estavam bem na sala, foi para a cozinha. De lá poderia ouvi-las brincar.

Enquanto Chantal foi buscar um jogo para ela e Mel brincarem, a brasileira olhou ao redor, um calorzinho de felicidade a atingindo mais uma vez: “A Toca!”. Alegre, voltou-se para o bebê no chiqueirinho - que já estava se segurando redinhas para ficar de pé:

- Então... O que os bruxos fazem para se divertir?

O ruivinho a fitou com aqueles olhinhos espertos e começou a fazer um monte de barulhinhos com a boca, mas era evidente que o objetivo era fazer bolhas de saliva e não pronunciar palavras.

- Ah... – Mel fez uma expressão de entendimento: - Brincam com o próprio cuspe... Parece promissor!

***

Ana e Carlinhos moravam em uma daquelas casas verticais inglesas. Com “vertical” quer-se dizer aqueles imóveis estreitos, em prédios colados uns aos outros, onde os cômodos se sobrepunham em vários andares. Os estrangeiros não sabiam se chamavam aquilo de casa ou de apartamento. Na realidade, era até difícil de imaginar-se morando naqueles lugares que, ao invés de “esparramarem-se” pelos lados, erguiam-se em escadas e terraços.

Mel, é claro, tinha a sua própria opinião:

- Vou sentir falta daqui. É como naquele filme, “Um Lugar Chamado Notting Hill”. Só que o tio Carlinhos é mais bonito que o Hugh Grant!

Ana não pôde conter o riso diante do comentário.

- Duvido que vá sentir falta: afinal, vai para Hogwarts!

Ainda rindo, Ana fez um movimento de varinha em direção ao baú que Mel levaria para Hogwarts, e ele flutuou, descendo as escadas atrás da menina.

Alguma coisa chamou a atenção de Mel, que foi correndo até a pequena janela, afastando as cortinas para observar o homem baixinho e de cavanhaque que passava pela calçada:

- Eu acho este homem muito suspeito. Venho observando este vizinho há dias. – Mel comentou séria. – Acho que ele esconde alguma coisa... – a menina estava convencida de sua própria sagacidade.

- Tem razão. Ele esconde. – Ana disse, simplesmente, olhando ao redor para certificar-se que não tinham esquecido nada.

- Eu sabia! – a menina exclamou, triunfante. – Ele é um bruxo!

- Não. Ele é imigrante ilegal.

- Ah... – Mel “murchou”.

- Mas o dono da livraria aí em frente é. – Ana acrescentou, divertida.

A menina arregalou os olhos: do velhinho da livraria ela nunca tinha desconfiado... Se bem que agora entendia como os livros “apareciam” tão rapidamente nas mãos dele.

O som de uma buzina foi ouvido.

- Deve ser o papai. – Carlinhos desceu as escadas carregando as malas de Mel.

O senhor Weasley estava lá fora, com o Ford Anglia azul-turquesa.

- Achei que iria gostar de ir até King´s Cross com certo estilo... “harrypotteriano”. – Ana falou para a sobrinha.

- Tia, você é o máximo! – a menina correu para ela e a abraçou.

- Olá, Mel! Belo baú você tem aí!

- Bom dia, senhor Weasley! Obrigada. Tio Carlinhos comprou para mim ainda no Brasil, na “Mandingas e Quebrantos”. É enfeitiçado para se ampliar e....

- Shiiiiii! – Ana a repreendeu por estar falando aquilo assim, em voz alta, no meio da rua.

Finalmente, a viagem para a Estação King´s Cross começou. É claro que eles voaram, invisíveis. Mel estava esperando por isso ansiosa! Ela olhava para tudo, lá de cima, divertida em imaginar que seu pai, um engenheiro, ficaria horrorizado com aquilo tudo, certamente enumerando quantas leis da Física eles estavam quebrando bem ali, naquele Ford Anglia voador.

- Será uma longa viagem de trem até Hogwarts, Mel. – Carlinhos comentou.

- E quem se importa? – a menina sorriu amplamente, toda animada.

- Eu acho que é a experiência da vida dela, amor.

- Como assim?

Mel começou a falar em voz alta, para ninguém em específico. Era duvidoso que sequer houvesse escutado a pergunta do tio. Apenas estava deixando seus pensamentos empolgados serem verbalizados, enquanto fitava a paisagem pela janela do carro:

- A Plataforma 9 e ¾! Temos que procura-la entre as plataformas 9 e 10. – ela gesticulava e se mexia tanto no banco do carro que acabava usando o dobro do espaço que uma criança do tamanho dela usaria. – Aí, eu vou ter que... Atravessa-la! Isso não é o máximo? – então ficou séria, mas não menos excitada: - Tenho que ir direto para ela, sem medo e sem hesitar... É, isso mesmo. – em seguida voltou a sorrir amplamente: - Daí a gente vai dar de cara com o Expresso de Hogwarts, um trem preto e vermelho! É o número 5972. Eu vou entrar nele! Sentar em uma cabine e... Merlin! Isso é fantástico! Será que a mulher que vende doces ainda está lá? Ai, eu vou querer uns sapos de chocolate! – acrescentou, batendo palmas: - Espero que o meu pule!

- Entendeu agora? – Ana disse sorrindo para o marido que, como o senhor Weasley, estava admirado com os detalhes que a menina sabia. Estavam mais admirados ainda com a excitação que algo tão “simples” estava causando.

Uma vez em King´s Cross, eles correram até as plataformas. Para variar, estavam atrasados. Eram quinze para as onze. Mel estacou em determinado momento, fazendo os adultos pararem também, esperando uma explicação para o atraso da menina.

- Sabe... – ela começou, intrigada. – Não fica sempre cheio de turistas por aqui, tirando fotos, só para mostrar para os amigos que estiveram perto da “imaginária” plataforma 9 e ¾?

Os adultos respiraram aliviados ao notar que era só isso, e retomaram a marcha para as plataformas de embarque.

- O Ministério cuida para que, pelo menos nos dias de ida e volta dos alunos o caminho esteja “livre”. – o senhor Weasley explicou, enquanto Ana puxava a menina.

Finalmente, estavam entre as plataformas 9 e 10. Diante deles, uma enorme pilastra.

“Uma sólida pilastra de tijolos”, pensou Mel.

- Vamos, querida. É só...

- Eu sei, tia, eu sei!

“O Harry tinha o Rony, pelo menos”, ela pensou. Depois de verificar que nenhum trouxa estava prestando atenção, fechou os olhos fortemente e, respirando fundo, começou a correr: “Sem ter medo, sem ter medo...”.

No sétimo ou oitavo passo, ela estacou. Muito bem, até ali não tinha se chocado com nada. Abriu os olhos lentamente e... Era a plataforma bruxa! Boquiaberta, viu a Plataforma 9 e ¾, com sua plaquetinha de madeira. O Expresso de Hogwarts estava à sua esquerda, e uma grande movimentação de crianças e adolescentes se despedindo dos pais. Alunos de Hogwarts.

Instantes depois, os adultos estavam ao lado dela. Mel, sem desgrudar os olhos do trem, murmurou:

- Tia, juro que estou escutando aquela música... Você sabe... Aquela musiquinha...

Ana se abaixou e cantarolou baixinho no ouvido da sobrinha, compartilhando da mesma sensação:

- Tanan – Nanan - Narãn- Naranan – Nananaaaaaaaan! –

Era um dos acordes mais famosos do mundo. A música de abertura dos filmes de Harry Potter.

- Essa mesma! – a menina soltou um suspiro maravilhado, sorrindo nervosamente para a tia: – Isso tudo está acontecendo mesmo, não é? Eu vou mesmo para Hogwarts!

- Sim, vai sim, minha querida. – Ana disse suavemente, tocando-lhe os ombros. - E você vai dar conta de tudo, vai ver! É muito esperta, tenho certeza que vão ser tempos maravilhosos para você.

- As pessoas vão gostar de mim? – a garota perguntou inocentemente, a voz cheia de expectativa.

É incrível como as crianças dizem as coisas sem barreiras, sem a necessidade que nós, os adultos, temos de proteger nossos sentimentos dos outros. Sem o medo que nós temos de que nossas palavras revelem as fragilidades que possuímos.

E Mel fizera aquela pergunta exatamente com essa sinceridade infantil.

- As pessoas já gostam de você, docinho.

Mel abraçou a tia, contente.

O trem começou a apitar, e o funcionário anunciou que o trem iria partir. As coisas dela já haviam sido colocadas dentro do trem, de forma que tinha que se apressar. Mel se despediu rapidamente do senhor Weasley, e abraçou novamente Ana. Carlinhos também a abraçou, recomendando:

- Cuide-se, pimentinha. E não se meta em confusões.

O trem já estava em movimento quando Carlinhos gritou, preocupado:

- E fique longe dos sonserinos!

Alguns bruxos e bruxas olharam o ruivo, indignados. Pela aparência pomposa deles, deviam ter sido da Casa de Slytherin. Mel observava tudo da porta do trem que se afastava, achando tudo muito engraçado tampando a boca com a mão para esconder as risadinhas que sacudiam o pequenino corpo.

- O que foi? – Carlinhos voltou-se para o pai, que lhe dirigia uma expressão de reprovação. – Era o que o senhor nos recomendava...

- Não “exatamente” assim, não é? – o senhor Weasley respondeu. Voltando-se para a nora, sorriu: - Preciso voltar querida. Nos vemos no domingo.

- Até lá, Arthur. Mais uma vez, obrigada por ter vindo.

O casal ainda ficou algum tempo acenando para Mel. Quando já não conseguiam mais ver a menina, Ana soltou um longo suspirou:

- É... Enfim, sós...

- Hum-Hum - Carlinhos concordou. – Mas, só tenho uma pergunta.

- Qual?

- Quem é Hugh Grant?

***

Mel resolveu ir logo procurar uma cabine. Pelo que se lembrava, a viagem durava umas sete horas!

As cabines do Expresso de Hogwarts... Elas sempre guardaram surpresas para Harry. Seja o próximo professor de Defesa Contra As Artes das Trevas, que se revela um lobisomem; seja achar os seus melhores amigos...

- Hogwarts, aí vou eu! – murmurou, sentindo um misto de excitação e medo espalhando-se pela barriga.



Notas

* Ver “Animais Fantásticos e Onde Habitam”. No capítulo “O que é um animal?”, Newt Scamander comenta que: “(...) Embora exista uma Seção de Ligação com os centauros na Divisão de Feras do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, nenhum centauro jamais a usou. De fato, “ser designado para a Seção de Centauros”, tornou-se uma piada no Departamento, e significa que a pessoa em questão em breve será demitida”. (Nota de Rodapé, p. 13).

** Ver Harry Potter e o Segredo de Sonserina, Capítulo 12.

*** Ver Harry Potter e o Retorno das Trevas, de Sally Owens, na Floreios e Borrões.


***

(N/A): Eu sei, eu sei! Vocês agüentaram toda a minha enrolação neste capítulo para eu parar justo na parte que iria ficar interessante, né? Belzinha entende vocês, podem acreditar (ops! Estou falando de mim mesma na terceira pessoa. Será o “Efeito Dobby”?).

Mas, gente, era necessário isso para explicar várias coisas do mundo mágico pós-guerra, especialmente a questão dos livros, dos nascidos trouxas, do Morc... Ops, do Snape.

São apenas “flashes” dos primeiros dias de Mel, que ajudaram na compreensão do que está acontecendo atualmente entre os bruxos.

Prometo que o próximo capítulo não será tão “sofrido” para se ler. As emoções e os mistérios estão chegando, aguardem! Por favor, não me atirem pedras!

Bem, pessoal... Já me alonguei demais. Obrigada pelos comentários, obrigada por quem está lendo... Enfim! Amo vocês, e não sabem o quanto me fazem felizes!

Beijos! Até o 5!

PS: Duvido que as pessoas gostassem de assistir a programas como o “Big Brother” se tivessem lido “1984”, de George Orwell, que foi de onde o nome do programa foi inspirado. Recomendo a leitura...
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Drusilla_Julli
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Post by Drusilla_Julli »

Não seja tão dura com você, Bel. O capítulo está ótimo, tinha que haver esta parte. Mas a Mel, heim. Desafiando o Snape assim, a menina tem atitude, heheh.
Ser gentil e respeitar os outros não é sinônimo de fraqueza

Vivam um dia de cada vez.
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Regina McGonagall
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Post by Regina McGonagall »

- Hã... Se é que dá para considerar o que a tia Ana falou como sendo português... O que seria... “Tifoi”?
Mel, concordo plenamente! :roll:

hehe... boa sorte em Hogwarts, nos vemos por lá! :D

Zueira a parte...
Belzinha, nem precisa dizer nada, né? :palmas :palmas :palmas

editando:
só um detalhe: adorei a varinha da Mel (será ipê rosa, branco ou amarelo? :D )
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