Harry Potter e o Segredo de Corvinal (Atualizado - 23/03/11)

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Danna O'Brien
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Post by Danna O'Brien »

aaaahhhhhhh!!!!mas foi quase heim regina :lol: huhUUhuHUHHuauauauha

ah e desculpe pelo coment enoooooorme :oops: eu sabia q um dia ainda ia ser editada...fazer o q?...eh a emoção do momento hihihii
Belzinha
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Post by Belzinha »

OBSERVAÇÃO: Gente, preciso fazer um alerta. A partir desse capítulo, a minha fic e a da Sally não estarão tão intimamente ligadas. Calma! A gente não brigou e agora esta “de mal”, não... Hahahaha! É que os meus planos para o futuro podem, digamos assim, esbarrar no roteiro da Sally para o Retorno das Trevas... Algum bonzinho na minha pode se revelar o vilão na dela, ou alguém que está “vivinho da silva” no Segredo de Corvinal pode acabar morrendo no Retorno das Trevas... Enfim, de agora em diante, tudo pode acontecer!!!

********

- 13 -
A Invasão Brasileira


Tudo bem, agora ele estava enrascado. Sem adultos, sem idéias e sem saída. Talvez Mel estivesse certa quando dizia que ele agia sem pensar. Ora, e o quê que isto importava? E desde quando dava importância para o que a irmã dizia?

- Qual é o seu nome? – A moça insistiu. – Tem alguém aqui com você? – Ela olhava apreensivamente para os lados.

Tudo o que Felipe conseguiu fazer foi negar com um gesto de cabeça. Myra pareceu acreditar nele, porque relaxou e estendeu a mão para o garoto.

- O que foi? Acha que vou te transformar em um sapo? – Ela sorriu encorajadoramente quando ele recuou diante de seu gesto.

- E-Esta não é u-uma opção? – Gaguejou.

Myra riu com vontade:

- Não para mim.

Desta vez foi Felipe que relaxou, aceitando a mão estendida.

- Então, quem é você e o que está fazendo no meu quarto?

O menino ficou calado durantes alguns segundos, até que suspirou pesarosamente:

- Você acreditaria se eu dissesse que sou fã das Esquisitonas?

- Bem... – Ela disse devagar. – Que você seja fã, eu acredito. Mas os admiradores da banda do meu irmão não costumam entrar no meu quarto, a não ser que Myron ou um dos garotos estejam nele.

Felipe ficou sem ação. Quando começou a “sua aventura” não estava em seus planos ser apanhado. A parte de “E Se Eu For Apanhado” era muito chata para ser planejada.

- Meu nome é Felipe, mas eu não conto o que vim fazer aqui nem sob tortura. – Declarou ousadamente.

- Certo. – Myra fez força para permanecer séria. – Mas você invadiu o meu quarto e quebrou uma doceira... Vou ter que chamar seus pais.

- Nãaaaaaaaaaao! – Felipe arregalou os olhos. – Eles vão me matar!

- Eu acho que não – Ela riu.

- E além disso, eu não quebrei doceira nenhuma! Juro!

- Olha... – Myra disse amigavelmente. – Eu posso não ser a bruxa mais habilidosa do mundo, mas de um fato tenho certeza: já passei da idade de fazer as coisas explodirem.

Felipe arregalou novamente os olhos, mas desta vez não havia medo em sua expressão, e sim surpresa absoluta.

- Quer dizer que eu... Eu fiz mágica? – Elevou a voz. – EU SOU UM BRUXO?

- Se não tem mais ninguém aqui, pode ter certeza que foi você que fez aquilo. E ficou invisível ou aparatou também, mesmo que não tenha percebido. Você estava no guarda-roupa desde que eu entrei aqui, não estava?

O menino fez um gesto afirmativo, mas já parecia em euforia:

- Eu sou um bruxo! Eu sou um bruxo! Eu sou... Um... Bruxooooooooo! – Cantarolava, enquanto pulava pelo quarto.

Myra abaixou a cabeça, fazendo força para não rir. Devia estar furiosa por aquele garoto ter invadido seu quarto. Aterrorizada também, pois aceitara apenas a palavra dele de que não havia mais ninguém. Ainda assim, devia haver um motivo para ele ter entrado, e tinha que saber. O menino podia estar sendo usado por adultos inescrupulosos para roubar.

- Felipe – A pronúncia de seu nome o fez parar e olhar para Myra. – Percebo que descobriu agora os seus dons mágicos. Meus parabéns, mesmo, mas... – Ela desconfiava que o menino fosse filho de um casamento misto, para saber tanto sobre o mundo mágico e, ainda assim, não ter certeza sobre seus dons. – Mas se coloque no meu lugar, sim? Eu encontrei um menino desconhecido em meu quarto de hotel, e ele pode ter entrado para roubar. Outro, em meu lugar, já teria chamado as autoridades, não acha?

- Eu não sou ladrão! – Felipe protestou. – Vim aqui em uma missão! – Ele tampou rapidamente a boca, percebendo que tinha falado demais.

Myra percebeu que ele permanecia resoluto em não lhe contar nada, então, declarou:

- Não me resta alternativa senão procurar seus pais...

- Não, por favor! Eles vão me matar! E depois vão matar a tia Ana! Se bem que acho que a tia Ana está garantida, porque eles não vão poder com uma Auror. E o tio Carlinhos não vai deixar eles a matarem, de qualquer forma... E a Mel está segura, há quilômetros daqui, em Hogwarts...

- Hogwarts? – Myra estava confusa. – Você é inglês? Mas tem sotaque americano...

- Todo mundo acha isso... Hogwarts! – Ele voltou a pular. – Será que...

- Felipe – Ela pegou o rosto do menino entre as mãos forçando-o a fixar a atenção sobre si. – Você precisa me contar o que veio fazer aqui, certo?

O garoto gemeu, mas assentiu, convencido.

- Tia Ana pensou que você estava enfeitiçando o meu tio com algum tipo de poção do amor, ou algo parecido. – Declarou, finalmente.

- E porque eu iria enfeitiçar o marido dela? – Myra estava indignada. Não conhecia ninguém chamada Ana, como a talzinha podia levantar uma calúnia dessas?

- Não é o tio Carlinhos! Se fosse ele que estivesse suspirando apaixonado por outra mulher, seria o vovô Antônio quem tiraria o couro dele!

- Tudo bem... Eu estou confusa, Felipe. Quem são seus tios?

- Ana Weasley e... – Felipe respondeu e, percebendo a expressão confusa de Myra finalmente ser substituída por uma centelha de reconhecimento, se calou.

- Sua tia é esposa de Carlos Weasley? O diretor da Reserva de Dragões em Gales? Dos Weasleys da Segunda Guerra?

- Sim. – Felipe estufou em um orgulho mal-disfarçado. – Tio Carlinhos te reconheceu em uma foto. Disse que era impossível não te reconhecer, tendo estudado com a Tonks.

- A Ninfadora, é claro! Ela me disse que os dois eram colegas em Hogwarts e... Bem, a Ninfa é fã MESMO das Esquisitonas, deve ter falado de mim para ele.

- Se você é amiga de verdade dela... – Lipe deu uma risadinha. – Deve saber que a Tonks surta cada vez que a chamam pelo primeiro nome!

- É verdade... – Myra riu com ele. – Mas espere aí... Se não era do marido dela que você estava falando... A qual tio se referia?

- Do tio Nando.

Myra ficou francamente pálida.

- Nando...? Isto não é um apelido para...?

- Fernando. – Lipe completou, não percebendo a perplexidade na moça. – Meu tio é o vocalista da “La Mancha e os Moinhos de Vento”.

Felipe escutou um fraco “Ai, Melim!”, enquanto a moça escondia o rosto entre as mãos e se sentava lentamente na beirada da cama.

- Olha – o menino apressou-se a ser solidário. - Agora que eu te conheço, não acho que seria capaz de fazer algo tão terrível quanto... – fez uma careta enojada. – Fazer alguém se apaixonar.

Myra levantou rápido a cabeça.

- E porque achavam que ele podia estar...?

- Ah, ele não pára de falar em você! É... Irritante!

- Mesmo? – O rosto pálido ficou furiosamente vermelho, e ela exibiu um pequeno sorriso.

- É – Lipe afirmou solenemente. – Vai por mim, tio Nando não está em seu normal. – Ignorando a pontinha de felicidade da moça, ele continuou: - Você acha que mais alguém pode ter posto poção do amor na comida ou na bebida do tio Nando? Quem ganharia se ele se apaixonasse por você?

O sorriso de Myra se apagou.

- Você não acha que ele pode... Ter se apaixonado por mim... De verdade?

- De livre e espontânea vontade? - Felipe arregalou os olhos.

Nunca tinha pensado nisso. Na opinião dele, tio Nando tinha a vida mais fantástica que alguém poderia querer, depois de ser um bruxo. Era adulto e em seu trabalho viajava para o país todo, recebendo as glórias de ser um artista.

– Por que ele iria querer se apaixonar?

- Bem... – Myra sorriu timidamente. – A gente não “quer” se apaixonar. Só acontece, sabe?

Felipe sorriu. Finalmente estava entendo.

- Você gosta do tio Nando!

Extremamente embaraçada, vermelha e acalorada, Myra se levantou, dando por encerrada a conversa.

- Acho que seus pais devem estar preocupados. Vou te levar de volta, está bem?

Durante o caminho até o saguão de entrada, Felipe tagarelou sobre sua família. Contou que a irmã estava em Hogwarts, a pedido da tia, que era descendente de Helga Hufflepuff. Myra desconfiou que a tal Ana não fosse uma pessoa em quem se confiar. Primeiro, a acusação absurda de ter usado uma poção de amor em alguém. E agora sabia que ela tinha usado a influência de sua família para intervir em Hogwarts. Teria que tomar cuidado com essa mulher.

Felipe continuou falando sobre a família e, à medida que a narrativa avançava, Myra notou que a descrição das pessoas e profissões eram... “peculiares”.

- Sua família é trouxa?

- Sim. Até agora, só a tia Ana e a Mel eram bruxas. – Sorriu, mal se contendo de felicidade:

- Agora sei que sou um também. Mal posso esperar para contar para a Mel e a tia Ana!

- E seu tio Nando? Não quer contar para ele também? – Myra sorriu diante da euforia do menino, mas a pergunta não era nada inocente. Tinha certeza que o rapaz era trouxa.

No entanto, agora que sabia que tinha parentes bruxos, queria saber o que ele pensava do mundo mágico.

- Não posso contar. – Lipe deu de ombros, sério. – Ele não sabe de... Tudo isto, entende? Na minha família, só os meus avós e meus pais sabem.

Felipe continuou falando sobre o que o resto de seus parentes achava que os tios e a irmã faziam na Inglaterra, e daí começou a contar outras coisas, mas Myra já não escutava mais. Tinha ficado todo este tempo sem se aproximar de Fernando por causa do medo de se envolver e depois ser rejeitada quando ele soubesse que era uma bruxa. Tivera uma experiência muito ruim com um namorado trouxa, quando era adolescente. Aquilo a marcara profundamente, não queria passar por aquilo de novo...

- Ah! É esse o menino, senhorita Wagtail! – O gerente exclamou, tirando-a de seus pensamentos. – O que disse que era seu sobrinho.

- Aaaaaaah... Mas ele é meu sobrinho. – Myra afirmou, não querendo mais confusão.

- Mas a senhorita disse... – O homem a olhou, confuso.

- Sou sobrinho do namorado dela. – Felipe veio em socorro da moça, fazendo-a corar com a declaração. Mesmo mentindo, o garoto exibia a cara mais inocente do mundo! – Nunca disse que era filho do irmão da tia Myra!

“Tia” Myra sorriu para o homem mais velho e puxou seu “sobrinho” até a chave de portal o mais rápido que pôde.

Quando voltaram ao local dos shows, Myra esperou que o garoto se recuperasse da experiência, e falou:

- Agora aquele homem vai achar que eu venho tanto ao Brasil por causa de um homem!

- E não é? – Felipe alfinetou, caindo na risada.

A moça apertou os olhos e, sorrindo, declarou:

- Ainda está em tempo de eu reconsiderar a opção de te transformar em um sapo, viu?

Os dois riram, chamando a atenção de um rapaz que parecia preocupado. Assim que visualizou o garoto, suspirou aliviado.

- Lipe! Lipe... LIPE!

O seu nome foi pronunciado da primeira vez de uma forma agradecida, feliz e aliviada. Depois, acusadora, como se dissesse: “seu malandro”. Mas quando tio Nando gritou seu nome estreitando os olhos e rosnando, soube que aquilo queria dizer: “você está encrencado, rapazinho!”.

Tio Nando marchava em sua direção, com aquele olhar mortal, quando percebeu Myra ao lado do menino. Estacou na mesma hora, e os dois ficaram se olhando por alguns segundos. Finalmente, a moça soltou uma exclamação abafada, tão baixa que só Lipe conseguiu perceber.

- Eu me perdi, tio. – O menino declarou, lembrando o rapaz o que o tinha levado até ali.

- Você nem devia estar aqui, para início de conversa. Sua mãe me ligou mil vezes, até que a minha apresentação acabou e eu vi as chamadas não atendidas no meu celular. Sabe como seus pais estão preocupados?

- Eu sei, mas a Myra...

- Sem “mas”. E... – Parou, voltando a olhar para a moça. – “Myra”?

Ela não sabia o que fazer. Não entendia uma só palavra em português, mas não era preciso para perceber que ele estivera muito preocupado com o garoto, e agora lhe passava uma reprimenda. Podia imaginar o que viria em seguida: o que o sobrinho estava fazendo com ela?

- Er... Sou eu. – Respondeu, em inglês mesmo, pois pelo menos o seu nome tinha entendido. - Myra. Myra Wagtail. – Estendeu a mão para cumprimentá-lo. Viu, maravilhada, a expressão do rapaz se desanuviar e seu olhar se prender ao dela. Arrepiou-se quando suas mãos se tocaram. – O-Olha, eu não falo português, desculpe... Seu sobrinho... - Olhou para Felipe, que mantinha os braços cruzados e a expressão emburrada. – Não pode traduzir?

O menino olhou para ela, fez um sinal que não, e não disse uma palavra.

- Lipe, o que...? – Fernando questionou.

- Não posso servir de tradutor. Você me mandou ficar quieto, lembra? – O menino disparou, lançando olhares furiosos para o tio.

Fernando sorriu sem jeito para Myra, tentando manter as aparências, sabendo que ela não entendia português.

- Traduza! – Ele resmungou para o sobrinho, entre os dentes, ainda sorrindo.

- Vai parar de brigar comigo?

- Vou, vou! – Nando apressou-se a dizer.

- Está bem. – Felipe descruzou os braços. – Eu vou traduzir. – Disse para Myra, em inglês.

- Ah... – Ela presenciara a cena com divertimento, mas agora não se lembrava mais o que queria que o menino traduzisse. Céus, um não entendia a língua do outro. E ela era uma bruxa. Aquilo não tinha mesmo como dar certo. Nervosa, disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça: - Diga a ele que você se perdeu, e eu te ajudei.

Felipe traduziu e antes que ele terminasse, Fernando disse algo, sem desgrudar os olhos do rosto dela.

- Ele agradeceu por ter cuidado de mim. Eu fugi de casa, me escondendo na vã do tio Nando. Ao que parece, minha mãe está uma pilha de nervos, o que não é bom para mim. – Felipe olhou para ela, desanimado – E esta última observação foi minha.

Fernando disse mais alguma coisa e Felipe a olhou de forma preocupada:

- Ele perguntou se pode agradecer te acompanhando até o seu hotel.

- Felipe... – Myra disse quase em um sussurro. – Ele não pode me acompanhar! Não, não traduza! – Ela emendou rapidamente, quando viu que o garoto tinha tomado seu desabafo como uma resposta. – Diga a ele que eu agradeço muito, mas não é preciso. E acrescente, como se a idéia fosse sua, que ele é um estranho, eu não iria querer que ele me acompanhasse.

- Não vai colar. – Lipe deu uma risadinha.

- Por quê? – Myra levantou uma sobrancelha.

- Por que ele entende um pouco de inglês, e, embora não fale fluentemente, entendeu o sentido geral do que me disse. – Agora o menino estava rindo à beça.

Um olhar furtivo para Fernando confirmou o que Felipe falara. O outro brasileiro a fitava com um brilho divertido no olhar, que aumentava na mesma proporção do embaraço que ela sentia.

- Lá estão eles! Nando achou o pestinha! – Chuca, há alguns metros de distância, gritou para os outros membros da banda, que também procuravam por Lipe. “Puxa, que senhora confusão eu criei!”, o menino pensou. “Que massa!”.

Os dois segundos que Fernando levou para se voltar para os amigos e sinalizar que estava tudo bem foi o suficiente para que Myra desaparecesse.

- Onde ela foi? – Surpreso, Nando não escondia a decepção e a tristeza ao notar que ela tinha sumido. – Ela estava aqui, não pode ter ido longe...

- Desaparatou. – Felipe respondeu.

- O quê?

- Ela estava aqui... E no instante seguinte, não estava mais. – O garoto explicou, achando tudo muito divertido.

- Engraçadinho. Disso eu também sei. Sabe onde é o hotel em que ela está hospedada?

- Não – E Felipe não estava mentindo. Não sabia onde era o hotel, porque tinha pego uma chave de portal até ele.

- Nem peguei o telefone dela!

- Telefone? Hahahahaha!

- Você está muito animadinho para alguém que está prestes a enfrentar a sua mãe furiosa, doutor Felipe!

- Ah, a essa altura eu só quero saber quando é que vou poder escolher a minha varinha! Vamos para casa!

Fernando balançou a cabeça, achando que o sobrinho devia estar sofrendo de algum tipo de colapso nervoso porque tinha se perdido e pela tensão de ter que enfrentar a mãe. Vasculhou a área mais uma vez, a procura de Myra.

A expressão decepcionada do tio fez Lipe se sentir tão mal, que ele se condoeu um pouquinho:

- Tudo bem, tio. Pelo que eu entendi, ela e a tia Ana têm uma amiga em comum. Você vai poder encontrá-la novamente.

- Mesmo? Mas, então eu tenho que falar com a Ana imediatamente! Você ou sua mãe tem o e-mail dela? Ou melhor, o telefone? Aliás, agora que pensei nisso... Mamãe me disse que não tinha o número da Ana, não é estranho?

- E-mail? Telefone? Hahahahaha! Tio, o senhor é hilário!

Fernando ficou observando o menino se afastar e definitivamente, achava que o sobrinho não estava bem.

***
A vizinhança do número 12 do Largo Grimmauld continuava tão tranqüila como nos tempos em que Harry estudava em Hogwarts. É inusitado, considerando a divulgação pelos livros de J.K. Rowling, de que aquela casa era a sede da famosa Ordem da Fênix.

No entanto, a explicação era bem simples. Há mais de oitenta anos que nenhum Largo Grimmauld constava nos mapas trouxas e sim... Bem, não posso dizer o nome da rua agora. Estragaria todo o plano meticulosamente traçado por Dumbledore e Rowling. Tudo o que posso dizer é que, na época, o nome da rua fora trocado por o de um político muito “distinto” e indiscutivelmente famoso. E os Blacks, como faziam com a maior parte das coisas ligadas aos trouxas, simplesmente ignoraram o fato.

Foi uma manobra simples, porém eficaz, que manteve segura a localização da sede da Ordem.

Os mapas mágicos se atualizam sozinhos. A ligação deles com o sistema de correio-coruja e a Via de Pó-de-Flu torna isso essencial. Logo, o Largo Grimmauld também sumiu para os bruxos. Exceto, é claro, para a família Black, isolada dos trouxas por seu preconceito, e alheia à grande maioria dos bruxos por sua própria arrogância.

Aqueles que souberam do número 12 através dos livros, não o conseguem localizar. E mesmo as pessoas que tinham estado na Mansão Black nos “áureos” tempos de comensalismo daquela casa, não reconhecem mais o local, graças ao Feitiço Fidelius.

Caso necessário, a autonomia e sigilo da Ordem podem ser mantidos bloqueando-se a lareira totalmente. Não dá para chegar até lá com um pouco de pó-de-flu e dizendo “Largo Grimmauld, número 12!”, ou “Mansão Black!”. A menos que você também esteja sob o efeito do Feitiço Fidelius, é claro!

Para os membros da Ordem da Fênix, aquele era muito mais que simplesmente o lugar onde se reuniam. É verdade que haviam passado alguns dos momentos mais tensos de suas vidas dentro daquelas paredes. Sempre esperando notícias, planejando, ou simplesmente consolando e dando apoio uns aos outros. Com toda a certeza, a antiga Mansão Black, mesmo depois das mudanças feitas em 1994-1995, estava longe de ser o lugar dos sonhos para se morar. Mas era um lembrete constante de que sacrifícios foram feitos no passado, e que sua união havia rendido bons frutos.

Por isso sempre havia pessoas fazendo algo para melhorá-lo, torná-lo mais aconchegante, ou simplesmente consertando a velha casa, mantendo-lhe o funcionamento. Naquele momento, por exemplo, Gui e Carlinhos estavam verificando se a última detetização contra fadas mordentes tinha surtido efeito.

Quando chegaram ao último cômodo a verificar, o antigo quarto de Sirius Black, concluíram que não precisariam se preocupar com uma nova detetização até o próximo verão. A menos que outra praga, os gnomos de jardim, resistisse ao inverno e voltasse na primavera.

- E então, futuro papai? Como vai tudo? – Gui perguntou ao irmão.

Tinham alguns minutos até que todos chegassem para a reunião da Ordem. Para manter a sanidade, naqueles dias difíceis, todos se ocupavam em se enterrar no trabalho e lembrar uns aos outros das coisas boas que estavam acontecendo. E funcionava, como um energético. Não é a toa que a técnica era parte da defesa contra os dementadores. Carlinhos, por exemplo, trocou a expressão compenetrada que tinha no rosto por um pequeno sorriso enviesado quando ouviu a pergunta.

- Bem – havia um brilho empolgado e hesitante em seus olhos ao completar – Muito bem, exceto que o futuro papai está morrendo de medo. Feliz, mas terrificado. Sabe qual foi a primeira coisa que fiz, assim que tive oportunidade?

Gui fez uma careta moralista:

- Posso imaginar, mas não quero saber de suas intimidades conjugais, certo? – A brincadeira o fez ter que se desviar de uma falsa “chave-de-pescoço” que o irmão mais novo lhe aplicou.

- Não. – Carlinhos respondeu, depois que o outro se desvencilhou facilmente do golpe, e os dois pararam de rir. - Fui correndo comprar alguma coisa para o bebê. No meio do caminho, percebi que não tinha a menor idéia do quê queria comprar. Fiquei pensando nas coisas que meu filho poderia precisar e, de repente, também me dei conta do quanto essa pessoinha vai precisar de mim. Confesso que, às vezes... A maioria do tempo, na verdade... Tenho medo de falhar como pai.

- Mano... – Gui o olhou em um misto de amor fraternal e divertimento. – Nós somos filhos de Artur Weasley! Aprendemos tudo o que precisamos saber sobre ser pai com ele, acredite. – Carlinhos exibiu uma expressão cética, embora concordasse que Artur fora e ainda era maravilhoso como pai. – Seja você mesmo, cara. O resto é história.

- Você não entende...

- Eu não entendo? – O irmão mais velho ergueu uma sobrancelha. – Sabe como fiquei quando Fleur me disse que estava grávida? – Carlinhos fez que não com a cabeça. – Bem, ela foi até o Gringotes me dar pessoalmente a notícia. Falou daquele jeito entusiasmado e confiante dela, e, sem perceber que seu marido estava completamente apopléctico... Beijou-me e saiu, dizendo que tinha que mandar uma coruja para a mãe, a tia, a Madame Maxime, etc... “Oh, Mon Dieu!”... - Carlinhos havia começado a rir. - Ah, acha isso engraçado, é? Espere até ouvir o resto. Eu entrei em uma reunião em seguida, e simplesmente não conseguia lembrar de nada! Todos os dados, nomes e números sumiram da minha cabeça. Só conseguia pensar em uma coisa: em breve eu teria um filho. E lá estava eu, sem palavras, diante de duendes impacientes, e com a sensação de ter ganhado um soco no estômago. Quando finalmente recuperei a fala, tinha certeza que meu emprego já era. Os duendes não iriam se comover com o seu gaguejante empregado, “só” porque ele tinha acabado de descobrir que iria ser pai.

Carlinhos não podia acreditar. De todos os seus irmãos, Gui sempre fora o mais eloqüente, aquele que poderia sair de qualquer situação com diplomacia, sem sequer suar. Nada com o jeito pomposo do Percy: Gui não precisava provar nada para si mesmo, muito menos para os outros.

- Saí do banco, naquele dia, pensava que meu filho iria chegar dentro de alguns meses e já iria se deparar com um pai desempregado... – Gui abriu um sorriso amargo, diante das lembranças. – Lembra da infância difícil que tivemos?

- Sim – Carlinhos balançou a cabeça, concordando.

- Só que mais tarde eu encontrei o papai... – Agora Gui estava sorrindo. – Lembrei que não importava o quanto as coisas piorassem, ele e a mamãe sempre davam um jeito. Porque eles nos amavam. Porque se amavam.

- Moral da história? – Carlinhos abriu um sorriso insolente e brincalhão. Tinha entendido perfeitamente.

- Escute seu coração, não tem como errar. Papai e mamãe já colocaram tudo aqui – apontou para a própria cabeça. – E aqui – Indicou o coração. - É só usar. E, é claro, não se esqueça que não está sozinho. Tem a Ana. Você é o maior cabeça-dura que conheço, mas todo mundo já viu que ela é capaz de te colocar no seu lugar quando é necessário!

- Eu, cabeça-dura? Será que se esqueceu quem é que Johnny Braço-de-Ferro atingiu a cachola com um balaço, no sexto ano, e saiu sem nem sequer um arranhãozinho? E quem é que deixa a esposar dar-lhe comida na boca, hem?

Seguiu-se uma luta de travesseiros, almofadas e coisas bem mais pesadas sendo atiradas através de movimentos rápidos e precisos de varinhas.

- Quando vocês pararem de se matar, poderiam arrumar tudo e descer? – A voz de Rony se fez ouvir, vinda da porta, e o tom calmo do terceiro ruivo evidenciava que esse tipo de passatempo era comum entre os homens Weasley. – Já está todo mundo aqui.

Ao descerem, alguns minutos depois, se depararam com as esposas conversando, as expressões de que uma grande tragédia tinha acontecido. Ana contava alguma coisa para Fleur, e, embora os demais não parecessem tão comovidos como as duas, também acompanhavam a narrativa.

- Então, um barco finalmente se aproximou. Rose tentou acordá-lo, mas ele já estava frio, branco como cera e rígido depois de tanto tempo no mar glacial... – A voz de Ana foi se tornando cada vez mais aguda e falha.

- Jack morrreu? – Fleur perguntou, a voz expressando extremo pesar.

- Qual parte de “frio, branco como cera e rígido” ela não entendeu? – Fred, que estava jogando xadrez bruxo com o irmão gêmeo ironizou.

Ana confirmou para a concunhada e as duas estavam tão envolvidas na triste história, que lágrimas quentes começam a correm por seus rostos. A Auror aceitou o lencinho que Fleur lhe passou.

- Desculpem, acho que a gravidez me deixou um pouco sensível demais.

- E eu só estou sendo solidárria à Ana... – Fleur declarou, não muito convincente, conjurando um lencinho para si mesma.

- Mas do quê vocês estavam falando? – Carlinhos agora acariciava os cabelos da esposa.

- Titanic – Ana explicou. – Um filme trouxa. Muito romântico e triste, não acha? – Ela se dirigiu à Sarah, ou melhor, Serenna Snape, que estava quieta e tímida em uma das poltronas. Certamente, nervosa por estar diante dos membros da famosa Ordem da Fênix.

- Sim – ela limpou a garganta, aparentemente seca demais para falar. – Mas acho que o Leonardo de Cáprio muito novinho para o papel...

- Ah, na época do lançamento do filme, Ana tinha quinze anos e achava que justamente ele era um atrativo! – Agatha provocou a sobrinha, que ficou imediatamente vermelha.

- Ele está velho e gordo, agora. – Ana se apressou a explicar para o marido, mas este já estava dando gargalhadas do embaraço da esposa.

- Fleur, querida – Gui se dirigiu à chorosa esposa, consolador. – É uma daquelas histórias dos trouxas, não é verdade.

- Não, é verdade sim. – Hermione declarou. – Quer dizer, a parte do Titanic afundando. Foi em 14 de abril de 1912. Mil e quinhentas pessoas, aproximadamente, morreram.

- Caramba!!! – Rony exclamou. – É difícil imaginar que uma tragédia tão grande possa ter acontecido, e que... “Ele” não tenha nada a ver com isso...

A referência a Voldemort trouxe a tensão de volta. Harry, cujo todo divertimento naqueles minutos não ultrapassou um simples sorriso, pareceu se arcar sob o peso de uma bigorna invisível. Hermione percebeu imediatamente e, acompanhando o olhar da ex-grifinória, Ana também se deu conta da expressão carregada do rapaz. “Sinceramente, Harry tem que parar de carregar o mundo nas costas!”, ela pensou.

- Hum... – Cátia limpou a garganta, quebrando o silêncio. – Meu bisavô quase embarcou nele. Vocês sabem, minha família é trouxa, e meu bisavô foi uma espécie de representante comercial. Antes de conhecer minha avó, ele viajava constantemente para os Estados Unidos. Graças a Deus, ele perdeu o navio, senão poderia ter ficado no fundo do mar com o Titanic.

- Quer dizer que você poderia nunca ter nascido? – Fred perguntou, os olhos arregalados, verdadeiramente horrorizado com a possibilidade de nunca ter conhecido a esposa.

- Qual parrte de “no fundo do marrr com o Titanic” ele não entendeu? – Fleur devolveu a “gentileza” do cunhado com um olhar poderoso que lembrou a todos que ela foi uma campeã tribruxo.

Várias pessoas engasgaram ou começaram a tossir para disfarçar o riso. O clima, finalmente, voltara a se amainar e a reunião pôde começar. Passaram ao primeiro ponto, e Snape esclareceu algo que era alvo de curiosidade de muitos dos que estavam ali: apresentou à Ordem da Fênix sua irmã perdida, Serenna Snape. (1).

Ana permaneceu ao lado de Serenna e Severus, dando apoio a ambos, até que o choque de saber que Snape tinha uma irmã foi passando, e Serenna já se sentia a vontade até mesmo para responder às provocações dos gêmeos.

Foi quando aproveitou para puxar Tonks para um canto, e questionar a amiga, discretamente:

- Recebeu meu bilhete?

- Sim! Mal posso acreditar no que li! Mas de uma coisa eu tenho certeza, Ana: Myra não iria usar algo tão baixo quanto um feitiço ou uma poção do amor. Ainda mais contra um trouxa.

- Tem certeza? – Sussurrou.

- Ana, você é minha amiga. Mas Myra também é e eu coloco a minha mão no fogo por ela. – A expressão da outra Auror era solene. – Vou ficar aborrecida com você se insistir nisso.

- Desculpe, é que estou preocupada. Fernando é... Completamente trouxa, entende?

- Eu vou conversar com ela, se isso te deixar mais tranqüila. – Ana balançou a cabeça, concordando. – Mas é estranho que...

- Quê...?

- Nada. Mais tarde conversamos melhor sobre isso. – Tonks sabia do romance traumático de Myra com um rapaz trouxa, quando esta era adolescente. Por isso, tinha razões para acreditar que havia mais chances da moça sair ferida do que o primo de Ana. – Ouvi falar que seu outro sobrinho é um bruxo também, é verdade?

- Sim – Ana suspirou, divertida. – E Deus nos ajude!

- Ele vai para Hogwarts, como a irmã?

- Ainda não sei. Não tive oportunidade para conversar com a mãe deles. Fui para o Brasil a alguns dias atrás para contar sobre a gravidez para meus parentes e ajudar Serenna com algumas questões legais, mas Lipe ainda não tinha manifestado sua magia. As cartas que estou recebendo de Patrícia são de dar dó... Primeiro a Mel que vai para longe, agora o Felipe. De qualquer forma, não é só uma decisão nossa. McGonagall teria que avaliar se seria conveniente para Hogwarts. Afinal, a escola é para britânicos e tia Agatha e eu interferimos uma vez, mas... Duas? Talvez seja pedir demais, não gostaria de por a Diretora em uma situação difícil.

- Entendo. – Tonks assentiu, olhando para Minerva, que agora conversava com Agatha. – Compreendo principalmente a mãe do garoto. Eu já estou morrendo de saudades do meu filhote!

Outros pontos começaram a ser discutidos, e as duas voltaram a atenção para o que era dito. A apresentação de Serenna foi o último ponto agradável da reunião. As notícias que iam sendo relatadas eram uma pior do que a outra, e Ana não sabia como acrescentar a sua à “coleção”.

Finalmente, quando Harry perguntou se havia mais alguma coisa, e ninguém mais se manifestou, ela viu que não poderia mais adiar a situação. Trocou um olhar com o marido, do tipo “é agora”, e se adiantou:

- Eu tenho. – Tirou do bolso o medalhão, agora enrolado em tecido para evitar o contato. – Encontrei esse objeto escondido em um livro, no Ministério, há alguns meses atrás. – E ela relatou como seguiu a pista de Rowena e de Arádia até o livro.

- Por que não nos contou isso antes? – Quim questionou, examinando pessoalmente o objeto.

- É uma informação fundamental, Ana! – Minerva McGonagall observou, com certa urgência na voz.

- Tenho certeza que Ana tem uma boa explicação. – Hagrid apressou-se a comentar.

- Eu não tinha certeza de que fosse ajudar em alguma coisa. – Ana sabia que não poderia escapar à reprovação que se seguiria.

- E agora tem? – Hermione perguntou, preocupada.

Respirando fundo, Ana contou o que aconteceu no Brasil, tentando ignorar a expressão indignada de Shacklebolt ao ouvir que ela tinha tirado do país um objeto pertencente ao Mistério. Quando terminou, Harry tinha uma expressão raivosa no olhar:

- Não pode esconder qualquer informação da Ordem, Ana! Qualquer uma pode ser fundamental, você sabe muito bem disso! Não tem o direito de pagar para ver no que vai dar. É a volta de um assassino maluco que pensa que é deus que estamos tentando impedir! (2)

- Pega leve, Potter! – Carlinhos exigiu.

- Não, ele tem razão Carlinhos. – Ana interveio. – Você mesmo me disse isso quando te contei. Não, não precisa dizer nada, Moody. – Ela olhou para o velho Auror, com um pedido de desculpas no olhar. – Sei que isso foi contra tudo o que você me ensinou sobre ser prudente.

- Não acredito que vou dizer isso, Smith, mas concordo em parte com Potter. - Snape se manifestou, embora mais calmo que Harry. - O medalhão poderia, e pode, estar amaldiçoado. Aliás, é quase certo que esteja, já que está ligado com o quê os demônios querem. – O ex-professor de Poções olhou para Harry, em uma clara referência aos poderes de Arádia que Gina tinha.

- Mas eu não disse que estava. – Ana contrapôs.

- E nem que não estava. – Harry comentou, ainda extremamente aborrecido.

- Crianças, por favor! – Artur interveio. Harry olhou para os sogros e morreu de remorso com a visão do rosto aflito de Molly. Tinha deixado a tensão se acumular até que a despejou nas pessoas mais próximas a ele.

- Harry, Deus é testemunha que já tive minha cota de objetos enfeitiçados grudando em mim. – Ana disse. - Sinceramente, não gostaria de ter mais algum. Mas... Alguma coisa me dizia que era necessário esperar nesse caso e que... Não era o que estamos procurando, embora... Fosse alguma coisa! – Acrescentou, em um tom de voz mais brando: - Você também sabe o valor de uma intuição, Harry.

Ele respirou fundo, e desanuviou a expressão.

- Desculpe. Você se colocou entre mim e Voldemort uma vez, não tenho dúvidas que sempre faria o que é melhor. Só não omita mais nada, certo?

Ana assentiu, e Harry voltou-se para Carlinhos, que simplesmente declarou:

- Continue defendendo minha irmã e meus sobrinhos assim que eu te perdôo, Harry. – Ele sorriu.

- Quanto a mim, basta me dar seu autógrafo. – Ana entrelaçou as mãos e exibiu a sua melhor expressão de “adoração de fã”, provocando risos na sala.

- Hora do café! – A senhora Weasley declarou, encarregando-se de guiar ela mesma Serenna, a quem conhecia do Orfanato da Ordem, até a cozinha. (1).

Ana passou o medalhão para Lupin examinar, e ele lhe murmurou que seria ótimo ter mais elementos com que trabalhar.

***
Naquela manhã, Filch veio mancando, de bengala (os anos se faziam pesar sobre o zelador), até a mesa da Corvinal. Ele avisou Mel que “aquela ave amaldiçoada dela estava lá fora”. Ainda ouvindo os risinhos de deboche das colegas de Casa – elas se sentiam um pouco mais corajosas quando os amigos da brasileira não estavam por perto – deixou a mesa.

A menina chegou até o pátio interno o mais rápido que pôde, e voltou a tempo de encontrar os amigos nos corredores.

- De quem é? – Josh perguntou, olhando curioso para a carta que ela tinha nas mãos.

- Dos meus pais. – Respondeu animada, abrindo a carta e a lendo enquanto se dirigiam para as salas de aula. – AH, NÃO!!!

- Que foi? – Hector pegou o papel das mãos da amiga, quando ela não respondeu. Preocupado, esqueceu-se que não estava falando com ela. – Credo, que desenhinhos são estes em cima e em baixo das palavras?

Diante de tal falta de informação, Mel reagiu:

- São acentos gráficos e o “cedilha”...

- São o quê?

- Ah, deixa para lá.

- Mas o que te deixou tão surpresa? – Andrew perguntou.

- Meu irmão... – A menina respondeu com uma voz lamentosa. – Ele descobriu que é bruxo.

Alguns segundos se passaram, silenciosos. Até que Josh disse:

- Mel... TODOS nós somos bruxos. O que isso tem demais?

A corvinal corou furiosamente. Não é que não quisesse que o irmão se descobrisse bruxo. O problema é o quê isso significava.

- Olha... Eu estou feliz por meu irmão, realmente estou. – Ela enfatizou a última frase, para fazer entender que não estava com ciúmes do irmão, ou que era egoísta. – Mas é que agora ele vai ter que entrar em uma escola bruxa, e provavelmente... Hogwarts.

- E daí? Hogwarts é a melhor escolha de bruxaria! – Andrew disse.

- Não o quer aqui? – Josh questionou. – Hum... Outro brasileiro que possivelmente vem para cá. É uma invasão, eu disse para vocês! (3)

- Você acha... – Danna começou a dizer timidamente. – Que isso pode prejudicá-lo, não é?

Danna estava certíssima. Com a sua sensibilidade, tinha captado a preocupação da outra menina, mesmo não sabendo do que se tratava. Lipe era descuidado. Iria aprontar muito, se meter em muitas confusões, além de deixá-la maluca. Não sabia se ele seria capaz de agüentar os sete anos de Hogwarts sem quebrar o Decreto de Sigilo sobre os livros, com feitiço inibitório ou não!

- Sim... Não sei como meu irmão iria se comportar sem minha mãe e meu pai o controlando. Ele é um pouco... Irresponsável.

- Ah, que alívio, pensei que fosse o único, no mundo de Mel Warmling, que merecesse esse título! – Hector ironizou, retomando as hostilidades entre os dois.

Aparentemente, o garoto concluiu que não tinha mais interesse na conversa, e, se despedindo dos outros amigos, tomou o caminho de sua próxima aula. Mel bufou, também se dirigindo para a sua aula de Herbologia. Os professores estavam passando muito dever de casa, era melhor se concentrar nos estudos em vez dos chiliques de Hector Lupin.

Ai, e essa agora... Felipe, um bruxo!

***
[Seis meses depois, julho de 2007].

Ao sentir que o avião decolava, Luíza finalmente relaxou, escorregando em sua poltrona. Agora estava fora de alcance de celulares e bips. Nada mais poderia acontecer, como sempre acontecia, e adiar mais uma vez as suas férias.

Estava tentando desde o casamento de Ana. Mas também daquela vez uma crise de segurança em um dos Estados fez com que o serviço de inteligência federal ficasse sob alerta.

No entanto, seu médico havia avisado que estava no limite. A voz do doutor ainda ressoava em sua cabeça, dizendo que só porque tinha uma memória privilegiada, não queria dizer que seu cérebro não precisava de descanso. O neurologista fora claro: férias imediatamente. Isso, ou o colapso total. Ela que escolhesse.

Suas crises estavam cada vez mais freqüentes, com um curto espaço de tempo entre uma e outra. Do jeito que estava, tinha medo de tê-las no meio da rua, sem ninguém conhecido para socorrê-la. Era horrível viver sob a expectativa de perder a noção do que acontecia ao seu redor, a capacidade de entender a mais simples frase... Ficar à mercê de qualquer um.

Mas agora poderia se recuperar. Na Inglaterra, estaria longe o suficiente – em qualquer outro lugar do Brasil ou da América do Sul seria facilmente encontrada pelo governo federal. Não que Luíza fosse insubstituível, apenas... Era alguém que poupava muito tempo e dinheiro para a Agência. Seu chefe imediato vivia dizendo que não precisavam comprar mais computadores com Luíza por perto! Piada sem-graça...

Iria fazer uma surpresa para Ana. Fazia muito tempo que não entrava em contato com a amiga. Parecia que ela tinha sumido do mapa: ninguém sabia dizer-lhe um número de telefone, e os e-mails que enviava para ela retornavam, dizendo que a caixa estava cheia. Onde Ana estava que não acessava seus e-mails? A última carta que recebera fora há alguns meses, e não tinha selo algum. Como o correio a entregou?

A verdade é que estava começando a se preocupar com a amiga. Mas agora poderia descansar e ver como Ana estava. Se visse que ela estava bem, também tranqüilizaria as outras meninas, que igualmente não tinham recebido mais nenhuma notícia de Ana.

Na última carta, há três meses, Ana relatava que estava felicíssima com a sua primeira gravidez. Reclamava um pouco de alteração de humor e muito sono, mas no geral, sentia-se muito bem. Torcia para que tudo continuasse assim.

Luíza fechou os olhos, tentando dormir. Ainda tinha muitas horas de vôo até Londres.

-------
Notas
-------

(1) O Paciente Inglês, da Regina McGonagall.
(2) Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens.
(3) O Paciente Inglês II, da Regina McGonagall.

-------------
(N/A): “Myra” (pronúncia “Maira”) é uma homenagem a personagem, de mesmo nome, interpretada por Bridget Fonda em “A Viagem Mágica” – que conta também com a presença do bonitão Russel Crowe, fazendo o par romântico de Myra.

E caiu como uma luva para a irmã de Myron Wagtail, o vocalista de “As Esquisitonas” (The Weird Sisters – como Shakespeare chama as três bruxas que aparecem em Macbeth).

Curiosidade: “Double Trouble”, uma das músicas mais conhecidas dos filmes, é baseada em um dos versinhos que aquelas criaturas “simpáticas” das bruxas de Macbeth falam.

Só não poderia deixar de explicar que o fato da Ana estar grávida foi “adiantado”. Ela ainda não estava, realmente, quando escrevi os capítulos anteriores. Mas, os gêmeos nasceram (apressadinhos!!!), e a comunicação da gravidez estava ligada ao nascimento deles.

Ah, além das bethagens da Sally e da Regina, ainda por cima eu tenho assessoramento da Trinity nas questões ligadas à gravidez da Ana (sinceramente, eu ando muito chique, não?).
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Post by Regina McGonagall »

Como se bethar o que você escreve (hihi... quem inventou o verbo?) fosse trabalho... :roll:

é a mais pura diversão, isso sim, sem contar que a gente fica sabendo antes, hihi... :mrgreen:

então, só vou repetir o que já disse: ficou lindo, engraçadíssimo, super alto astral, super legal... e com gostinho ainda maior de quero mais!
:palmas :palmas :palmas :palmas
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Post by Trinity_Skywalker »

Bom, eu já comentei esse capítulo lá na Floreios, mas não resisto a deixar uma palavrinha aqui também: vc não anda chic, amiga, vc É chic.... :lol: A sua fic é sensacional, e vc escreve maravilhosamente bem!! Cheia de idéias legais, os personagens novos são cada um melhor do que o outro... Nem tem o que falar...
Só 1 coisinha: Regina, confesso que morro de inveja com a sua "função"... bethar essa fic, ler antes de todo mundo os capítulos novos...ai, que dureza, hein??? :roll: :wink:
Quanto à gravidez da Ana... eu estou adorando dar uma "consultoria"...
Como já disse lá na Floreios: eu é que agradeço!!
Muitos beijos!! :D
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Post by Drusilla_Julli »

Belzinha, vou repetir aqui o que disse no Firewhisky, estou impressionada!! Você definitivamente está de parabéns.

Mais cometários lá no Floreios(meu primeiro comentário no Floreios).

Maíra.
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Belzinha
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Post by Belzinha »

Valeu meninas!
Regina, esse é o famoso "aportuguesamento" das palavras, sabe como é? :lol:
Trinity, eu vou me aproveitar da sua boa vontade e utilizar o seu assessoramento no próximo capítulo... :wink:
Dru, você tem sido maravilhosa! Ter relido as duas fics, nossa! Quanto tempo de leitura foi? Caramba! Fiquei supercontente com os comentários! :D
Lá vai o capítulo 14:


- 14 -
Problemas de Memória


Julho de 2007.
Verão na Inglaterra, e férias escolares.


Os seis primeiros meses do ano de dois mil e sete foram vividos de forma singular para os personagens desta nossa história. Basta dizer que os fatos ocorridos neste período, cuja narrativa não cabe a mim, deixaram profundas marcas, e lembranças que nenhum deles gostaria de reavivar. (1)

Pobre do meu filhinho”, pensava Ana, enquanto alisava carinhosamente o próprio ventre que, protuberante, denunciava os quase sete meses de gravidez. “Nem veio ao mundo e já teve que passar por tudo isso”. Liberando um suspiro, sussurrou bem baixinho:

- Já que esse negócio de ser herói parece ser a sina da família, mamãe vai explicar uma coisa para você, meu amor. Há algo sobre os vilões que você não pode esquecer. Por mais que a gente atire neles, lance-os em um precipício, pique-os em pedacinhos, exploda-os, ou que caiam em um tonel cheio de ácido sulfúrico... Os danados têm o mau hábito de achar um meio de voltar!

Ainda era cedo, mas, ao contrário dos dias anteriores, ela se sentira bem-disposta naquela manhã. Suas costas não estavam tão doloridas como costumavam estar, por causa do peso da barriga.

De pé, no meio de seu quarto, observou o marido, mergulhado no mais profundo dos sonos. O rosto relaxado o fazia parecer um menino.

Carlinhos passara os últimos dois meses acostumando-a mal com o café da manhã pronto assim que acordava, quando ele próprio não o trazia na cama para ela. No entanto, os dragões entraram em época de reprodução, o que significava trabalho triplicado na reserva em Gales. Ana revirou os olhos, resignada e divertida. Não havia mesmo como esperar que seu exausto marido tivesse a mesma disposição de antes: como dizia o ditado popular, “não há Mal que sempre dure, nem Bem que não se acabe”.

Aproximou-se da cama, verificando se o vidro com a poção restauradora contra queimaduras estava cheio. Quando lançou o olhar para o braço enfaixado do marido, torceu o nariz em um misto de preocupação e desagrado. Sabia que Carlinhos amava os dragões, e não se importava com essas coisas. E mais de uma vez os dragões haviam salvo a vida dela e daqueles a quem queria bem. No entanto, quando um acidente acontecia (o que não era raro) e ele voltava com alguma parte do corpo ferida... Aquilo a lembrava do perigo que ele corria todos os dias, e ficava divida entre o orgulho da coragem e força do marido e a vontade de pedir que, pelo amor de Deus, deixasse aquele emprego.

Suspirou novamente, agora tentando se acalmar. Os dragões não tinham culpa. Era o instinto deles. Pelo menos Galton, o “dragão de estimação” de Carlinhos, como ela o chamava para provocar, era jovem demais para entrar em época de reprodução. Além disso, não tinha o direito de ficar tão apreensiva. Ela também não trabalhava na coisa mais segura do mundo, embora estivesse se limitando à parte burocrática por causa da gravidez.

Acariciou levemente o rosto adormecido do marido, vendo com um sorriso ele resmungar alguma coisa sem, contudo, acordar. Com todo o cuidado, saiu do quarto e fechou a porta.

Lá embaixo, o relógio da cozinha lhe informava que tinha tempo de sobra para fazer o café. Lembrou-se de um comentário de Serenna sobre cozinhar do jeito antigo e resolveu matar a saudade da época em que tinha que usar somente as mãos para preparar uma refeição. Continuava com a sua incompatibilidade com o fogão, mas certamente conseguiria preparar algo simples.

Pôs a água para ferver, enquanto buscava o pó-de-café e os acessórios para coá-lo. Ao sentir o cheiro do pó, sentiu seu estômago revirando. Não porque estivesse tendo enjôos – essa parte da gravidez havia passado e, mesmo quando os tivera, foram poucos e bem fracos. Mas seu paladar para café, acostumado à qualidade do brasileiro, ressentia-se do gosto de terra que tinha aquela coisa que os ingleses “ousavam” chamar de café.

E para acompanhar... Pensou nos cafés da manhã na Toca e se pôs a preparar algumas salsichas, depois ovos fritos. “Bárbaros!”, diria tia Bianca, se visse isso. Comer frituras no café da manhã só podia ser coisa de bárbaros, na opinião dela. Na realidade, Ana também não tinha muito estômago para eles àquela hora do dia, mas isso não a impedia de devorar esse mesmo cardápio quando estava na Toca. Bem, hoje ficaria com o pão com manteiga, e deixaria as frituras para o marido – que os devoraria com o costumeiro apetite dos homens Weasley.

- Que cheiro gostoso... – Ouviu a voz de Carlinhos soar atrás de si, arrastada e enrolada por causa de um bocejo.

Ele a abraçou por trás, pousando a cabeça no ombro direito da esposa. Mesmo não podendo ver o rosto dele, sabia que estava com os olhos fechados, como se relutasse em acordar.

- Está cedo ainda. – Informou-o com um sorriso complacente. – Por que não volta para cama e descansa mais um pouco?

- Não – Ergueu a cabeça e a balançou energicamente, tentando afastar o sono de vez. Olhou para o fogão, lançando um olhar cobiçoso para as salsichas.

Sempre se pode contar com o previsível – e constante – apetite dos homens Weasley”, Ana pensou, reprimindo uma risadinha.

- O que vai fazer hoje? – Ele sentou-se na mesa de quatro lugares que havia na cozinha.

- Estava pensando em comprar algumas coisas para o bebê. – Respondeu, colocando o cesto com o pão em cima da mesa. Era sábado e teria mais tempo para ir de loja em loja.

- Ótimo! – Os olhos dele se iluminaram, dissipando os últimos vestígios de sono. – Vou com você.

Ana o olhou seriamente, e franziu o cenho:

- Ah, não! Sei perfeitamente qual é a sua idéia de “coisas necessárias” para o bebê, ou seja, macacãozinhos do Chudley Cannons, e móbiles de Firebolts em miniatura.

- E não se esqueça de berços rosa... – Ele abriu um sorriso claramente provocativo.

- Carlos Weasley! – Ela parou e respirou fundo. – Meu filho não vai dormir em um berço rosa!

- Filha – Corrigiu, alargando o sorriso e exibindo a sua tão característica confiança. Aproveitando que Ana tinha se voltado para ele, segurou sua barriga protuberante, inclinando-se para ela. – Não ligue para a mamãe, princesa. Ela só é um pouco cabeça-dura, mas é legal.

- Eu sou...??? – Ana abriu a boca, começando a protestar. Essa era boa, a Teimosia em pessoa dizendo que “ela” era cabeça-dura!

O casal havia optado por não saber o sexo do bebê antes do nascimento. O problema era que Carlinhos tinha posto na cabeça que era uma menina e andava comprando coisas totalmente femininas para o filho de ambos.

Pensando bem, resolveu não impedi-lo de ir com ela porque, afinal, poderia usá-lo para o quê mais as mulheres procuram em um homem: carregar as suas compras.

- Você pode ir comigo, desde que me prometa que vai parar de comprar coisas de menina para o nosso filho...

- Filha – Ele insistiu sem levantar o rosto das salsichas que devorava, sorrindo quando ouviu Ana bufar.

- Pode me dizer por que, em nome de todos os santos, tem tanta certeza que é uma menina???

- Intuição de pai. – Respondeu, simplesmente.

Após alguns segundos sem que Carlinhos desse mostras de que iria considerar a condição anunciada pela esposa, ele finalmente olhou para a expressão firme de dela e acrescentou:

- Prometo que você vai inspecionar tudo o que eu comprar. Satisfeita?

Ela levantou uma sobrancelha, meditando o que poderia existir atrás das palavras. Afinal, ele não repetira a proposta dela, mas a reformulara em uma outra. Aí tinha.

- Eu vou inspecionar tudo “antes” de você comprar. – Contrapôs, estreitando os olhos como se estivesse negociando com um esperto empresário.

- Feito. – Carlinhos inclinou-se e beijou a bochecha dela, em sinal que o acordo estava selado. Depois de alguns segundos, mudou deliberadamente de assunto. – Alguma novidade quanto ao “caso Lipe”?

O “Caso Lipe” era como tinham apelidado a possibilidade do menino ir para Hogwarts.

- Não, mas deve se resolver ainda hoje. – Ela pegou uma fatia de pão e passou manteiga nela. - McGonagall tem uma reunião com o Conselho Escolar e quando sair de lá, já terá uma resposta. O ano letivo começou em fevereiro, no Brasil, mas como Felipe ainda não tinha onze anos...

- Mas ele prefere ir para Hogwarts, não é?

- Carlinhos... – Ana sorriu, complacente. – Todo mundo gostaria de ir para Hogwarts!

***

Hermione corria. A escuridão a envolvia e, no primeiro momento, a única coisa que estava em sua mente é que a perseguiam. E o terror que sentia de seus perseguidores era tão grande que não se permitiu questionar suas ações.

Correr. Eles não teriam misericórdia. Correr. Sentiu o chão de terra em seus pés. Não a deixariam falar. Se ao menos pudesse usar seus poderes para se defender... Não! Não poderia fazer isso. Correr, correr, correr.

A escuridão recuava o suficiente para que silhuetas de árvores fossem vistas. Eram fanáticos, ambiciosos ou ambos. “Quem?”, sentiu algo dentro dela gritar e reconheceu a si mesma, mas a reação tinha sido interna, como se sua consciência estivesse com esta pessoa que agora corria, que era ela, mas, ao mesmo tempo, não era.

Em reposta “ela” apenas aumentou a velocidade. A atenção de seu eu-alheio estava além dela mesma. “Eles” não hesitariam em tirar a vida de um ser humano, por mais indefeso que fosse.

A fuga alucinada durou muito tempo, até que o local onde tinha chegado lhe pareceu familiar.

Deu mais alguns passos e se viu diante de água. Muita água. Não se podia ver além de alguns metros por causa de um denso nevoeiro que encobria tudo. Mas Hermione sabia que era um lago e, apesar da aparência sombria do lugar, sentiu-se em casa.

Sons de cães. Ó, pela Deusa, os cães haviam achado seu rastro. Instintivamente, apertou mais o embrulho que tinha nos braços. O seu “eu-interno” não havia percebido que o carregava, mas, de repente, era como sempre soubesse. Olhou para seu pequeno fardo e viu o rosto de um bebê. No segundo seguinte, os cabelos negros se transformaram em ruivos e o rosto... Ó não! Era Sirius!

O desespero tomou conta de Hermione completamente. Tinha que salvar seu filho. Apressou-se para um dos barcos de madeira, depositando o filho nele. Já não tinha o rosto de Sirius, mas o do outro bebê moreno. Não importava: sabia que era seu filho, tinha que leva-lo para longe.

Ou o matariam.

Sentou-se no barco e remou com todas as suas forças. Os cães chegaram à margem. Não podiam mais seguir seu cheiro por causa da água, mas os cavaleiros que deviam estar vindo não demorariam a concluir que ela entrara na água e a seguiriam. Mesmo com o nevoeiro e não podendo enxergar nada. A menos que...

Ó, pela vida de um inocente... Somente mais uma vez, eu imploro! Dê-me o poder, Mãe!


Hermione acordou banhada em suor. Ainda podia sentir o coração batendo e a garganta apertada de tanta angústia. Com cuidado para não acordar o marido, foi até o quarto de Sirius. Precisava ver se ele estava bem.

Encontrou-o dormindo tranquilamente, a barriguinha para cima, o rosto virado para um lado. Sorria, parecendo sonhar com algo feliz.

Ela finalmente relaxou. Ao levar às mãos a próprio rosto, percebeu que estivera chorando.

Foi um sonho”, disse a si mesma. “Só um sonho ruim”.

***

A cidade de Cambridge é famosa pela história acadêmica e pela beleza de sua paisagem. No passado, o intenso comércio a enriqueceu a ponto de, no século XIII, assumir o papel de novo centro universitário. Por isso, nas épocas de férias ficava praticamente despovoada.

Os “colleges” recobertos de vegetação, alinhados ao longo do rio Cam, sempre tiraram o fôlego de quem os contemplava, mas Cambridge e seus arredores estavam especialmente atrativos naquele verão. Sorte para os Lupin, que moravam em um simpático chalé, um pouco afastado da cidade, quase nos limites com as depressões e os pântanos dos quais os mercadores do passado se desviavam para seguir em suas rotas de comércio.

Lá, eles tinham a visão privilegiada da cidade, com a vantagem de estarem cercados das árvores do bosque em vez dos extensos gramados verdes ou de prédios.

Remo Lupin sabia que a casa estava quieta demais. Nenhum som de Tonks quebrando ou tropeçando em algo, e nem de Hector aprontando alguma. Ele tinha se distraído por algumas horas com o objeto que estava estudando. Então, uma espécie de alarme interno tocou, dizendo-lhe que a vida na sua casa não podia ser tão silenciosa.

Estava prestes a verificar o que estava acontecendo quando o fogo se acendeu na lareira. As chamas se tornaram verdes. Segundos depois, a cabeça de um jovem moreno e de bochechas rechonchudas apareceu entre elas.

- Longbotton! Que bom te ver, meu rapaz!

Neville sorriu, ainda que encabulado, diante das boas-vindas de seu antigo professor. Remo Lupin ganhara sua estima desde o dia em que tratou de seu pior medo na infância – Snape - de forma tão sensível. Não é preciso explicar tal passagem para nós, os fãs, não é? Basta dizer isso: Bicho-papão Snape vestido como a senhora Longbotton.

Depois de ficar alguns meses no vazio das lembranças da Segunda Guerra Bruxa, Neville finalmente seguiu a carreira de Herbologista. Agora, o jovem ex-grifinório tinha praticamente uma vida de nômade. Seu entusiasmo pelo assunto o fazia viajar para os mais diferentes cantos do mundo, aprendendo tudo o que podia sobre as plantas mágicas. O difícil era mandar correspondência para ele, mesmo se considerando os meios de comunicação bruxos, uma vez que estava sempre indo de um lugar para o outro.

- Igualmente, professor! Desculpe aparecer assim na sua lareira – O rapaz pareceu ainda mais acanhado. - Mas é que somente hoje recebi a sua carta.

- Não tem problema, Neville. – Lupin assegurou. – Como estava a Lituânia?

- Fria – o outro respondeu sinceramente. – Em compensação, eles têm um trabalho bem desenvolvido com plantas de bosques mágicos... – Neville se interrompeu subitamente, percebendo que tinha sido uma pergunta educada, e Lupin não queria saber sobre as plantas anfíbias dos pequenos lagos lituanos. – Bem, eu estava analisando o desenho que me enviou e...

Lupin havia feito uma reprodução dos altos relevos que estavam medalhão que Ana tinha achado, meses atrás.

- E? – Incentivou o rapaz, em uma expectativa mal-contida.

- Embora as flores que servem de contorno para a gravura realmente dêem a impressão de serem orquídeas... E posso entender porque olhos destreinados chegariam a esta conclusão... – Ele enrubesceu. – Desculpe, professor...

- Não, tem razão, eu realmente não sou especialista. Você não disse nada de errado. – Lupin tranqüilizou-o, querendo que ele contasse logo o que tinha descoberto.

- Bom... – Neville limpou a garganta. – A verdade é que esta flor do desenho tem algumas diferenças definitivas em relação às orquídeas. Estas são flores nativas da Floresta Amazônica.

O ex-professor suspirou profundamente, como se sua última esperança tivesse ido embora.

Lupin havia vislumbrado uma possível interpretação dos símbolos gravados no objeto, caso fossem realmente orquídeas. No entanto, algo lhe dizia que não seria tão fácil assim. Tudo naquele medalhão era confuso, e não seriam as fontes costumeiras que lhe dariam as respostas.

- Era isso que eu temia... Mas simplesmente não faz sentido! – Falou em voz alta, mais para si mesmo do que para o rapaz. - Sentido nenhum!

- Sim... – Neville concordou timidamente. – Mesmo não entendendo do assunto, consigo ver que a combinação de símbolos é bem maluca. Mas não tenho dúvidas que a flor é amazônica. Passei muitos meses do meu período de colaboração com o Centro Rio Negro vendo essa mesma planta todos os dias.

- Conhece alguma história de passagem de povos celtas pelo lugar?

- Infelizmente não, professor. Não é minha área... – o rapaz ergueu os ombros. – No entanto, se quiser, eu posso entrar em contado com alguns dos professores do Centro Rio Negro.

Lupin agradeceu e aceitou a oferta. Despediu-se do ex-aluno e o convidou para jantar na casa deles, qualquer dia desses. Imaginava que, se Augusta Longbotton não havia mudado, isso queria dizer que o rapaz não esperaria muito para planejar a próxima viagem para bem longe da casa da avó.

Desde que Ana lhe entregara o medalhão, tivera uma sucessão de mais insucessos do que êxitos. Então, havia resolvido pedir a ajuda de Neville, cujo resultado ele tinha acabado de receber. Se não tivesse certeza da autenticidade do objeto, iria dizer que alguém resolvera fazer uma brincadeira juntando o emblema de Ravenclaw, símbolos celtas e plantas tropicais.

Mas o que o estudo daqueles símbolos celtas revelou o preocupava, e muito. Por isso não desistiu de decifrá-lo.

Em um dos lados do medalhão, primeiro plano, havia nós celtas representando uma garça. Lupin sabia que a garça era o símbolo da “Senhora do Lago”, mas também significava tanto mudança quanto punição por decepção. As bordas estavam recobertas com pequenos pentagramas unidos uns aos outros. Era uma clara referência à conexão entre extremos. O fundo da gravura era uma espiral no sentido anti-horário, representando o sol de verão.

Na outra face, o fundo era o oposto, ou seja, a espiral em sentido horário, o sol de inverno. Nas bordas, como uma moldura, havia folhas e flores, as mesmas que Neville disse serem de uma planta amazônica. E, é claro, o corvo. Estava um pouco modificado, evidentemente para imitar a posição da ave no emblema de Rowena Ravenclaw. No entanto, os nós que o representavam eram os mesmos.

Lupin sentiu um arrepio na espinha ao pensar no significado do corvo: a Deusa Morrigan. Deusa da guerra e... da morte.

Esperava que aquilo não fosse um aviso. Mas do pouco que sabia sobre a cultura celta – o que tinha restado dela -, acreditava que seus desejos não seriam atendidos.

Por Merlim, o que eu estou fazendo com esta coisa em casa, então?”, a idéia o atingiu como um raio. Se fosse uma pessoa sozinha, como antes, então não teria problemas. Mas agora tinha Tonks e Hector. Nunca se perdoaria se acontecesse algo com eles.

Resolveu guardar o medalhão em uma gaveta com fechadura que tinha na escrivaninha de seu escritório, mas não encontrou a chave. Tonks havia limpado a sala e devia a ter posto em outro lugar. Mesmo exasperado, sorriu com a idéia. Só mesmo Tonks para por uma chave fora de sua fechadura.

Pôs o objeto na gaveta, mesmo assim. Iria ficar ali por pouco tempo, de qualquer forma. Agora, a primeira coisa a fazer era repassar o que descobrira.

Inclinando-se para a lareira, jogou um pouco de pó-de-Flu. Joelhou-se e pôs a cabeça dentro dela.

- Olá, Harry. – Disse, tentando por na voz uma entonação despreocupada que estava longe de sentir. – Acho que não tenho boas notícias...

***

Hector sabia que tinha sido exatamente assim que as coisas começaram no ano anterior. Tinha ouvido uma conversa que não deveria ouvir e simplesmente não conseguiu evitar meter-se onde não era chamado.

Sua mãe e ele estavam na parte dos fundos da casa, desgnomizando o quintal. Bem, pelo menos tinham tentando. Aquelas criaturinhas eram atraídas por lugares com árvores e plantas mágicas, por isso sempre apareciam nos quintais e jardins dos bruxos. Como nem Lupin ou Tonks fosse do tipo de ser lembrar de podar o jardim... Bem, as plantas mágicas tinham crescido e se espalhado pelo quintal todo, o que atraíra uma quantidade enorme de gnomos.

Essa era a razão do silêncio de ambos naquela manhã.

A princípio, ele e a mãe haviam acreditado que dariam conta sozinhos. Os pestinhas estavam muito bem escondidos entre as folhas e as pedras, e os bruxos não perceberam que eram tantos. Mas foi só começarem a caçá-los e centenas de corpinhos minúsculos com cabeças grandes e carecas começaram a correr de um canto para o outro.

Tonks tentou ao máximo não pedir ajuda ao marido. Tinha certeza que iria ouvir um sermão sobre a manutenção da casa – e ela seria obrigada a lembrá-lo que não era a única a se esquecer da desgnominização, é claro. Mas, quando o quintal ganhou a aparência de um formigueiro fervilhando por causa da agitação dos gnomos, foi obrigada a reconhecer que Hector e ela não dariam conta.

Mandou Hector chamar o pai, enquanto ela impedia que as criaturinhas, em sua corrida para escapar, procurassem abrigo dentro de casa. Quando o garoto entrou e encontrou o pai conversando baixinho com Harry pela lareira, com aquela expressão cansada no rosto, teve certeza que “tinha” que ouvir.

Sua mãe havia contado que antes de conhecê-la o pai vivia com aquela mesma expressão. Era o rosto da solidão, dizia Tonks. Quando alguém estava tão sozinho e desesperado que era difícil achar motivos para sorrir. Hector tinha visto o pai daquele jeito poucas vezes na vida, e não gostava quando isso acontecia.

Ouviu a conversa com espanto crescente. Ainda estava meio atordoado com tantas informações detalhadas quando Lupin se despediu do ex-aluno e fez menção de voltar em direção do corredor, onde Hector estava escondido. O garoto acordou com o susto de ser pego escutando conversa alheia, e, retrocedendo alguns passos, fingiu que estava acabando de chegar.

O pai estranhou seu jeito assustadiço e perguntou o que estava acontecendo. Mas, é claro, Hector tinha na “Revolta dos Gnomos”, recém-iniciada no quintal, uma boa desculpa para a sua cara de culpa. Lupin sorriu ao ouvir a história, parecendo remoçar uns dez anos.

Fingindo que iria procurar seu gato, Ferdinando, para ajudar a caçar os gnomos, deixou o pai ir na frente. Não perdeu tempo em entrar no escritório para procurar o tal medalhão. Tinha ouvido-o comentar com Harry que o objeto estava guardado lá.

Na visão de Hector, seu pai tinha pouquíssimos defeitos. Mas um deles era ser previsível. Ele sempre guardava as coisas que não queria que o filho pusesse as mãos em uma gaveta da escrivaninha. Gaveta essa que ele sabia que estava sem chaves, porque Ferdinando a tinha engolido no dia anterior. Não quis entregar o bichano, então, estava esperando para... Bem, reaver a chave assim que o gato a “digerisse”.

Pegou o medalhão e observou os estranhos desenhos. Tinha que ter uma cópia deles! Mas como?

Então, lembrou-se de uma vez que Mel havia pego um pedaço de papel e, com um lápis, começou a riscar por cima dele para copiar o desenho que estava gravado em uma das pedras do relógio de sol. Quando perguntou por que estava fazendo aquilo, ela disse que iria manda para o irmão: “Este é o exato local onde a cabeça de Draco Malfoy bateu, quando recebeu um soco de Hermione Granger, em 1993!”, ela dissera, com um sorriso.

Resolveu fazer o mesmo. Pegou papel e lápis da escrivaninha do pai, e fez duas cópias dos dois lados do medalhão. Uma, ficaria com ele. A outra, ele enviaria para Andy. Com certeza, o amigo iria ajudá-lo a tentar descobrir mais coisas. Afinal, foi graças a Andrew que descobriram grande parte das coisas sobre o espião em Hogwarts, no ano anterior.

***

Ana e Carlinhos haviam percorrido várias das lojas do Beco Diagonal, buscando coisas para o bebê. Tinham demorado mais do que o necessário porque frequentemente ficavam “babando” enquanto observavam uma roupinha, um brinquedo ou toalha, imaginando seu bebê os usando.

Não demorou muito para ela descobrir o que seu marido tramava quando fez aquela promessa, ainda em casa:

- O que acha desse travesseirinho, querida? – Mostrou um cuja fronha exibia magicamente corações batendo, alegres margaridas girando e borboletas batendo asas. Tudo sob um fundo lilás.

- Não – Ela foi categórica.

Carlinhos não alterou o bom-humor, como se não tivesse ouvido a negativa da esposa. Continuou olhando para o pequeno travesseiro com ar de adoração e disse à vendedora que iria levar. Quando Ana lhe lançou um olhar de incredulidade, limitou-se a dizer:

- Eu prometi que iria te mostrar tudo antes de comprar. Não que não iria comprar se você não aprovasse.

Bufou. Se era guerra que ele queria, guerra era o que ele iria ter. Tivera toda uma conversa com Gina e Hermione sobre como funcionava a mente de um Weasley, e ela acreditava saber uma ou duas coisinhas para lidar com a teimosia do marido.

À medida que a manhã foi passando, Ana podia dizer que havia conseguido manobrar as coisas de modo que a maioria dos itens fosse “neutro”. Alguns itens cheios de lacinhos tinham escapado, mas era de se esperar, tendo um marido tão obstinado. Era uma mulher compreensiva, e sabia que tinha que respeitar individualidade e as opiniões de seu esposo.

Mais tarde tiraria os lacinhos, é claro.

Finalmente, o item de maior polêmica: o berço.

Mal entraram na loja, depararam-se com uma figura há muito tempo desaparecida em suas vidas:

- Carlinhos! – A voz enjoativa de Felícia Althorp se fez ouvir às suas costas.

Carlinhos se virou para cumprimentá-la, mas Ana precisou de mais alguns segundos para respirar fundo e reunir paciência. “Lembre-se, você é uma dama”, repetiu para si mesma.

- Eu tenho novidades: - Felícia anunciou. - Vou me instalar definitivamente em Londres! Não é ótimo?

- Er... – Carlinhos ficou sem fala por alguns instantes. – Nós também temos novidades, não é, meu amor? – Ele se dirigiu a Ana, puxando-a para seu lado.

Só então Felícia se deu conta da presença de Ana. Aliás, ela “nunca” percebia a presença da esposa de Carlinhos, como se ela não fosse coisa valiosa o suficiente para ser notada.

- Advinha – Ele disse ao mesmo tempo em que Felícia descia o olhar, com horror, para o ventre protuberante de Ana. – Estamos grávidos!

O evidente tom de orgulho na voz de Carlinhos deve ter feito mal à Felícia, porque ela ficou subitamente pálida.

- Posso ajudá-los? – Um dos vendedores se aproximou.

Carlinhos começou a explicar ao homem que estavam procurando um berço e o vendedor pediu que o acompanhassem até o outro lado da loja. Pedindo licença, o tratador de dragões se despediu de Felícia, dando-lhe as costas. Ana ia segui-lo quando sentiu que a outra lhe segurava o braço.

- Fez isso de propósito. – Felícia disse entre os dentes, de modo que não pudessem ser ouvidas pelos dois homens que se afastavam, sem perceber que Ana não os seguia. – Engravidou para prendê-lo a você.

Sentiu o bebê chutar fortemente em seu ventre. Seu filho devia estar dizendo que não gostava daquela mulher. Se fosse isso, não podia culpá-lo: ela mesma daria um pontapé naquela loira, se pudesse.

- A única coisa que nos prende um ao outro é o imenso amor que sentimos. – Aproximou o rosto e estreitou os olhos perigosamente. - Não quero e nem preciso forçar um homem a ficar comigo. Não julgue o resto da humanidade por você.

Libertou seu braço com brusquidão e seguiu para o canto da loja onde estavam os berços. Apressou-se e tentou fingir que nada havia acontecido, mas Carlinhos percebeu que ela não o seguira imediatamente. Daí para concluir que tivera um desentendimento com Felícia foi fácil.

O marido sorriu e a puxou para si carinhosamente, murmurando em seu ouvido: “Aposto que acabou com ela!”. Depois dessa, Ana teve que rir.

O vendedor que os havia atendido apareceu com um berço flutuante atrás de si, comentando esse era exatamente como Carlinhos havia pedido. Ao ver o móvel, ela não conseguiu disfarçar uma exclamação entre desgostosa e divertida.

- O que foi? – Carlinhos defendeu-se. – Não é rosa. É colorido.

Realmente, não era só rosa. O berço tinha tonalidades de rosa, azul, lilás e verde-água, em uma combinação que fazia o móvel parecer ter saído de um dos filmes da “Barbie”.

- Teria um berço todo branco, por favor? – Perguntou ao vendedor simpaticamente, ignorando os resmungos do marido sobre os gostos trouxas que ela insistia em ter.

***

Rampell já estava no apartamento deles quando voltaram. O velho elfo doméstico explicara muito animadamente que sua mestra o havia mandado, porque “jovem mestra Ana vai ter um bebê em breve e não pode se cansar”. E, sempre que Rampell era mandado para lá, Ana nunca conseguia manda-lo embora sem temer que o elfo se desmanchasse em lágrimas.

Teria que ter uma conversa séria com a tia-avó mais tarde. Desse jeito, iria acabar sendo expulsa da F.A.L.E.

A campainha tocou.

- Deve ser a Serenna. – Ana disse, indo abrir a porta. – Combinei de ela vir almoçar aqui, com os filhos.

- Oh – Carlinhos não conteve uma exclamação de desgosto, ainda que tenha tentado disfarçar. – Snape também vem?

Ana lançou um olhar carrancudo para o marido, mas sabia que as reações das pessoas à Severo Snape haviam feito um progresso e tanto, por isso resolveu não exigir demais.

- Não. Parece que Snape queria mostrar algum lugar relacionado à família deles ao Alan. Os dois foram viajar e só voltarão na segunda-feira.

Ninguém que Ana conhecia e que soubesse quem Severo Snape era – sendo trouxa ou bruxo -, aceitava com tranqüilidade aquela história do Snape ter achado uma irmã-gêmea perdida no Brasil. (2)

Mas era verdade. Ela mesma havia comprovado a veracidade dos fatos. E tinha ido várias vezes ajudar a irmã-gêmea de Snape – e agora sua amiga - a encaminhar as questões legais de sua mudança para a Inglaterra.

A moça havia sido criada como uma trouxa por uma família brasileira. E, como Sarah Laurent – o nome que recebera deles – crescera cercada de amor, mas sem conhecer sua origem trouxa.

Serenna tinha adotado duas crianças, também brasileiras. Aline e Léo eram muito inteligentes e seus comentários sobre o “tio” sempre a divertiram. Ana ousava dizer que, além da própria Serenna, eles eram os únicos capazes de dizer qualquer coisa a Snape sem temer um Avada. Claro, havia Alan, mas nunca tinha visto o menino provocar o pai adotivo, então não sabia como o velho professor de Poções agiria.

Ana abriu a porta com a certeza de que veria Serenna e seus filhos do outro lado. Enganou-se.

- Surpresa! – Luíza exclamou sem-jeito, ao notar o espanto da amiga.

De repente, para Luíza, surgir sem ser avisada não era mais uma boa idéia. Devia ter dado um jeito de avisar Ana antes de deixar o hotel. Como, ela não sabia, já que ninguém sabia o número de telefone dela.

Segundos depois de a amiga abrir a porta, já estava pensando em um jeito de se desculpar, mas o inacreditável aconteceu: um estranho animal de orelhas pontudas e olhos esbugalhados apareceu na sala, cantarolando, com mil panelas e travessas fumegantes flutuando atrás de si. Ouviu um grito estrangulado e percebeu que ele havia saído de sua própria garganta.

Ana lançou um olhar por sobre os ombros e compreendeu o quê tinha assustado Luíza. Merlim! Rampell era um elfo doméstico acostumado a não se esconder. Possivelmente a velhice também contribuía para que ele ficasse descuidado.

- Lú! – Pálida, Ana sorriu como se nada tivesse acontecido e, abraçando a amiga, puxou-a para dentro, fechando a porta atrás de si. Tinha que agir rápido. – Quanto tempo!

Carlinhos pôs-se de pé, em alerta, seu rosto passando de Ana para a outra brasileira com preocupação.

- O q-que é... era... – Luíza gaguejava, enquanto o elfo murmurava um “ops!” e desaparecia.

- Um elfo doméstico. – Ana respondeu, dizendo em seguida: - Desculpe, Lú, tenho que fazer isso...

- Isso o quê? – A voz de Luíza saiu entrecortada, enquanto ainda olhava horrorizada o lugar onde Rampell havia estado.

- Isso – Pegou a varinha e apontou para ela. – “Obliviate!

Um raio de luz brilhante saiu da ponta da varinha de Ana, indo chocar-se contra Luíza. A Auror escondeu rapidamente o objeto mágico, enquanto esperava a amiga se recuperar. Mas Luíza recuou até a parede, em um típico movimento de medo:

- O que você fez? – Ela olhava de Ana para Carlinhos, apavorada. – O que isso tudo significa?

Ana não podia acreditar. O feitiço de memória não tinha funcionado!

----

(N/A): Sem grandes comentários dessa vez, mas tenho certeza que muito de vocês já devem ter entendido onde quero chegar. Aqueles que já leram um certo livro ou então um certo filme... Bem, bem. Ainda haverá mais pistas.

Em breve vou postar lá no Espaço MSN dicas, para quem ainda não descobriu.

Agora o “pano de fundo” foi estendido e a fic vai parecer mais “potteriana”. Ou seja, a fase “zen” passou.

Beijos para todos vocês, e espero que estejam aproveitando o verão!


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Notas
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(1) Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens.
(2) O Paciente Inglês, da Regina McGonagall.
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Carlinhos Wesley
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Post by Carlinhos Wesley »

Eu gostaria de saber como se consegue os itens e como eu vou chegar a ser auror
:?: :?: :?:

E muito boa a tua estoria estou acompanhando deus de andes de me cadastrar.
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Anne Moire*Ptit Fée
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Post by Anne Moire*Ptit Fée »

tô adorando sua fic de montão!!!!! quero ler o final plixxxxx! continua :!: kisses :D :wink: :mrgreen: :palmas
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Post by Krys Granger Weasley »

Oiii!!!! como você escreve tão bem? sua fic está simplesmente MARAVILHOSA!!!! :palmas tô adorando;amei sua fic anterior: O segredo de sonserina. Espero que continue escrevendo outras fics.
plix não demora pra postar o próximo cap :P

Bjus!!!!!!!!!! :wink:
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Post by Louko Lockhart »

Você deve ter se inspirado em meu estilo extasiante, com certeza.

(Depois me conte qual de meus livros é seu favorito!)

Por isso, merece um prêmio especial: minha foto autografada!

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Venha, brinque comigo você também!
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Post by Regina McGonagall »

Nossa, belzinha! Tá podendo hein...

Mas... Sr. Louko, de novo usando meu nome sem autorização?

viximaria... #-o
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Post by grayback »

8) Oláaa devo dizer primeiramente que adorei o nome do irmão da Mel!!! que por acaso e meu nome!!! e segundo estou adorando sua fic elá e ooooooooootíma!!! postá logo senão vamos acabar morrendo de curiosidade!!! :P
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eu adoro essa coruja!!!
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[B]CADE O PROXIMO CAPITULO!!![/B]

Post by grayback »

:D :D :D Oieeeee !!! e ai td bem??? vamos lá belzinha estamos aki loucos para saber o que vai ter nos proximos capitulos!!! sua fic e demaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai!!! 8) 8) 8)







:oops: esqueci de falar !!! fiz uma comu no orkut para aquela que foi a batalha mais emocionante que eu já pude imaginar... a Batalha dos Dragões deixei o link da comu nos topicos das comunidades da sally e da belzinha!!!

vlw gente fuuuuuuuuuuuuui!!! :wink:
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Post by Lize Lupin »

Mais um lugar p/ comentar as fics da Bel!Muito bem,vc escreve cada vez melhor,querida,parabéns!Espero por atualização.
Beijos,
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Post by Anne Moire*Ptit Fée »

você quer nos matar do coração?
estou louca pra saber o que vai acontecer.
Afinal vai ser menino ou menina?

plix posta,posta,posta,posta!!!!!!!!

100000 bjus. :wink: :mrgreen:
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Post by Belzinha »

Muito, mas muuuuuuuuuito obrigada Karyna Morais, Carlinhos Wesley, Krys Granger Weasley, Louko Lockhart (ai, essa foi boa!), Regina McGonagall (minha ídola!!!)e grayback (nossa e eu achando que aquela cena da Batalha dos Dragões seria o maior mico da História das fics! Hehehe).
Valeu mesmo gente (e um abraço especial pro pessoal do meu Estado, hehehe).

***

Capítulo 15
Revelações Preocupantes


Harry não estava conseguindo entender. Ele estava de pé no meio da sala de Carlinhos e Ana, junto com uma quantidade considerável de membros da Ordem da Fênix sem saber, contudo, o porquê de ter sido chamado até ali.

Claro que ALGO estava acontecendo. Havia uma moça desconhecida deitada no sofá, sua cabeça pousando no colo de Ana, enquanto a aurora segurava preocupadamente as mãos dela. Era evidente que a estranha não estava passando bem, devido a palidez excessiva e ao modo como mantinha os olhos firmemente fechados.

Além disso, todos haviam se retirado para um canto, sussurrando tão baixo que Harry mal conseguia distinguir duas palavras em cada dez. Desde que chegara, fora impedido de abrir a boca até mesmo para questioná-los sobre aquela situação esquisita. Eles faziam sinais de que ele deveria fazer silêncio absoluto.

Registrou vagamente também a presença de duas crianças, que ele sabia serem os filhos de Serenna Snape, irmã de Severo Snape (1). Eles estavam quietos como estátuas, os olhinhos arregalados enquanto observavam tudo, sentados em poltronas em lados opostos. Se perguntou se eles, pelo menos, estavam sabendo mais do que ele sobre tudo aquilo.

Carlinhos, Lupin e Tonks falavam um atrás do outro, mais com gestos do que com palavras, enquanto Quim permanecia calado, tão confuso quanto ele próprio. Mas o tempo estava passando sem que o caso fosse esclarecido. Já estava ficando ridículo.

- Eu não estou entendendo o que estão me dizendo! – Harry achou melhor sussurrar também, embora o tenha feito em um tom ligeiramente mais alto que o dos amigos, o mínimo para ser compreendido.

Mal pronunciara a frase e a moça no sofá emitiu um gemido de pura angústia, dobrando-se sobre si mesma, enquanto apertava a cabeça com as mãos.

Uma cruciatus! Era exatamente esta reação que as pessoas tinham sob aquela maldição imperdoável. Impossível esquecer-se, quando a vira sendo aplicada tantas vezes durante a guerra, nele ou em companheiros de batalha.

Foram segundos apenas até se dar conta que não era o que imaginava. Se magia estivesse envolvida, ele teria sentido. Podia detectar o uso de magia com a mesma facilidade com que um cão fareja odores. Especialmente magia negra. Uma habilidade que deveria “agradecer” a Voldemort.

Mas então o quê...???

Ana, que abraçara protetoramente a desconhecida, apertava firmemente os lábios como se palavras de conforto estivessem a ponto de sair de sua boca e ela não se atrevesse a dizê-las. Em seguida, olhara carrancuda para os demais ocupantes na sala, fazendo um gesto muito claro com o braço direito para que eles fossem para cima.

Carlinhos assentiu com a cabeça e subiu as escadas, sendo seguido pelos demais. Ainda atônico, Harry foi junto, vendo a mulher misteriosa ir se acalmando e voltar à anterior imobilidade. Tonks também ficou olhando para a moça enquanto subia e quase tropeçou nos degraus.

O cunhado só parou quando chegaram ao terraço. Ainda assim, ele manteve o tom baixo de voz quando falou:

- Qualquer frase ou palavra desencadeia aquela reação que você viu, por isso não podemos falar perto dela.

- E quem é a moça, afinal? – Harry perguntou.

- Não sei se lembrará dela. Esteve no meu casamento, foi uma das madrinhas.

Harry franziu o cenho, tentando se lembrar.

- É... Agora que falou acho que recordo... Mas o que aconteceu? Deve ser grave para a Ordem ser acionada.

- Bem, a Ordem não foi acionada. – Tonks esclareceu. - Não a princípio, pelo menos.

- Notei que os filhos de Serenna estão lá em baixo... Snape está envolvido de alguma forma nisso? – Ele estreitou os olhos.

- Não, ela chegou pouco depois da tentativa de lançar um obliviate. – Carlinhos afastou a suspeita de Harry. – Está nos ajudando desde então, e agora está na cozinha, fazendo um chá calmante para Luíza.

- Tentativa de obliviate? Quem tentou apagar a memória de quem?

Instintivamente, ele procurou pelo olhar de Lupin, como se só seu antigo professor pudesse acabar com aquela expectativa e lhe dar respostas plausíveis.

- É uma longa história. – Remo disse, começando a narrar os eventos.

***

[Flashback – Algumas horas atrás]:

É curioso como as coisas aconteceram naquele dia.

Imaginem que Luíza se deparara com um elfo doméstico e, ao mesmo tempo, com um casal de bruxos! E não era um casal de bruxos qualquer, se tratava de uma das suas melhores amigas e o marido.

Tentara fugir quando o segundo raio luminoso saíra da varinha de Ana e se chocara contra ela. Aquilo não lhe fizera dano, mas mesmo assim correra, é claro. Não é algo que um trouxa considere “normal”, afinal de contas. Correra, sendo paralisada por um feitiço de petrificação prontamente lançado por Carlinhos.

Doera em Ana ver o terror nos olhos de Luíza. Não era um mostro ou uma aberração para ser temida. Tentara apagar a memória dela com um obliviate, coisa que qualquer bruxo sensato do mundo, em condições para tanto, faria. Mas o feitiço não funcionara. Por duas vezes!

Não sabia o que poderia ter dado errado e chegou até mesmo a sugerir que Carlinhos tentasse, o que foi prontamente descartado por este: feitiços de memória eram extremamente perigosos, e ele não era um Auror treinado. Nunca precisou usar um para lidar com os dragões.

A palavra “dragão” provocou um piscar de olhos ainda mais terrificado de Luíza. Apesar dos dois fazerem de tudo para que a moça se acalmasse, parecia que não estava dando certo.

A campainha tocou. Tinham até mesmo esquecido que esperavam Serenna, a irmã de Snape. Ana abriu a porta para que ela e seus dois filhos entrassem, falando resumidamente o que tinha acontecido à outra mulher. Serenna chegou a se oferecer para voltar outra hora, mas Ana a impediu e pediu que ficasse a os ajudasse a acalmar a amiga. A outra brasileira, que tinha longa experiência no serviço social trouxa, certamente seria de grande ajuda.

- Vocês a petrificaram! – Serenna protestou em tom de censura, assim que viu Luíza.

- Eu tive que fazer isso. – Carlinhos se defendeu com um levantar de ombros impotente.

- Está certo, mas vocês não podem sair por aí lançando feitiços nas pessoas e esperarem que elas não reajam, não é mesmo? – Serenna pontuou calma e sabiamente.

Ana reconheceu que Serenna tinha chegado ao cerne da questão. Bruxos simplesmente lançam feitiços e esperam que tudo esteja resolvido em poucos segundos, mas o resto da humanidade precisa desesperadamente que o mundo faça sentido. Por isso, resolveu lidar com aquilo ao modo trouxa: explicando.

- Amiga – Ana começou a falar em português, o tom decidido e afável ao mesmo tempo. – Lembra do Harry Potter? A história do menino bruxo? É real, Lú. Tudo. A criatura que você viu ainda a pouco era um elfo doméstico. Como aquele de um pôster que tinha no meu apartamento, lembra? Vou chamá-lo, para que você possa vê-lo novamente. Rampell!

O elfo apareceu na sala com um “ploc!”, parecendo tão culpado quanto um menino que havia sido pego fazendo traquinagens.

- Elfo mau! – Graniu Rampell, lamentoso. – Assustou a amiga de jovem mestra e feriu a lei dos bruxos! Rampell merece um castigo! Vai se atirar do prédio mais alto, da cidade mais alta...

- Eu te proíbo, Rampell! – Ana ordenou apressadamente, enquanto Carlinhos segurava os dedos élficos a tempo de estalarem, fazendo a criatura sumir. – Elfos são um pouco... “sensíveis”, sabe? – Ela explicou para a amiga. – Pode voltar para Smith House, Rampell. E não se preocupe, você não fez nada de errado.

A criaturinha fez um sinal compungido de compreensão e, com um estalar dos dedos já libertos, sumiu com mais um “ploc!” ressoando no ar.

Ana podia sentir que Luíza estava deixando a histeria de lado e se rendendo aos fatos. E o mais importante: ela não sentia mais medo. Além de finalmente ter tido uma explicação, a censura de Serenna por a terem petrificado, somada à atitude lamentosa e submissa de Rampell haviam demonstrado que ninguém queria machucá-la.

- E então moça? Podemos te soltar? – Carlinhos perguntou gentilmente.

Luíza piscou uma vez, indicando que sim, e o feitiço de petrificação foi desfeito. Como ela não conseguia se agüentar em suas pernas (feitiços de imobilização deixam suas vítimas bem fracas), eles a sustentaram e a fizeram se acomodar no sofá.

- Desculpe termos te assustado, Lú. – Ana mordeu o lábio inferior, se sentido culpada. – Aquele feitiço iria te fazer esquecer, só isso...

- E-Então, vocês são...

Ana respirou fundo e respondeu:

- Bruxos.

Foi a vez de Luíza arfar, procurando absorver o impacto da informação. Os olhos dela recaíram sobre Serenna, que simplesmente fez um sinal afirmativo, confirmando que também pertencia à classe dos bruxos.

- Tio Sev disse que nós também somos. – Leo, de oito anos respondeu mesmo sem ser consultado.

- Mas não temos nem varinha! – Aline lamentou. – Somos jovens demais, e só poderemos fazer magia em Hogwarts. Eu vou para lá no ano que vem.

A moça piscou várias vezes diante de tantas informações. Abriu um pequeno sorriso confuso para as crianças, perguntando-se o que seria “Hogwarts” – devia ser um lugar, pois a tradução literal, “verruga de javali”, não se encaixaria na frase dita pelas crianças, principalmente porque elas estavam falando em português.

Serenna pressentiu a confusão da moça e fez a gentileza de explicar:

- Hogwarts, a escola britânica dos bruxos. – Sorriu. – Eu sou Serenna Snape. - Ela acreditava que, se a moça não sabia o que era Hogwarts, não se preocuparia com o uso de seu verdadeiro sobrenome. – E estes são meus filhos, Leo e Aline. Sou inglesa, mas fui criada no Brasil. Meus filhos são brasileiros.

O máximo que Luíza conseguiu fazer foi cumprimentá-los com um sinal de cabeça. Não tinha mais receio que a machucassem, mas a situação era bem esquisita para que se sentisse à vontade.

- Luíza Esteves. – Apresentou-se. Em seguida fez um gesto bem conhecido para Ana: franziu o cenho e soltou uma exclamação baixinha de desgosto.

Isso queria dizer que, nos os poucos segundos entre as palavras de Serenna e a sua resposta, a outra brasileira já havia esquecido qual era o nome da outra mulher e das crianças. Luíza tinha técnicas para que essa sua... “característica” não a prejudicasse tanto no trabalho, mas o nervosismo certamente a fizera dispersar a atenção e, quando percebeu, já era tarde demais.

- Não se preocupe, Lú. – Ana deu umas palmadinhas amigáveis na mão da amiga. – Depois eu escrevo os detalhes para você.

Serenna estranhou o comentário e olhou interrogativamente para Ana.

- Luíza é o computador humano da Agência. – Ana explicou sem entrar nas “outras” minúcias, não percebendo o desagrado da amiga quando mencionou o seu apelido. - Memória fotográfica, lembra de tudo o que lê.

- É mesmo? Isso deve ser fantástico! – Serenna estava impressionada.

- Não se engane. – A moça suspirou, triste. - As desvantagens são maiores. Não consigo ter grande aproveitamento usando os outros sentidos além da visão. Esqueço facilmente as coisas que ouvi. Como os detalhes do que vocês me contaram, só porque estas coisas foram “faladas”, e não escritas. Ou então... – Luíza enrubesceu violentamente. – O seu nome ou o de seus filhos, que você acabou de me dizer. Desculpe.

Serenna sentiu piedade, mas não demonstrou. Simplesmente sorriu:

- Não seja por isso. Eu sou Serenna Snape, e estes são Aline e Leo.

- Certo. Espero que não me esqueça de novo... Serenna. Mas, se acontecer, por favor, tenha paciência comigo. Eu vou acabar decorando.

- É claro que sim. Mas a gente pode dar um jeito... Você poderia ler os livros. Claro que não poderemos passá-los para você porque... Há um feitiço que nos impediria normalmente... Loucuras paranóicas do nosso Ministério, sabe? Porque há informações nas... histórias que não são do domínio público, quero dizer, que "poucos bruxos podem saber".

- Entendo... – Luíza respondeu mais por educação do que por realmente entender. A situação toda ainda era muito assustadora.

- Mas você, como não é bruxa – continuou Serenna - Pode ir a qualquer livraria de Londres e pegar os livros pra ler. Quanto tempo você leva pra ler e decorar um livro de... 700 páginas?

- Eu leio rápido... Meia hora, talvez um pouco mais.

- Mérlin, que memória incrível! - Serenna ficou abismada.

- É isso!!! – Carlinhos exclamou. – E se for essa aptidão que interfere nos feitiços de memória?

Ana ponderou por alguns segundos. Sim, poderia ser isso. Na realidade, era quase certo que sim, pois não conseguia pensar em outra coisa que tornasse Luíza diferente da maioria dos trouxas e que pudesse mantê-la imune aos feitiços desta natureza.

- O Ministério da Magia não pode saber. – Ela declarou, enquanto mordia o lábio inferior. – Uma trouxa que não pode ser atingida por um obliviate. Não a deixariam em paz, vocês sabem como eles são.

Os outros assentiram em silêncio, e Luíza ficou pálida, imaginando-se sendo vítima de uma Inquisição às avessas. Não ajudou muito a imagem de feiticeiros poderosos dos desenhos animados, que estão no subconsciente de qualquer trouxa. Barbas compridas e em ângulos impossíveis. Capas negras e unhas grandes. Reuniões em cavernas e planos de dominar o mundo.

- Está bem. – Carlinhos concordou com a esposa. – Mas vamos chamar o Lupin, amor. Afinal, quais são os efeitos que um feitiço de memória fracassado pode causar?

Ana arregalou os olhos e encarou Serenna, que parecia estar se lembrando da mesma coisa. No entanto, as duas não tiveram coragem de verbalizar seus pensamentos. Aline e Leo – que vieram do mundo trouxa também e, portanto, sabiam dos livros - não tiveram o mesmo tato:

- Como com o Lockhart?!?

- Lockhart? – Luiza perguntou, preocupada com as expressões de espanto. – Quem é esse Lockhart e o que aconteceu com ele?

- Ninguém e não aconteceu nada que vá acontecer com você, Lú. – Ana se apressou a responder. - O caso é diferente. Você está agindo normalmente... Bem, ao menos “normalmente” para alguém na sua situação. O que não aconteceu com ele. – Olhou para o marido. – Sim, vamos chamar o Remo. Por precaução.

Talvez o melhor fosse chamar Alicia. Além de ser da Ordem, ela era medibruxa também. Mas nunca se podia ter certeza se ela estaria em casa ou de plantão no St. Mungus; e caso se arriscasse a falar com Jorge, segundos depois Fred estaria sabendo de tudo. E, em poucas horas, todos os Weasleys. Às vezes, os gêmeos se pareciam com duas velhas fofoqueiras.

Não, por enquanto Lupin era a melhor alternativa. Feitiços de memória eram parte do estudo de Defesa Contra As Artes das Trevas também. Com certeza ele poderia ajudar em alguma coisa.

- Nós vamos chamar um amigo nosso, apenas para ter certeza que está tudo bem com você, ok? – Ana perguntou à Luíza.

- Claro... – A outra concordou sem muita certeza.

- Já vou avisando para não se assustar. – Ana foi dizendo enquanto Carlinhos caminhava em direção à lareira. Ela lançou um olhar discreto para o calendário, só para verificar se aquela não seria noite de lua cheia. – Este é um meio de transporte e comunicação bruxos... Vai fazer muito barulho, mas depois tudo se acalma...

Enquanto ela falava, Carlinhos jogou um pouco de pó-de-flu lá dentro, fazendo um grande fogo verde queimar e crescer por alguns segundos. Mesmo avisada, Luíza não conseguiu deixar de ter um pequeno sobressalto diante da cena.

Conversaram com Lupin, e o ex-professor de Hogwarts lhes dissera que o pegaram bem a tempo: estava quase de saída para a sede da Ordem. Ana se perguntou o que seria tão importante a ponto de Lupin não querer esperar até segunda-feira para voltar ao Largo Grimmauld. Mas tinha outros problemas em que se concentrar agora.

- Não é um meio de comunicação muito limpo, sabe? – Ana comentou com a amiga, depois que o rosto de Lupin sumiu da lareira. – Eu sempre tenho que lavar meu cabelo depois que a uso.

Luíza se assustou de novo quando o ex-professor de Hogwarts reapareceu na lareira – agora realmente presente -, e Ana se desculpou por ter se esquecido de prepará-la para aquilo também.

Quando Lupin perguntara se era realmente importante, porque ele tinha algo urgente para resolver na sede da Ordem, o tratador de dragões simplesmente dissera que tinham uma trouxa que não poderia ser obliviada. Lupin arregalara os olhos e viera imediatamente.

Agora que tinham lhe contado mais detalhadamente o caso, tudo parecia igualmente inusitado, mas parecia fazer sentido. Já ouvira falar dessas ocorrências de trouxas que nascem com certas habilidades mentais extraordinárias, ou as desenvolvem por razões que até mesmo os cientistas estavam apenas começando desvendar. Não havia estudos sobre o assunto entre os bruxos, mas lhe parecia que eram ainda mais raros do que entre os trouxas, e nem sequer poderia afirmar com certeza que existissem. Talvez – e isso era puro achômetro – Dumbledore.

- Não acredito que tenhamos o que nos preocupar. – Ele declarou. - No caso do Lockhart, ele tentou fazer um obliviate com a varinha quebrada do Rony, que fazia os feitiços saírem pela culatra, como dizem os trouxas. – Leo e Aline riram ao se lembrarem da varinha de Rony, e Lupin sorriu para eles. – Mas, vejam... O feitiço que Ana lançou parece ter sido absorvido pelo corpo de Luíza (ele pronunciou o nome com sotaque). Ainda dá para senti-lo. – Ele passou a varinha a alguns centímetros acima do braço esquerdo da mmoça. – Vai se esvair daqui a pouco, o que quer dizer que não achou o ponto sobre o qual deveria agir... Ou algo assim... E está se diluindo.

- Ela ficará bem, então? – Ana suspirou de alívio enquanto pousava as mãos no volumoso ventre, um gesto que estava se tornando hábito quando estava preocupada. Jamais iria se perdoar se algo acontecesse com a amiga por sua culpa.

- Para termos cem por cento de certeza, só com a Alicia, é claro. Eu só posso falar sobre como o feitiço deve agir para fazer efeito, e com base nisso, digo que está tudo bem. Mas a opinião de uma medibruxa é bem vinda. Enquanto isso... – Lupin olhou para o semblante pálido de Luíza. – Você parece estar esgotada, as emoções e os feitiços devem ter tirado suas forças. Espere um minuto... – Ele revirou os bolsos. – Sempre trago uns chocolates comigo... Aqui! – Ele tirou uma barra, estendendo-a para a brasileira.

O movimento fez um objeto metálico escapar do abrigo dos bolsos e cair no chão. Ana o reconheceu imediatamente:

- O medalhão?

O estômago de Leo roncou à vista do chocolate, e Aline reclamou que estava com sede, o que desviou a atenção de Ana:

- Merlin, o almoço! Me esqueci completamente! Rampell deixou tudo pronto...

- Deixe que eu cuido disso. – Serenna se ofereceu, e disse em um tom que só Ana pudesse ouvir. – Sua amiga precisa que você fique aqui com ela. Só me diga onde fica a cozinha. – Ana fez um gesto em direção à peça. – Ah, não, mocinhos! – Serenna repreendeu os filhos quanto viu que eles iriam comer os chocolates que Lupin lhes dera. – Só depois do almoço. E como é que se diz?

- Obrigada, Prof. Lupin. – Aline agradeceu com um sorriso.

- Obrigado, Professor. – Leo imitou a irmã, um pouco decepcionado por não poder devorar logo o doce.

Lupin sorriu e piscou para eles. Já tinha desistido de explicar para os nascidos trouxas que ele não era mais professor.

Ele juntou o medalhão, que ainda estava caído no tapete, observando que a moça brasileira o olhava de maneira compenetrada, como se conseguisse ver algo que ele não conseguia. Tinha até mesmo perdido a timidez e o nervosismo, e agora analisava o objeto com toda a sua atenção.

- Remo, o quê...? – Ana lhe desviou os pensamentos.

- Ah, sim... – Lupin ficou sem jeito. – Eu estava levando o medalhão para a sede da Ordem, para guardá-lo lá.

- Alguma coisa errada? – Carlinhos ficou em alerta.

- O que foi Lú? – Ana questionou a amiga, não dando tempo para Lupin responder. Ela conhecia aquele olhar de “transe”. – Consegue decifrar os símbolos?

- Não, é que... – a voz de Luíza era vaga. – São padrões sobrepostos. A ordem dos desenhos sugere a ordem das idéias na mensagem. Não sei o que os símbolos querem dizer, mas há mais símbolos que se vê aparentemente.

- Mais símbolos? – Lupin levantou o objeto diante de seus olhos e com a outra mão buscou uma lupa no bolso interno do casaco.

- Estão nos cruzamentos das linhas, vê? – Luíza se levantou e indicou com o dedo o local, como se não pudesse suportar desviar o olhar.

- É verdade! Senhorita, que visão você tem!

- Acha que poderia decifrar a mensagem também, Lú? – Ana perguntou.

- Não acredito que seja seguro, Ana. – Lupin declarou, preocupado. – É este o motivo pelo qual eu ia guardá-lo longe de casa. Não consegui descobrir a mensagem completa, mas não gostei do que achei.

- Se me disser os significados... Só precisarei de alguns segundos. – Luíza parecia fascinada pelo mistério, e disse isso sem se vangloriar, apenas em um pedido mudo para que a deixasse resolver o enigma.

- Exatamente do quê está falando, Lupin? – Carlinhos perguntou.

- Possivelmente... Morte. – Lupin engoliu em seco.

- Não, Lú! – Ana negou categoricamente. – Você vai ter que esquecer esse código dessa vez. – Ela sabia como a amiga ficava quando se deparava com um.

- Dessa vez? – Lupin perguntou.

- É uma das especialidades dela. Mas nem pense...

- Eu assumo a responsabilidade. – Luíza falou com uma firmeza na voz que os dois homens não tinham ouvido até então. Só Ana sabia que aquele tom significava que a batalha estava perdida. A amiga era extremamente tímida, um doce de pessoa, quase serviçal em outros pontos... Menos nisso.

- Só alguns segundos. – Suspirou, resignada. – Toque-o só por alguns segundos. Depois, Lupin vai levá-lo, tendo descoberto algo ou não, entendeu?

Luíza não respondeu, apenas estendeu a mão para que Lupin lhe entregasse o objeto.

- Eu não tenho certeza se... – Ele hesitou, preocupado, ainda mais quando lançou um olhar para a barriga proeminente de Ana.

- Amor, melhor você ir para a cozinha, com a Serenna... – Carlinhos começou.

- Não mesmo!

- Ana... – O marido respirou fundo, e ao que tudo indicava, iriam começar mais uma daquelas discussões “eu-sou-mais-teimoso-que-você”.

- No máximo, me afasto alguns metros. – Ana condescendeu, sabendo que provavelmente Carlinhos iria carregá-la no colo se não recuasse um pouco em sua determinação.

- Acho que será o suficiente. – Lupin assentiu.

Diante disso, Carlinhos concordou. Se Remo dizia que era seguro, era por que era.

Ana sugeriu que primeiro ele fizesse um desenho dos símbolos, com os significados escritos ao lado, para que Luíza pudesse absorver a informação. As anotações que Lupin fizera enquanto estudava o objeto serviram para tanto.

Assim que a Auror se pôs a alguns metros de distância, o ex-professor passou o medalhão para Luíza, recomendando que o segurasse sempre através do tecido que ele usava para embrulhá-lo.

Com o polegar e o indicador pressionados no objeto como uma pinça, sempre com o tecido entre eles, Luíza começou a descrever para Lupin os símbolos que conseguia enxergar sobrepostos. Assim, foi girando o objeto, e, com os olhos muito abertos, quase sem piscar, os significados foram se mostrando diante de Luíza, como que soprados por uma inspiração divina.

- Verão. Mudança, punição, Senhora do Lago. Conexão entre extremos. – Ela girou de forma que a outra face se mostrasse. – Inverno, as flores, o corvo ou a Morte. – Após alguns segundos, Luíza sorriu. – Os outros pequenos símbolos são a direção para a interpretação dos símbolos maiores! “O verão abre os portais para o outro extremo.” Mas isso está ligado ao aviso de punição para quem acionar ou... talvez seja passado, quem tenha acionado os portais foi punido. “O inverno é...” Aqui está faltando o significado da flor... Espere! As bordas indicam os locais em dois portais! São lugares. Entrada e saída. A flor deve marcar o lugar do outro extremo. Algum lugar na Amazônia. Que local os pentagramas, que estão nas bordas da outra face, podem marcar?

Lupin gemeu. Como não pensara nisso ainda? Quando vira o símbolo da “Senhora do Lago”, tinha se lembrado da ilha, mas achou que, assim como os outros desenhos, eram metáforas soltas, sem conexão com nada mais concreto que idéias... Levaria semanas até que os outros pequenos símbolos o levassem até a conclusão de que se tratava do local em si. Mas aquela moça o conseguira em alguns segundos!

- O norte dos celtas, a ligação com os céus. – Lupin respondeu. – Avalon. A Terra Sagrada.

A informação tirou Luíza do deslumbramento que desvendar aquele mistério lhe provocara. Há muito tempo, tinha lido um livro de uma escritora americana que contava sobre a Ilha de Avalon, escondida por místicas brumas. Deixou os dedos escorregarem pelo objeto, esquecendo-se que não poderia fazer isso.

De repente, os símbolos do objeto se acenderam. As luzes que emanavam das linhas dos desenhos se projetaram ao redor dela, ao mesmo tempo em que Luíza, assustada, o largou.

O medalhão não caiu, como seria de se esperar. Em vez disso, desceu alguns centímetros, para depois voltar a subir, flutuando no ar.

Ficou na altura dos olhos de Luíza, e começou a girar, provocando um efeito tridimensional impressionante ao redor dela. Uma força invisível impedia a todos de chegar perto. Leo e Aline apareceram na porta da cozinha, atraídos pelas luzes, bem no momento em que Ana gritava para que a amiga corresse.

Serenna, tão logo percebeu a movimentação, puxou os filhos para dentro da cozinha novamente, protegendo-os com o próprio corpo e ordenando que eles não olhassem. Foi questão de segundos entre as luzes, as crianças indo para a porta e Serenna os puxando.

- Ana, Serenna! – Lupin falou para elas. – Fiquem onde estão, estão seguras aí.

A única coisa que impedia Ana de fazer justamente o contrário era o seu bebê.

Os dois homens tentavam chegar perto de Luíza, mas eram sempre repelidos. Haviam símbolos sendo projetados ao redor dela, em aspirais que iam do teto até o chão, como se fossem um cilindro feito de luzes, com símbolos afastados, outros mais próximos, produzindo vários planos.

A sala escurecera como se fosse noite, e o medalhão parecia sugar toda luz para usá-la na projeção dos símbolos.

Após alguns segundos imóvel, vasculhando enfeitiçada toda a extensão do enorme painel que se projetava ao redor dela, Luíza caiu de joelhos no chão, sem forças. Então, ela pôs as mãos na cabeça, gemendo:

- Muito rápido... Não posso, não posso, não posso!

As luzes se apagaram. A sala voltou ao normal e o medalhão caiu sobre o tapete com um baque surdo, novamente um objeto inanimado. Mas Luíza continuava no chão, parecendo cada vez mais confusa e com mais sofrimento.

Carlinhos lançou um feitiço para isolar sonoramente o apartamento, impedindo que tanto os gemidos de Luíza quanto os gritos assustados das crianças chegassem até a rua, onde havia trouxas passando. Ele só percebeu que sua esposa havia corrido para socorrer a amiga quando já era tarde demais para impedi-la.

- Lú, estou aqui, segure minha mão.

A moça segurou-se em Ana como se fosse um náufrago em busca de uma tábua de salvação. Luíza oscilou perigosamente, demonstrando que estava perdendo o senso de equilíbrio também, e a amiga a apoiou, impedindo-a de cair. Em segundos Carlinhos estava do seu lado, ajudando-a a carregar a moça até o sofá.

Serenna já estava conseguindo acalmar seus filhos, sentada no chão e abraçando cada um com um braço, ninando-os.

- Pelo amor de Deus, ninguém diga nada! – Ana sussurrou, dirigindo-se a todos. – Nem uma palavra, silêncio total!

***

- Depois disso, não se trocou muitas palavras. Ana ficou nessa posição, como âncora da moça, até agora. – Lupin terminou seu relato.

- Por que não a levaram para o St. Mungus? – Harry perguntou, penalizado pela moça.

- Ana disse que não. – Carlinhos respondeu. – E até mesmo a troca dessas palavras provocou mais gemidos como os que você viu há pouco.

- No começo achamos que tinha sido o medalhão que fez isso... Mas Ana reagiu como se já tivesse visto isto antes. Ela sabia como agir.

- E vocês dois? Como chegaram até aqui? – Harry perguntou à Tonks e a Quim.

- Lupin foi até em casa, me contou o que estava acontecendo e chamamos você, o Quim e o Rony, depois viemos para cá. – Tonks explicou. - Tivemos que deixar o Hector na casa do Quim, ainda que tenha protestado: foi só “farejar” que a Ordem estava envolvida para que quisesse vir junto com a gente.

Harry fez um gesto de assentimento, mas estava pensando onde se metera Rony.

Segundos depois a voz alta de Rony perguntando “o que diabos era tão importante?” se ouvia lá da sala, sendo imediatamente calada. Serenna apareceu em seguida, guiando-o e a Hermione, esta com um irrequieto Sirius em seu colo.

A história foi repetida para eles.

- A culpa foi minha! – Censurou-se Lupin. – Eu jamais deveria ter permitido... Era a minha função deixar aquele objeto em lugar seguro! Não deveria nem ter trazido comigo...

- Lupin, foi uma fatalidade. – Contestou Quim. – Ninguém tem culpa, e, além disso, a moça sabia dos riscos quando aceitou segurar aquele objeto.

Todos assentiram, mas Lupin continuava preocupado:

- Sabem a extensão disso? Aquele era um objeto ligado à Ravenclaw, aos poderes de Arádia... – Ele olhou para Harry. – Gina sentiu alguma coisa diferente hoje à tarde?

- Não... – Harry hesitou, depois balançou a cabeça, e acrescentou como se não acreditasse que a informação fosse importante: - Exceto que ela sonhou com bêbês quando tirou um cochilo depois de amamentar Lian e Joanne. O que não é de se admirar, quando estamos cercados deles. – Riu, um pouco sem jeito.

Hermione mordeu os lábios nervosamente. Não tinha certeza se era alguma coisa relevante, mas...

- Eu também sonhei. Mas ontem à noite. – Declarou. – Também sonhei com bebês, ou melhor... Sonhei que estavam atrás do Sirius. – Ela apertou mais o filho entre os braços, provocando um pequeno “páia, mamã” do bebê, em protesto.

- Ah, não deve ser nada, Mione... – Rony a consolou do seu jeito estabanado, afagando seus cabelos cheios. – Só um daqueles sonhos que mães superprotetoras como você e a Gina devem sempre ter.

Hermione forçou um sorriso, querendo acreditar firmemente no que o marido lhe dizia. O sonho tinha sido vívido demais para o seu gosto.

- Tem razão... É bobogem. Quem tem ligação com Arádia é a Gi, não eu.

- De qualquer forma, estou indo para Glastonbury amanhã. – Lupin declarou, resoluto.

- Glastonbury? Pra quê? – Rony perguntou.

- A abadia, Rony. – Hermione o lembrou igualzinho a quando o avisava que tinha que fazer dever, em Hogwarts. – A entrada para Avalon.

- Hum... Bom lugar para férias... – O ruivo declarou.

- Rony! – Hermione exclamou, exasperada.

- Estou brincando, Mione! – Ele riu. – Eu sei que Lupin quer investigar a pista que a amiga de Ana achou.

- Eu vou com você. – Tonks disse.

- Não é neces...

- Não estou pedindo permissão, estou apenas te informando, Remo Lupin. – Tonks passou uma mecha do cabelo furiosamente rosa para trás da orelha.

- Hector...

- Pode ficar na casa do Quim, não é, chefe? Ele e Josh vão adorar a novidade.

- Tudo bem... Será só um dia. – Lupin suspirou, concordando.

Ana apareceu na entrada para o terraço, subindo os degraus muito lentamente, exausta. Carlinhos apressou-se em ir até ela, passou o braço em sua cintura e a guiou até uma cadeira de balanço que havia por perto.

- Estamos certos em pensar que isso já aconteceu com sua amiga antes? – Quim perguntou.

- Sim – Ana balançou a cabeça. – Acho que Lupin e Carlinhos já lhes contaram sobre as qualidades da Luíza, e também o “tributo” que a memória privilegiada dela cobra.

- A dificuldade em se lembrar de coisas ouvidas. – Harry respondeu.

- Não é só isso. Vocês não têm idéia da capacidade de armazenar informações que Lú tem. Mas o cérebro humano não é infalível, ele também “quebra”, por assim dizer. Quando Luíza chega ao esgotamento, ele... Entra em colapso, e as funções sensoriais dela ficam todas fora de controle... – Ana respirou um pouco, usando o tempo para pensar na melhor forma de explicar para os outros bruxos. – E é como se os caminhos que as idéias percorrem para reconhecer que determinada palavra significa isto ou aquilo, que esta imagem pertence à de uma flor ou pássaro... Sons, tudo, enfim... Desaparece. Cada estímulo, em vez de seguir o caminho neural correto, provoca uma confusão generalizada, a ponto de ser doloroso para ela...

Os bruxos não compreenderam tudo que Ana disse, mas entendiam as causas e os resultados. Um misto de assombro e pena tomou conta deles.

- Aqueles símbolos... Luíza simplesmente não consegue impedir que as imagens se fixem em sua cabeça, e parece que foi demais para ela. O objetivo dela ao vir para Londres era descansar, porque o médico havia lhe ordenado. Fazia anos que Lú não tirava férias, e estava se sentindo no limite. – Ana emitiu um som de tristeza pela amiga. – Pobrezinha. Ela fica indefesa como uma criança de colo quando isso acontece.

Carlinhos a confortou e, quando Ana estava mais calma, prosseguiu:

- Mas ela está melhor agora, graças a Deus! E... Ela me disse que, entre as centenas de símbolos que se fixaram em sua cabeça, havia umas poucas imagens. A de dois bebês. Um ruivo e um moreno.

- Joanne e Lian! – Harry prendeu a respiração, o maxilar se endurecendo. O desespero tão grande dentro de si que se surpreendeu com um impulso totalmente contraditório: tinha vontade de rir. Já devia esperar uma coisa dessas. Maldito fosse! Nada era normal em sua vida por muito tempo, mas quando seus filhos estavam envolvidos...

- Não... – Ana dizia as palavras como uma autônoma. – Eram dois meninos.

- Sirius e Lian – Hermione vira naquilo a concretização do seu pesadelo. – Aquele sonho era real demais, eu sabia!

Sirius, que já tinha protestado para ficar brincando no chão, percebeu a alteração no humor da mãe, e ficou agitado. Rony o pegou no colo, abraçando mãe e filho ao mesmo tempo.

- Sonho? – Ana estava confusa. – Você sonhou? – Hermione confirmou, as lágrimas ainda embotando seus olhos. – Posso ver, Mione?

Hermione sabia do que Ana estava falando. A cunhada usara seus poderes de Mestra dos Sonhos antes. Ela poderia captar vestígios do seu sonho se Hermione se mantivesse aberta o suficiente.

Ana se aproximou e lhe tocou as mãos. Fragmentos da fuga desabalada e os rostos dos bebês lhe vieram à mente.

- O bebê moreno não era Lian, Mione. – Ana tentou sorrir. – E o rosto de Sirius pode ter sido usado só para chamar a sua atenção.

A brasileira se esforçou para não dar mostras do que estava pensando, mas o cansaço e o choque não deixaram.

- Tem mais, não tem, Ana? – Harry perguntou, muito sério.

“Legilimens”, Ana sorriu, fitando Harry nos olhos. “Não é cavalheiresco de sua parte se aproveitar da minha fragilidade para se imiscuir no meu cérebro, Potter”, ela tentou brincar.

Os olhos de Harry se arregalaram, demonstrando que ele tinha acabado de ver o que lhe ia à mente.

- Você acha que é seu filho?

Ana parou de fingir, seu rosto se contorcendo em um pranto reprimido. Segundos depois, era amparada pelos braços do marido.

- Eu toquei naquele medalhão, e ele se manifestou. – Ela desabafou, as lágrimas quentes correndo por seu rosto. - E eu já estava grávida naquela época... Era disso que o chefe da aldeia indígena estava falando! Eu precisava aperfeiçoar meus dons por causa... Oh, Mérlin!

O choque era praticamente palpável ao redor dela. Ninguém sabia o sexo do bebê que Ana esperava, e a criança poderia ser tanto morena como a mãe, quanto ruiva, como o pai. Fazia sentido. Hermione ou Sirius não tinham nenhuma ligação com medalhão. Nem mesmo Lian ou Joanne, exceto pela hipótese de que tanto Gina quanto Ravenclaw tivessem os poderes de Arádia.

Já quanto à Ana... Ela poderia ter desencadeado uma maldição.

- Olhe para mim. – Carlinhos afastou a esposa somente o suficiente para que ela o olhasse nos olhos. Ele parecia tão desesperado quanto ela, mas havia determinação em seu olhar. – Isso não vai acontecer, entendeu? Eu estou jurando para você. Não vai acontecer. Confia em mim?

Sim, Ana confiava. Sempre confiou, mesmo quando mal o conhecia. E isso a acalmou, ainda que soubesse ser impossível poder afirmar uma coisa dessas. Carlinhos sempre cumprira o que prometera para ela. Sempre.

***

Fazia um friozinho gostoso no Brasil naquela época do ano. No sul, a sensação térmica era mais baixa por causa do vento cortante que soprava constantemente. O sol era uma tímida carícia, e não mais o guerreiro inclemente e abrasador que reinava sob os céus durante o verão.

Na semana final de junho, depois de uma série de testes, Mel fora aprovada. Quase enlouqueceu estudando, apesar dos amigos dizerem que era “im-pos-sí-vel” ela não passar.

Mas mesmo assim, se trancou na torre, estudando. Temia que não conseguisse se recuperar do que perdera por causa do... Hã... Incidentes do ano anterior (2) (sobre os quais, aliás, seus pais nem sonhavam que tivessem acontecido). O Prof. Flitwick, Diretor da Corvinal, ficara muito satisfeito ao ver suas notas e a cumprimentou por ter rendido pontos consideráveis à ampulheta da Casa. E agora gozava de suas merecidas férias, enquanto aguardava o início de seu segundo ano.

A maioria das pessoas acharia que Mel ficaria frustrada por passar a grande parte de suas férias escolares – que na Inglaterra correspondiam ao período de verão – em uma época em que fazia tanto frio no seu país, que não se podia aproveitar as praias do festejado litoral brasileiro. Mas a verdade é que ela e o sol nunca se deram muito bem: a herança germânica que corria em suas veias produziu uma pele branca demais para suportar o sol dos trópicos, ao menos da forma como a maioria dos seus compatriotas fazia.

Era vexatório como geralmente saía da praia, mais parecendo uma lagosta do que um ser humano, por mais protetor solar que passasse!

Por outro lado, as paisagens do interior de seu Estado natal eram bem convidativas. Havia espaço geográfico para todos os gostos: vales, montanhas, planícies... e de junho até outubro festas típicas explodiam por todos os cantos, movimentando a economia e mantendo vivas as tradições dos povos que ali se estabeleceram.

Sim, na opinião de Mel, aquela era a melhor época para estar ali. Pensava nisso enquanto estava sentada em um banquinho ao lado do irmão, Felipe, em um parque próximo de sua casa. O horário – de manhã cedinho – era perfeito para uma brincadeira bem conhecida entre eles:

- Olha só. – Felipe chamou a atenção da irmã. – Sou um daqueles personagens de desenho, quando ficam bravos. – Fechou firmemente a boca, forçando o ar que estava em seus pulmões a sair pelo nariz de uma vez só, produzindo uma cômica “fumacinha” que nascia de suas narinas e se espalhava ao redor do rosto.

Agora que ele sabia que iria para Hogwarts, estava transbordando de felicidade. A garota riu da graça do irmão, e continuou com as imitações.

- E eu – Inclinou a cabeça de forma a obter um melhor resultado. – Sou um dos dragões do tio Carlinhos. – Expulsou lentamente o ar pela boca, como um dragão cuspindo fogo.

- Sinal de índio! – Felipe foi soprando, tampando e destampando a boca de modo a formar pequenas bolotas de fumaça no ar frio da manhã.

As crianças riram de novo, e Mel estava prestes a prosseguir quando Myra apareceu ao lado deles. Não, ela não “aparatou”. Isso seria impossível, já que o parque em frente à casa deles não tinha nada de bruxo. Veio caminhando mesmo, à boa moda trouxa.

A inglesa vinha visitando o país com certa freqüência nos últimos seis meses. Desde o encontro dela com Fernando, o tio das crianças, em janeiro, estava ocorrendo uma lenta, porém inevitável aproximação dos dois. Era mais forte do que Myra. Ela se vira atraída pelo rapaz e, por mais que temesse sofrer, pouco a pouco foi cedendo àquela vontade inexplicável de conhecê-lo melhor.

Então, ela continuou aparecendo nos shows dele sempre que seu trabalho como empresária da banda “As Esquisitonas”, do qual seu irmão era o vocalista, permitia. Desta vez, e quem sabe encorajada pelo rápido encontro que ambos tiveram quando Felipe a seguira até o seu hotel (ah, o jeito como ele a olhara tirava o seu sono todas as noites depois disso!), ela não mais desaparecia, mas ao contrário: foi se aproximando, travando “conversas” cada vez mais longas...

“Conversas” não seria bem a palavra. Ela não falava português, mas, sob o efeito de um feitiço de tradução, conseguia entendê-lo. E ele falava um pouco de inglês e conseguia entender o sentido geral do que ela dizia, mesmo que tivesse que pedir algumas vezes que repetisse. Myra reconhecia que devia ser cômico para alguém que observava os dois de fora, mas ela não se importava. E, ele também não, pela forma como parecia decepcionado quando ela ia embora.

Claro, Felipe dava uma “mãozinha” sempre que estava com eles, mas com o decorrer do tempo ficou cada vez mais óbvio que no tipo de relacionamento que estavam desenvolvendo – ou pelo menos desejavam desenvolver – uma criança de onze anos... “sobrava”.

Myra era louca pelo sobrinho de Fernando. O menino era uma peste, mas como era encantador! No entanto, também queria alguns momentos a sós com o tio do garoto.

E assim, quando se deu conta, estava na casa dos pais dele, sendo apresentada a uma família enorme e barulhenta, que olhava para seu cabelo lilás assombrada. Na ocasião desejou ardentemente ter alterado a cor de suas madeixas para o natural – castanho aloirado – mas já era tarde para usar seus poderes de metamorfomaga.

O brasileiro continuava sem saber que ela era uma bruxa. E nos primeiros meses, seus pais não sabiam também. Mas Felipe lhe advertira que seus avós – Antônio e Bianca, pais de Fernando. – Já estavam desconfiados, pois os netos e a sobrinha, Ana, também eram bruxos, logo conheciam “os sinais”. Por isso resolveu assumir de uma vez para eles a sua condição.

No entanto, “abrir o jogo” com Fernando era mais complicado. Sua mente vagou nas lembranças, voltando ao dia em que contara a Dylan que era uma bruxa. O fato de ele ter declarado seu amor eterno a ela poucos dias antes não o impediu de ficar chocado com a revelação. E de tratá-la como uma... Anomalia ou algo pior.

Pagara um alto preço por ter confiado nele.

Myra balançou a cabeça, afastando os pensamentos. Não era hora para isso. No momento, tinha que levar dois bruxinhos por um passeio pelo bairro mágico do lugar.

Sorriu para os pais dos garotos, que estavam sentados em um banco próximo, e perguntou para as crianças:

- Então? Prontos?

- Siiiiiiiiiiiiiiiiim! – Os dois pularam de alegria no mesmo instante.

- Obrigada por acompanhá-los, Myra. – Patrícia, a mãe dos meninos, agradeceu enquanto se aproximava com o marido.

- É verdade. – Concordou Marcos. – Não temos tido muito tempo por causa do nosso trabalho, e as crianças simplesmente não querem esperar. Parece que vão ter um ataque se não conferirem as novidades do mundo... Er... – Ele abaixou o tom de voz. – Do mundo bruxo.

- Claro, eu compreendo. – Myra respondeu, sorrindo enquanto lançava um olhar rápido para Mel e Felipe. – Mas vai ser um prazer acompanhá-los. Seus filhos são uns amores.

Marcos e Patrícia abriram sorrisos de um evidente orgulho das “crias”. Apesar do constrangimento inicial, Myra se dera bem com os irmãos e cunhados de Fernando, principalmente com os pais de Felipe e Mel, já que ambos falavam inglês. Inclusive, as crianças haviam morado nos Estados Unidos até a idade em que foram alfabetizadas.

A única que ainda não conhecia era Ana. Myra sentia um mal-estar cada vez que pensava na prima de Fernando. A moça havia sido criada pelos pais dele, e era como uma irmã caçula.

Admitia que agora estava em dúvida sobre a sua avaliação inicial do caráter dela (que não havia sido nada bom). Afinal, se compadecera quando soube que a moça havia perdido os pais quando era bebê. Tonks, sua amiga, lhe dissera que haviam sido mortos por Comensais da Morte. Mas... Ainda estava com um pé atrás. Ora, a tal Ana tinha insinuado que ela teria lançado um feitiço sobre o primo!!! Isso uma calúnia!

E estava interferindo em Hogwarts, pelo que pudera constatar. Primeiro, colocando Mel, uma estrangeira, lá dentro. E agora, Felipe. Não que tivesse algo contra. Pessoalmente, acreditava que Hogwarts só ganhava com uma aluna tão inteligente quanto Mel, ou tão espirituoso quanto Felipe. O que a incomodava eram as atitudes da outra mulher, que lhe pareciam... Autoritárias.

Os três se despediram de Marcos e Patrícia e se encaminharam para um canto escondido, entre dois muros. Lá, Myra aparatou com as duas crianças até um beco próximo à entrada de uma das lojas de artefatos bruxos.

Aquele era um país realmente interessante e diferente. Ao contrário dos bairros comerciais bruxos da Europa e da América do Norte, no Brasil as lojas bruxas ficavam no meio de outras lojas trouxas comuns. Apenas havia passagens secretas nos fundos de cada uma delas, que levava até a “verdadeira loja”. Todas no mesmo lugar, mas dividindo espaço com os estabelecimentos comuns.

É só prestar atenção nas ruas populares, repletas de pequenas lojinhas. Com certeza você encontrará algumas com uns nomes bem “suspeitos”, especialmente se observar os tipos singulares que as freqüentam. Aquela na qual iriam entrar, por exemplo, se chamava <i>“Encantus”</i>, e se enquadraria no que trouxas desatentos chamariam de “apenas mais um brexó” – mas na realidade era uma conceituada loja de vestes bruxas.

Em um lugar sempre apinhado de gente, ninguém notaria um ou dois “desgarrados” sendo conduzidos sem muito alarde para os fundos do lugar. Às vezes, o que está bem diante do nariz é o que é mais difícil de enxergar.

Não permaneceram muito tempo na loja – nenhum dos três se interessava por moda. Felipe, que recebera a carta de admissão de Hogwarts no dia anterior, iria comprar suas vestes bruxas na Madame Malkins. Segundo o garoto, “não perderia isso por nada no mundo”.

Entraram em seguida em uma papelaria aparentemente comum. Prateleira simples, com poucos produtos sendo exibidos, e apenas uma recepcionista em um balcão de madeira. Nada de telefones ou computadores – aliás, prestem atenção nesses detalhes, em nenhuma das lojas bruxas existem essas coisas. E os poucos aparelhos que existem vivem “com defeito” como copiadoras ou calculadoras.

Na realidade, aquele era um “Correio Bruxo”. Mel queria enviar uma carta para uma colega de escola, e Myra precisava resolver “um probleminha” com seu irmão. Aliás, quase engasgara com o seu suco de abóbora aquela manhã, quando soubera da notícia através de um exemplar do “Profeta Diário” fornecido pelo hotel.

Myra abafou uma risadinha quando o atendente arregalou os olhos para o maço enorme de pergaminho que Mel lhe entregara – segundo a menina, só iria por sua amiga, Danna, a par dos últimos acontecimentos. Avisando que não demoraria muito, a inglesa entrou em uma cabine reservada que havia em um canto, ao fundo da sala.

Ela pegou um envelope vermelho-vivo com a mão esquerda, enquanto a mão direita fazia um meneio com a varinha na frente dele, terminando o movimento com uma leve batida no papel colorido. Em seguida, respirou fundo e falou bem próxima ao envelope, com a voz mais decidida que tinha:

- MYRON WAGTAIL! FICOU MALUCO, POR ACASO?!? Escute aqui, você NÃO PRECISA de MAIS UM CASTELO, ouviu bem? Está pensando o quê? Que o seu dinheiro nasce em um pé de salgueiro lutador? Não vai gastá-lo em uma frivolidade caríssima dessas, para depois largá-lo como a um brinquedo velho... Exatamente como os outros TRÊS que você comprou! Myron, como sua irmã, isso é um conselho... Mas como sua empresária e administradora... Isso É UMA ORDEM!!!

Myra respirou fundo novamente, desanimada, e lacrou o berrador. Sentia-se exausta. Não sabia se seu irmão iria lhe dar ouvidos, mas tinha que tentar. Myron sempre fazia “doideiras” como essa, e ela é quem tinha que por juízo na cabeça dele. Francamente, estava farta disso. Ora, ele era o mais velho. Supunha-se que devia ser o irmão sensato, não é mesmo?

As pessoas diziam que eram “excentricidades de artista”, mas Myra não queria ser tolerante com esse tipo de comportamento “estrelista”. Sim, "As Esquisitonas” era o grupo de rock mais popular do mundo bruxo, e ganhavam uma quantidade quase obscena de galeões, mas... Do jeito que seu irmão o gastava não havia mágica no mundo que o impediria de ir à falência em poucos anos!

Apesar do meio artístico bruxo pensar que Myra estava igualmente nadando em dinheiro, isso não era verdade. Ela ganhava bem, sim, como empresária da banda. Mas estava longe de ser uma milionária como o irmão ou os colegas. Claro, Myron era generoso – de uma forma até mesmo alarmante, na opinião de Myra. – Mas ela recusava um salário maior do que o necessário para ter uma vida confortável. Detestava quando diziam que vivia às custas do irmão, e não queria dar motivos para os falatórios – mesmo que eles não parassem “só” porque ela ganhava seu dinheiro de forma mais do que justa, praticamente dando a alma pela banda.

Quando a inglesa saiu do reservado, Mel notou que parecia cansada, mas mais aliviada. Não sabia para quem ela enviara o berrador, mas não devia ser algo bom. Afinal... Berradores NUNCA eram uma boa coisa.

A menina tinha tido um pequeno “impasse” com o atendente do Correio Bruxo, por causa do peso do pergaminho que estava enviando para Danna. Ora, sinceramente, eram “só” algumas palavrinhas para a amiga! Usaria Dumbledore, a harpia de estimação da família, se esta não tivesse sido enviada com uma correspondência para tia Ana, mas...

Mel agora estava conformada com o fato do irmão ir para Hogwarts. Diante do inevitável, torcia para estar errada e que Felipe se contivesse. A quebra do Decreto de Sigilo sobre os livros causaria a sua expulsão do Mundo Mágico, e ela já o lembrara disso diversas vezes. O irmão tinha fechado a cara e declarado em alto e bom som que ela era uma “chata”.

Depois de algumas horas emburrados um com o outro, os dois tinham feito as pazes e começado a enumerar, animados, o que Lipe precisaria para usar em Hogwarts...

Os três saíram do Correio Bruxo e continuaram com o seu passeio. Myra perguntou para Mel se ela queria uma camiseta autografada das Esquisitonas. A menina corou violentamente e sorriu. O fato da “namorada” do tio Nando ser a irmã do-“o Myron Wagtail” – a encantara, sim. Claro, gostava da moça independente disso, mas... Uau! Como não ficar entusiasmada?

Mesmo assim, disse que não queria dar trabalho (mas morrendo de vontade de dizer que sim). Myra respondeu que não seria trabalho nenhum. Felipe mesmo, tinha já umas dez.

- Ah, é...? – Ela olhou torto para o irmão mais novo, que caminhava alguns passos à frente delas.

- Sim, ele mencionou algo sobre ser um bom objeto de barganha em Hogwarts. – Myra riu, realmente divertida com a ousadia do menino.

- Mesmo? – Mel sorriu entre os dentes, lançando agora olhares fulminantes em direção a Lipe, que continuou andando como se não fosse com ele. Mas sabia que o garoto podia ouvir muito bem. Estava morrendo de vergonha: que guri mais abusado! Ah, mas ele iria ouvir umas poucas dos pais... Se iria...

Felipe, no entanto, era esperto. E conhecia bem demais a irmã. Tratou logo de mudar o tópico da conversa para um assunto que atrairia a curiosidade de Mel a ponto de fazê-la esquecer do que acabara de ouvir.

- Myra... – Ele começou. – Por que ainda não contou ao tio Nando que é bruxa?

A inglesa não soube por onde começar. Embaraçada, escutou Mel repreender o menino pela indiscrição, mas notou que os olhos da garota subitamente arregalados e o evidente interesse em saber a resposta.

- Hã... Tudo bem, Mel. – Hesitou. – Isso não é um assunto fácil, sabe, Lipe? É preciso um... – Enrubesceu. - Envolvimento muito sério e-e... Duradouro para que um bruxo ou uma bruxa se revele assim...

- Mas é sério para o tio Nando. – Declarou o menino. – Pelo menos, a gente só viu aquela cara de bobo que ele faz quando te vê quando ele acaba de compor uma música, ou algo assim... – Fez uma expressão sorridente e aparvalhada, imitando a suposta “cara de bobo” do tio.

Myra abaixou a cabeça, em um trejeito divertido e embaraçado, feliz com o comentário, embora tentasse não levar tão a sério os comentários do menino – para o seu próprio bem e proteção, pensou.

- É que... Revelar algo assim exige compromisso dos dois lados. Não sei se seu tio está preparado. Tanto para “saber” quanto para assumir as conseqüências...

- Assumir as conseqüências?!? – O “radar” de Mel se ligou imediatamente.

- É... Vocês não sabiam? – Diante das expressões dos garotos, Myra não precisava ouvir a resposta: era evidente que não. – Já devem ter percebido que dificilmente um trouxa que se casa com um bruxo conhecesse a verdadeira... “Natureza” dele ou dela até depois do casamento.

Myra fez uma pausa, e considerou que os meninos tivessem se dado conta disso só agora.

- Pois bem. Existe uma razão. – Ela os olhou com seriedade. – Quando um bruxo resolve revelar-se para um trouxa que não tem relação consangüínea com ele, deve ter certeza que isso é realmente necessário. Nunca se perguntaram porque só os seus pais e seus avós sabem? Por exemplo, Antônio e Bianca são como pais de sua tia Ana, o que a autoriza a contar. Não havia motivos para seus outros tios saberem. Quer dizer... Já são adultos, tem suas próprias famílias – famílias completamente trouxas que não precisam e nem devem saber do Mundo Mágico.

Os garotos pareceram impressionados, emitindo um “Oh!” típico de quem quer dizer: “Ah, então é por isso...”. Na época, Mel simplesmente supôs que os adultos não queriam passar pelo “suplício” que tia Ana e tio Carlinhos passaram quando contaram a seus pais e seus avôs.

- E, além disso... – Myra limpou a garganta. – Ao assumir o risco de contar tudo a um trouxa, o bruxo ou bruxa deve ter certeza de que haverá uma ligação de... “Base permanente”, porque... Só assim se justificaria esta revelação. Para garantir isso, o bruxo deve saber que, se dentro do prazo de alguns meses não se casar com esse trouxa... Perderá sua varinha como punição, pelo tempo que o Ministério determinar.

- Credo! – Mel se escandalizou. – Não seria mais fácil fazer um “obliviate”?

Myra riu com certa tristeza ao responder:

- E você acha que todo mundo pode sair por aí fazendo obliviates à torto e a direito? Em geral, apenas aurores treinados conseguem fazê-los. Fora isso, só em casos de emergência, como aconteceu naquele incidente em Ilfracombe... (3). De qualquer forma, já devem ter notado que existem mais trouxas no mundo do que bruxos, muuuuito mais. Os casamentos mistos são constantes. Se não fosse por esta regra, haveria mais feitiços de memória a serem aplicados do que aurores para dar conta. Assim, forçam-se os bruxos a serem cautelosos.

A inglesa emitiu um profundo suspiro, lembrando-se de sua própria punição. Ela era tão jovem... O escândalo, por ser irmã de Myron, tornou tudo pior. Como se já não bastasse a desilusão sofrida, a profunda mágoa, o orgulho ferido...

Mel sorriu para ela de forma reconfortante e murmurou, gentil, que tinha certeza que algum dia Myra ainda iria ser sua tia. Felipe exibiu o seu costumeiro sorriso malandro, aquele no qual quase se podia ver as engrenagens de sua mente traquina funcionando.

***
Notas:

(1) O Paciente Inglês e Close To You, da Regina McGonagall.

(2) Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens – OBS: Assunto ainda não confirmado pela autora.

(3) Animais Fantásticos e Onde Habitam - Conforme este livro, em 1932, um dragão verde-gaulês errante mergulhou sobre uma praia apinhada de trouxas que se banhavam ao sol. Uma família de bruxos em férias realizou a maior Operação de Feitiços de Memória daquele século, afastando a “calamidade eminente”.

***
(N/A):

Mérlin, de quantas azarações eu tive que me desviar este mês!!! Ainda bem que andei treinado Defesa Contra As Artes das Trevas, hehehehe!

Mas reconheço que mereci, pela demora em atualizar. Tudo bem, não foi proposital, é que às vezes inspiração e tempo para escrever não andam juntas, daí acontecem estas coisas...

Não se preocupem quanto aos mistérios. As informações vão se encaixar, sério (sei que estou dizendo isso há uns três capítulos, mas é verdade, hehehehe).

Minha mente está vazia... E esse tipo de coisa está cada vez mais comum – acho que fui vítima de algum <i>obliviate</i>!!!

No entanto, lembro-me da coisa mais importante para dizer: obrigada por não desistirem de ler a fic, pelo carinho que vocês têm demonstrado e principalmente pela paciência. Vocês são inacreditáveis! Valeu mesmo!

*Belzinha mandando abraços, beijos e muita vibração positiva para todos*.


Inté o próximo capítulo, gente!
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Post by Regina McGonagall »

Impossível não ler... de novo... hihi... :mrgreen:

impossível também não dizer de novo: Parabéns! :palmas :palmas :palmas
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Post by Danna O'Brien »

caracas beeeeeeeeeeeeeeeeeel!!!!!!!!!!!!*grazy abobada*
desculpa os termos :oops: mas...que phoda!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
serio msm...emocionante!!! :palmas
tadinha da luiza...por um momento cheguei a pensar q ela era bruxa (tiro n'agua grazy #-o ) deve ser mt irado ter esses 'poderes' dela, mas os 'tributos' segundo a ana, são terriveis!!!tanto q o harry chegou a pensar q ela tava sendo atingida por uma cruciatos!!!e 'enganar' o harry assim eh bem marcante,por mais q ele tenha se tocado. ela vai precisar mt da ana agora, mas a coitada da ana tb vai precisar dela...se for msm um menino neh...aiai...tantas duvidas...tantas especulações...e provavelmente mais um montão de tiros n'agua hehehe. eu jurava q ia ser uma menina...mas agora com essa...eu to REZANDO q seja msm uma menina!!!por favor, q o carlinhos esteja certo, por favoooor!!!e se nao for uma menia, qm era aquela guria no quarto do carlinhos?!?!?!heim?!?!?!?
e jah mencionei q amei a myra neh?ela eh d+ com o cabelo lilas(q por acaso tb jah devo ter mencionado q eh minha cor preferida:roxo)com as duvidas com o berrador(amei o berrador hauahuahua, mt hilario)e dando camisetas das esquisitonas pro felipe hauhauahua esse garoto eh uma figura!!!e vai pra hogwarts!!!imagina o q sera dos profs(e da mel :lol: ) com ele e o hector perambulando impunemente por ai?essa eu quero mt ver!!!! e o q esse gurizinho tah aprontando com esse sorriso malandro? serah q eu fui a unica q nao conseguiu ver as engrenagens da mente traquina dele trabalhando?!?!?! ah nao isso nao podeeeee!

ai anabel,eu quero sabeeeeeer!!!continua logooooo!!!esse cap passou voando,qnd vi...acabou! tava tão bom e deixou uma enorme fome(nao eh nem gostinho)de QUERO MAIS!!!!!

bebel eu quero,bebel eu quero,
bebel atualizaaaaaaaaaaaa!!!
me dah um capitulo, me dah mais um,
me um capitulo se nao eu vou chorar!!!!!!!!

hauhauahuahuahauahuaha, tah tah, foi pessimo eu sei, mas sabe como eh, eu sou bobona msm :mrgreen: e pense assim, vc jah tem uma marchinha de carnaval!!!! :mrgreen: hauhauhuahuahuahuha, ngm merece meus surtos cara...mas fazer o q? a culpa eh sua por me empolgar com uma historia tão maravilhosa!!!!e agradeço mt por isso

OBRIGADA BEEEEEL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!VC EH SHOW!!!

e soh pra nao perder o costume(e pra vc nao demorar tanto dessa vez neh...eu to lok pra ler*grazy mt curiosaaaa*)

POSTAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Post by Drusilla_Julli »

OI Bel!! Demorei mas comentei.

Parabéns pelo novo capítulo, ele está ótimo. Foi bom conhecer um pouco mais sobre a Luíza e seu "dom" junto a suas consequências, estou gostando bastante dela.

Também percebi que o capítulo tem a função de criar mais e mais mistérios para deixar a gente maluca de curiosidade, heheh, mas tudo bem. Vou esperar pacientemente os próximos capítulos.

Foi ótimo rever a Myra (que estou amando) e Lipe, vamos ver no que essa história vai dar. Devo confessar que fiquei um pouco decepcionada de Lipe não ir para a Escola Brasileira, mas tudo bem, desde que vc o faça um orgulhoso membro da Lufa2 (vamos valorizar a nossa casa Bel!), heheh. Estou brincado, escreva o que quiser, mas temos Grifinórios demais no mundo das fics.


Beijos,

Maíra
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Post by Anne Moire*Ptit Fée »

Oieee!!!!!!! :mrgreen:

ADOREI o cap, a fic tá indo muito bem :palmas :palmas :palmas !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Valeu apena esperar, Mas o cap passou muita rápido, deve ser porque as coisas boas durão pouco.
Sei que as vezes é difícil escrever, mas estaremos esperando o tempo que for necessário pelos próximos capitulos.
NÃO VAMOS ABANDONAR SUA FIC!!!!!!!!!!!
Muita mais muita energia positiva para continuar á escrever fics tão maravilhosas quanto essa :P !!!
1000 bjus!!!!!!!!!!!
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...Lorsque je lève les yeux
Je rencontre tes yeux et je me dis:
“Mon Dieu,c’est vraiment merveilleux tant de bleu”

Plus bleu que le bleu de tes yeux
Je ne vois rien de mieux
Même le bleu des cieux

Plus fort que mon amour pour toi
La mer même en furie
Ne s’en approche pas

Plus bleu que le bleu de tes yeux
Je ne vois que les rêves
Que m’apportent tes yeux…
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