Harry Potter e o Segredo de Corvinal (Atualizado - 23/03/11)

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Regina McGonagall
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Post by Regina McGonagall »

como já disse antes, apenas uma palavra:

FOFÍSSIMO!
:palmas :palmas :palmas :palmas :palmas :palmas :palmas
Regina McGonagall
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Tina Granger
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Post by Tina Granger »

Bom, ontem eu li correndo o segredo da sonserina... terminei de ler o segredo da cornival a pouco... E teve uma frase, dita pelo morcegao, que me chamou a atencao...
Voce a explicaria??


- "Aquele pai..." - me deixou com a pulguinha atras... tem algo a ver ou so pra assustar mesmo?
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Duas mulheres - A um passo - A irmã da Serpente

mais fics? olhe no fanfiction.net...

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Belzinha
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Post by Belzinha »

Capítulo bethado pela Sally Owens (com direito a vários palpites maravilhosos – espero que a Sally não comece a cobrar a assessoria, hehehe!). E também, com a co-autoria da Regina McGonagall – Regina, obrigadão! Você é demais! Aliás, vocês duas são fantásticas!

***

10. Trouxas e Tacanhos

Dezembro. Pleno verão no Brasil. O calor sufocante nesta época do ano era a regra geral no país, com raríssimas exceções. Depois de algumas horas em que as temperaturas elevadas deixavam a população a ponto de pedir misericórdia, vinha a chuva. Muita chuva.

Mas não havia sinal de chuva naquele dia. E além do calor, o ânimo de Ana não colaborava muito para que ela se colocasse no clima “fim-de-ano-é-festa-oba!” que tomava conta do país – e da casa dos tios – naquele momento. Aliás, sua família estava sendo um fator extremamente incômodo.

A casa de Bianca e de Antônio estava cheia. Não era à toa que Ana se sentia tão à vontade com os Weasleys. Os Anhanguera, em número, não ficavam atrás da famosa família de bruxos ruivos.

Havia a Patrícia (Tícia), filha mais velha, mãe do Felipe e da Mel; além do marido, Marcos. Nando, o segundo filho de Antônio e Bianca, que era vocalista de uma banda de música. Eduardo, a quem todos chamavam de “Edu”, e que nasceu depois de Nando. Ele era professor de Física em um colégio de Ensino Médio, casado com Mônica. Eles tinham três filhos: Renato, Bruno e Paula, esta última de poucos meses de idade. Finalmente, apenas três anos mais velha que Ana, Andréa (ou Déa). Ela conheceu o marido, Fabrício, através do Edu. Os dois eram professores no mesmo colégio, só que Fabrício lecionava Biologia. Tinham três filhos, Amanda, de sete anos; André, de cinco; e Gustavo, de três.

Além deles, havia o Chuca, amigo e companheiro de banda de Nando, que estava passando as festas com os Anhangueras, como todos os anos. “Robin-Hood-Depois-Da-Pneumonia” fora o apelido que Ana lhe dera ainda na adolescência, por causa do cavanhaque e dos cabelos compridos, em um corpo baixinho e fracote. O baterista da “La Mancha e os Moinhos de Vento” era uma criança crescida, e tinha sido “adotado” pela família.

A palavra “muvuca” era eufemismo para a situação daquela casa, quando todos estavam reunidos. Pensar-se-ia que isso seria um incentivo para Ana se animar. Sabem como é, muita gente junta no mesmo espaço, mesmo que desconfortável, é garantia de nunca se entediar.

Mas não quando essas pessoas te conhecem a ponto de detectar as mínimas alterações de humor. Famílias são como grandes detectores de “baixo astral”. Uns ditadores que não te deixam curtir uma fossa sozinha.

De fato, seus primos já tinham percebido que havia algo errado. Tanto que estavam cochichando entre si pelos cantos da casa, lançando a ela olhares de estranheza e piedade. A situação piorou quando um filme antigo com Richard Chamberlain (um musical adaptando “Cinderela”), a levou às lágrimas.

Daí, seus primos tiveram certeza. Tinha algo errado. Ana sempre morrera de rir com musicais, não importando quão triste fosse a história.

- Isso não é... Lindo? – Ana dizia, tentando conter as lágrimas que já brilhavam em seus olhos – Ela é uma criada, ele um príncipe. Mundos diferentes... – Fungou – Cinderela vai renunciar a seu amor em nome da paz para seu país...

Nando e Chuca tentaram por um plano em prática. Puseram-se na frente da TV, chamando a atenção de Ana, e começaram a cantar:

- Anna... Girl, before you go now… I want you to know, now… That I still love you so… But if he loves you mo’, go with him... Go with him… (1)

Ana levantou-se com um sorriso fraco nos lábios. Suspirando pacientemente, levantou-se e caminhou até os rapazes dando um beijinho agradecido, mas desanimado em ambos. Deu um tapinha em Nando e desmanchou o cabelo de Chuca, que lhe caía até os ombros. Desolados, os dois rapazes viram Ana desistir do filme e ir para seu antigo quarto. O plano de animá-la não dera certo. Que coisa! Beatles “sempre” a animava! O negócio era sério mesmo!

Ela decidira que o que precisava era parar de pensar em Carlinhos, apesar de, ironicamente, tê-lo deixado justo para isso. Mas quanto mais pensava, mais se sentia perto da loucura, tamanho tormento que suas perguntas sem resposta causavam. Estava chegando cada vez mais próxima à conclusão de que era, afinal, uma grandessíssima idiota. E não era nada agradável descobrir isso sobre si mesma.

Sabia exatamente o que poderia absorvê-la tanto a ponto de parar de ter pena de si mesma, nem que fosse por algumas horas. Decidiu que, no dia seguinte, iria visitar um lugar em especial.

***

As oscilações do colchão embaixo de Harry finalmente o despertaram. Sua mente ainda embotada pelo sono procurou a fonte daquela perturbação inoportuna. Descobriu que era o corpo de Gina, que se remexia irrequieto no colchão, a origem de tanta agitação na cama.

E Gina apreensiva, sob qualquer situação ou argumento, era matéria realmente preocupante para Harry Potter.

Teria voltado a sonhar com aqueles terríveis rituais? Talvez a morte de Griffin a tenha afetado mais do que imaginava, ou então... Seu assassinato não fora somente uma forma de ter acesso ao Draco, que estava sendo vigiado pelos Aurores. Naquela noite, Griffin fazia a vigilância. Mas, pela forma como o mataram... Naquele ritual de “Roubo de Poder”... Poderia não ser mero acaso. (2)

- Gina...? – Sussurrou.

Se o rapaz soubesse o quanto sua voz soava preocupada e protetora, talvez tivesse ficado menos rígido, enquanto mantinha os olhos verdes fixos na face dela, delineada pela penumbra do quarto. Mas, naquele momento, concentrava toda a sua atenção na esposa, a espera de descobrir se estava tudo bem. Nunca sequer desconfiaria que o coração da ex-grifinória se apertava cada vez que o via tão tenso, quase como na época de Voldemort.

- Desculpe... Não queria te acordar... – Hesitou.

- Outro sonho?

- Não...

O tom cuidadoso da esposa despertou de vez o instinto de Harry. Ele se sentou na cama também:

- São os gêmeos? Chegou a hora? – Ele pulou da cama, agitado. Olhou em volta freneticamente, procurando algo – Não se preocupe, amor, vai dar tudo certo – Ajoelhou-se no chão, tateando-o com as mãos – Onde estão meus sapatos? – Levantou a cabeça para olhá-la – Deixe que eu cuido de tudo, está tudo sob controle! – Voltou a olhar em volta: - Santos hipogrifos, cadê minha varinha?

O riso alto e cristalino de Gina ecoando pelo quarto congelou seus movimentos. Ainda ajoelhado no assoalho frio, apoiou lentamente os braços sob o colchão:

- Acho que este não é o comportamento compatível com uma mulher em trabalho de parto.

Gina passou a gargalhar, provocando uma careta indignada do marido quando, entre vários esforços para parar de rir, comentou:

- É que... Como é que... Vai cuidar de tudo... Quando nem consegue achar a varinha?

- Mérlin! Quer dizer que os bebês realmente estão vindo? – Ele voltou a se agitar, os olhos verdes se arregalando no escuro, e pronto para usar os seus reflexos mundialmente famosos para pegar Gina e a levar para o St. Mungus imediatamente.

- Não! – Na escuridão, Harry só distinguia o brilho dos cabelos flamejantes da esposa, quando eles se agitaram com o movimento de negativa da cabeça dela. – Não querido – Gina conseguiu dizer, mais recuperada – Afinal, faltam dois meses ainda!

Harry voltou a se deitar do lado dela na cama, não sabendo se ficava aliviado ou decepcionado com a notícia. Queria pegar os filhos nos braços mais que qualquer coisa no mundo, mas se deparar com Gina em trabalho de parto o apavorara. Devia ser horrível não poder fazer nada enquanto a esposa sofria para por os filhos no mundo. Como Rony tinha conseguido passar por aquilo?

“Não conseguiu”, lembrou-se Harry, com uma pontada de bom-humor. Ainda conseguia ver o rosto branco como cera de Rony enquanto Hermione estava na sala de parto, dando a luz ao pequeno Sirius. Nem aqueles primeiros jogos como goleiro, no quinto ano, tinham conseguido provocar uma palidez tão mortal no ruivo quanto aquele dia.

- Bem... Tudo é possível, se tiverem puxado a mim. – O sorriso presunçoso do Menino-Que-Sobreviveu foi visto através da escuridão.

- Se tiverem puxado a você, vão me fazer esperar por seis anos – Gina devolveu, provocativa.

Harry fez uma nova careta, reconhecendo que, mais uma vez, Gina o tinha vencido. Tudo bem: rendia-se de bom grado para aquela ruiva.

- O que a estava incomodando, então? – Ele pousou a mão direita no ventre dilatado, acariciando-o ternamente, enquanto o olhar voltava a ficar preocupado e atento.

Gina ficou calada por alguns instantes, o que fez cada um dos músculos dele retesarem-se, alertas. Finalmente, ela respondeu, muito cautelosamente, como se não tivesse certeza de achar as palavras:

- Há uma nova magia agindo – Respirou fundo: - Muito perto de nós.

Imediatamente, ele se lembrou das habilidades de Gina. Por isso não pôs em dúvida um só momento o que ela lhe dizia.

- Os Comensais...?

- Não. – Ela balançou a cabeça veementemente. – Não é uma magia... “Ruim”. Se é que podemos falar em “magia boa” e “magia ruim”. Mas... Não. Não é algo que nos ameace.

Ele suspirou audivelmente aliviado. A última coisa que precisavam era de mais Livros de Fausto. Fez Gina acomodar a cabeça em seu ombro, e beijou-lhe os cabelos:

- O que acha que é?

- Não tenho idéia... – Gina ergueu a cabeça e fitou os olhos verdes do marido, facilmente distinguíveis, mesmo na escuridão.

Ela sentiu o peito dele vibrar, denunciando a gargalhada que estava por vir:

- Você me deixa desnorteado, senhora Potter.

Gina bufou, dando uma batidinha de leve no peito dele. Mas não estava brava de verdade. De fato, até mesmo sentia-se aliviada, como se fosse isso que devesse ter feito desde que começou a ter aquelas sensações. Agora que contara ao marido, era como se tivesse cumprido uma missão.

- E você adora isso – Rebateu, sorrindo.

***

Ana vestiu um maiô por baixo de um short velho e uma camiseta. Reuniu mais alguns acessórios básicos de verão, como protetor solar e óculos escuros, para só então ter coragem de desembrulhar o produto do que muito provavelmente era o seu primeiro delito na vida.

O medalhão com os símbolos celtas e o desenho do corvo.

Não que tivesse a intenção de cometer um crime, é claro. Era funcionária do Ministério da Magia britânico, e estava com a posse do objeto para averiguações. Até aí, tudo dentro de seus deveres. No entanto, duvidava que o Ministério entendesse que levar esse objeto consigo para fora do país estivesse dentro de suas prerrogativas legais... Especialmente quando não contara ainda a seu chefe, Kingsley Shacklebolt, que estava com ele.

Por sorte, sabia que um furto não era furto até que alguém se desse conta da subtração da coisa. Se devolvesse o objeto ao seu lugar antes que sentissem a falta dele... Então, tecnicamente, não haveria furto algum.

Mas havia algo no medalhão. Ela sentia. Não tinha avançado um milímetro na questão de desvendar o mistério que o envolvia, mas não podia se separar dele. Era quase como se soubesse que a hora em que o significado dele se revelaria ao mundo estivesse chegando, e queria estar com ele por perto quando acontecesse.

Era isso, ou então estava se tornando uma patética paranóica.

A casa dos tios ficava próxima ao litoral. Era necessária apenas meia hora de carro para chegar até a praia. Mas ela havia preferido ir até um riozinho com uma cachoeira. “Cachoeira Encantada” era o nome do lugar.

Com a intenção de avisar aos tios que pegaria a velha caminhonete deles emprestada (e “velha” era um adjetivo muito bondoso para o veículo caindo aos pedaços), foi até a cozinha procurar a tia.

- ...Seria mais fácil saber se os tacanhos usassem meios de comunicação mais eficientes do que...

Patrícia, que estava na cozinha com a mãe e a irmã, Andréa, arregalou os olhos e fez um sinal negativo para Bianca.

Ana não entendeu absolutamente nada. Andréa pareceu pensar que a mãe havia se interrompido por causa da chegada dela. Então, deveriam estar falando dela. Mas se fosse isso, Patrícia não teria olhado apreensivamente para a irmã, como se a mãe estivesse prestes a falar algo que Andréa não poderia saber.

- Eu vou... – Por alguns instantes considerou perguntar quem era “tacanho”, mas depois resolveu fazer isso mais tarde – Eu vou pegar a caminhonete e ir até a cachoeira, tudo bem?

- Vá sim, querida – Bianca concordou – Está um dia perfeito para nadar, não é?

Andréa resmungou algo sobre ela aproveitar enquanto não tinha filhos que tomavam cada segundo de seu tempo. Patrícia soltou a respiração que estava presa em espectativa, aliviada por ninguém ter feito perguntas, seja lá porque fosse, e encorajou Ana a se distrair.

Ana duvidava que pudesse fazer algo tão simples como “aproveitar” e se “distrair”. Tudo o que queria era um lugar aberto e longe dos olhares curiosos dos parentes.

Quando Ana saiu, os demais primos – o que queria dizer Nando e Edu - foram se aproximando, em um claro movimento de conspiração.

- Gente... Os dois são adultos. – Patrícia tentou argumentar – Não acham que seria melhor deixarmos eles resolverem, seja lá o que esteja acontecendo... Sozinhos? Vai parecer que a gente está se metendo na vida dos dois... Não: com certeza estaríamos nos metendo na vida dos dois.

- Bem... – Edu ajeitou os óculos no nariz – Temos duas opções. - Ele estendeu a mão direita, demonstrando uma alternativa: - Ela se consegue dar a volta por cima só com a nossa fantástica, inestimável e agradável presença... – Estendeu a mão esquerda: - Ou vai precisar do Carlinhos.

Os quatro se olharam por alguns instantes, avaliando a situação. Até que todos balançaram a cabeça, concordando que só havia um jeito:

- Carlinhos – disseram juntos.

***

Carlinhos acordou, após mais uma noite mal dormida, dominado pelas mesmas indagações dos últimos dias, e sentindo-se ainda pior pela saudade imensa de sua Ana. (3)

Mas – ele não tinha bem certeza se era o certo a fazer – ia fazer o que ela lhe pedira: não iria atrás dela, lhe daria o tempo que pedira.

O quarto ainda estava completamente às escuras, a manhã ainda não irrompera pelas janelas, então ele suspirou desalentado: mais uma madrugada seria passada em claro, quer dizer, acordado no escuro... e só.

Ou será que não?

Pois, de repente, começara a sentir uma presença sutil dentro do quarto... havia mais alguém ali com ele. O mais estranho é que tinha uma sensação boa sobre isso, como se fosse alguém querido e há muito distante... será que?

- Ana! É você? – ele perguntou baixinho, e ouviu uma risadinha baixa em resposta.

Franzindo a testa, murmurou, já com a varinha firme na mão:

- Ana... se você está querendo me pregar uma peça...

Nova risadinha, mas desta vez ele pode distinguir o tom bem infantil e concluiu: não era a sua esposa. Então, ordenou:

- “Lumus”! – e apontou a varinha direto para o lado de sua cama de onde viera o som.

- Ei! – uma vozinha suave falou – que luz forte! Vira isso pra lá!

Boquiaberto, Carlinhos examinou a figurinha sentada aos pés de sua cama, como se estar ali fosse a coisa mais natural do mundo.

Era... uma garotinha!

Pele clara, rosto levemente sardento, cabelos cacheados nas pontas que pareciam pretos mas, talvez pelo efeito do seu “lumus”, apresentavam um brilho avermelhado. A garotinha usava um vestido azul claro, de mangas fofas e saia em roda, cobrindo suas pernas cruzadas em posição de lótus sobre a cama.

Seus olhos azuis piscavam, enquanto ela sorria para Carlinhos, um sorriso doce e confiante, que o fez sentir ainda mais saudades da esposa.

Uma idéia súbita passou por sua cabeça, e ele insistiu:

- Ana? Desde quando você ficou tão boa em transfiguração? É muito difícil conseguir regredir a própria forma assim...

A menina balançou a cabeça com graça e levantou os olhos para o alto, antes de dizer com a voz mais decidida:

- Já disse. Não sou a Ana. Sou a Lizzy.

- Lizzy? Não conheço nenhuma Lizzy...

- Ah... mas vai conhecer. – ela sorriu de modo estranho.

- Está bem... Lizzy. E o que você está fazendo aqui? E como entrou?

- Ah, eu só vim te conhecer. Queria saber como você era, já que...

- O que? – Carlinhos agora se sentara como ela, as pernas cruzadas, sobre a cama, e tentava falar calmamente, para não assustá-la, embora se mantivesse alerta a qualquer gesto que pudesse significar um ataque da “menina”.

- Bem... vamos conviver muito, né? Eu queria conhecer você antes de vir morar aqui...

- Morar aqui? E quem disse que você virá morar aqui? Que história é essa?

- Ops... falei demais... – ela piscou, mas não parecia arrependida – Tenho que ir agora. Posso te visitar outras vezes, antes dela voltar?

Carlinhos entendeu que ela se referia a Ana e achou isso ainda mais estranho.

- Você não poderá vir quando ela estiver de volta?

- Não... só depois... err... não dá pra explicar, vou ficar de castigo se falar mais alguma coisa...

Ela se ergueu num salto, aprumando o corpo e olhando em torno de si, enquanto arrumava as saias.

Carlinhos continuava achando aquilo tudo muito incomum, mas sentia-se tão bem com a presença da menina, que se surpreendeu entristecendo-se com a percepção de que ela se preparava para ir embora.

- Você já vai? – ele perguntou baixinho.

- Vou sim... vão ficar uma fera comigo ao descobrirem que vim aqui, mas... eu precisava dizer uma coisa...

Ela pareceu sem jeito, chegou pertinho dele e disse ao seu ouvido:

- Eu gosto muito de você, viu? – e, para completa surpresa de Carlinhos, beijou-lhe a face, um toque suave e etéreo, quase imperceptível.

Antes que ele se recuperasse, ela lhe acenou um adeus e se afastou sorrindo.

Carlinhos se ergueu para ir atrás dela, mas atrapalhou-se com alguma coisa e... caiu no chão.

Assustado, ergueu-se e olhou em torno. Estava só. Completamente. Aumentando a luz, viu que a porta ainda estava fechada, que o dia não nascera.

Sentou-se em sua cama, suspirando, enquanto levava a mão ao rosto, onde a garotinha o beijara.

E, com um sorriso, concluiu que sonhara tudo aquilo.

Um sonho doce e terno, fruto de sua saudade imensa de sua querida Ana.

Então, concluiu que ela já tivera todo o tempo que precisava. Ele iria ter com ela, sem mais perda de tempo.

Ele a amava, e isso deveria ser suficiente para lhe mostrar o caminho dali para frente, sem magoá-la mais.

***

Para chegar a Cachoeira Encantada, tem que se pegar uma rodovia federal que corta o litoral de Santa Catarina. Às margens dela, um pouco antes da entrada para a cachoeira, havia uma reserva indígena. Ana notou que os índios estavam excepcionalmente próximos às margens da rodovia, coisa que nunca tinha visto antes. Havia várias barracas vendendo artesanatos. Pensou em parar na volta, para dar uma olhada.

Alguns minutos mais tarde, estava na estradinha de chão que levava a cachoeira. Parou e desceu do carro, notando com pesar que não era a única por ali. Bem, o que queria? Era verão e estava em uma das rotas mais procuradas pelos turistas. Aliás, várias famílias se aglomeravam as margens do rio, aproveitando o sol para se bronzear ou brincar na água refrescante.

Procurou um canto mais isolado e sentou-se em uma enorme pedra, sob a sombra de uma árvore. O rio corria à sua esquerda, e estava de costas para a maioria das pessoas, que se aglomeravam mais próximas à cachoeira. A queda da água criou um pequeno arco-íris, convidando os pobres mortais a se juntarem a aquele paraíso na terra. É... Era o local perfeito para se pensar, uma vez que não via motivos para as pessoas esquecerem de aproveitar o sol e a água fresca para prestar a atenção nela.

“Idiota”, recriminava-se. Estava sentindo terrivelmente a falta de Carlinhos. Era como se o ar lhe faltasse cada vez que o imaginava só. Certamente ele devia estar com raiva dela. No mínimo, magoado por ter posto toda a culpa nele, sem se perguntar que papel ela mesma tinha naquela história toda.

Perdida, achando que talvez Carlinhos pensasse que as diferenças entre eles eram tão grandes que ele sequer conseguia encará-las de frente, não tinha lhe passado pela cabeça que devia ter sido mais aberta e direta também.

“Eu vou perdê-lo”. Este pensamento saía de sua cabeça, torturando-a.

A inquietação mental se refletiu em seu corpo, e ela se remexeu, acomodando-se melhor. Sempre que pensava em Carlinhos, tocava no “olho-que-tudo-vê” que ele lhe dera de presente de casamento. Oh, Deus, viera para ali justo para não pensar no marido!

Determinada, pegou o medalhão cuidadosamente entre os dedos, deixando-o meio escondido das vistas das demais pessoas, só o suficiente para poder analisar as linhas misteriosas dos nós celtas. Os nós eram uma série de linhas que se cruzavam, caracterizando um animal sagrado para aquele povo. Uma das faces exibia a garça. A outra... O emblema de Ravenclaw.

Não tinha certeza do que esperar. A lógica lhe dizia que não era simplesmente olhando para o objeto que iria descobrir sua origem. Afinal, se as pesquisas que fizera nada resolveram, era mais provável que o mistério não se esclareceria tão fácil. Ainda assim... Aquela sensação de que algo em breve iria acontecer...

Estava tão perdida em seus pensamentos que levou um susto quando um grupo de rapazes passou por ela assobiando e dizendo gracinhas. Fora pega de surpresa, e havia algo de humilhante em se assustar por tão pouco. Assim, dirigiu um olhar carrancudo para os rapazes, considerando seriamente a possibilidade de lançar-lhes uma azaração.

Voltou o olhar para o objeto que estava segurando e... Oh-ou! Não estava mais o segurando!

Com a expressão perplexa, Ana foi voltando o rosto lentamente em direção ao rio. “Oh, Senhor, não permita que...” (é incrível como passamos a ser pessoas religiosas em ocasiões como esta). Lívida, mil idéias sobre como não era nada bom perder um objeto de propriedade do Ministério da Magia em um local de grande circulação de trouxas.

Não ouvira o barulho do objeto caindo na água, mas ele só poderia... Ó, Mérlin! Além de idiota, agora era azarada também?

Após procurar durante algum tempo, finalmente achou-o meio escondido entre as pedras e a areia do rio. Aliviada, pegou entre os dedos e o observou: “Você caiu ou foi parar ali por vontade própria, heim?”. Era um mistério. “Como o futuro do meu casamento”, pensou, com ironia. Mais uma vez, levou a mão ao pingente em seu pescoço, desejando ardentemente que não houvesse mais segredos.

Em um lampejo, toda a paisagem da cachoeira se apagou. Tudo ficou branco diante de seus olhos, para em seguida uma imagem ir se formando, pouco a pouco...

“Uma jovem morena dava as costas à outra mulher, tendo uma imensidão em água à sua frente. Havia névoa por todos os lados, fechada e densa como uma muralha diáfana e branca”.

Ana abriu os olhos, assustada. A mão direita segurando o medalhão, a esquerda, o “Olho-Que-Tudo-Vê”. Mas, de alguma forma, “sabia” que a visão tinha haver com o medalhão. Será que “o olho” era uma espécie de catalisador? Aquela sensação de angústia e de impotência ao mesmo tempo... De onde vinha?

“OH!”. Uma possibilidade a deixou perplexa. Talvez... Talvez a moça fosse Rowena Ravenclaw!

O medalhão estaria lhe revelando algo? Ana sabia que tinha esgotado a sua quota com objetos enfeitiçados que continham segredos, mas... Tinha que buscar imediatamente mais informações, tinha que contar a Quim, tinha que falar com Remo...

O som de um trovão ressoou pelos céus. Tinha era que ir para casa...

Olhando para cima, percebeu a aproximação de nuvens ameaçadoramente negras, e resolveu que teria que ir embora naquele momento se quisesse chegar em casa antes do temporal.

***

Chovia torrencialmente quando conseguiu chegar em casa. No verão, só costumava escurecer mesmo lá pelas oito da noite (com o horário diferenciado e tudo), mas a tempestade fez a cidade mergulhar no breu já às seis.

Saiu do carro correndo, na vã tentativa de não deixar que as gotas gélidas da chuva a molhassem muito. Assim, que abriu a porta, encontrou o caos dentro de casa.

- Bruninho está com uma febre que não baixa – anunciou Mônica, a esposa de Edu, referindo-se ao filho de três anos. A jovem mãe dizia tudo quase sem respirar, aflita. - Vamos levá-lo ao hospital. Pode ficar com a Paulinha?

A mulher nem acabou de fazer a pergunta e já foi passando a nenê de sete meses para o colo de Ana.

- E onde estão...?

- O pai e a mãe foram na casa de uns amigos que estão fazendo bodas de prata – Edu respondeu sem dar muita atenção ao que estava fazendo, falando rápido ao mesmo tempo que pegava as chaves do carro e entregava a bolsa com a mamadeira e demais itens para Ana – O pessoal da Déa foi jantar na casa da Tícia; e o Nando e o Chuca foram sei lá onde...

- E cadê o...? – Ela olhou em volta, procurando alguém que deveria ter mais ou menos a metade da altura deles.

- O Renato está com a Tícia – Mônica esclareceu o paradeiro do filho mais velho. Ela se dirigiu ao bebê: - Mamãe vai ter que cuidar do dodói do maninho, mas já volta, tá meu bem? – Em seguida olhou para Ana – Está na hora do banho dela, você faz isso? Obrigada.

Segundos mais tarde, Ana estava sozinha em casa com a sobrinha, imaginando se algum dia as pessoas de sua família iriam dar-lhe tempo e chance para negar um pedido...

- E é isso que acontece nas famílias grandes - falou para a menina, irônica - Todo mundo está por perto quando se quer ficar sozinha. Mas é só surgirem os problemas que, de repente, não tem ninguém em casa!

Quarenta minutos mais tarde, Ana não sabia quem tinha dado banho em quem. Descobrira que Paula a-do-ra-va água. A menininha esparramara o conteúdo da banheirinha de plástico por todos os lados... inclusive na tia. Para completar, ela começara a chorar tão logo Ana dera o banho por encerrado e a tirou da água.

- Ora, vamos... – Ana argumentou suavemente com a criança – Eu fui boazinha com você... – ela envolveu a menina em uma toalha felpuda – Poderia ter usado um “Petrificus totalus”, ou um “Estupore”, mas não fiz...

O argumento não pareceu convencer a sobrinha, que ainda vertia lágrimas, os dedinhos apontando implorantes para a banheira. Ana levou-a até o quarto, depositando o bebê sob a cama enquanto a enxugava:

- Ah, sim, pode chorar – apesar das palavras de ordem, a voz era terna – Pobre garotinha, nas mãos da “bruxa” da tia... – fez um monte de cócegas na barriguinha dela.

A menina deu uma risadinha misturada com uns últimos suspiros do choro, e apontou para Ana:

- Bú!

- Isso mesmo, querida – Ela sorriu para a menina, começando a vesti-la – “Bruxa”. Consegue dizer? – Abriu ainda mais o sorriso – Só não vai espalhar isso por aí, viu?

Alguns minutos depois, com a neném já vestida e cheirosa, Ana foi com ela até a cozinha. Paula estava sonolenta e não queria que ela dormisse antes de mamar, de forma que deixou para trocar as suas roupas molhadas depois.

Olhou para panela com água sob o fogão, onde a mamadeira estava mergulhada. Depois, considerou como iria manter a menina acordada enquanto o leite esquentasse. Com uma rápida espiada para o microondas, suspirou:

- Esse será nosso segredo, ok? Sua mãe me come viva se souber que te dei algo esquentado ali. – Mônica tinha dado ouvidos às idéias “naturalistas” de Andréa quanto a prejudicialidade de alimentos submetidos às microondas.

O leite já estava devidamente depositado dentro do eletrodoméstico quando a campainha soou. “Oh, droga. Fui pega com a mão na massa!”. Tirou rapidamente a “prova do crime” lá de dentro que, para sua sorte, ainda estava frio.

Foi abrir a porta, certa que só poderia ser os tios ou os primos. Com aquela tempestade lá fora, quem mais iria se arriscar a sair de casa? O vento soprava furiosamente, fazendo as copas das árvores balançarem, enquanto a chuva pesada caía forte sobre o telhado.

Quando viu a figura alta que aguardava do outro lado do batente, ficou estática.

- Carlinhos?!?

Ana recuou alguns passos, e ele entrou, sem desviar o olhar do dela. Estava molhado da cabeça aos pés, a roupa colada ao corpo, mas parecia não ligar.

- Diga alguma coisa... – Carlinhos sussurrou, depois de alguns segundos.

Ela sentia a garganta seca e, ainda sem palavras, deixou o olhar percorrê-lo de cima a baixo, vendo a água gotejando do rosto masculino, braços, peito... Finalmente fixou o olhar no chão e disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça:

- Você está destruindo o carpete de tia Bianca...

Aquilo estava longe de ser o que realmente se ocupava a mente de Ana no momento, mas pelo menos serviu para tirá-los da paralisia que os acometera desde que ela abrira aquela porta. Ela fechou a porta e Carlinhos sacudiu a cabeça, também sentindo que a “mágica” tinha se quebrado. Tendo levado as palavras de Ana a sério ou não, pareceu entender que era uma boa idéia lançar sobre si mesmo um feitiço de secagem.

- Bú! – o bebê suspirou no colo da tia, encantada com o “truque” que vira e apontou para Carlinhos.

- É sim, querida... – Ana respondeu, parecendo contrariada com a displicência com que ele fazia feitiços em uma residência trouxa – É um bruxo.

Se Calinhos sentiu a desaprovação na voz dela, ele fingiu que não percebeu. Simplesmente retribuiu o mesmo olhar especulativo e detalhado que ela lhe lançara momentos antes e comentou:

- Você está tremendo.

“Não de frio”, teve vontade de falar. Ao invés disso, simplesmente disse:

- É... A mocinha aqui me incluiu em sua brincadeira com a água durante o banho dela.

- Essa é a filhinha do Edu? – Ele perguntou enquanto sorria para a menina, encantado. Quando ela confirmou, voltou a questionar: - Onde está todo mundo?

Ana contou a história de sua família “debandada”, terminando com os pais do bebê tendo que sair às pressas com o outro filho doente. Era muito estranho ficarem conversando assim, como se nada tivesse acontecido, e, ao mesmo tempo, estarem tão tensos que era evidente que algo TINHA acontecido.

- Eu cuido dela enquanto você vai se trocar – Ele se ofereceu sorrindo para o bebê, enquanto estendia os braços para pegar a menina.

Ana ia dizer que não. Mas a criança simplesmente se jogou nos braços ruivo, mudando de colo alegremente. “Traidora”, pensou, desgostosa.

- Eu preciso dar a mamadeira...

- Eu faço isso. – Ele respondeu, firme.

- Mas...

- Ana, vá. – Disse em tom persuasivo. - Acredite, eu gostaria de começar a falar imediatamente tudo o que venho ensaiando nos últimos dias para te dizer. Mas não fazia parte da minha imaginação você estar toda molhada e tremendo... – ele abriu um pequeno sorriso malicioso - Não que eu esteja reclamando da visão...

Aquilo foi suficiente para fazê-la enrubescer e seu coração saltar. Sim, tinha que trocar de roupa!

- Ãaaaa... – clareou a garganta – Vou esquentar o leite. – Caminhou até a cozinha, fazendo um sinal para que ele a seguisse. Parou na frente do microondas e colocou o recipiente de volta, fechando o compartimento do aparelho. – Quando o micr... Digo, quando esta máquina apitar, você aperta aqui – indicou o dispositivo para abrir a porta do microondas – e pode tirar o leite... Cuidado, vai estar quente - avisou.

Ele ficou calado observando-a se mover na cozinha, demonstrando familiaridade com os objetos e máquinas que a guarneciam. E compreendeu subitamente, que Ana tinha feito um grande esforço para conseguir transitar no mundo bruxo, para cruzar as distâncias entre eles. E ele? O que fez para aprender sobre o mundo no qual ela tinha sido criada, do qual faziam parte os membros da família dela? Mas isso ia mudar, decidiu. Estava na hora de fazer algo por Ana.

Ela já estava saindo, mas parou e voltando-se, disse:

- Não se esqueça de testar a temperatura da mamadeira antes de...

Carlinhos fez um sinal afirmativo, e ela continuou a andar, para em seguida parar de novo:

- E de dar uns tapinhas nas costas dela para...

- Certo. – Os cantos dos lábios dele tremeram, em sinal que ele estava começando a se divertir com a hesitação dela.

- Mas não a movimente muito depois porque ela pode...

- Ana – A risada baixa dele foi ouvida depois da pronúncia do nome – Eu nasci um Weasley, lembra? O que significa conviver com muitas crianças o tempo todo. Acredite, eu sei o que fazer.

Ela concordou com um sorriso meio encabulado. É claro que ele sabia o que fazer, ela mesma o tinha visto com os sobrinhos um milhão de vezes. Era um pouco impressionante ver um homem daquele tamanhão com um bebê no colo, só isso... E estava adorando observar.

Foi trocar-se de uma vez. Quando voltou, dez minutos depois, deparou-se com Carlinhos andando de calmamente de um lado para o outro na sala, o bebê adormecido na posição vertical, com a cabecinha apoiada no ombro dele. A menina devia ter adormecido enquanto o leite esquentava. Realmente, Ana concordava que era um lugar perfeito para se deixar estar... e adormecer...

Sacudiu a cabeça, afastando os pensamentos perigosos. Precisava manter-se concentrada no assunto que tinham que discutir.

- Carlinhos... – Sussurrou para não acordar o bebê.

Ele voltou-se lentamente para ela, a expressão tão serena que... Oh, não era perfeito, mas... Tinha que admitir que o marido chegava bem perto disso. E não era só a beleza externa. Carlinhos era cabeça dura e mandão, sim, mas... Quando ele sorria desse jeito, como um menino... Ela tinha certeza de poder ver a alma dele, e ela brilhava lindamente. Nestes momentos, o tempo parava e Ana sabia... Sabia que só era completa com aquele homem.

Devolveu o sorriso do mesmo modo sereno. Aproximou-se e, tomado a menina dos braços dele, depositou-a com todo o cuidado em um sofá próximo. Depois se voltou para o marido e, ainda sem falar uma palavra, elevou os braços até os ombros dele, cruzando os dedos da mão atrás de seu pescoço.

O beijo foi suave, surpreendentemente sem pressa.

- Eu fui um idiota... – Ele sussurrou.

- É exatamente o que eu estava pensando... – se interrompeu quando ele começou a rir – Não... A meu respeito! – Ela ficou vermelha – Ah, você entendeu!

- Você não foi idiota – Ele contestou gentilmente – Foi a primeira ver as coisas como elas eram. E me dizer o que eu precisava ouvir.

Ana balançou a cabeça negativamente:

- Devia ter dito antes. – Ela fez uma careta – E ainda por cima fiquei acusando VOCÊ de adiar as coisas... Me desculpe. – Fez uma pausa tensa antes de acrescentar: - Carlinhos... Eu saí da nossa casa, aquele dia, esperando que você descobrisse o que o tinha feito agir daquela forma... Ainda preciso saber, querido.

- Eu sei. – O semblante dele ficou sério. – Vim aqui para te dizer que eu descobri, Ana. Aliás, sempre soube. Só não tinha me dado conta da maneira como isso estava te ferindo.

Ana engoliu em seco, sentindo o suspense da espera. Ele não iria dizer as coisas que estava pensando, não é? O que sempre temera que ele dissesse...

- Existe apenas uma coisa que pode me paralisar desta forma, que me deixa sem ação, a ponto de eu não ser eu mesmo... – segurou o rosto dela entre as mãos – E é o medo que eu sinto de te perder, Ana.

Ela arregalou os olhos, surpresa. Estava confusa, mas ao mesmo tempo sentia um calor gostoso percorrer seu corpo. Foi incrível como, de repente, o mundo parecia um lugar maravilhoso para se viver.

- Eu não queria que nada a magoasse. Que nada a preocupasse a ponto de fazer você desistir de mim. – As mãos dele escorregaram do rosto para os cabelos dela, e ali mergulharam. – Pensava que, se eu pudesse poupá-la ao máximo, o tempo iria dar um jeito de resolver as coisas por si só.

- Então... Você não tinha vergonha de mim? – Ana perguntou – Nem achava que eu era uma “bruxa insuficiente” para enfrentar a Felícia? – Fez uma careta ao pronunciar o nome da loira.

- De onde tirou uma idéia dessas? – Ele se surpreendeu – “Bruxa insuficiente”? Você é uma auror, querida, nunca iria pensar isso. E uma bruxa que enfrentou Voldemort. Cara a cara! (4)

- Bom... – Ana ficou sem jeito – Na realidade, o que eu fiz, naquela ocasião, foi encher o saco do “Voldie”...

Carlinhos teve que segurar a gargalhada para não acordar o bebê.

- Mas você deve achar mesmo que sou feita de papel, Carlinhos. – Acusou-o, um tanto magoada. – Você sempre está tentando me proteger, como se eu não fosse mais velha do que o Sean ou o Kenny. Lembra do Dia das Bruxas? Você não me deixou usar meus poderes de Mestra dos Sonhos... (2) E isso foi depois que eu não consegui voltar daquele maldito teste sozinha... – Ana estava decepcionada consigo mesma – Então, não pode me culpar por achar...

- Ana... – ele a interrompeu – Eu não fiz aquilo porque duvidasse de suas habilidades. Mas porque você estava fraca e... – fechou os olhos, custando-lhe até mesmo dizer o que se passara em voz alta – Nós não conversamos sobre isso depois, mas... Você faz idéia do que o Guardião do Livro usou contra mim naquela noite?

A brasileira ficou sem saber o que dizer por alguns segundos. Fora uma noite terrível, de onde todos os envolvidos saíram abalados. Também pudera: seus maiores desejos ou piores pesadelos tinham se voltado contra eles, usados para impedi-los de abrir o Livro de Fasto. Os piores pesadelos...

- Eu? – A palavra saiu lentamente, quase em um sussurro perplexo.

Ana buscou a resposta no fundo dos olhos dele. A dor refletida neles era confirmação suficiente.

– Oh, meu amor... – ela o abraçou fortemente, a voz embargada e sentindo a visão ficar embaçada por causa das lágrimas. - Sinto muito...

- Eu estava de volta à Batalha dos Dragões, Ana... – as palavras dele tomaram a forma de uma confissão desesperada. – E toda a lembrança do que tinha realmente acontecido foi apagada da minha memória. Eu não sabia que aquilo já tinha passado, que tínhamos vencido... Aqueles demônios me fizeram acreditar que tinha te perdido, Ana! – Carlinhos a apertou ainda mais entre seus braços. – Entende agora porque eu precisava te proteger, especialmente naquele momento, depois que acordamos?

Ana afastou o rosto o suficiente para encará-lo e então fez um gesto afirmativo com a cabeça, a face banhada em lágrimas. Fitaram-se por alguns instantes, em uma conversa silenciosa.

- Também tenho medo de ter perder, Carlinhos. Mas de uma forma diferente. Você entrou na minha vida como um personagem de livro... Um ser assim meio... “invencível”. O irmão do Rony que tratava de DRAGÕES! – Ela exibiu um pequeno sorriso estupefato, realçando a idéia – Sabe o efeito que a imagem dos seus “queridos bichinhos” faz em alguém trouxa? É uma coisa... Impressionante!

Ele riu, mas teve que parar imediatamente por causa do bebê, e Ana recomeçou:

- Eu preciso me sentir... A palavra não é exatamente “importante”, mas... A sua altura. – Ele fez menção de protestar, mas ela não deixou: - É isso mesmo, a sua altura. No sentido de ser independente, confiante de mim mesma. Eu quero seu respeito, sua admiração...

- Você já os tem...

- Como bruxa. – Ela sorriu para suavizar a nova interrupção – Não estou reclamando de seus cuidados, acredite. Agora que eu sei o porquê... – Suspirou, aliviada por finalmente entender as motivações do marido. – Eu só queria que compreendesse as minhas ações também. O porquê que tratei de “me aprimorar” em vez de ter uma conversa aberta e franca, como combinamos naquela noite do jantar que o senhor Althorp ofereceu.

- Ana... – Os olhos dele brilharam quando pegou uma mecha dos cabelos dela entre os dedos – Você não precisa fazer esse caminho sozinha, querida. Se nós dois começarmos a caminhar na direção um do outro agora, nos encontraremos mais rápido, no meio do caminho.

- O que quer dizer?

- Que eu também tenho que fazer minha parte e aprender mais sobre como um trouxa vive.

- Mas, você não precisa...

- Preciso. Eu quero. – Ele sorriu. – É parte do que você é e... Eu quero amar cada mínimo detalhe de você. Como posso amar, sem conhecer?

“Hum... Filosoficamente correto”, pensou Ana, bem-humorada.

Antes que Ana pudesse dizer qualquer coisa, a casa mergulhou na escuridão. Sentiu que Carlinhos puxava sua varinha, alerta. Certamente aqueles não eram tempos para se arriscar com Comensais soltos e sendo ajudados por demônios... Mas uma rápida olhada pela janela a informou que o quarteirão todo estava às escuras. Não demorou a chegar a uma conclusão:

- Ah, que maravilha! – Exclamou impaciente. - Temos a maior empresa fornecedora de energia elétrica da América Latina, e ela não consegue evitar apagões! Eu realmente gostaria...

Ana sentiu que era puxada para dentro do círculo de braços fortes, e em seguida ouviu o riso baixo do marido em seu ouvido:

- Pessoalmente, eu acho melhor assim...

Sim! Foram de fato argumentos muito convincentes, os do marido. Como sempre. Beijaram-se apaixonadamente, como gostariam de ter feito desde o primeiro instante.

Nem sequer notaram que Nando e Chuca tinham voltado, e que inclusive já tinham entrado na casa. A luz voltou justo quando eles estavam chegando a sala.

- Hei! Que agarração é essa na frente da minha sobrinha? – Nando brincou, passando por cima do fato de que a menina não estava vendo nada na frente dela, pois estava sonhando com os anjinhos naquele momento.

- Charlie, meu chapa, você não morre tão cedo! – Disse Chuca. – Nós estávamos justamente imaginando como é que a gente ia te chamar... Ai, caramba! – Ele exclamou quando “acidentalmente” Nando pisou em seu pé.

***

Era 31 de dezembro. Em algumas horas, seria Ano-Novo. Eles se vestiriam com uma das cores clássicas – branco para os desejos de paz; vermelho, para paixão; amarelo, para dinheiro, etc. Caminhariam pela praia, pulariam as sete ondas, brindariam, assistiram aos fogos... Enfim, tudo como manda a tradição.

Menos as lentilhas...

Nando, que havia ficado responsável por comprar os itens faltantes, esqueceu de comprá-las. E àquela hora, quando descobriram pela falta delas, já estava tudo fechado. “Da cerveja você lembrou, né?”, Patrícia dissera, torcendo o nariz desaprovadoramente. “Ora, lentilhas são dispensáveis... Cerveja, não”, ele respondera.

Agora, mantinha-se sabiamente afastado da mãe e da irmã mais velha, com medo de levar mais alfinetadas das duas. A família de Ana adorava pegar no pé de seu membro “musical”.

- Tio Nando anda desligado, sabe? – Mel comentou com Ana. – Ouvi a mamãe dizer que aquela moça que aparece nos shows dele... Ele ainda não sabe quem é.

- Verdade? Ele ainda está pensando nela? – Ana sorriu, divertida. – Deus, então o negócio é sério. Será que o Nando será o próximo a casar?

- Só se for com um fantasma... – Lipe disse, franzindo o cenho. – Eu fui em um dos shows do tio Nando. O tio Chuca me apontou ela em um dos intervalos... Fiquei de olho nela o tempo todo, mas... “Puf!” Ela sumiu... Ei! E se ela tiver uma capa de invisibilidade?

O pai do menino, Marcos, olhou para dentro da casa, para ver se os outros não tinham escutado a criança. Naquele momento, estavam no quintal em que se montava a grande mesa de madeira para os eventos que reuniam a família toda. Estavam somente Ana, Carlinhos, Patrícia, Marcos, Agatha, Moody, Bianca, Antônio, Mel e Lipe. Portanto, os que sabiam do mundo mágico.

- Existem muito poucas... – Respondeu Mel, com um ar que não negava que era uma corvinal. – É mais provável que seja uma bruxa...

- Ah, agora tudo para vocês são bruxos! – Resmungou Antônio.

- O fato é que a mulher continua um mistério... – disse Patrícia. – E ficamos sem lentilhas esse ano por causa dela... – Suspirou, desolada.

Moody, que acompanhava a conversa graças a um já autorizado feitiço de tradução trabalhando sobre ele, perguntou:

- Mas o que tem de tão importante nas tais das “lentilhas”, afinal?

- Há um mito de que atirá-las por sobre os ombros na virada do ano traz sorte. – Respondeu Agatha.

Marcos, que entendeu a pergunta porque falava inglês, acrescentou:

- Mas restam outras “tradições de sorte” para realizarmos esta noite, felizmente. – Disse com bom-humor.

- Não entendo de tradições brasileiras... Mas tomar uma poção Felix Felicis... Isso sim, traria sorte! – Brincou Carlinhos, em tom sussurrado para as crianças, que riram.

Então, Lipe lançou um olhar implorante para Ana:

- Tia, vocês não poderiam... Sabe... – Fez um movimento de pulso, como se estivesse girando uma varinha.

- Não, não podemos, Lipe. – Ana respondeu pacientemente para o sobrinho.

- Eu já expliquei isso para ele umas mil vezes, tia. – Mel informou enquanto censurava o irmão com o olhar. – Mas parece que não entra na cabeça dele!

E, realmente, não poderiam. Era uma área residencial trouxa. O Ministério da Magia do Brasil era menos rígido do que o da Grã-Bretanha, uma vez que os brasileiros não ficavam tão ouriçados com manifestações de magia quando os ingleses. Mas excessos certamente iriam ser policiados. Não iria fazer um feitiço só para aparecerem lentilhas...

- Acho bom mesmo. – Bianca comentou. – Os tacanhos ficam muito acomodados por causa desse... – Imitou o movimento de pulso que o neto fizera antes.

Agatha vez um muxoxo desgostoso, enquanto Moody fazia um esgar divertido. Tio Antônio suspirou audivelmente encolheu os ombros para o ex-Auror, como que a dizer: “Fazer o quê?”.

- Tia... – Ana finalmente viu a oportunidade para perguntar. – Que negócio é esse de “tacanhos”?

Carlinhos acompanhava a conversa interessado, já que estava entendendo menos ainda do que a esposa.

- Bem... – Bianca fez um trejeito sem-graça pela primeira vez desde que começara a usara aquela palavra. Mas logo se empertigou e respondeu, muito dignamente: - Ora, eu vivo escutando Agatha nos chamar de “trouxas”. Sei que é um termo que se popularizou entre vocês... – sussurrou a próxima palavra, para ninguém mais ouvir - ...“bruxos”. Mas, ainda assim, é um nome ofensivo. Desta forma, estou oficialmente criando um apelido para as pessoas em questão, ou seja: “tacanhos”.

Nenhum dos bruxos ali presentes se sentiu pessoalmente ofendido. E a tia tinha ciência de que ninguém – a não ser Agatha – ira pensar tal coisa. Todos sabiam que a atitude era mais um capítulo da famosa implicância mútua entre Bianca e Agatha. Bianca tivera conhecimento que, por uma questão de “cultura bruxa”, a inglesa poderia chamá-la de “trouxa” sem problema algum. Só estava tentando recuperar um pouco do orgulho ferido.

- Mas, tia... – Ana tentou argumentar, enquanto Agatha esforçava-se visivelmente para manter-se calada. Era óbvio que ela e Bianca já tinham discutido sobre isso. – Por que logo “tacanho”?

- Simples: porque são pessoas que sempre utilizam magia para resolver seus problemas. Ou seja, o meio mais fácil. Não precisam trabalhar arduamente, remover cada obstáculo a sua frente usando somente inteligência e criatividade. Ser persistente e paciente. Não se desenvolvem. Em resumo... viram “tacanhos”.

Havia algumas falhas no argumento da tia, mas Ana tinha que admitir que ela não estava completamente desprovida de razão.

- Bianca... – Agatha disse entre os dentes, mantendo bravamente a postura de uma dama inglesa. - Um trouxa também não está sendo exatamente “gentil” quando chama alguém de “bruxa”...

- Não é suficiente como revide – Declarou Bianca, dando de ombros. – Mas não se preocupe. Agora nos considero “quites”. – Ela pegou uma bandeja que estava sobre a mesa de armar. – Claro que isso não se aplica a você, Charlie. – Sorriu para o ruivo. – Nem para vocês, queridinhas. – Se dirigiu a Ana e a Mel, excluindo claramente Agatha e Moody, não sem antes lançar um olhar de desculpas para o ex-Auror. Certamente o deixara de fora porque acreditava que ele iria querer ser solidário à esposa. Então, Bianca retirou-se estrategicamente para a cozinha, levando a bandeja que pegara.

Tia Bianca não era uma pessoa má ou ciumenta. Só quando se referia a disputar a atenção, amor e admiração de Ana. E o mesmo dizia respeito à Agatha. Na verdade, Ana costumava compará-las com crianças pirracentas. Mas, era só as duas terem qualquer preocupação com relação à sobrinha para deixarem as diferenças de lado e se punham a discutir sobre o bem-estar de Ana.

Um dia, ela desconfiava, iam acordar e se darem conta que eram mais parecidas do que imaginavam.

- Como diria minha mineiríssima amiga Regina – falou Ana - “se a moda pega...”.

- Hum... – Mel falou em voz alta, mas parecendo pensar consigo mesma. – “Tacanho”. É um bom apelido para um certo garoto convencido que eu conheço...

- Eh, nem vem! – Lipe reclamou, defensivo.

- Lamento se o chapéu serviu, mas eu estava falando de outro “guri” convencido. – A menina sorriu, deliciada por per pego o irmão sem nem mesmo ter feito esforço. – Um que atende pelo nome de Hector Lupin...

- Não! – Lipe interrompeu, parecendo que ela tinha acabado de falar sobre um herói. – Tem algo haver com o Prof. Lupin.

Para as crianças trouxas de todo o mundo, Remo Lupin seria eternamente “Professor”.

- Filho dele. – Mel respondeu a contragosto, por causa do entusiasmo do irmão.

- Do que é que você está reclamando, “guria”? – Lipe questionou. – Você estuda com o filho do Remo Lupin! Que sortuda!

- É porque você não conhece o Hector como eu conheço... – Resmungou. – Ele se acha o “último dos marotos”. Vive aprontando...

- Não precisa dizer mais nada. Já virei fã. – Declarou Lipe.

Mel bufou:

- Era só o que me faltava!

Ana e Carlinhos se olharam, divertidos. Pelo que Tonks e Lupin contavam, Hector havia batido todos os recordes de travessuras dos últimos anos, em Hogwarts. E Ana acreditava que o marido contribuíra com sua cota para as idéias do jovem grifinório ao contar para o menino umas histórias do que a Tonks aprontava em seus tempos de colégio.

Era disso que estavam precisando: alegria, descontração. Seria muito bom terem aquele tempo longe de Comensais, demônios, Livros de... “Ah, meu Deus!”, pensou Ana. “Quem precisa de um “obliviate” com uma cabeça como a minha? O MEDALHÃO! Preciso contar isso para alguém o mais rápido possível!”.

- Vamos para um lugar sossegado. – Sussurrou no ouvido do marido. – Não é o que está pensando! – Ela se apressou a explicar quando viu o sorriso dele. – Preciso te contar umas coisas...

***

O grupo que antes estava na casa dos tios de Ana tinha tomado conta de um trecho da praia de areias brancas. A beira-mar, geralmente vazia àquela hora da noite, estava repleta com um mar de pessoas vestidas de branco, com um vermelho ou um amarelo aparecendo aqui e ali.

Três horas antes da virada do ano, Antônio já estava apressando a todos para pegar a estrada. Embora o mar estivesse à meia hora de distância, a população se punha em verdadeira “marcha” para as praias neste dia, como acontecia em todo o litoral brasileiro. Não tinha coisa mais sem-graça do que se comemorar a chegada do Ano Novo preso em um engarrafamento quilométrico.

- Por que não me contou sobre esse medalhão antes? – Carlinhos perguntou. Eles haviam se distanciado um pouco dos outros, enquanto caminhavam.

- Eu não tinha certeza de nada. O achei por acaso... Não tem nenhuma ligação direta com o Mito de Arádia, a não ser por Rowena também ter sido uma sétima filha; ou com o Livro de Fausto. Tinha tudo para não ter nada demais.

- Ana, você, mais do que ninguém, devia saber que dificilmente um objeto bruxo “não tem nada demais”.

Ela fez uma careta. O pior era que Carlinhos tinha razão.

- Eu contei para alguém. – Defendeu-se. – Contei para o Rony.

- Ora, o... – interrompeu-se. – Tudo bem. Admito que o Rony não é mais criança, e que é um dos melhores Aurores que eu conheço... – Sorriu para ela. – Se contar para ele que eu disse isso, vou negar até a morte. - Ana riu e ele continuou. - Mas ele e o Harry já estão bastante ocupados com o que a Mione, o Lupin e o Snape estão descobrindo.

Tinha que concordar com ele novamente. Aqueles rituais... O estômago dela se revolvia só de pensar neles, de uma forma que não acontecia nem nas suas antigas aulas de Medicina Legal, quando o professor passava todos aqueles slides do IML.

- Devia ter contado para o Quim, eu sei. – Suspirou, admitindo. – Mas é que... Bem... Eu tinha desobedecido a uma ordem clara sobre a divisão das tarefas. As pesquisas eram área da Mione e da Gina. Só queria ter certeza de poder provar que, pelo menos, minha mania de meter o nariz onde não sou chamada tinha trazido bons resultados! E depois foi tanta coisa acontecendo... Eu quase esqueci.

Carlinhos riu e puxou a esposa para perto de si. Afagou o rosto preocupado dela:

- Quem sabe não achou mais uma arma contra os Comensais? – Animou-a.

- Tomara. – Ana desejou isso ardentemente. – E... Acho que seu presente teve algo a ver com isso também. – Mostrou o Olho-Que-Tudo-Vê.

Ele pensou durante alguns segundos, lembrando-se do que Ana havia contado sobre como tivera a visão, enquanto segurava os dois objetos.

- Comprei pensando no seu dom de Mestra dos Sonhos. De certa forma, os antigos sacerdotes egípcios os usavam para encantamentos de natureza próxima a este poder. Mas, pelo que me descreveu, não parece ter sido um sonho...

- Não. – Concordou. – Eu estava bem acordada, e não havia ninguém dormindo, ou inconsciente. Era uma imagem do passado mesmo.

- Vamos descobrir, não se preocupe. – Ele a tranqüilizou. – Juntos.

Os fogos de artifícios estavam sendo lançados a intervalos cada vez mais curtos. A meia-noite se aproximava. Eles ficaram abraçados, apenas sentindo a proximidade um do outro, perdidos nos próprios pensamentos. Temiam que o alvo dos Comensais fosse Gina e os bebês. (2) Harry já tinha sofrido tanto na vida... E aqueles malditos estavam ameaçando uma família que apenas estava começando...

Ana lembrou de Sarah, e se perguntou se ela estava sentindo falta do Reveillon brasileiro. Sinceramente, esperava que tudo estivesse dando certo entre ela e Snape. Afinal, iriam formar uma família. (5) Quando a ligação dela com o antigo professor de Poções viesse a público, Sarah sentiria também um pouco do preconceito e desconfiança que o próprio Snape sentia das pessoas. Não seria fácil.

Snape era um ex-comensal tentando recomeçar sua vida. Ana acreditava nisso. Queria acreditar. Costumava pensar que todos tinham direito a uma segunda chance. Até mesmo Draco Malfoy. Pensar no ex-sonserino a lembrou de Gerard Griffin, seu colega Auror que fora assassinado... No dia em que estava vigiando Draco. Na noite de Natal, que horror! E ela se divertindo enquanto... Ninguém merecia morrer daquele jeito, muito menos Gerard. Os olhos de Ana se encheram de lágrimas, que ela tratou de reter imediatamente. Ela também queria acreditar em Draco... Mas depois de tudo, estava sendo cada vez mais difícil ser uma “lufa-lufa salvacionista” como diria Severo.

Nunca se esqueceria de Gerard, sempre sorridente, com os cabelos compridos presos em um rabo de cavalo. Ele sempre usava vermelho – costume que lhe rendia muitas piadas dos colegas. Mas foi justamente esse detalhe que a fizera se lembrar do Auror que Harry Potter teria visto, no quinto ano, quando fora chamado ao Ministério. E agora, estava morto...

- Então, qual vai ser sua promessa de fim de ano? – Ana perguntou, obrigando-se a falar de assuntos mais alegres.

- Promessa? Que história é essa?

- Outra tradição trouxa. – Explicou. – Você escolhe algo que deseja muito fazer no próximo ano e promete fazer.

- Ah, bom. – Sorriu, cúmplice. – Vou tentar aprender a ser o maior Trouxa que você já conheceu.

Ana riu pela dupla interpretação da frase, e declarou:

- E eu vou desenvolver ao máximo o meu lado Tacanho.

Promessas feitas, e notando que as pessoas começavam a fazer a contagem regressiva, Carlinhos passou o braço em torno da cintura da esposa e questionou:

- Pronta para outra tradição?

- Prontíssima! – Ela disse, entusiasmada.

O beijo da virada do ano. Em todo o mundo, sendo Trouxa ou Tacanho, era o melhor do Ano Novo.

--------
Notas
--------
(1) Anna (Go With Him), The Beatles. “Anna… Garota, antes que você se vá... Eu quero que saiba, agora... Que eu ainda te amo muito... Mas se ele te ama mais, vá com ele... Vá com ele...”.

(2) Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens.

(3) Este trecho foi um presente da Regina McGonagall.

(4) Harry Potter e o Segredo de Sonserina.

(5) O Paciente Inglês, da Regina McGonagall.


****

(N/A): *Deu branco* Não sei o que dizer. Acho que a fonte de idéias se esgotaram. Tudo be, sem pânico... Vamos começar com algo básico, nada de muito elaborado, er...

Certo.

Teve uma parte que foi a Regina McGonagall que escreveu. OK, vcs já sabiam disso. Er... E a Sally bethou! Certo, certo... Vcs já sabiam disso também.

Vamos ver... A Ana e o Carlinhos se reconciliaram! Ops... Estas notas estão indo de mal a pior...

OK: Quero ver se alguém acerta sobre o que poderia ser o Segredo de Corvinal. Ah, gente, eu dei uma BAITA dica lá em cima, heim? (Oba, acho que o “tico-e-teco” acordaram. To conseguindo escrever algo que faz sentido).

E, acho que a Ana e o Carlinhos se fizeram entender, não? Ninguém disse que seria fácil os dois viverem juntos, mas com um esforcinho a coisa pode dar certo.

O elemento de tensão da trama é mérito total da Sally Owens e os seus demônios, e livros centenários... Confiram a trama! Está cada vez mais sensacional.

Harry e Gina... Eles não são lindinhos, gente?

Os Novos Marotos ficaram meio de lado neste capítulo, mas... Não se preocupem, eles estarão de volta logo-logo!

Quero que saibam que eu estou guardando três grandes surpresas para vocês. Duas, são sobre dois novos casais. Um deles, vocês nem imaginam (a Sally e a Regina é que ficam confabulando comigo no MSN, daí saem estas “armações”, hehehe). E a outra... Bem, esta novidade vocês vão saber logo.

Finalmente.... VINGANÇA DOS TROUXAS! *Belzinha abrindo campanha: “Chamem os bruxos de Tacanhos!”.

Hahahahaha!

Devo dividir o mérito da idéia com a Drusilla_Juli. Mas um bate-papo pelo MSN, meses atrás, que rendeu boas idéias.

E, mais uma coisinha: Que menina estranha era aquela? Figurinha fora do normal, heim? Será que o Carlinhos vai contar para a Ana de seu... "Sonho"?


Espero que não tenha esquecido de ninguém. Beijos, até o próximo capítulo (de agora em diante, eu sempre vou deixar dicas do que vai acontecer lá no Espaço MSN). E... comentem! *De joelhos*.

Inté!
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Dark Princess
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Post by Dark Princess »

eh incrivel como em todo lugar q eu vou eu encontro a sua fic!!! :shock: sou eu a Ana Loks, lembra d mim??agora eu vou t enxer o saco aki tb!!! :D naum demora mto pra postar naum, tah??
bju
"O tempo eh mtu lento para os que esperam, mtu rápido para os q têm medo, mtu longo para os q lamentam, mtu curto para os q festejam. Mas, para os que amam, o tempo eh eternidade!"
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Post by Danna O'Brien »

ô beeeeeeeeeeeeeeeeeellllllll!!!!!!!!!!!!!!!!!
atualizaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!
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Post by Tina Granger »

UAU!!! Se todos os capitulos que demorarem tiverem esse tamanho... virei fã incondicional!
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Duas mulheres - A um passo - A irmã da Serpente

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Belzinha
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Conhecendo A Toca
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Dark Princesse (Ana Locks), Grazy DSM e Tina Granger: Obrigada meninas! Você são demais! :D
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Belzinha
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-11-
O Destino Tem Senso de Humor


“Deixe-me ver... Onde estão as minhas anotações?” “Hum...” *Abaixando-se atrás da mesa* “Eu jurava que tinha posto o rascunho do capítulo... nesta gaveta...”.

“Ops!” *Surpresa* “Vocês já estão aí?” *Risadinha nervosa* “Não tinha visto...” *Sorriso morre* “Devem estar querendo capítulo novo, não é?” “Bem, é que... Hum” *Suspira profundamente, tomando coragem* “Eu não acho as minhas anotações! Pronto, falei!”.

“Vou ter que fazer o capítulo de improviso”. *Careta* “Quem tiver coragem para ver no que vai dar...”.

“Certo. O que vou contar é o típico exemplo de quando todas aquelas coisas que você espera que aconteçam durante um ano inteiro... Acontecem em poucas horas”.

***

As comemorações tinham ido até tarde naquela virada de 31 de dezembro para 1° de janeiro. Ainda assim, não era costume dos Anhanguera ficarem até tarde na praia, especialmente devido a quantidade de crianças que sempre havia na família.

Assim, após satisfeitas todas as tradições de Reveillon, pegaram a estrada de volta para casa. Entre os pequenos, os únicos que ainda resistiam ao sono eram Mel e Felipe, mas mesmo esses já estavam cabeceando. Em uma tentativa de manter-se acordado, o menino sussurrou para a irmã, dentro do carro:

- Quando chegarmos em casa me conta aquela história do quadro da Rowena Ravenclaw...

A garota piscou os olhos várias vezes e bocejou:

- Eu não sei muito mais do que... Já te contei...

- Quer dizer que aquele símbolo não significava nada? – O murmúrio do menino soou decepcionado.

- Ah, significava sim... – voltou a bocejar. – O problema é que significa várias coisas...

- Como o quê? – Lipe pareceu mais desperto.

- Rosa dos Ventos, Norte... Céu...

- A pesquisa que eu fiz na Internet contava que os celtas acreditavam a terra sagrada estava no norte. Por isso as tribos se espalharam pela Europa e chegaram até a Inglaterra...

- Ah! – Mel deu uma risadinha curta e baixa – Resolveu fazer o dever de casa agora, é? Quem te viu e quem te vê!

- Você também está mudada – Felipe apontou, um tanto ressentido. – A velha Mel preferiria morrer seca, pesquisando dentro de uma biblioteca, a deixar um mistério sem solução!

A menina ergueu um pouco a cabeça, fitando o irmão com interesse. Uma pontada de culpa a trespassou quando se deu conta de que estar longe de Hogwarts ainda era muito difícil para ele. O enigma do símbolo no retrato da Fundadora da Corvinal era uma coisa que dividiam e que o fazia se sentir mais próximo da escola, da magia que era tudo o que envolvia mundo do menino-bruxo dos livros. E ela deixara de lado, dando a impressão a Lipe que estava abandonando-o, negando aquela única ligação a qual ele se agarrara.

- Lipe... - Ela começou seriamente concentrada, para dar a entender ao garoto que se importava. – Eu não desisti. Só que...

Ponderou por alguns instantes o que diria. Não era uma boa hora para se falar sobre garrafas que prendiam demônios. (1)

- Tem um montão de coisas mais interessantes para fazer, como transformar ratos em cálices, e fazer penas flutuarem... – Lipe completou, amuado.

- Sabe que até que não? – Mel viu na resposta do irmão uma "rota de fuga". – Depois de algum tempo tudo vira rotina. Não é muito diferente de Estudos Sociais e Matemática...

Felipe lançou um olhar zangado para a irmã, o que indicava que não havia sido convencido dos argumentos dela.

- Olha, Lipe – Mel suspirou, cansada. – Quando a gente acordar amanhã, vamos escrever tudo o que acharmos importante. Vai ser como uma investigação. Quando eu voltar para Hogwarts, vou fazer algumas perguntas ao Prof. Binns, e depois eu te aviso do que encontrei. O que acha?

O garoto manteve o semblante fechado, mas ela percebeu um pequeno sorriso mal contido nos cantos dos lábios dele quando ele fez um seco sinal afirmativo com a cabeça.

“Vamos ver...”, pôs-se a pensar, “o que Alan disse mesmo?”. Por um segundo pensou em contar suas dúvidas para os amigos. Mas eles estavam absorvidos demais com aquela história da garrafa de Mefistófeles... Fora que tinha arrepios só de pensar no que Hector poderia aprontar tendo não um, mas dois mistérios ao mesmo tempo!

Só esperava que ele tivesse contado tudo para os adultos, como prometera!

***

Péssima hora para o carro enguiçar. De madrugada, em uma estrada secundária de pouco movimento.

- Não faça essa cara – Carlinhos disse por sob o capô aberto da velha caminhonete, quando Ana bufou pela milionésima vez. – A idéia de pegar uma estrada alternativa foi sua.

- Teria sido uma ótima idéia se o carro não tivesse quebrado e... – fez uma careta aborrecida – Lamento, mas esta é a única cara que eu tenho.

Carlinhos desistiu de olhar o motor arruinado. Fechou o capô e se dirigiu até a esposa, que estava recostada na lateral do carro, com os braços cruzados e ainda bufando. Teve que apertar os lábios para segurar o riso.

- E é uma carinha linda! – Falou enquanto a abraçava e beijou a ponta do nariz dela.

Ana desfez o bico, mas lançou um olhar de advertência antes de dizer:

- Uma carinha linda que também vem junto com um cérebro, lembre-se disso. E que... Apenas tomou uma decisão... Infeliz.

- Claro... – Ele foi condescendente, tentando dar seriedade à voz. – Mas, acho que a caminhonete já era... – Informou, apontando o polegar em direção ao veículo, por cima dos ombros.

- Como pode ter certeza?

Ela estava certa que o marido era um bruxo legítimo, da sola dos pés até o último fio de cabelo ruivo. Ou seja: como ele conhecia motores?

- Advinha quem foi que ajudou papai com o Ford Anglia, no último verão em casa, antes da Romênia?

Disso ela não sabia. Às vezes, tinha a impressão que poderia passar a vida inteira ao lado de Carlinhos, e ainda assim haveria coisas a respeito dele que a surpreenderiam.

- Vamos que ter que aparatar, então... – Ela olhou preocupada para o velho veículo. Seria seguro deixa-lo ali?

- É o jeito... – Carlinhos respondeu. – A menos que usemos um pouco de magia... – E olhou sugestivamente para a caminhonete.

- Carlinhos, não! – Ela protestou. Balançando a cabeça negativamente. – Também é proibido enfeitiçar artefatos trouxas por aqui!

- E quem vai saber? – Ele deu de ombros, abrindo aquele sorriso enviesado e maroto que a fazia sentir o coração acelerado.

- Que pensamento mais... – Ana se esforçava para parecer reprovadora, mas o sorriso abobalhado que insistia em surgir em seu rosto quando ele fazia aquela expressão estava atrapalhando tudo – Mais... Sonserino!

- Ei, não precisa ofender! – Carlinhos protestou.

Ana riu e começou a dar pequenos beijos pelo rosto do marido, até que ouviu a voz rouca dele dizendo:

- Não adianta me comprar com beijos... – Ele balançou a cabeça um pouco depois - Bem, talvez com mais alguns...

- Quantos? – Ela quis saber.

- Continue – Ordenou – Quando já for suficiente eu te aviso...

Os dois riram, e já estavam se preparando para aparatar quando ouviram vozes se aproximando. Estavam próximas, vindas da área coberta de árvores próxima a estrada. Viram um grupo de pessoas caminhando em sua direção, com lanternas. Era óbvio que os tinham visto, e aparatar agora era impossível, até mesmo porque eles já estavam perto demais.

- Não estou conseguindo entender o que eles dizem – Carlinhos disse.

- Nem eu – ela respondeu – Acho que são da reserva indígena.

Ana estava confusa. Tinham entrado dentro da área da reserva? Mas aquela estrada não entrava nela. Ou entrava?

- Algum problema, amigos? – Um deles se adiantou ao resto do grupo – Vimos a luz do farol lá da nossa aldeia. Estão longe da estrada... – Acrescentou a última frase com desaprovação.

- Desculpe se invadimos. – Carlinhos se adiantou. - Pegamos um atalho... E o carro enguiçou.

O homem franziu o cenho ao notar o sotaque do ruivo.

- Eu sugeri ao meu marido esta estrada. – Ana interveio – Antigamente, ela era parte da rodovia... E achei que conseguiríamos chegar até o outro lado, e pegar a ponte. – Ela levantou os ombros, um tanto envergonhada. – Parece que as coisas mudaram muito desde que eu morava aqui...

O índio desanuviou a expressão e sorriu:

- O caminho foi desativado desde que a obra de duplicação da rodovia foi concluída. Estas são terras Mbya, agora.

Isso explicava muita coisa. A demarcação das terras dos Mbya, uma tribo da nação Guarani, havia rendido muitas discussões na época em que Ana ainda estava na faculdade. As obras da duplicação da rodovia federal tornaram o processo ainda mais dramático. No entanto, Ana fora para Brasília antes de tudo terminar, por isso não sabia do desfecho da história.

Carlinhos se adiantou, estendendo a mão:

- Sou Charles Weasley – apertaram as mãos – E esta é minha esposa, Ana.

- Weasley... – O homem riu e se voltou para os demais, falando algo para eles em guarani, o que provocou gargalhadas. Depois, ele olhou para o casal, e disse: - É um sobrenome famoso!

Tinham sido pegos totalmente de surpresa. Jamais imaginaram que os livros e filmes fizessem sucesso ali também. E a ponto de se lembrarem...

- Ah, é... – Ana começou.

- Uma coincidência... – Carlinhos disse ao mesmo tempo.

Novas risadas dos mbya. O desconcerto do casal parecia muito divertido para eles.

- Não precisam fingir para nós – o chefe finalmente esclareceu – O Decreto de Sigilo não se aplica aqui. Os povos indígenas encaram a magia com naturalidade, é algo que faz parte de nosso dia-a-dia. Ela não nos assusta, como acontece com os brancos.

- Então, o senhor sabe sobre... – Foi tudo o que Ana conseguiu balbuciar.

- Harry Potter? – Ele riu – É claro que sim! E sobre os Weasleys também – Olhou para Carlinhos – Deve ser o irmão de Ronald Weasley, não? – O ruivo fez um sinal afirmativo, e o homem se apresentou – Sou Miri Poty. Sou o cacique da aldeia.

Após cumprimentarem o restante do grupo, Ana sussurrou no ouvido do marido:

- Deixe-me adivinhar: essa é uma daquelas coisas que geralmente os alunos de Hogwarts não sabem, porque dormiram na aula do Professor Binns...

- Touché! – Ele sorriu e devolveu na mesma moeda: - E também uma daquelas coisas que você não sabe porque aconteceram depois que Helga Hufflepuff enfeitiçou aquele bracelete...

- É... Confesso que deixei esse detalhe de fora nas minhas atualizações... – Ana suspirou – Touché!

- Não precisam se preocupar em deixar a caminhonete – Miri Poty declarou. – Não vai acontecer nada com ela, até que venham buscá-lo, garanto. Se quiserem aparatar até sua casa, é melhor que façam isso antes que...

- Chefe, soube que temos visitantes – alguém disse por detrás do grupo, e a voz não tinha sotaque, como o do cacique. – Está tudo bem?

- Tarde demais... – resmungou Miri, de forma que só Carlinhos e Ana ouvissem. – Tudo, Rodrigo – respondeu – O carros deles quebrou, só isso.

Ana emitiu uma exclamação de contentamento assim que viu o rapaz magro e de cabelos loiros encaracolados, reconhecendo-o imediatamente.

- Drigo!

- Ana? – O outro também sorriu ao fixar o olhar na moça, confirmando sua identidade – Menina, eu pensei que estivesse na Inglaterra! – Os dois se abraçaram.

- E eu pensei que estivesse no Paraná – ela devolveu, brincalhona.

- O trabalho me trouxe de volta. Estou acompanhando o final das demarcações.

- No Reveillon? – Ana estranhou.

- Não – o rapaz negou, rindo – Sou convidado. Minha família está no Paraná e, como não consegui me juntar a eles a tempo para o Ano Novo, o chefe Miri me convidou a ficar.

- Que feliz coincidência – Carlinhos comentou, olhando mal-humorado o abraço que eles ainda mantinham, e lembrando à Ana que não os tinha apresentado e tratou de fazê-lo.

Rodrigo Vênetto tinha sido seu colega de faculdade, um dos amigos inseparáveis que ela teve naquela época. Ele se especializara em Direito Ambiental e Indígena, e atualmente trabalhava para uma empresa que prestava serviços de assessoria, tanto para o governo quanto para instituições particulares.

- Bem, já que tudo foi esclarecido... – o Chefe Miri começou, lançando um olhar interrogativo para o casal.

- Ah, sim – Ana entendeu a dúvida do guarani – Temos que pedir ajuda...

Carlinhos fez uma típica expressão de “por quê?”, e fingindo que estava procurando algo no carro, ela aproveitou para puxar o marido para dentro dele também.

- Não vou lançar um “obliviate” em um dos meus amigos só para poder aparatar – sussurrou, meio inclinada no banco, como se estivesse procurando algo no porta-luvas.

- Ana, você sabe que isso não vai fazer mal algum a ele... – Carlinhos suspirou, impaciente.

- Mas para mim, vai – declarou.

- Fizemos isso quando resgatamos as crianças! (1) – Ele levantou os ombros, realçando a idéia que era só mais um feitiço.

- É diferente. Uma coisa é apagar a memória de alguém porque nos viu fazendo algo... E outra é fazer isso só para ter um pouco de comodidade... – Ana parou uns segundos, analisando sua frase e pensando que, ainda assim, ela lhe parecia um tanto distorcida moralmente. Ser uma bruxa estava mudando seus conceitos. – Não vou dar uma de agente da M.I.B., ok? – Continuou – A gente o distrai, e depois aparata.

- Agente do quê? – Mas Ana já tinha deixado o carro.

- É... Os celulares não pegam... – Disse na maior inocência para os demais.

Carlinhos se perguntou o que a mulher pretendia fazer. Certo, é claro! Agir como os trouxas agiriam em uma situação como esta até que tivessem uma oportunidade para aparatar. Mas o que, exatamente, eles faziam?

O rapaz loiro falou alguma coisa sobre celulares dificilmente “pegarem sinal” ali (seja lá o que isso significasse) e que poderiam usar o “orelhão” (palavra nova para Carlinhos) que ficava na aldeia.

Enquanto caminhavam até lá, Rodrigo se desculpou por não ter podido ir ao casamento, já que estava à quilômetros da civilização, na época, mas que estava muito feliz por ela, blá, blá, blá... Enfim, não parava de falar. Carlinhos estava começando a achar que ele e Colin Creevey tinham muito em comum.

Chegaram até o tal “orelhão”. Ah, bom! Era um telefone! Claro, se o “celular”, que era um telefone também, só que sem o fio, não havia funcionado, um trouxa procuraria o meio de comunicação mais próximo. Hum... Então era assim que funcionava. Não era de se admirar que os trouxas praticamente não fossem a lugar algum sem o tal celular!

Ana ligou para os tios avisando os parentes do que aconteceu (Carlinhos aprendeu mais uma coisa: “ligação a cobrar”). Depois, todos foram para a casa de Miri Poty, “esperar” pelo reboque. Ainda era de madrugada, mas o chefe afirmou que os festejos dos brancos não os deixariam dormir mesmo, então a aldeia toda permanecia acordada. Carlinhos ficou um pouco para trás, e lançou um último olhar para o tal “orelhão”, com um sorriso divertido nos lábios. Realmente, a parte de metal que protegia o aparelho lembrava uma enorme orelha.

Já na casa do Chefe, Rodrigo iniciou uma conversa sobre história antigas da época que ele e Ana eram colegas e sobre temas jurídicos. De repente, soube como Ana devia se sentir nos jantares com seus colegas estudiosos de dragões.

- Rodrigo, o homem queria dar personalidade jurídica à Floresta Amazônica! – Ana desdenhou.

- Eu sei! – O rapaz acenou, rindo – Imaginar as árvores entrando na sala de um tribunal para reivindicar direitos fazia a aula dele valer a pena! – Agora ele estava quase às lágrimas de tanto rir – Já pensou? Pareceria uma cena de “O Senhor dos Anéis”!

Ana também se dobrou de rir ao lembrar das teorias malucas do antigo professor, e que rendiam tantas piadinhas na sala de aula. Às vezes, pensava que ele dizia aquelas coisas só para chocar e tornar suas aulas polêmicas e concorridas entre os estudantes: seja para desdenhar dele ou para averiguar se o homem era tão maluco quanto diziam. Foi quando percebeu a expressão aborrecida de Carlinhos, e se deu conta que não era assim que pretendia “distrair” o amigo para que pudessem aparatar.

- Chefe, nos conte mais sobre essa tradição da qual estava nos falando – pediu a Miri. Em um ponto da narrativa dele iria pedir para mostrar os preparativos, lá fora, oportunidade em que poderiam sair.

- Bom... – Miri começou – É bom mesmo que saiba. – A expressão e a voz solene chamaram a atenção de Ana, que agora estava genuinamente interessada. – Tem sangue índio, não tem, Ana?

- Sim... Mas tupi. Potiguares. – Respondeu.

- Percebi. Você tem o dom... Teria sido uma boa Kunhã Karai, se tivesse tido o treinamento certo.

- Kunhã...? – Ana perguntou.

- A curandeira... E chefe espiritual. – Rodrigo respondeu.

- Por que acha... Que eu...

- Está tudo no olhar. – Miri disse. – O principal para uma Kunhã Karai é entender o espírito de todas as coisas. A alma de tudo que está a seu redor, da natureza. Mas as que também podem guiar os sonhos são raras...

Ana olhou espantada para Carlinhos, que também parecia chocado com a afirmação do Chefe. Ele deveria estar se referindo a sua habilidade como Mestra dos Sonhos, é claro. Mas mesmo os bruxos ingleses tiveram que ter primeiro uma manifestação deste poder para lhe contar o que significava. No entanto, Miri Poty só precisou olhar para ela...

- Estamos em uma época especial para o nosso povo. – Miri continuou. – Os meses do verão trazem a mudança consigo. As chuvas e ventos fortes são necessários para a renovação da natureza, e a nossa renovação também, já que somos parte dela. Por isso chamamos essa época do ano de “Tempos Novos”.

À medida que a narrativa avançava, Ana sentia que, entre os mitos antigos, as coisas se encaixavam, fazendo sentido. Havia coisas sobre astronomia e física que eram muito próximas tanto do conhecimento trouxa quanto mágico. E, mais do que isso, tocaram Ana profundamente, como se estivesse esperando a vida toda apenas para ouvi-las.

Carlinhos se aproximou, instintivamente sabendo que a esposa precisava senti-lo a seu lado. Passou o braço ao redor de seu ombro enquanto também escutava o chefe contar as histórias que deveriam ser repassadas por aquele povo, geração após geração, há séculos.

- Então, quando chega este período, fazemos o batizado de nossas crianças, ou o “nheemongarai” em guarani, após a colheita do milho. As crianças recebem o nome de acordo com a região do céu a que pertencem.

- Região? – Carlinhos perguntou.

- Zênite, norte, sul, leste ou oeste. – Rodrigo esclareceu.

- Sim... Isto é importante. Nhanderu – Nosso Pai – criou quatro deuses que o ajudaram na criação do mundo. Nhanderu é o zênite, e cada deus representa um ponto cardeal. O leste, Karai, é deus do fogo e do ruído das chamas sagradas. Tupã é o oeste, deus das águas, do mar e das chuvas, dos relâmpagos e dos trovões. O sul, Nhamandu, deus do sol e das palavras, é a origem do tempo, quando nada mais havia. É o lugar que veio primeiro. E o norte, Jakaira, é deus da neblina e das brumas que diminuem o calor, a origem dos bons ventos.

Ao ouvir a última frase, a visão que teve naquela manhã voltou a sua mente. “Não...”. Sacudiu a cabeça levemente, censurando a si mesma: estava tão preocupada em descobrir o significado do medalhão que já estava “viajando”, vendo ligações impossíveis. Mas a frase seguinte fez Ana se arrepiar:

- Quando as manhãs começam com neblina, sabemos que o restante do dia será muito quente. Então, dizemos que é Jakira que veio visitar seu irmão, Nhamandu. Enquanto ele está aqui, o calor é brando. Mas ele não pode ficar muito tempo, porque logo Nhanderu, seu pai, chega reclamando que Jakira está descuidando de suas obrigações, e ele vai embora. Mas, contente por ter visto o irmão, Nhamandu brilha como nunca sob seus domínios...

Miri Poty fixou o olhar em Ana, e sorriu. De alguma forma, parecia saber que as palavras dele estavam fazendo efeito sobre ela.

- Venham - ele convidou - Quero lhes mostrar o local onde as cerimônias serão realizadas...

Carlinhos e Ana sabiam que aquele era o sinal para partirem. Levantaram-se e perceberam que Rodrigo estava fazendo o mesmo. A um sinal quase imperceptível de Miri, uma das filhas dele se aproximou do loiro:

- Vem ver minha boneca nova... - E pegou a mão dele com uma das suas.

O rapaz sorriu, enternecido pela atitude da menina, e disse que iria em seguida. Lá fora, quando se viram sozinhos com o chefe indígena, Carlinhos questionou:

- Tenho a impressão que não viemos até a sua aldeia só porque minha mulher não queria lançar um "obliviate" no amigo dela...

O chefe riu:

- O garoto é bom, mas é um tanto...

- Trouxa - Carlinhos completou, sem nenhuma intenção na voz. Mesmo assim, recebeu um tapinha indignado da esposa em seu ombro. - No sentido bruxo da palavra, amor...

- Mais ou menos isso - Miri levantou os ombros. - Mas tem razão quando dizem que esperei de propósito.

- Você queria nos contar aquelas coisas... - Ana sussurrou.

- Sim. Os espíritos me disseram que vocês precisavam ouvir. - Olhou para Ana - Especialmente você.

- Por quê? - Ela se espantou.

- Espíritos? Não lembro de ter visto fantasmas...

- Acho que não é esse sentido de espíritos que ele está falando, querido...

- Tudo a sua volta tem uma alma - Miri explicou - Até as pedras têm. E o espírito dela está ligado com todos os outros à sua volta. O menor dos pedregulhos pode interferir em toda uma floresta. É essa a magia que estudamos.

- E porque eu precisava saber? - Ana perguntou.

- Precisava, não - o Chefe sorriu - Ainda precisa. - Entregou um livro a ela - Estude. Aperfeiçoe seu dom. Vai precisar dele em breve.

- Quando? - Ana arregalou os olhos.

Miri Poty ia responder, mas se deteve. Parou, olhando o chão sob seus pés por alguns segundos, pensativo. Então, levantou a cabeça, e disse:

- São Tempos Novos para você também, minha filha. Para você e para os seus entes queridos. Não há uma mudança em especial, são várias. Umas boas, outras ruins. Deve estar preparada para ambas. - Ele olhou para o casal e sorriu novamente: - Agora, vão. Acho que logo receberão notícias de casa. Não se preocupe com seu amigo, darei qualquer desculpa e direi que não tiveram tempo para se despedir. - Vendo que eles hesitavam, acrescentou: - Vão logo, antes que ele apareça e tenham que esperar ainda mais!

Carlinhos abraçou Ana e aparataram até o carro. O céu já estava em um tom violáceo, indicando que em breve o sol nasceria.

- Você está bem? - Ele perguntou gentilmente, acariciando-lhe o rosto.

- Sim... - Ana confirmou - De certa forma... E de uma forma bem estranha, diga-se de passagem... Tudo isso faz sentido para mim. Ou acho que fará... - Balançou a cabeça, confusa - Ah, vamos para casa!

Ele sorriu:

- Você é quem manda! - E, pegando a varinha, apontou-a para a caminhonete, fazendo-a diminuir até ficar do tamanho de um carrinho de brinquedo, daqueles que os meninos costumam fazer coleção.

- Carlinhos! - Ana protestou.

- Ninguém vai saber...

- Não é só isso! E quanto a sua promessa de aprender a ser um trouxa? - Ela pôs as mãos na cintura.

- Ah... Aprendi bastante hoje... - Ele se defendeu - Especialmente sobre “orelhões”. Olha, deixemos essa lição para outro dia, que tal? Afinal de contas... Não tem nenhum reboque vindo, não é mesmo?

Ana teve que admitir que ele tinha razão. Fez um sinal afirmativo com a cabeça. Carlinhos pôs o veículo reduzido no bolso e, pouco antes de aparatarem, ela resmungou:

- Quero só ver como você vai desfazer isso sem que ninguém veja!

***

No antigo quarto de Ana, os primeiros raios de sol penetravam através das frestas da janela. Haviam dormido apenas poucas horas quando sons vindos da sala os acordaram. Ela se espreguiçou, e levantou a cabeça do ombro de Carlinhos, olhando ao redor com uma expressão sonolenta.

Parou por alguns instantes, analisando o barulho e, chegando a uma conclusão sobre ele, deixou-se desabar novamente, aconchegando-se no ombro do marido.

- O que é isso? – Carlinhos perguntou com um longo suspiro de quem acaba de acordar também.

- Isso é... – Ana conseguiu resmungar no meio de seu sono – Minha família bagunçando... Digo, chegando em casa... O resto dela.

- Não deveríamos, então, sair para cumprimentá-los? – Ele perguntou, se espreguiçando também, e terminando o movimento com uma carícia nas costas dela.

Começando a despertar de verdade, Ana sorriu.

- Não, não deveríamos – moveu um pouco a cabeça, esfregando o nariz na curva do pescoço dele.

Sentiu Carlinhos estremecer, e soube que, realmente, não iriam sair daquele quarto tão cedo.

Algum tempo depois, ambos finalmente bem despertos, Ana estava de pé, massageando as costas e reclamando que dormir em dois em uma cama de solteiro tinha suas vantagens, mas também as suas desvantagens. Carlinhos olhou ao redor (não antes de jogar a cabeça para trás e a fitar com os olhos semicerrados e um sorriso malicioso), e disse:

- Esse quarto na mudou quase nada desde que você era adolescente...

- Realmente não... Espere aí! Como é que você sabe disso?

Ele ficou vermelho até a raiz dos cabelos:

- Bem... Hum... É uma longa história...

- Eu tenho TODO o tempo do mundo. – Ana cruzou os braços e ficou batendo um pé, na clássica posição de “estou esperando”.

Carlinhos sentou-se na cama e, sem sombra do embaraço que sentira antes, agarrou pela cintura e a fez se sentar em seu colo, aprisionando-a com os braços.

- Já te contei que quebrei as regras e vim te ver durante aqueles oito anos, não é? – Ele começou. (2)

***

Tio José havia chegado com suas duas filhas adolescentes, e com tia Helena, que morava com eles. Ela era a irmã mais nova, apenas alguns anos mais velha que Patrícia. Quando a esposa do irmão faleceu, deixando duas filhas, de três e de cinco anos, ela não hesitou em se mudar para a casa deles e se encarregar das meninas.

O problema, na opinião de Ana, foi que o tempo fora passando e o que deveria ser temporário se tornou definitivo.

Em seguida, chegaram tia Prudência, o marido, e um dos filhos dela, Hélio. Este último era casado, e além da esposa, levou os filhos, de cinco e de sete anos. As crianças imediatamente sumiram com as outras da mesma idade, fazendo algazarra no quintal de casa.

- Nossa, faltou tanta gente este ano... – Ana comentou com o marido.

- Sabe... – Carlinhos disse, divertido – Acho que a Rowling teria um prato cheio com a sua família...

- Não fala isso nem brincando! – Ela arregalou os olhos.

Mel ficou pareceu em dúvida se juntava ao grupo de crianças no quintal, ou se continuava conversando com as primas adolescentes, de treze e quinze anos. Era estranho. Correr e se esconder não a atraía tanto como antes, mas... A conversa sobre roupas e meninos não parecia lá muito interessante também. Abria um sorriso amarelo cada vez que elas davam aqueles risinhos histéricos, realmente tentando se enturmar. Era impressionante como elas podiam manter uma conversa sem sair daqueles assuntos!

Como sentia falta da Danna... E dos meninos também, tinha que admitir. Bem, talvez um pouco menos do Hector. É, do Hector era menos!

Finalmente se cansou e foi para a cozinha, onde as mulheres estavam. Escutou um comentário sarcástico de tia Andréa sobre elas terem que se rebelar contra aquela tradição machista de se reunirem na cozinha mas, como sempre, as mulheres mais velhas não deram muita bola.

- Ah, Melzinha, minha querida – tia Prudência apertou suas bochechas de forma dolorosa. Céus, se contasse para alguém que tinha uma tia-avó que fazia isso, um clichê tão conhecido, iria parecer que ela estava inventando – Quanto tempo eu não te via – “Bobagem”, pensou Mel. Ela morava longe, não a via e a NINGUÉM fazia o mesmo tempo – Você agora está tão longe da gente...

A corvinal viu a mãe apertar a xícara de café com mais força. Tia Pru sabia como atingir o Calcanhar de Aquiles dos outros.

- Não gostaria de ficar mais perto da mamãe? – Prudência perguntou.

Aquilo não era justo, pensou Mel. Patrícia não tinha muitas opções. Mas a tia parecia achar que tinha sido uma atitude fria da mãe manda-la para a Inglaterra.

- Bem seria legal... – Ela começou, mas a tia não a deixou terminar.

- E estudar em uma escola perto de casa...

- NÃO! – Mel exclamou imediatamente, não conseguindo segurar a reação assustada.

Ana veio a seu socorro:

- Mel gosta muito de Hog... da escola na Inglaterra, tia.

- Mas ela pode gostar de uma escola aqui no Brasil. Existem escolas para superdotados por aqui também... – Era essa a história que tinham contado para o resto da família: que Mel precisava de uma escola especial.

- Nenhuma tão perto de alguém da família quanto esta – Ana rebateu pacientemente. Conhecia muito bem a tia, e o jeito de fazer a “matraca” dela fechar era falando no mesmo tom com que se fala a uma criança.

- Verdade - Agatha também se arriscou a comentar.

Foram interrompidas por uma algazarra na sala.

- O vídeo deste ano é MacGyver! – Chuca anunciou, enquanto colocava um DVD no aparelho e ligava a televisão.

Todos os anos, a família mantinha a tradição de assistir a um filme que agradasse a todos.

- Ah, EU AMO ESSE HOMEM! – Ana correu para sala.

- Como é que é? – Carlinhos cruzou os braços e ficou olhando para ela, fingindo esperar uma explicação, o que provocou risadas dos outros.

- Ah, querido... - Ana foi até ele e passou os braços ao redor do pescoço dele, apaziguadora - É o herói da minha infância, só isso. Como se ele fosse meu "alter-ego". Além disso... Ele chegou primeiro na minha vida - riu - Melhor se acostumar...

Mais risadas dos Anhaguera.

- Isso me lembra de quando a gente era pequeno, lembram? - Hélio enganchou cada um dos braços nos pescoços de Edu e Nando, na imitação de um golpe de judô - A gente fingia que estava dando uns socos nos bandidos! Ah, como é bom matar as saudades da infância!

- Hélio... - Fernando disse, quase sufocado, do mesmo jeito que Edu parecia estar. - Se você não me soltar agora é meu punho que vai matar a saudade de seu nariz...

- Ah, tá, ok... - Hélio se afastou imediatamente.

O filme começou, e logo a voz do dublador do Richard Dean Anderson, o ator que interpretava o MacGyver começou a narrar o episódio. Em determinado momento, uma personagem pergunta, cética, como é que ele planejava enganar e vencer o supercomputador que os mantinha presos em uma unidade militar de tecnologia altamente avançada.

"- Com intuição, criatividade... e coragem!" - O personagem respondera.

Foi a vez de Carlinhos dar o troco:

- Amor, parece que seu alter-ego é grifinório... - Sussurrou no ouvido de Ana, vitorioso.

Ana soltou uma gemido aborrecido (o "Mac", grifinório, capaz!), mas tinha que admitir que em muitas coisas, ele se encaixava na Casa dos leões.

Já Carlinhos, à medida que os episódios avançavam, via que tinham muito que aprender sobre os trouxas. Mesmo Ana dizendo que muito do filme era "forçado", o jeito de agir deles era bem diferente do modo de pensar dos bruxos. Ainda assim... Algo no jeito altruísta e na espontâneidade do personagem lhe lembrou um certo rapaz de óculo redondos que ele conhecia...

Uma cena onde ele usava um produto caseiro para revelar um filme fotográfico chamou a atenção de Chuca:

- Puxa! Será que dá para a gente tentar fazer isso com os negativos das fotos do último show.

- Mas eles estão na loja de revelação ainda... - Nando respondeu pacientemente.

- ´Tão não - Chuca afirmou - Peguei as fotos há dois dias...

- E só agora você me diz, cabeça de cotonete?!?

Todos observaram Fernando pular o sofá e sair correndo em direção ao quarto que estava dividindo com o amigo. Ninguém estava entendendo nada.

- Ele só arranja apelidos "legais" para mim... - Chuca resmungou, voltando a sua atenção para o filme e para a pipoca.

- Achei! – Ouviram Nando exclamar lá de dentro. – Sabia que tinha conseguido pegar ela em uma das fotos!

Ele voltou, trazendo uma fotografia nas mãos:

- É ela! A mulher que vai aos meus shows! – Declarou, mal conseguindo desgrudar o olhar da imagem.

Os Anhanguera se correram até lá, loucos para conhecer a misteriosa fã de Nando. Aglomeraram-se em volta do rapaz, enfiando os rostos em qualquer brecha de ombros ou braços que o círculo de gente proporcionava.

- Caramba!

- Minha nossa!

- Credo!

Carlinhos observava divertido as reações dos Anhanguera. Manteve-se um pouco afastado, não sentindo a mesma urgência em visualizar o rosto da mulher que intrigava tanto o “cunhado”. No entanto, ao ver as exclamações um tanto chocadas dos parentes de Ana, acabou ficando curioso. Aproximou-se com um sorriso condescendente nos lábio e, devido a sua altura, não teve dificuldades em vislumbrar a imagem da face que Nando apontava na fotografia trouxa.

A mulher estava em meio a uma multidão e seu perfil fora pego um tanto de longe. Mas Carlinhos conseguiu reconhecê-la perfeitamente.

- Ai, Mérlin! – A surpresa foi tamanha que se esqueceu de segurar a expressão tão tipicamente bruxa.

Nando olhou-o com estranheza:

- Ah, não, meu chapa! Você já tem a Ana. Essa aqui é minha!

O ruivo balançou a cabeça, atordoado. O máximo que conseguiu fazer foi sorrir, sem graça, uma vez que não conseguia encontrar nada para dizer.

- Faça-me o favor, Nando! – Bianca franziu o cenho, francamente chocada. – O Charlie deve ter é ficado horrorizado. Afinal, a moça pintou os cabelos de cor lavanda!

- E ressaltou a beleza do rosto dela, não acham? – Fernando comentou, elevado na contemplação da foto.

- Que ela é “bonitinha”, ninguém está duvidando, mas... – Déa começou, mas a frase se perdeu no meio de tantas vozes falando ao mesmo tempo, tentando expressar de uma forma “delicada” o impacto que a moça causara.

Ana ainda olhava o marido, atônica. Sabia que Carlinhos não se escandalizaria com um cabelo em cores berrantes.

- O quê...? – Questionou.

Ele a puxou para um canto mais afastado. Ainda tinha no rosto resquícios da surpresa que o tomara segundos antes.

- Ana... – olhou mais uma vez para os lados, certificando-se que não poderiam ser ouvidos. – Eu não acredito nisso, mas... Droga, depois de passar sete anos em Hogwarts com a Tonks não há como alguém se enganar...

- Carlinhos, você está me assustando!

- A moça da foto...

- Sim?

- É Myra Wagtail – ele esperou que Ana reconhecesse o nome, mas como isso não aconteceu, acrescentou – Wagtail, como em Myron Wagtail, o vocalista das “Esquisitonas”. Ela é irmã dele.

***

Ana andava de um lado para o outro no quintal (agora vazio, pois até as crianças tinham corrido para ver a "namorada" do tio Nando), enquanto Carlinhos estava sentado em uma dos bancos, calado e pensativo.

- Ai, Mérlin! Ai, Merlin! - Ela não parava de dizer. - Você tem certeza disso?

- Claro. Ela e a Tonks são amigas... Até pensei que soubesse disso. As duas são metamorfomagas.

- O cabelo lavanda... - Ana se lembrou, em um gemido.

- Isso mesmo.

- Carlinhos, meu primo está encantado com essa moça... Você não acha que ela fez um... - Ela não conseguiu completar.

- Um feitiço? - O ruivo perguntou, alarmado. - Não! Isso seria... Uma acusação muito séria, Ana. Ainda mais sendo ele um trouxa. Não acredito que ela faria algo assim.

- É, talvez você tenha razão, mas... Não acha melhor ficarmos de olho?

- Como? Moramos tão longe, e tem tanta coisa acontecendo...

- É, eu sei... Mas realmente estou preocupada, amor. - Ana caminhou até ele, que circundou sua cintura com os braços, confortando-a.

- Vamos pedir para a Tonks falar com ela. É o melhor que temos a fazer. - Carlinhos sugeriu.

- Certo. - Concordou. - No entanto, ainda assim não estou satisfeita.

- O quê tem em mente? - Ele perguntou.

Ela olhou para os sobrinhos, que estavam ocupados discutindo "a novidade" com os demais.

- Precisamos de um espião.

- Ana... Não sei se...

- Não vou mandar ele fazer nada demais, Carlinhos. Só vai me manter informada...

Antes que o ruivo tivesse tempo para retrucar, ela chamou:

- Mel, Lipe!

As duas crianças atenderam o chamado, um tanto relutantes em deixar a sala.

- Mel, seu tio Carlinhos e eu precisamos que você ensine o Lipe a usar o espelho de duas faces.

- Por quê? - A menina estranhou.

Eles contaram a história toda. Felipe deixou o queixo cair, estarrecido. Mel tampou rápido a boca com uma das mãos, impedindo que uma exclamação saísse dela.

- Nando vai ficar alguns meses na região, fazendo shows, Lipe - Ana se abaixou para ficar na altura do menino. - Preciso que você me conte tudo o que ouvir sobre essa mulher, certo?

Após alguns segundos em que o menino a fitou mudo e com os olhos muito arregalados, ele finalmente respondeu:

- ISSO! YES! Finalmente! - E começou a fazer uma dancinha animada.

- Lipe... - Ana achou melhor alertar. - Isso não é uma aventura. Não banque o espião, viu, mocinho. Só quero que fique atento.

- Acha que ela pode estar enfeitiçando o tio Nando? - Mel perguntou, preocupada. Como sempre, a menina teve o raciocínio rápido e entendeu as apreensões dos adultos.

- É pouco provável... - Carlinhos disse.

- Isso mesmo. É só uma precaução, Mel. Nós vamos esclarecer isso tudo, mas... Estamos um tanto ocupados... Não sei quando vamos poder resolver esta questão.

Mel limitou-se a assentir com um gesto de cabeça. Sabia muito bem o que estava preocupando os adultos da Ordem da Fênix, mas não podia dizer isso.

- Vem, Lipe. - Ela foi conduzinho o irmão para o quarto de Ana. - Eu finalmente descobri como funcionava aquele espelho que o Sirius Black deu para o Harry. Vou te mostrar como usar.

- Jura?!? - O menino estava encantado. - Como é... - E as vozes deles se perderam no corredor.

- De todas as pessoas do mundo... - Ana começou a falar, exasperada. - De todos os lugares... Ela tinha que vir parar aqui, e logo com o meu primo?

- O Destino tem senso de humor. - Carlinhos a abraçou, e os dois começaram a rir da situação.

Após alguns minutos, eles tinham voltado para a sala, juntando-se aos demais. Os sobrinhos de Ana ainda não tinham voltado. E quando o fizeram, Mel tinha uma estranaha expressão animada no rosto, como se tivesse acabado de saber uma grande novidade e estivesse louca para contar.

- Seu... "celular" tocou, tia Ana. É o Rony.

- Meu o q... Ah! Meu celular, é claro... Vem, querido, seu irmão deve estar querendo falar com nós dois.

Eles seguiram para o quarto, onde Lipe fazia grandes gestos diante do espelho de mão que Ana trouxera, animado.

- Ah, eles chegaram! - O menino avisou, saindo da frente para que o casal se pusesse na linha de visão das pessoas do outro lado do espelho.

- Rony, aconteceu algo? - Carlinhos perguntou, preocupado.

- Aconteceu... - Rony respondeu e em seguida Hermione apareceu atrás dele também.

- Vocês nem imaginam... - Ela disse - Acho melhor voltarem logo.

***

Depois de se despedirem de Rony e Hermione, Carlinhos e Ana ficaram se olhando, sem reação. Até que Carlinhos comentou:

- O que está havendo com o mundo, afinal? Parece que as coisas resolveram acontecer de uma vez só!

Suspirando profundamente, e de jeito muito decepcionado, ela só conseguiu dizer:

- Eu não acredito que perdi isso!

--------------------
NOTAS
------------------

(1) Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens
(2) Querem saber mais? Leiam a short fic “O Interregno”.
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Post by Regina McGonagall »

hehe... eu já disse lá, repito aqui:

fofa! linda! maravilha!

(e não falo mais pra não começar com spoilers...)

:palmas :palmas :palmas :palmas
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Post by Danna O'Brien »

tu jah sabe q eu ameeeei neh bel!!!!soh vo colocar aqui tbpra num perder o habito heheheh! EU AMEEEEEEI BEL!!!!!!e jah to ansiosa pelo outro!!! :mrgreen:

ps: atualizei a minha tb(finalmente depois de seculos), depois se der passa lah. :roll:
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Post by Valéria »

Eu acompanhava sua fic lá na floreios e, por hora, vou ler por aki. Sua fic é uma das melhores q eu já li e eu não sabia o q fazer qd a FeB saiu do ar. Ainda bem q tb está aki.
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Post by Tina Granger »

ela perdeu o que??? Quando contar eu descubro!!! :) mas tá de parabens! atualiza quando voce achar que consegue!
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Duas mulheres - A um passo - A irmã da Serpente

mais fics? olhe no fanfiction.net...

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Post by Belzinha »

Puxa, gente. Valeu mesmo! O roteiro do próximo capítulo já está praticamente pronto, logo ele sai.
Beijos!
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Post by Regina McGonagall »

Valéria wrote:Eu acompanhava sua fic lá na floreios e, por hora, vou ler por aki. Sua fic é uma das melhores q eu já li e eu não sabia o q fazer qd a FeB saiu do ar. Ainda bem q tb está aki.
gente, o FeB tem novo endereço:

http://www.floreioseborroes.net/

espalhem a notícia!

e, Belzinha... hehe... não demora com esse roteiro, hein? :lol:
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Post by Danna O'Brien »

Belzinha wrote:Puxa, gente. Valeu mesmo! O roteiro do próximo capítulo já está praticamente pronto, logo ele sai.
Beijos!

eeeeeeeeeebbbbaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!! :D :D :D

eu quero, eu quero, eu queroooooooooooo!!!!rsrsrs
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Post by Belzinha »

Brigadão, gente. Valeu a força.
Mais um capítulo:


12. Quem é Você, Bruxinho?

Não deveria existir troco melhor do que aquele para tudo o que Harry havia sofrido. Como se o Universo conspirasse e dissesse: “Toma isso, Cara-de-Cobra! Você não o venceu!”.

Os gêmeos Potter nasceram! (1)

Pensar nisso fazia Harry sentir o riso nascendo em seu peito, como uma cascata que surgisse no coração e desaguasse no corpo todo. Estava exausto, física e emocionalmente, mas... Não conseguia tirar aquele sorriso do rosto e tão-pouco se afastar do quarto onde Gina e seus filhos estavam.

Por uns momentos, quando Lyan e Joanne tinham acabado de nascer, Gina segurou-os nos braços, com ele amparando suas costas no peito dele. E naqueles poucos instantes, Harry poderia jurar que o mundo cabia em seus braços. E devia caber mesmo, porque tudo o que havia de mais importante estava bem ali.

Horas se passaram desde aquele momento, mas ele sabia que aquele instante o havia modificado para sempre. Ver o rostinho dos filhos, poder acariciá-los e segura-los havia feito dele um... Como explicar? Um PAI. Harry sabia que era preciso muito mais do que isso para ser um – convivera Valter Dursley quase toda a sua vida, e isso não fizera dele seu pai. Mas também tinha consciência que a vinda dos filhos ao mundo tinha desencadeado, definitivamente, algo grande e poderoso dentro dele.

Por isso não saíra do lado dos gêmeos, guardando o berço como um cão de guarda. As pessoas entravam no quarto, cumprimentavam-no e a Gina. Ele respondia, fazia piadas e ria com os amigos. Mas o centro de seu universo ficava preso bem ali: com Gina, Joanne e Lyan. E, mesmo sabendo que palavras de elogio a recém-nascidos eram praxe, ele se estufava e concordava completamente com cada uma delas que era dirigida a seus filhos. Neste momento, por exemplo, duas brasileiras estavam olhando seus filhos como se fossem a Oitava Maravilha. Teve que segurar o riso e lá no fundo seu orgulho de pai dizia que eram MESMO a Oitava Maravilha do mundo.

Mel abrira um sorriso de orelha a orelha, sentada no chão ao lado dos berços. E, apesar da menina de vez em quando dar uns pulinhos como se não se agüentasse de tão contente, era a cunhada que o preocupava. Ana estava animada, é claro. Mas os olhos brilhavam perigosamente, e temia que a qualquer momento ela chorasse.

Já tinha abraçado e beijado Gina e ele umas mil vezes e continuava comemorando:

- Eles... Oh! Incrível! É... Oh! Lindos! - Era a interjeição mais ouvida pelo quarto. – Tia Ana, ama muito vocês, viu, coisas mais fofas da tia? – Ela falava com os bebês, emocionada - Oh, que cuteeeeeeeeee! Ah, olha só, ela tem o cabelo da Gina! E o Lyan... Santo Protetor dos Barbeiros! Quanto cabelo! É um Potter mesmo! Eu acho que vou morder eles, de tão fofos!

- Amor, melhor não... – Carlinhos riu, enquanto oferecia, fascinado, um dos dedos para Lyan agarrar – Gina vai azarar você no mesmo instante!

- Meu Deus, Harry... Seus filhos! Seus filhos com a Gina!

Gina revirou os olhos e disse:

- Sim, é claro que são comigo – riu. - Ou por acaso andou sabendo de mais algum filho que o Harry andou tendo?

- Ah, se a gente fosse dar atenção a tudo o que se publica na Internet... – Ana comentou, distraída, enquanto embalava Joanne no colo.

- Como assim? – Harry e Gina disseram ao mesmo tempo.

Ana levantou a cabeça como se tivesse recebido uma chicotada e começou a gaguejar:

- A-ah, bem... B-bom... – Desviou o olhar – Ãaah... – Viu Mel abaixando a cabeça e acariciando a cabecinha morena de Lyan, através das grades do berço, para disfarçar o divertimento. Até mesmo Carlinhos ergueu as sobrancelhas, e fitava a esposa de forma questionadora, embora um tanto divertido.

Finalmente, ela disse, muito rápido:

- Gina, o nome da Joanne foi uma homenagem, não foi?

Abençoada fosse essa pergunta, porque permitiu que saísse pela tangente. Harry ajeitou os óculos no nariz, lembrando que os mistérios da Ana sempre diziam respeito a algo que ele preferia não saber.

- Hum... – Gina estreitou os olhos, certamente tentando imaginar o que a cunhada estava escondendo. – Sim, “Joanne Lílian”. Lílian. O nome da mãe do Harry. Mas não tente mudar de...

- A mãe do Harry?!? – O embaraço da cunhada havia sumido por completo. Agora a voz dela exibia confusão. - Não... Estava me referindo à “Joanne”.

Gina estava boquiaberta:

- Como você sabe que foi uma homenagem?

- Foi uma homenagem? – Harry estranhou. Caminhou até a cama e se sentou próximo à Gina. – Quem nós conhecemos que se chama “Joanne”?

- Pelo amor de Deus, gente! Eu não estaria aqui se não fosse por ela! – Ana estava perplexa.

- Querida, de quem você está falando? – Carlinhos soltou seu dedo que tinha sido agarrado com força pela mãozinha do sobrinho, e se ergueu.

- Vocês estão de brincadeira, né? – Mel também tinha deixado a expressão divertida e estava tão espantada quanto a tia, embora parecesse pronta para dar uma gargalhada. Como se estivesse esperando que alguém dissesse que era uma piada. – Como podem não lembrar?

- Não lembrar de quê? – Harry voltou-se para a esposa - Gina, você homenageou quem? – Estava começando a se preocupar.

- Bem... – Sentindo todos os olhares sobre ela, Gina ficou um pouco hesitante. – Lembra da história que eu te contei sobre as minhas bonecas? – Perguntou a Harry.

- Claro. Nossos “filhos”. – Ele encheu a boca para falar isso e sorriu.

- Quando eu tinha dez anos – Gina explicou para os demais, tentando não rir do jeito do marido – Brincava que minhas bonecas eram meus filhos com o Harry.

- Ai, que fofinho! – Ana exclamou, não surpreendendo ninguém por achar isso. Riram, e Carlinhos não resistiu em envolvê-la em um abraço.

Mel soltou um “legal!!!” todo cheio de enlevo, e esperou o resto da história.

- Pois é... – Gina continuou. – Uma vez Dumbledore esteve lá em casa com uma amiga. Era uma mulher muito simpática. Enquanto o diretor conversava com mamãe, ela sentou ao meu lado, no chão. Eu estava brincando com as bonecas e começamos a conversar. Contei para ela sobre o “pai” delas... – Ela ficou vermelha.

- E? – Harry a encorajou a continuar.

- E ela me disse que tinha certeza que, algum dia, esse menino tão especial para mim iria notar que eu existia... – Ela o olhou tão cheia de amor, que Harry teve que se conter para não mandar todo mundo para fora e se trancar com ela no quarto o dia todo, provando para aquela mulher incrível que era a sua esposa que, definitivamente, tinha notado que ela existia.

- E o nome dela era Joanne... – Harry adivinhou.

- Sim – Gina confirmou, e o sorriso dela o fazia se lembrar da garotinha na estação de trem, naquela sua primeira viagem a Hogwarts.

Ana pigarreou, e olhou para ela. Só então percebeu o nervosismo da cunhada e a expressão de Mel, com o queixo caído e os olhos vidrados.

- Gina... – Ana começou. – Como era esta mulher?

Gina a descreveu e diante do mistério das duas brasileiras (que permaneciam em silêncio), Harry não agüentou mais e perguntou:

- Mas de quem vocês estão falando?

- J.K. Rowling. – Ana respondeu. – Ora, Harry, Joanne “Katherine” Rowling. Era ela, não tenho dúvidas.

***

À hora do jantar, Ana estava sentada ao lado de Carlinhos, e observou Gina ser trazida até a sala no colo de Harry. A cunhada protestava que poderia andar, enquanto Harry não dava muita atenção e continuava a carregando. Ana assobiou e bateu palmas junto com os outros, fazendo os protestos da ruiva cessarem, e viu o rosto dela ficar da cor de seus cabelos.

Além de Lupin, Tonks e Hector, quase todos os Weasleys estavam na casa dos Potter. O “quase” era por causa de Percy. A ausência de dele não era nenhum mistério: os irmãos deviam ter decidido que seria melhor não chamá-lo, só podia...

Os bebês foram trazidos para baixo também, e cuidadosamente postos em cestinhos perto dos pais. Harry e Gina simplesmente não podiam se separar dos filhos.

Conversavam baixinho para não assustar os bebês. Ana não sabia como, mas Hector e Mel já pareciam brigados àquela altura. No entanto, tinham o bom-senso de limitar-se a ficar de cara virada um para o outro, em uma indiferença mútua. Até mesmo as crianças menores pareciam compreender que deviam ficar quietinhas. Só Sirius ficou um pouco enciumado com toda aquela atenção para os bebês. Sentado no colo de Hermione, olhava sério para os cestinhos, e começou a fazer manha.

- Sirius, filho! – Hermione o repreendeu suavemente, quando ele começou a puxar a toalha da mesa e choramingar porque a mãe afastou sua mão. - Ele deixou de ser o caçula... Está se ressentindo um pouco com isso. – Comentou, fazendo um carinho no bebê.

- Eu te entendo, filho! – Rony o consolou enquanto apontava a varinha para a mesa, fazendo a toalha ficar bem estendida sobre ela novamente. – Também passei por isso. Mas é impossível permanecer o caçula por muito tempo nessa família! – Riu.

- Eu fiquei – Gina cantarolou, vitoriosa.

Imediatamente os irmãos começaram a ladainha:

- Ah, tadinha da nossa irmãzinha... – disse Fred.

- Tão pequeninha... – Continuou Jorge.

- Tão frágil... – Emendou Carlinhos.

- Tão ingênua... – Rony acrescentou.

- Tão necessitada de nossa proteção! – Finalizou Gui.

- Parem, parem! – Gina pediu, exasperada. – Acabei de me lembrar porque detesto ser a caçula!

Todos riram e Ana aproveitou para dar uns apertões em Sirius, fazendo-o gargalhar:

- Não se preocupe que você sempre vai ser a minha bolinha ruiva! Vem cá, dá um beijo de jacaré na tia! – Esse consistia em encostar os lábios um pouco abertos na bochecha e fingir estar mordendo-a.

- Quantos desses “beijos especiais” você tem, Ana? – Alicia perguntou.

- Muitos!

- E ela lembra de cada um deles... – Mel falou bem baixinho e suspirou, pesarosa. Mas a tia a ouviu:

- Ah, é mesmo! Que falta a minha! – Ana sabia perfeitamente que Mel iria odiar, mas melhor raiva do que aquele bico enorme por causa da “rusga” com o Hector. – Beijo de passarinho! Vem cá, Mel...

- Tia...

- Ora, era nosso cumprimento secreto! Você adorava!

- Tia, por favor... – Mel disse entre os dentes, olhando furtivamente para Hector que tossia do outro lado da mesa, para impedir a risada.

Ana suspirou teatralmente, pondo a mão no peito:

- Minha menininha está crescendo!

Os Weasleys riram e recomeçaram as conversas com as pessoas próximas. Ao se virar para pegar a travessa da salada, viu que Fleur servia Gui de uma generosa porção de assado, e até cortando os pedaços para ele. A imagem dela, no sexto ano de Harry, dando comida na boca do então noivo lhe veio imediatamente à cabeça. Viu Chantal observando os movimentos da mãe, e a imitar, pegando o prato de purê de batatas e o oferecendo ao Hector. Como o menino ainda olhava para Mel, fazendo caretas discretas para tentar provocá-la, Chantal teve que lhe dar umas cotoveladas até que ele percebesse sua "oferta" e a aceitasse com um sorriso sem-jeito.

De repente, a visão das rodelas de cenoura no molho da carne provocou um peso em seu estômago. Tinha certeza que se pensasse em comida – qualquer comida – descendo por sua garganta iria passar mal.

- O que foi querida? – Molly, sempre tão atenta a qualquer sinal de palidez, magreza ou doença em seus entes queridos, percebeu a mudança de atitude da nora. – Você está bem? Quase não tocou na comida, e está parecendo um pouco tonta...

A senhora Weasley mal tinha terminado a frase e Carlinhos, que estava conversando com Gui voltou-se para ela e passou um braço ao redor de sua cintura, como que para sustentá-la.

- Tudo bem? Mamãe tem razão, está um pouco pálida...

- Parem vocês dois com isso! – Exigiu, em tom de brincadeira. – Deve ser só uma indisposição por causa dessa correria e do fuso horário. Do contrário, eu não iria deixar passar a comida da senhora Weasley, vocês sabem...

- Quer descansar um pouco no quarto, Ana? – Gina ofereceu.

- Dobby prepara o quarto para jovem senhora Weasley! – O elfo apareceu do nada, todo sorridente. Agora que ele tinha dois bebês Potter para cuidar, mal cabia em si de felicidade.

- Não é preciso – Ana respondeu para Gina, com um sorriso. – Já estou melhor. Deve ter sido só uma queda de glicose...

“Queda do quê?”, ouviu Rony perguntando para Hermione. Ana voltou-se para Dobby:

- Obrigada, fofinho! – E beijou o alto da cabeça do elfo, para o horror de Winky, que agora pegava Sirius do colo de Hermione. Ela a olhava como se Ana tivesse duas cabeças.

- Não pode regular bem... – Resmungou Rony, recebendo um cutucão de Hermione.

Um ruído de algo se quebrando – e algo grande – foi ouvido. Quase que inconscientemente, todos procuraram por Tonks. A auror, sentada na ponta da mesa, reclamou:

- Que foi? – Revirou ou olhos para os cabelos rosa-chiclete. - O barulho foi lá em cima, e eu não consigo estar em dois lugares ao mesmo tempo!

Os gêmeos protestaram dizendo que, se ela era capaz de ser mãe do Hector, estar em dois lugares ao mesmo tempo não era nada! Lupin riu e concordou, o que provocou novos protestos, mas desta vez do garoto.

Os risos não foram descontraídos como costumavam ser. Geralmente, barulhos de origem desconhecida não abalavam aquela família grande, mas... Havia comensais soltos. Deviam estar preparados para tudo, ainda mais... Ainda mais que Lyan e Joanne haviam nascido. Ana percebeu o olhar de Harry fixo nos cestinhos dos bebês e, que, inconscientemente, ele havia apertado a varinha sob o casaco.

- Cadê o Sean e o Ken? – Alícia se alarmou, voltando-se para Cátia. As duas deram uma rápida olhada ao redor da sala, e constataram que os filhos tinham sumido.

A cabecinha de Ken foi vista olhando furtivamente entre os pinos do corrimão da escada, parecendo profundamente culpado. Quando percebeu que tinha sido apanhado, voltou rápido para dentro do corredor, gritando: “Sean, eles nos viram, eles nos viram!”.

O alívio em torno da mesa foi quase palpável, e após alguns segundos, já estavam até achando graça dos meninos terem provavelmente aprontado outra. Alicia fez menção de se levantar, mas Cátia a impediu:

- Não, deixa que eu vou – suspirou, resignada com a sina das duas serem mães das novas “Gemialidades Weasley”. – É a minha vez.

Como o jantar já estava no final, parte da família se retirou para conferir a nova “obra prima” de Sean e Ken. Ana conseguiu ouvir a voz de Fred comentando: “Jorge, devemos agradecer o cara que inventou o feitiço “Reparo”, senão a gente estava falido por causa desses dois!”.

Ana se levantou para ajudar a senhora Weasley, Alicia e Hermione a retirar a mesa, quando sentiu a mão de Carlinhos segurando a sua. Ela fitou o rosto do marido e soube o que o preocupava:

- Eu estou bem – disse as palavras bem devagar, sorrindo. – Os Anhangüera e os Weasley no mesmo dia foi um pouco demais para mim, só isso.

- Me prometa que vai descansar um pouco – Ele não se deixou enganar pelo sorriso dela. Sério, olhou dentro de seus olhos, esperando a resposta.

“Inferno de homem mandão!”, pensou Ana, bem-humorada.

- Você vem descansar comigo? – Perguntou, batendo os cílios de forma forçadamente inocente, com um sorriso provocador nos lábios.

- Ana... – Ele tentou dizer isso em forma de advertência, mas falhou graças ao sorriso e ao brilho no olhar.

- Deixa só eu dar uma mãozinha para as garotas, certo? – Ela piscou e o beijou rapidamente nos lábios. Só quando ela desapareceu pela porta da cozinha, foi que Carlinhos se deu conta:

- Ela me dobrou de novo... – resmungou.

- É o destino dos homens Weasleys, meu garoto – Carlinhos não tinha percebido a chegada do pai, que estava parado atrás dele. Arthur pôs a mão do ombro do filho, com uma expressão divertida: - Casarmos com mulheres de personalidade forte.

Ele deu tapinhas na mão que pousava sobre seu ombro, concordando tacitamente. Fitou o pai com um brilho de adoração e respeito no olhar, enquanto o homem mais velho sentava à sua frente.

Dentro da cozinha, os pensamentos de Ana estavam em mil coisas ao mesmo tempo. Tinha que contar ao Harry sobre o medalhão, na primeira oportunidade que houvesse. Tinha que conversar com a Tonks sobre a amiga metamorfomaga dela e seu primo...

- Oh, Deus – Hermione gemeu, interrompendo o fluxo de seus pensamentos – acho que vou desviar a atenção de Fleur antes que ela deixe Gina maluca...

Olhando sobre os ombros, Ana viu que Fleur tinha sentado na poltrona próxima à em que Gina estava sentada, aparentemente dando conselhos sobre como cuidar dos bebês. Os lábios da ruiva estavam brancos de tanto que ela os apertava. Teve que pressionar uma das pontas da toalha de prato que segurava contra a boca, para evitar rir.

Um dos bebês acordou, chorando – de onde estava Ana não conseguia ver qual – e acabou acordando o outro também. A senhora Weasley comentou que os gêmeos deviam estar com fome e saiu, sorridente, dizendo que iria ajudar Gina.

- Vovó coruja. Como se não houvesse mulheres suficientes para ajudar lá na sala – Alicia comentou, brincando.

Ana riu baixinho e balançou a cabeça para concordar. Abriu a boca para comentar algo, mas não conseguiu. Sentiu uma náusea profunda, seguida de vertigem. Tudo durou dois segundos, mas se viu obrigada a se apoiar na pia para manter o equilíbrio.

Alícia segurou-a com um braço e com o outro puxou uma cadeira que estava próxima, para que Ana se sentasse.

- Está melhor? – Perguntou, preocupada. Quando Ana fez um gesto afirmativo com a cabeça, a cunhada mordeu o lábio inferior e tomou coragem para acrescentar: - Ana, me perdoe se estou sendo intrometida, mas... Como medibruxa não pude deixar de notar que você tem tido certos sintomas... Bem, não precisa responder se não quiser. Mas, suas regras estão atrasadas?

Ana olhou para a cunhada, surpresa. Ela estava pensando que...

- Não, Alicia... Quer dizer, admito que estão, sim. E há um tempo não tão curto assim, mas... Não deve ser o que está pensando. Eu uso métodos anticoncepcionais.

- Sei... – Alicia puxou outra cadeira e se sentou na frente de Ana – Entendo. E que Poção Antigravidez você usa?

Pega de surpresa, Ana não soube como responder. O máximo que conseguiu foi balbuciar algumas palavras ininteligíveis, embaraçada. Alicia sorriu, daquela forma confiante e encorajadora que qualquer médico do mundo, bruxo ou não, devia ter. Rindo da própria timidez e respondeu:

- Nenhuma – Alicia só levantou uma sobrancelha, mas permaneceu calada – Eu uso métodos trouxas...

- Pílulas?

- Sim. Entenda... Nós adotamos certas práticas e, quanto mais íntimo for o assunto a que se relacionam, mais difícil é de abandoná-las. Veja, só recentemente comecei a usar poção para penteado...

- Eu desconfiava que fosse isso...

- Mesmo? Meu cabelo estava tão ruim assim? – Brincou.

- “Trouxamente” ruim. – Respondeu Alicia, rindo. – Olhe... Se você está usando métodos trouxas, então existe, sim, uma enorme possibilidade de estar grávida.

- Alicia, não vou dizer que os métodos trouxas são infalíveis, mas costumam ser confiáveis se seguidos corretamente. – Levantou os olhos para o teto e riu: - E se não tiver farinha dentro das pílulas, é claro. – Vendo que a outra não tinha entendido, abandonou a piada e acrescentou: - Eu nunca tive problemas... Até agora... – franziu o cenho, preocupada.

- Você nunca teve problemas, porque até alguns meses atrás vivia como uma trouxa. – Alicia afirmou, gentilmente.

- O que quer dizer?

- Ana, você tem recebido um grande fluxo de magia ultimamente. Isso por si só seria o suficiente para neutralizar o efeito dos métodos trouxas, e... Com o acontecido no Dia das Bruxas...

- Quando abrimos o Livro de Fausto – Ana disse. (1)

- Sim. E quando teve que passar pelos feitiços que protegiam aquela casa, onde as crianças trouxas estavam presas. (1) Se a magia “comum” não o fez, estas ocasiões certamente interferiram no seu corpo. E não só isso. Assim como acontece com as mulheres não-bruxas, estresse pode alterar o círculo hormonal. E você tem uma profissão que traz bastantes aborrecimentos.

Ana pensou nos últimos meses e o rosto magro de Felícia surgiu na sua frente.

- Sim, eu tive muitos aborrecimentos recentemente, mas não têm nada com o trabalho, Alicia.

- Claro, os compromissos com a Ordem têm nos deixado bastante ocupados. É preocupante, especialmente para os Weasley.

Ela sentiu as faces arderem. É claro que aquilo também a estava preocupando – e muito. Mas quando Alicia mencionou “aborrecimento”, traduziu para o correspondente em português de “chateação”. Para Ana, Felícia tinha se tornado sinônimo disso.

- Então eu posso estar... – Ana pôs a mão no próprio ventre, assombrada com a idéia. Não sabia direito o que fazer, o quê pensar.

- Tenho quase certeza. Mas, vamos, me deixe fazer um exame primeiro.

- Exame? Aqui? – Olhou ao redor, e para a mão de Alicia, que segurava somente a varinha.

A medibruxa riu de seu assombro e levantou, ficando de pé na frente dela.

- Ana, largue a sua porção trouxa um pouquinho, tá bom? Só relaxe.

Ela ficou quieta na cadeira, enquanto Alicia passava a varinha na frente de seu corpo. Tinha a impressão de que séculos tinham se passado, até o momento em que a medibruxa guardou a varinha e, com um sorriso satisfeito, a tocou nos ombros e disse:

- Ana... Você está esperando um bebê.

- Es... Estou? – Ana voltou a por as mãos em cima do próprio ventre, um sorriso trêmulo no rosto.

- Eu teria que fazer mais exames, mas... Diria que de duas a três semanas.

Ana ficou olhando para a parede com um sorriso bobo, até que Alicia, preocupada, a chamou à realidade:

- Por Merlin, Ana... Eu sei que é uma gravidez não-planejada, mas não precisa ficar assim...

A brasileira voltou lentamente a cabeça para a cunhada e, abrindo mais o sorriso, os olhos brilhantes pelas lágrimas, a abraçou:

- Obrigada, Alicia! Você fez parte de um dos momentos mais lindos da minha vida!

Ficaram ainda algum tempo na cozinha. Ana estava tentando recuperar a calma antes levantar e...

Procurou com os olhos Carlinhos, que agora sentado ao lado de Gina na sala. Percebendo isso, Alicia a encorajou:

- Vai lá. Ele não pode ser o último a saber, não é?

- Tem razão. – Ela respirou fundo, para tomar coragem, e caminhou até a sala.

Ficou parada a alguma distância, escutando a conversa, imaginando o que deveria fazer. Devia chamar Carlinhos em um canto? Ou falaria tudo de uma vez? Ou talvez devesse esperar para contar para Carlinhos em casa. Afinal, aquele era o dia do Harry, da Gina e dos gêmeos. Poderia contar para os demais em outra oportunidade...

Meu Deus, ela nunca tinha contado para um homem que ele seria pai... E de um filho... Com ela!

Uma criança, dela e de Carlinhos. Tinha tomado consciência da existência dele a poucos minutos. E aquele serzinho dentro dela nem devia ter o tamanho de um grão de arroz. Mas ela já o amava com tão profundamente! Sentia-se, verdadeiramente, “em estado de graça”.

- O Lyan é muito parecido com o Harry. – Gina comentava enquanto acariciava o filho, que estava mamando em seu peito.

- Como assim, parecido com o Harry? – Carlinhos franziu o cenho. – Esse menino é bonito!!!

Carlinhos se esquivou de um soco de mentirinha da irmã, ao mesmo tempo em que todos caiam na risada. Os gêmeos começaram a contar o placar:

- 1x0, Weasley!

Exclamações tanto de aprovação, desaprovação ou simplesmente entusiasmo ecoaram. Ainda não tinham cessado de todo quando Harry rebateu, entrando na brincadeira:

- Não faço questão da admiração de um homem do seu tamanho, cara. Mas caso queira uma opinião que interesse, saiba que sua esposa já disse que sou fofinho...

Novas exclamações e risadas. Os recém-nascidos fizeram uns grunhidos de protesto pela algazarra, e a senhora Weasley prontamente fez a ordem ser restabelecida a patamares aceitáveis a uma casa com bebês com menos de um dia de vida. Ainda assim, Fred anunciou:

- Potter marca um ponto. O placar está 1x1!

Carlinhos replicou:

- Potter, minha mulher acha até o Dobby fofinho. Não fique entusiasmado porque foi comparado à beleza de um elfo doméstico!

Os gêmeos fizeram sons abafados, imitando uma multidão ovacionando seu time em um estádio. Os demais contiveram a risada, esperando ansiosamente a próxima resposta.

- 2x1, Weasley! – Jorge anunciou.

Ana balançou a cabeça, divertida. “Garotos!”, pensou. Ainda não tinha certeza do que fazer ou como, mas não podia guardar por muito tempo a novidade. “Meu Deus, qual vai ser a reação dele?”, se perguntava constantemente.

Gina negou brevemente com cabeça, um sorriso maroto dançando nos lábios um segundo antes de ela puxar Harry pelo colarinho e dizer algo em seu ouvido.

Ana observou o rosto do rapaz tingir-se de púrpura, enquanto ele sorria e tentava limpar a garganta parecendo embaraçado.

- 2x2 - disse Fred fuzilando a irmã e o cunhado que pareciam ter esquecido a disputa para ficarem se beijando. - Arghh... Parem com isso! - Começaram a reclamar os ruivos.

- Isso foi golpe baixo, não acha Ana? – A pergunta de Jorge fez todos voltarem as atenções para ela.

Ainda conseguiu brincar:

- Eu acho... Que vocês estão precisando de TV a cabo e Internet.

No entanto, seu sorriso trêmulo denunciou que havia algo a mais a ser dito.

– Se querem saber mesmo o que eu acho... – Olhou para os recém-nascidos, com ternura; depois fixou o olhar intenso em Carlinhos. – Acho que nosso filho ou filha seria lindo se puxasse aos Weasleys... – E pousou as mãos sobre o ventre.

Alguns segundos se passaram em silêncio total até que a exclamação surpresa e feliz de Gina ecoou, tirando Carlinhos do estado de latência que parecia ter tomado conta dele.

- T-tem certeza? – Ele gaguejou.

- Ah, por Merlin! – Alicia reclamou. – Eu passei vinte minutos convencendo-a de que fazer um daqueles testes das farmácias trouxas era inútil! – Sorriu, confiante, depois. – Você tem o parecer oficial de uma medibruxa. Satisfeito?

Carlinhos se levantou de súbito e atravessou a sala como um raio, chegando até onde Ana estava. Tomou-a nos braços, beijando-a e rodopiando com ela. A felicidade do casal se espalhou, e agora todos estavam comemorando. Ouviram Fred comentar:

- Agora vocês com isso também? – Balançou a cabeça, reprovador, enquanto o casal se beijava apaixonadamente.

- A gente compra um berço ou um ninho para ovos de dragões? – Jorge provocou.

- Desde que não cuspa fogo, por mim, tudo bem. – Harry acrescentou, rindo.

- O que está acontecendo, mamãe? – Chantal perguntou, estranhando a conversa dos tios.

- Sua tia vai terr um bebê, cherie. – Fleur explicou, com um sorriso.

Rony se sentou ao lado de Hermione, colocando Sirius em seu colo. A esposa apoiou a cabeça no ombro do marido, enquanto eles observavam a alegria do outro casal.

Alheios ao resto do mundo, Carlinhos e Ana ainda estavam abraçados. Ele não parava de distribuir beijos pelo rosto dela:

- Eu te amo, eu te amo, eu te amo...

- Eu acho que ela já entendeu, meu filho. – O senhor Weasley disse, se aproximando. – Será que agora você poderia deixar que sua mãe e eu cumprimentemos vocês?

Ana deixou-se abraçar por uma senhora Weasley em lágrimas, enquanto Carlinhos recebia o abraço emocionado do pai. Não demorou muito para uma fila de cumprimentos se formar. Tonks a abraçou e as duas amigas começaram a pular juntas.

Antes de deixar a auror se afastar, Ana sussurrou para a metamorfomaga: “Depois preciso conversar com você sobre uma amiga sua”, o que provocou um levantar de sobrancelhas intrigado da outra. Mas como Ana continuava sorrindo, imaginou que não deveria ser nada grave.

Na confusão de gente esperando para parabenizar o casal, Hector e Mel estavam lado a lado; só que ele aguardava para cumprimentar Carlinhos, enquanto a menina, a tia. O grifinório a ignorou o quanto pôde, emburrado.

- Hector... – A menina finalmente se cansou e se voltou para ele. O menino praticamente pulou para tomar a frente e cumprimentar o futuro papai.

“Garoto idiota, metido e orgulhoso...”, Mel começou a resmungar em português.

Do outro lado da sala, Harry olhou para os filhos:

- Bem que seu tio avisou que ninguém fica muito tempo como caçula nesta família, não é? – Sorriu para os filhos, estourando de orgulho. – Então, vamos cumprimentar seus tios?

***

[Brasil, alguns dias depois].

Havia um sério problema para Felipe cumprir a incumbência dada pela tia. E era a sua idade. Uma injustiça sem tamanho ele não poder ir a espetáculos noturnos só porque tinha dez anos. Assim não dava para descobrir quase nada!

Tentara, realmente, só ficar atento às conversas de tio Nando sobre a tal dama misteriosa que aparecia em seus shows. Mas as “investigações” não avançaram muito. Por isso resolveu tomar medidas drásticas. E algo lá no fundo dele se perguntava, agora que estava em um momento crucial de sua “missão”, se tudo não iria acabar com ele sendo transformado em algo pegajoso e nojento.

“Legal!!!”, se empolgou, após pensar um pouco no assunto.

Primeiro, havia se escondido na vã da banda do tio Nando. Depois, graças a uma distração do pessoal, quando eles estavam descarregando os instrumentos, tinha conseguido sair e se esconder na multidão.

Seu coração estava disparado. Afinal, era um garotinho no meio de um montão de gente estranha. “Acalme-se, cara. Não vai amarelar agora”.

Um borrão cor lavanda chocou-se contra seus olhos. Atordoado, levou alguns segundos até entender que aquilo era uma mecha de cabelos, e que a mulher a quem ela pertencia nem tinha percebido que o atingira com o movimento.

Que sorte! Encontrara a tal Myra na primeira escapulida. Lipe tinha vontade de dar uns pulinhos. Ah, que droga, e deu mesmo. “Tô vendo se consigo ver o palco”, explicou para um grupo que se voltou para ele, com a testa franzida. “Ah, olha a minha irmã lá!”. Apressou-se na direção para onde a metamorfaga tinha ido, com o grupo mais esquisito que ele já tinha visto.

- Muito, bem, gente... – um homenzinho parara atrás de uma das estruturas, quando o grupo se afastou o suficiente para não ser ouvido. Ele fazia gestos amplos e parecia não conseguir decidir em que posição ficava para falar com o grupo. Lipe se escondeu dentro de um cilindro enorme de concreto. – Esse chiclete vai ser nossa chave de portal para voltarmos ao hotel...

Ele apontou para uma massinha rosa grudada contra uma madeira. Lipe sentiu um embrulho no estômago e pôs a língua para fora, com asco.

- Argh, que nojo! – Uma morena, vestida como se tivesse acabado de sair de uma festa pop-gótica exclamou, sendo acompanhada de sons de repulsa do resto do grupo.

- É, e os trouxas acham isso também, queridinha... – Meneou a mão direta acima dos ombros. - Jamais tocariam em algo tão asqueroso. – Abriu um sorrisinho debochado e, ao correr os olhos pelo grupo, parou de repente em um deles, arregalando os olhos. - Myra, você por aqui DE NOVO?!?

- Eu gosto de música brasileira... – A moça encolheu os ombros.

- Sei – desdenhou o outro, com uma balançadinha de quadris. – Compreendo perfeitamente que tipo de ritmo moreno e alto você gosta... Olha, meu bem, se você quer ficar nesses espetáculos trouxas tem que ser mais discreta, coração. – Acrescentou com uma expressão de súplica: – Dê um jeito nesse cabelo, criatura!

Myra soltou um profundo suspiro impaciente, mas fechou os olhos por alguns instantes, concentrando-se. Logo, a raiz de seus cabelos foi escurecendo, e a cor castanha se espalhou lentamente para o resto dos fios, como tivesse escorrendo até as pontas, que atingiam a cintura dela.

“Uau!”, foi a expressão silenciosa que Lipe deixou escapar ao ver a transformação.

- Bem melhor – o homem aprovou, aliviado. – Agora, continuem os mais normais possíveis...

Lipe pensou que nem em mil anos aquele grupo seria “normal”. A combinação de roupas, penteados e cores era um desastre. Myra fazia melhor figura, mesmo com o seu cabelo lavanda.

-... Lembrem-se de voltarem nos horários estabelecidos... – foi enumerando a lista de recomendações com os dedos - ...De dez a quinze minutos de diferença entre cada um, e sempre verificando se não há nenhum trouxa observando vocês...

Os turistas começaram a se dispersar, e Lipe conseguiu ouvir o que um grupo de adolescentes conversavam:

- Eu ouvi dizer que o Ministério brasileiro manda um berrador para você, de advertência, caso não cumpra as regras... – Diminuiu o tom de voz: - Com pó-de-mico dentro. Ao ocupar as duas mãos para se coçar, você não tem como usar a varinha para aparatar...

- Que coisa mais bárbara!

- Deixa de ser bobo, Mark! – Uma garota exclamou. – O John está brincando com você!

Quando não ouviu mais nenhuma voz, Felipe saiu de seu esconderijo. Caminhou até o “chiclete”, olhando por sobre os ombros para ter certeza de que ninguém o estava vendo. Fitou a massinha rosa com nojo. Ainda assim, levou apenas poucos segundos antes de se decidir que ia, sim, tocar nela.

Sentiu como se um gancho o puxasse pelo umbigo, para frente. Seus pés saíram do chão. As imagens à frente de seus olhos poderiam ser comparadas a uma discoteca dos anos 70, tantas eram as cores diferentes dançando em um turbilhão. Finalmente, despencou em um monte de almofadas.

- Onze e doze, chegando de Santa Felicidade. – Ouviu uma voz feminina anunciar.

Felipe balançou a cabeça, atordoado. Gemeu. Tinha sido sua primeira viagem com uma chave de portal, e sentia que poderia colocar seu jantar para fora a qualquer momento.

- Sinistro! – Entusiasmou-se.

- Ei, garoto!

Felipe ergueu os olhos, deparando com um homem de meia-idade, vestido com sóbrias vestes bruxas. Fez um sinal para que Lipe se aproximasse. Ele estava do outro lado de uma mesa alta, e só neste momento o menino notou que se encontrava em uma recepção. Devia estar no salão de entrada do hotel ao qual o homem da chave de portal se referira.

- Você está sozinho? – O senhor de meia-idade perguntou.

- Não... Meu pai está me esperando.

- Sei... – Ele ergueu uma sobrancelha. – E porque veio sozinho?

Lipe pensou por alguns instantes.

- Resolvi voltar.

- Voltar? – Ele franziu o cenho. – Seu pai é hospede?

O menino pensou furiosamente em todas as probabilidades. Aquele homem parecia ser o encarregado, ali. Devia lembrar de todos os que estavam hospedados, e certamente iria pedir o nome de seu pai. Afinal, um garoto de sua idade, sozinho àquela hora, era suspeito mesmo para os bruxos.

- Não, mas...

Ele viu um grupo de mulheres saindo cheia de sacolas de um corredor que levava a um saguão com várias lojas. Uma idéia surgiu em sua cabeça, e resolveu pô-la em prática antes que esquecesse:

– Minha mãe gosta de fazer compras por aqui. Eu estava com minha tia, mas resolvi voltar mais cedo. Meu pai vem nos buscar. Poderia me dizer onde é o quarto de Myra Wagtail? Ela me pediu para guardar algo. – Só parou para respirar quando terminou de falar tudo.

O homem ergueu ainda mais a cabeça, o que o forçou a olhar o garoto por entre os cílios semicerrados. Os ombros de Felipe eram da altura da borda do balcão, e ele pôs as mãos em cima do tampo, como se assim o homem pudesse vê-lo melhor.

- É sobrinho da senhorita Wagtail?

- Sim, senhor. – Respondeu desta vez em inglês, carregando no sotaque todo o acento britânico que podia. Finalmente via uma vantagem em todo o elenco dos filmes de Harry Potter serem ingleses. E ninguém assistira mais vezes os quatro filmes do que ele. – Meu pai é inglês, minha mãe é brasileira.

O outro o fitou durante uns cinco segundos, com os olhos ainda semicerrados, tamborilando os dedos sobre a madeira do balcão. Felipe sentia a garganta seca, mas manteve a postura serena. Era agora que descobriria se seu plano tinha dado certo.

- Lamento muito, meu jovem. Mas não posso deixar ninguém entrar nos quartos dos hóspedes. – Felipe sentiu-se murchar. – Mas pode deixar o objeto da senhorita Wagtail aqui, na recepção. Quando ela chegar, nós o entregaremos a ela.

Felipe, decepcionado, ia responder que não e levantou a cabeça para negar. Mas viu a mão que o homem estendera displicentemente por sobre o ombro quando terminara de falar, indicando um monte de caixinhas atrás dele. Cada uma com um número de quarto.

- Claro. Tem um envelope? – O garoto falara tão jovial, e tão de repente, que o outro olhou para ele, desconfiado. Com um gesto afirmativo com a cabeça, entregou um envelope de papel muito grosso e amarelado, com o timbre do “Mares do Sul Magic Hotel”.

Ele tirou um lenço do bolso da calça jeans e o colocou dentro do envelope. O homem não conseguira ver o que era, porque as mãos de Lipe foram para baixo do balcão, como um garoto com a sua altura faria.

- Pode fazer um feitiço para lacrar o envelope? Ainda não tenho permissão para usar magia. – Pediu com um sorriso gentil e inocente.

Com o envelope lacrado e endereçado, Lipe o entregou para o gerente, que o pegou com um gesto mecânico e o colocou no escaninho do quarto número 313.

Daí para frente foi muito fácil. Felipe agradeceu e saiu em direção à porta da frente. Em uma guinada sutil, ficou atrás de um monte de malas que eram levitadas por um bruxo que parecia o carregador. “Mas, se o homem não carrega nada, mas as levita até o quartos dos hóspedes, devia ser o “levitador” e não carregador...”.

Foi para o lado do enorme monte de bagagens quando passaram em frente à recepção, evitando ser visto pelo gerente. Correu para pegar o elevador. Só quando as portas se fecharam foi que o carregador percebeu o garoto.

- Quarto 313, por favor. – Pediu com o mesmo sorriso inocente que oferecera ao gerente minutos antes.

***

De pé em frente a uma enorme estante na biblioteca de Hogwarts, Mel procurava pelo livro “Lugares Mágicos e Suas Características Naturais”.

- Quanto tempo o Hector vai demorar até te desculpar? – Danna perguntou, enquanto indicava os meninos, sentados em uma mesa no canto oposto da biblioteca.

- Não sei – Mel respondeu, de mau humor. – Mas não estou preocupada. – O brilho lacrimoso nos olhos da menina a desmentia. – Eu já pedi desculpas, o quê ele quer mais?

Mel olhou por sobre o ombro, mirando Hector, que naquele momento levantou a cabeça e a olhou com expressão mal humorada.

Danna suspirou, desistindo do assunto, pelo menos por enquanto. Pegou a esmo um livro daquele setor. Folheou-o, sem se deter em nenhuma página, até que um desenho chamou a sua atenção:

- É um lugar como esse que está procurando?

Deixando o exemplar de “Lugares Mágicos” de lado, Mel olhou para a figura que a amiga indicava. Uma Ilha, cercada de mar e névoa. A figura dava uma sensação de sufocamento, como se a neblina fosse uma cortina se fechando sobre a ilha e seus habitantes.

- Pode ser. – Mel respondeu, animada. Olhou para o que estava escrito em baixo, e sua alegria murchou. – Oh, não! Está na sua língua.

A irlandesa riu, sendo seguida por Mel. Mesmo tendo durado pouco e ter sido muito baixinho, Madame Pince ouviu. Um “shiiiiiiiiiiiiiii” saiu de seus lábios apertados e expressão zangada para as meninas.

- Será que ela sempre foi assim? – Danna falou, como quem pergunta para si mesma.

Na cabeça de Mel, surgiu a imagem de Harry e Gina fugindo da biblioteca com seus próprios livros atrás deles, batendo em suas cabeças. Como não queria ter semelhante fúria contra si, reprimiu o riso e disse, com um sorriso:

- Pode ter certeza disso. – Forçando-se a ficar mais séria, apontou para a figura: - Então, o que diz a legenda?

- “Avalon, momentos antes de ser engolida pelas brumas”. – Danna traduziu.

- Avalon existiu? – a corvinal estava surpresa.

- Existe – Danna a corrigiu. – É um local muito escolhido para viagens de lua-de-mel.

- Hem?!? – Mel estava cada vez mais confusa. A expressão de assombro em seu rosto era cômica.

- Verdade. Desculpe, às vezes esqueço que você nasceu trouxa. Há uma passagem secreta na Abadia de Glastonbury, somente bruxos podem abri-la.

O queixo de Mel caiu. A menina ficou com os olhos arregalados para a figura, em total silêncio, até que Danna o quebrou:

- Acho que isso significa que nossas pesquisas se voltaram para Avalon...

***

Felipe descobriu que não havia nenhum feitiço de chaves trancando a porta do quarto 313. Ou os bruxos eram muito descuidados, ou a hóspede “deste” quarto em especial era.

Entrou. No teto, várias luzinhas móveis mantinham o lugar iluminado. Ainda bem. Porque não sabia como ia se virar se o quarto estivesse às escuras. Bruxos não usavam lâmpadas e interruptores.

Vasculhou o quarto a procura de vidros com conteúdos suspeitos. Como deveria ser a aparência de uma poção do amor? Olhou nas estantes, armários, na escrivaninha e gavetas. Vinho de flor de sabugueiro, cerveja amanteigada... Poção para penteados... Nada de suspeito, pelo menos para ele.

Sob um recipiente arredondado de cristal, chocolates.

Romilda Vance havia posto poção do amor em bombons no sexto ano. O alvo era o Harry, mas foi o Rony quem tinha comido os doces. Felipe fez uma careta. Na sua visão de garoto de dez anos, dar uma poção do amor a alguém... Tinha toques de crueldade. Que mente maquiavélica teria inventado uma poção dessas? Que temeridade se apaixonar por uma garota!

Bem... Só tinha um jeito de saber. Pegou um dos bombons e o comeu. Fechou os olhos, esperando pelo pior. Quando alguns segundos se passaram sem que nada acontecesse, os abriu e saboreou outro pedaço.

- Hum... Gostoso. – Pegou outro bombom.

Tinha posto ele inteiro na boca quando ouviu passos no corredor, e em seguida, vozes.

- Eu achei estranho, senhorita Wagtail. – Era a voz do gerente. – O garoto disse que era seu sobrinho, e que estava esperando o pai e a mãe. E, que eu saiba, a senhorita só tem um irmão. Ora, Myron Wagtail não está no Brasil. Ele nem ao menos é casado!

- É, pelo menos não tenho notícias se meu irmão já achou a quarta ou quinta senhora Myron Wagtail... – Resmungou a moça para seus botões.

- O que disse? – O gerente perguntou, interessado.

- Nada – Ela apressou-se a negar, com um sorriso. – Só que é realmente estranho. Não se preocupe, senhor Matiola. Tenho certeza que foi uma brincadeira, só isso. E... – Ela encostou-se à porta, percebendo que estava destrancada.

- Viu? – O gerente exclamou. – Está aberta. Por favor, senhorita, deixe-me olhar o quarto primeiro.

Ele entrou na frente, sendo seguido pela moça. Ambos olharam ao redor.

- Aparentemente está tudo como eu deixei...

- Não sejamos tão apressados, senhorita Wagtail, deixe-me vasculhar o quarto.

Eficientemente, ele olhou debaixo da cama, no banheiro, com a varinha afastou as cortinas e murmurou alguns feitiços anti-ocultação. De dentro do guarda-roupa, Felipe distinguiu um “Accio capa de invisibilidade”.

- Senhor Matiola... – Myra finalmente perdeu a paciência, mas ainda se notava que estava tentando manter a amabilidade com o homem. – Acho que já foi o suficiente para nos certificarmos de que não há ninguém neste quarto.

- Ahá! – O homem apontou para o guarda-roupa, fazendo o coração de Lipe disparar. – Falta um lugar.

Ele abriu as portas e afastou as roupas. O menino fechou os olhos e se encolheu ainda mais no canto em que se escondera.

- Que bom – Lipe ouviu Myra dizer. – Nada e nem ninguém. Agora o senhor está livre para voltar ao seu trabalho...

Ela o conduziu gentil, porém firmemente, até a porta:

- Fico feliz em ter ajudado, senhorita Wagtail. – O gerente dizia, um tanto relutante em sair. – Por favor, diga a seu irmão que sou um grande fã das Esquisitonas...

- Claro. Recomendarei seu hotel, inclusive. – Acrescentou, fazendo menção de fechar a porta.

- Oh, eu agradeceria muito. – Parecia que ele estava esperando justamente por isso, o tempo todo. - Espero que tenha gostado do show de hoje...

Myra abandonou por uns instantes a pressa e o ar cansado, sorrindo verdadeiramente feliz:

- Gostei sim.

Quando a porta finalmente foi fechada, encostou-se a ela, fechando os olhos. Soltou um suspiro de alívio e, após alguns segundos, sorriu satisfeita.

- Gostei muito – Seu olhar adquiriu um brilho sonhador quando disse isso.

Percorreu novamente a distância até o guarda-roupas e afastou alguns cabides para a direita, procurando o casaco que tinha posto à esquerda. Iria voltar para a Inglaterra na manhã seguinte. Faria as malas, deixando apenas a roupa qual a qual partiria.

Ao tirar o casaco longo de lã, percebeu que havia um amontoado no fundo do armário. Pegou a varinha para iluminar o local e...

- Aaaaaaaaaaaaaah! – Os dois gritaram ao mesmo tempo.

A doceira de cristal se quebrou. Myra olhou o estrago, mas girou rapidamente para o menino, ambos ainda arfando:

- Quem é você, bruxinho?

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NOTAS
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(1) Ler Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens.

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(N/A): Não saiu um capítulo estupendo, mas... Dá para matar algumas curiosidades e tem certas revelações bem interessantes, não? 

Antes que eu me esqueça: o motivo da briga do Hector e da Mel... Vocês vão entender esse negócio melhor no próximo capítulo da Sally, ok? Por isso, fiquem antenados.

Mil agradecimentos à Sally e a Regina, que betharam o capítulo (sim, duas bethando, não é chique?!?).

E, como eu disse para a Grazy, pelo MSN: acabei de inventar um novo “nível” de tamanho de capítulo: “Groupe após a magicazinha dos “Power Rangers” de fazer os monstros crescerem”. Hihihihihi.

Eu sei que está tudo muito confuso... Mas de agora em diante acabaram os mistérios, e as coisas só vão se esclarecer. Entremeadas de muita correria, perigos... Ai, ai... Vamos ver no que vai dar.

A Myra Wagtail foi uma surpresa para mim nesse capítulo. Eu não sabia que seria tão bom “dar vida” a ela. Acho que a personagem vai render muito ainda.

E... Vai ter mais bebê daqui a alguns meses!!! Eu estou fazendo uma pesquisa sobre os diferentes “estágios” da gravidez e... Confesso que o que eu li meio que me deixou traumatizada para uma futura experiência prática, hehehehe! Deus do céu, alguém dê uma medalha para toda a mulher que já foi ou é gestante!

Bem, até o próximo, e obrigada por acompanharem a fic.

E comentem! Comentem! Comentem!
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Post by Danna O'Brien »

aaaaaaaaahhhhhhhhhh!!!!*grazy novamente tendo um ataqueeeee!!!*

' Ana... Você está esperando um bebê' :mrgreen: :palmas :mrgreen:

aaaaahhhhhhhhhhhhh!!!!!!não sei pq qnd eu li isso eu imediatamente imaginei um carlinhos extasiado rodopiando uma radiante ana pela sala hehehehe e eis q grazy acerta!!!1x0 grazy(soh num sei contra qm huahauahuauaaahua)amei o joguinho deles...queria saber o q foi q a gina disse pro harry pra deixar ele vermelho hahauahuauhau ou talvez seja melhor eu não saber hihihihi!!!!
ah sim, o harry se contendo pra nao expulsar td mundo do quarto tb foi tudo!!!!hauahuaua, tah ficando saidinho ele, nao?!?!!?bem filho do tiago hauhauuuaha.
e pobrezinha da tonks...quebrou?foi a tonks!!! :lol: ...tadinhaaaaaa...soh pq ela eh um pouquinho, digamos,distraida?!?!?!?...hauhauhuahuahuhuhaua
e o felipe tb eh um bruxinho!!!!!!!!!!!!!ai q fofooooooooooooooo!!!!qnd eu li a parte do 'um menino de 10 anos no meio de um montão de gente' eu pensei: nao, sera?!?!?!se ele tem 10 anos ainda tah em tempo!!!!2x0 grazy(contra qm?boa pergunta!!!hauhauauahauahhae) olha q nem me deu tempo de te perguntar!!!mesmo estando com vc no msn fazendo comentarios em 'tempo real' hahahaua
'-quem é vc bruxinho?' ai, jah amei a amiga da tonks soh por ela ser animaga e amiga da tonks e agora ela me descobre a magia do hector!!!!!assim nao tem qm resista neh!!!!!!!!!!!! :palmas mas ela acabou estragando a 'missão' do pobrezinho. huhauhauauuahuahah.ele vai ficar na grifa neh?!?!?(serah q eh 3x0 grazy?!!??veremos hehehhe)se depois de correr todos esses 'riscos' para encontrar seu 'alvo' e comer um bombom supostamente 'envenenado'(hihihih)ele não provou q eh corajoso, então nao sei o q seria!!hehehehehehhe.
e acaba de me ocorrer uma coisa...estava eu um belo dia conversando com vc em uma janela e com a regina em outra :mrgreen: e eis q uma me fala 'tenho q falar com a bel uma coisa sobre a mel e o...oops...segredoooo!' e a outra logo em seguida me diz 'a regina acabou de me lembrar de uma coisa sobre o alan'...(4x0 grazy?sera, sera???hauhauuaha)serah q essa duplinha eh a razão da briga entre a mel e o hector?!?seriam ciumes!?!?(eu sei, não acredito realmente nisso, eh um pouco cedo pelos meus calculos heihehie, fora q essa briga foi na casa dos potter e não em hogwarts)h'mmmm, veremos, veremos...
e qnt a resposta do meu coment, se eu estaria de tocaia...vc ainda tem alguma duvida?!!?!?!?pois se tem eu tiro!eh claro q fico!!!!!!!huhauuauahuhauh

ai meu merlin!!!aqui estou eu fazendo um coment da nova modalidade(growp com o truque dos power rangers pra fazer monstro crescer hihihi)!!!vou parar pq jah tem uma pag do word(assim como o coment da sally)e eu sei q vc vai ter q ler uma enxurrada de coments e eu não posso(embora não me falte vontade)monopolizar sua atenção hehehehehe.mas devo acrescentar q não eh culpa minha ser 'obrigada' a fazer comentarios tão extensos heheheh eh um perigo para o seu sossego estimular minha criatividade e curiosidade!!!huauahuah

mas soh uma ultima observação!!!(juro, eh soh mais essa...hj...heheheheh)

parabens pela fic genial!!!vc eh uma escritora talentosíssima e eu dou graças a merlin ateh hj por ter ficado curiosa e ter ido 'espiar' uma tal fic chamada 'segredo de sonserina' q apareceu na lista de 'ultimas fics atualizadas' lah na floreios!!!!foi ai q tudo começou e a partir dai sou fã irremediavel sua e consequentemente da sally!!!vc eh d+ menina!!!!!ARRASOU!!!!!!!!!!! :palmas :palmas :palmas

q coisa nao?!?!?!fui a primeira de novo :mrgreen: huahauahuahuahua
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Danna O'Brien
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Post by Danna O'Brien »

AVISOOOOO!!!!

oi gente!!!vai ai um convite pra quem acompanha retorno das trevas e a saga dos fundadores!!! nova comunidade feita em homenagem a um dos integrantes do pentágono (novos marotos): a Danna!!!!

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=23355489

e quem ainda nao participa da comunidade 'E AGORA MENINAS?' ela homenageia as autoras dessa serie maravilhosa!!!

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=15081574

fica aqui o meu convite! espero que gostem,foram feitas com muito carinho!
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Wagner
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Post by Wagner »

bem legal, ótima, vc esceve mto bem
Newsposter e Editor Ish...

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Regina McGonagall
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Post by Regina McGonagall »

Grazi, minha filha, calma...
acabei de editar um baita flood seu!

e... só porque chuta na trave e acerta de vez em quando... NÃO acerta todas, né? #-o

bem... qto ao papo com a Bel... era só um detalhe sobre o Alan que passa meio que batido na outra fic (O paciente inglês parte II) e que vai ser importante para as participações futuras do meu "sobrinho"... você pegou o noitibus fazendo a curva e misturou as poções... :?

hihi... aguarde!
Regina McGonagall
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