O Paciente Inglês [Fic Nova da Regina] TERMINADA!!!

Publiquem suas fics aqui para os outros opinarem.
Não se esqueçam de também postarem no Floreioseborroes.net.

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Regina McGonagall
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Re: Oba, capítulo novo!

Post by Regina McGonagall »

Sally Owens wrote: A parte do atraente eu deixo inteiramente a cargo do Alan Rickman e aos seus olhos, pois o Morcegão nunca me pareceu isso!
:?
bem... (eu não devia fazer isso :roll: )cenas dos próximos capítulos:

===
De repente, ele riu. Então, olhou pra ela com expressão estranha e perguntou:
- Eu sou tão feio como a tal de JK descreve?


===

- Está vendo? – Sarah rira ao comentar – O Professor Snape, inocente ou não, só fica sozinho porque quer. Embora eu continue achando que isso é mérito do ator... O Alan Rickman é bem mais charmoso que você.
- E tem alguém aqui querendo descobrir o efeito de uma maldição imperdoável ou coisa parecida...


===

só pra "adoçar a boca" de vocês um pouquinho...
:lol:
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Post by Tina Granger »

Adoçar? Voce quer nos ver loucas isso sim!
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Duas mulheres - A um passo - A irmã da Serpente

mais fics? olhe no fanfiction.net...

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Belzinha
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Post by Belzinha »

O capítulo arrasou, além de que eu adoro "A Feiticeira"! Morri de rir imaginando a Berenice com peruca loira! (estou adorando esta irmã "gêmea" da Sarah). :palmas

Eu maç estou tendo tempo para respeirar, mas quando consigo... É o máximo encontrar capítulo novo para ler e postar! Será que tem mais alguma coisa que eu esqueci de comentar com vc sobre este capítulo? Se me lembrar de mais alguma coisa te falo...

Me senti super-avontade com a família da Sarah, é como se estiversse em casa. Família bem-humorada, carinhosa. Realmente, até o Mestre de Poções "ameleceria" com pessoas assim.

Mais uma vez, parabéns! :palmas :palmas :palmas
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Post by Morpheus-O- »

Regina McGonagall,
Putz! Isso é maldade!
Otimos capitulos!
Ps:Entre, leia e comente as minhas fic's:
---------->História da Fundação-<----------
e a nova:
----------> Resolvendo o Passado (Lupin/Mary)<----------

sem mais,
Morpheus-O-
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Sally Owens
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Post by Sally Owens »

Concordo com o Morpheus! Isso foi maldade e maldade grande, Regina!
Quer deixar a gente maluco, é?
Posta logo o próximo, pleasee!

Beijão
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Regina McGonagall
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Post by Regina McGonagall »

Vocês são muito carinhosos (ou seria caridosos???) comigo :oops:

Antes de postar mais uma parte, uma pergunta:
é que a fic já está no presumível último capítulo... nº 22 :lol:
Posso postar pra vocês um capítulo por dia? ou atualizo de 2 em 2 dias?
Vocês é que decidem!

Quanto a este capítulo (o nº 8 ), talvez a pergunta inicial de todos mude a partir de agora... e a memória de nosso amigo já começa a se soltar...
vamu lá!

================================
Cap 8

- Então? Pronto para começar?
A voz tranqüila do médico o despertou de seu devaneio e John assentiu com a cabeça.
Se era preciso, que fosse logo.
Sarah permaneceu do lado de fora do consultório, mas Felipe entrou, a seu pedido.]
Então, os três homens se acomodaram na sala confortável e fresca, sem exageros de decoração.
O Dr.Edmundo colocou uma música suave, bem baixinho, e diminuiu a luz do aposento.
- Você deve tentar se manter o mais tranqüilo possível. Eu vou apenas induzir sua mente a caminhar para trás, para além do que sua lembrança atual está acessando.
- Você vai perceber estas lembranças ou pensamentos? – John perguntando, lembrando-se da própria capacidade que demonstrara de perceber os pensamentos e lembranças dos outros.
- Não. Você vai nos relatar o que achar que deva. Que seja pertinente ao seu caso e possa nos ajudar a encontrar as respostas. Apenas vou ajudá-lo a relaxar e conduzi-lo inicialmente até que se concentre o suficiente.
John olhou para Felipe, que também balançou a cabeça, em silêncio. E então, eles começaram.
Sob o comando vocal de Edmundo, ele tentou romper o véu de névoa que toldava sua mente e não o deixava perceber nada anterior ao momento em que despertara naquela sala de hospital.

Mas era tudo nebuloso e frio...

Então, depois de algum tempo, uma cena se desenhou... ele era um jovem, apontava aquele objeto de madeira para o alto, deitado em uma cama, pipocando flashs de luzes com ar entediado.
Depois, outra cena mais remota, uma tentativa de andar de bicicleta... mas a mente foi mais atrás...
Ele se viu um garoto de tenra idade, talvez um ano ou pouco menos... perto dele, um casal discutia, e ele tentou entender a discussão.
As frases pareciam soltas, estranhas:

- Eu vou encontrá-la! Leve o tempo que levar! – a mulher exclamava aos prantos.
- Por que não pergunta pros seus preciosos amigos? – o homem retrucava, sarcástico
- Eles não têm nada a ver com isso! – ela reagia
- Como não? Não são amantes das tais “artes das trevas”? Vai ver usaram a criança pra alguma coisa... Você não vivia se lamentando que ela se parecia comigo, então deveria ser como eu?
- Não seja idiota!
-Pensa que não ouvi? Você dizia que esse aí – ele apontava o menino – seria grande, mas ela, você não sabia... tinha saído tão parecida comigo... um trouxa...
- Eu vou encontrá-la. Ela tem a jóia. A jóia vai trazê-la de volta.
- Bobagem. Besteira! Desde quando amuletos funcionam?


E de novo a névoa envolvia tudo, e John relatou o que vira e ouvira para os dois médicos. Sem receio algum.
Enquanto Edmundo o ajudava a retornar, dizendo já ter sido bastante por um dia, Felipe permanecia pensativo.

Do lado de fora, Sarah estava ansiosa. Mas não perguntou nada, apenas se ele estava bem.
John disse que sim, agradeceu aos dois profissionais, e se prontificou a retornar na semana seguinte.
Felipe se despediu da irmã, cumprimentou Edmundo e John, e saiu, dizendo ter coisas urgentes a fazer no hospital.

John preferiu não comentar sobre a seção nada com Sarah, e ela respeitou isso, embora estivesse curiosa.
Mas algumas palavras pareciam saltar daquele diálogo mais reveladoras que outras... seriam seus pais, ou pelo menos sua mãe, algum tipo de ocultistas? De que “artes das trevas” estariam falando? Ficara claro que tratavam de outra criança, então ele deduzira não ser filho único. E isso era o que mais o surpreendia em tudo aquilo. Provavelmente, nunca reencontrara esta outra criança, pois não conseguia se imaginar com irmãos ou irmãs... era sozinho, tinha certeza.
Na quinta-feira daquela semana, Sarah trouxe para casa um dvd para assistirem.
- Lembra do filme com Alan Rickman de que falei? É uma comédia romântica, acho que vai ser bom de assistir. Este é um filme inglês, então acho que você vai gostar.

Então, à noite, eles se acomodaram para ver o filme. John cada vez se sentia mais à vontade naquelas situações, e isso parecia muito novo pra ele, mas bom. Começara a gostar até daquela coisa estranha e salgada, que fazia muito barulho ao ser preparada, e que Sarah chamava de pipoca!
No início do filme, o narrador falava de “onze de setembro”... de acontecimentos terríveis... e Sarah explicou do que se tratava, e do quanto aquilo abalara todo o mundo. E ele permaneceu pensativo, embora atento.

O filme realmente era leve, engraçado em algumas partes, sensível. E ele foi se envolvendo com a história. O tal Alan Rickman, como Sarah dissera, aparentava estar bem mais velho que no outro filme, sem a barba. E ele brincou se ela esperava que ele chegasse a ter aquela aparência em vinte anos.
- Se fôssemos um casal, o que não somos – ela se apressou em dizer – não seria nada mal. Acho ele um charme, você não?
John sorriu. Mulheres... E continuaram a ver o filme.
Em dado instante, o discurso inflamado do Ministro inglês. E ele falava das coisas que os ingleses tinham, e a audiência aplaudia. Em dado instante, exclamou:
- “Temos Harry Potter!” – e a audiência aplaudiu ainda mais, o personagem de Alan Rickman focalizado diretamente.
Mas John pulou do sofá.
- O que foi? – Sarah indagou, preocupada.
- O que ele disse? – ele suava, nervoso.
- Apenas o nome de um personagem de literatura, Harry Potter. Por que?
John olhou para ela como se aquele nome representasse um perigo.
- Você... o conhece? Esse Harry Potter?
- Não exatamente. Não li os livros. Mas meus sobrinhos sim, e falam nisso o tempo todo, se a gente deixar. Fizeram até filmes, acho que o Alan Rickman trabalha neles... – mas Sarah viu o quanto ele estava transtornado – Homem, o que foi? O que tem esse nome?
- Eu...não sei. – John pareceu mais confuso – Foi como um estalo na minha cabeça. Vi alguma coisa, um garoto, mas tudo sumiu de novo.
Sarah parou o dvd. Então, buscou um copo de água para John e o fez se sentar de volta, pois ele andava nervoso de um lado para outro.
- Olha, talvez você conheça alguém com o nome parecido, porque esse menino não existe. É só um personagem de literatura infantil. Relaxe.
John olhou para ela, como se nunca a tivesse visto, e em seu olhar havia um brilho diferente. De ódio e rancor.
- John... você está me assustando. O que está acontecendo de verdade?
- Não sei – ele respondeu, ríspido e nervoso como ela nunca tinha visto antes, e se deixou cair de novo no sofá. Fechou os olhos, tentando recuperar as memórias que teimavam em se esconder dele. Mas tinha certeza de que Harry Potter era algo concreto em sua vida, Algo, ou alguém, de que não gostava nem um pouco.

Sarah não insistiu. Sabia que as memórias dele podiam brotar de uma hora para outra, por qualquer motivo. Qualquer coisa poderia servir de gatilho, Edmundo a tinha prevenido para ficar atenta a tudo. E agora, eles tinham encontrado um gatilho e tanto: a simples menção do nome Harry Potter o havia deixado naquele estado!
Estava claro que tinha a ver com algo muito grave em sua vida. Mas Sarah teria que esperar que ele descobrisse, e ainda, que se decidisse por compartilhar tudo aquilo com ela.
John permaneceu em silêncio. Uma única frase surgira em sua mente. Ele gritava para alguém: “Não me chame de covarde!”

Nem ele nem Sarah disseram algo por um bom tempo. Até que ele se ergueu, pediu a ela desculpas e foi para o seu quarto.

=============================
Espero que não me matem depois deste... :roll:
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Post by Sally Owens »

:palmas :palmas :palmas :palmas

Adoreiiii! Estou cada vez mais curiosa, hehe!
Por mim pode ser um por dia!
Quando eu gosto eu vicio, aí tem que ser doses diárias, mesmo! :mrgreen:

Beijão Regina! O capítulo ficou genial!
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Post by Morpheus-O- »

acho que pode ser todo dia tb!
Não me agentaria em gradar mais do que isso se fosse vc!

Tá bem legal mesmo!
Mal posso esperar!
Personagem vendo ator é muito estranho!!!
Mas é genial!
Ps:Entre, leia e comente as minhas fic's:
---------->História da Fundação-<----------
e a nova:
----------> Resolvendo o Passado (Lupin/Mary)<----------

sem mais,
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Post by Regina McGonagall »

Morpheus-O- wrote:Personagem vendo ator é muito estranho!!!
Mas é genial!
se você já achou estranho nesta...

confira nessa outra aqui:
http://www.potterish.com/forum/viewtopic.php?t=7905

(se bem que o confronto personagem/ator só aparece mesmo lá pelo finalzinho... mas ela é definitivamente mais louca que essa nova :shock: )
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Post by Regina McGonagall »

Agora, falando sério e voltando ao ovo do dragão
(já que a Belzinha insiste que "voltando à vaca fria" é coisa de mineiro, uai, sô, que trem é esse... :lol: )

Primeiro: ninguém descobriu a "convidada especial" do capítulo anterior? :shock:

Segundo: ninguém falou nada sobre a regressão do John? :shock: :shock:

Eu quase ia deixar de postar, pra vocês aprenderem...
(mas estou querendo perder esta minha fama de má :roll: )

então, lá vai!!
(entrando já na nova parte, e desculpem, mas o capítulo precisou ser "mexido", então ficou muito grande... mas eram coisas essenciais para a fic, e que não cabiam em outro lugar... e no fim, fiquei sem saber onde quebrá-lo)
=====================================
Parte III - De volta à terra do Nunca

Cap 9

Na manhã seguinte, Sarah tentou agir como se nada tivesse acontecido. Era o dia da festa de Natal das crianças da Fundação em que ela trabalhava. Por isso, logo cedo, a campainha disparou.
Os Laurent vinham participar da festa, trazendo consigo muito mais que animação, foi o que John logo percebeu. Cheios de sacolas em embrulhos, isso sem falar nos bolos e doces que estavam no carro lá embaixo... Porque Beatriz ainda trouxera “um petisco” para o almoço de todos, que alimentaria a um batalhão inteiro, nos dizeres de Sarah.
- A senhora é mesmo exagerada, mamãe! – ela ria, enquanto colocava à mesa o que fora trazido.
- Eu não vou reclamar – John comentou, beliscando um dos pratos e recebendo de Beatriz um tapinha na mão, enquanto notava a sutil observação de Martinho quanto ao quarto ocupado pelo hóspede da filha. Mas não deu a perceber que vira seu gesto de pai preocupado.
Após o almoço rápido, um pouco mais cedo que o de costume, para não se atrasarem, depois de muitos risos e conversas, eles partiram para o local da festa.

John estava curioso a respeito desta instituição. No caminho, Sarah descrevera, entusiasmada, o seu funcionamento. Duas freiras, Sofia e Bernadete, tomavam conta de tudo, mas há muito, a casa deixara de ser administrada pela Igreja. Uma “ONG” (e ele deixou para depois as indagações sobre o que seria isso) administrava as finanças, o recrutamento de pessoal, as campanhas para arrecadar mais fundos...
Sarah fazia parte de uma equipe de voluntários, que atuava diretamente na parte pedagógica e de acompanhamento das crianças.
- São todos órfãos? – John perguntou.
- Não. Temos também uma creche casulo. Você sabe o que é, não? Um lugar para as mães deixarem as crianças, enquanto trabalham. Mas não se preocupe, nada a ver com Oliver Twist.
- Oliver... o que?
- Deculpe... às vezes esqueço de sua amnésia. – ela lhe sorriu – Um clássico da literatura inglesa, talvez depois você se lembre de ter lido.
John pensou por um minuto que duvidava que conhecesse algum título semelhante, mas não disse nada.
Sarah já passava por um portão largo, estacionando em um pátio rodeado por um jardim florido.
Logo, foram rodeados por crianças de todas as idades, que falavam sem parar, e era quase impossível caminhar. Uma garota de presumíveis 8 anos de idade abraçou Sarah pelas pernas.
Sarah, ao invés de se sentir tolhida, riu com vontade e se abaixou para abraçá-la direito.
- Então, mocinha. Quais as novidades? – ela perguntava, dando um peteleco no nariz da garotinha morena e franzina.
- Ah, tia! O Leo aprontou de novo, acredita? Foi parar em cima do telhado. Irmã Sofia pensou que ia ter de chamar os bombeiros pra tirar ele de lá...
- Verdade? – ela se voltou para um garoto um pouco menor, de cabelos castanhos e levemente cacheados, que sorria com cara de inocente, mas era notório seu jeito sapeca de quem se finge de santo – E como o senhor me explica isso, senhor Leonardo?
- Num sei... – o garoto deu de ombros num gesto gracioso – Só sei que queria pegar o papagaio e... subi lá.
- E depois não sabia como descer, hein? Que nem aqueles gatinhos de desenho animado, não é?
Sarah se divertia com o relato das travessuras do pequeno Leo, que John descobriu ser o irmão mais novo da garota, chamada Aline. Os dois eram tão diferentes!
- São filhos de pais diferentes – Sarah explicou, depois que a garotada correu para recepcionar quem chegava no outro carro – A mãe leva uma vida que até Deus duvida... Tem mais três filhos, já bem maiores. Mas que não estão mais com ela, também. Uma filha se casou, ainda adolescente... Os dois garotos, não sabemos. Mas, estes dois – ela tinha um ar triste e preocupado – não vamos deixar soltos por aí não!
Seu tom determinado fez com que John a encarasse, ainda mais curioso. Viu que ela claramente pretendia tomar os garotos sob sua responsabilidade, e até já movimentava os recursos para isso, sem dizer nada a eles, evidentemente, para não gerar uma expectativa prematura.
Mas já estavam de novo dentro daquela roda de crianças, que o incomodava ligeiramente. De uma coisa tinha certeza: não gostava de crianças, pelo menos não de tantas assim, juntas no mesmo lugar e ao mesmo tempo.
Enquanto tudo era ajeitado, as crianças já mais calmas – como se fosse possível chamar aquele alarido de calma – ele observava Sarah e seus familiares, que agora se juntavam também a um outro grupo já presente no grande salão cheio de mesas e cadeiras coloridas.
Por um momento, pensou estar vendo outro salão, maior e imponente, com mesas muito compridas e velas suspensas e teto transparente... mas aquilo era loucura. Então, concentrou-se em observar o ambiente real, à sua volta. Mesas eram tiradas do lugar, cadeiras colocadas em fileira, um palco era ajeitado. A um canto, uma grande poltrona, ladeada por embrulhos de presentes, aguardava o visitante mais esperado do dia: Papai Noel. Claro, papel destinado a ninguém menos que Martinho Laurent, que já se vestia numa salinha anexa.
- Estou ficando um autêntico São Nicolau – ele dizia, enquanto treinava um alegre “hohoho”.
John tinha a impressão de nunca ter trabalhado tanto, tinha a nítida impressão de que havia um modo mais fácil de fazer aquilo, embora o método “formiguinha” funcionasse muito bem... mas ajudou sem reclamar a arrumar a mesa do jantar especial das crianças, que seria no jardim.
- Ainda bem que o tempo está bom, sem chuva, ou teríamos que mudar nossos planos – foi o comentário de Paula, a pedagoga responsável, uma mulher jovem, de no máximo uns vinte e cinco anos, pelos cálculos de John.
- Você está certa, Paulinha. Ia ser um estrago... – Berê ria, feliz, enquanto arrumava uma penca de balões numa pilastra – Seus meninos estão aí?
- Não. Deixei com mamãe, ou eles não iam me dar sossego. Mas ela chega com eles mais pra hora da festa.
- Que legal. Eles são uma gracinha!
- Ah, e estão loucos pra ver o “Papai Noel da creche”. O do shopping, eles disseram que era falso, acredita nisso?
Enquanto as mulheres riam, John notou que uma ou outra criança tentava escapulir das salas de aula ou de brinquedos em que estavam, para espiar os preparativos.
Mas Sarah resolveu lhe mostrar todo o lugar. Começou pelos quartos, a essa hora vazios, onde beliches bem arrumados e paredes enfeitadas lhe chamaram a atenção. Os maiores, os “internos”, logo chegariam da escola pública em que estudavam, nas proximidades. Aí, sim, começaria a festa.
As irmãs de caridade, já bem idosas, mas nem por isso menos animadas que as “jovens voluntárias”, sorriam com alegria e orgulho ao lhe mostrar a cozinha, lavanderia, tudo limpo e organizado ao extremo.
Depois, passaram pelas salas dos pequenos, e na sala de estudos onde estavam os que tinham aula pela manhã. Lá, encontraram Aline, que fizera um desenho de sua família, e mostrou alegre para Sarah.
John ficou em silêncio, notando as lágrimas que se formaram rapidamente, quando ela percebeu que fora retratada pela garota, no lugar da mãe. O desenho mostrava Sarah, ladeada por Aline e Leonardo, num parque todo florido e cheio de animais, alguns exóticos e estranhos. Ela se recompôs logo, conversando com as outras crianças, e neste meio tempo, Berenice apareceu, chamando-os para o salão.
Lá, tudo já estava pronto. No palco enfeitado com faixas e balões coloridos, alguém já estava a postos com um violão, tocando e cantando, enquanto as crianças tomavam seus lugares, orientadas pelas professoras e outros voluntários que, vestidos de palhaços e outros personagens infantis, cantavam e faziam gestos acompanhando a letra da música.
E a festa começou, afinal. Músicas, encenações, poesias... e o fecho com a entrada do tão esperado Papai Noel. Martinho estave irreconhecível, sacudindo uma barriga aumentada por almofadas e dando risadas bem-humoradas.
A gritaria foi geral, mas logo todos se aquietavam, esperando que o nome de cada um fosse pronunciado pelo “bom velhinho”, para ir receber o seu presente.
Sarah, radiante de alegria, ajudava ao pai, junto com Berenice.
Depois, o jantar, mais festa, mais alegria, e quando partiram dali, estavam todos cansados, mas felizes.
No carro, dirigindo em silêncio, Sarah estava mais pensativa do que o de costume, e John perguntou o que a preocupava.
- Ah, aqueles dois... Eu queria conseguir logo a adoção definitiva, ou pelo menos a guarda provisória, enquanto espero... assim, poderia levá-los pra casa.
- E isso é muito difícil? – John perguntou.
- Mais ou menos. A burocracia é muito grande, a Justiça muito morosa... e ainda tem o fato de os dois terem mãe viva... embora de vida completamente irregular. Claro que ela os abandonou completamente, além do histórico de maus tratos. Mas estou mais preocupada, porque eles têm apresentado algumas dificuldades... essa história do Leo ir pra cima do telhado, por exemplo... e a Aline também faz coisas estranhas, às vezes. Parece que atrai acidentes...
- Acidentes? – John ficou curioso e inquieto, sem saber porque.
- Sim. Com fogo, principalmente. Se bem que... eu também era assim, quando criança. Minhas professoras costumavam brincar que ainda bem que meu pai era bombeiro.
O tom de brincadeira não enganou John, ela realmente estava preocupada.
- O Leonardo, tudo bem, eu entendo em parte. Ele está com um acompanhamento especial agora, tem diagnóstico de hiperatividade... Mas a Aline é tão tranqüila, e ainda assim...
Mas ela interrompeu a conversa, a estrada estava movimentada, exigindo sua atenção. E estavam todos loucos pra chegar em casa... Seus pais estavam no carro à frente, de vez em quando Berenice mexia com eles pelo vidro traseiro, como uma criança.

==========
(pequeno parênteses: a instituição e os acontecimentos descritos neste capítulo são ficção, mas baseados, estes sim, em fatos reais. não é, repito, não é nenhuma tentativa de transformar a personagem em madre tereza de calcutá. todos os personagens estão agindo como as pessoas normais e acontecimentos que inspiraram a construção deste capítulo)
Last edited by Regina McGonagall on 27/04/06, 15:35, edited 2 times in total.
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Post by Regina McGonagall »

O capítulo não acabou... mas achei melhor partir ao meio...
===========================================

Chegando em casa, Martinho logo arrastou John para a biblioteca, e Sarah se despreocupou dele. Nem se lembrava mais do ocorrido na véspera.
No dia seguinte, porém, Berenice sem querer tocou num assunto que despertou a inquietação de ambos novamente.
- Sabe, amanhã vai passar um filme com Alan Rickman na tv. Ele está sem a barba, mas mesmo assim ainda está parecido com você, acredita? Ah, e tem uma porção de gente na cidade querendo te conhecer...
- Por uma porção de gente... – Sarah comentou, tentando parecer despreocupada – Devemos entender algumas assanhadas que ficaram curiosas porque minha irmã querida falou mais do que devia...
- Bem... – Berenice riu, meio sem jeito – Você sabe como são essas coisas... saiu sem querer...
- Sei... “sem querer querendo”....
A outra piscou, mas John estava sério, embora tranqüilo, aparentemente. Em algum lugar de sua mente havia o registro de que dissimular as emoções era coisa natural para ele.
- E, voltando à vaca fria... que filme é esse?
- Ah, o primeiro da série Harry Potter. Os meninos da Helena estão loucos pra ver, só falam nisso. Como se já não tivessem assistido um zilhão de vezes....
- O... primeiro? – ele conseguiu perguntar.
- Sim.”Harry Potter e a Pedra Filosofal.” Vocês nunca ouviram falar? Onde vocês dois estavam nos últimos anos? Em Marte?
John e Sarah trocaram um olhar de mútuo entendimento. Não perderiam aquele filme de jeito nenhum!

À tarde, como Berenice previra, a toda hora tinha uma antiga colega ou amiga de Sarah querendo “revê-la”, mas na verdade, já corria pela cidade o boato de que ela tinha trazido um “namorado estrangeiro” para casa, que era “a cara do Alan Rickman”.
Ele estava quase se divertindo com a situação, só por vê-la tentando explicar que eles não eram namorados nem “nada parecido” para se arrepender em seguida porque as tais amigas não paravam de “assediá-lo”.
Martinho acabava por dar grandes risadas a cada vez que uma das tais amigas ia embora, deixando Sarah bufando de raiva. E John se deixava contagiar por sua risada aberta. Sarah, então, não tinha remédio senão rir também.
- Sabe de uma coisa? – ela disse por fim, depois da quinta ou sexta “colega de escola” ter se despedido relutante – daqui por diante, Sr. John Smith, temos compromisso sim, ou você não vai conseguir sobreviver a esse bando de sirigaitas metidas....
A risada de Martinho soou mais forte ainda, fazendo até com que Beatriz viesse correndo da cozinha pra saber o que estava acontecendo.
E Berenice foi jurada de morte pela irmã adotiva pela décima vez no mesmo dia, coisa que não acontecia desde os tempos em que ambas cursavam o ensino médio.

No dia seguinte, além de Helena e marido e filhos, Felipe também chegou para o almoço, fazendo a velha Beatriz exultar por ver a família quase toda na mesa outra vez.... e nem era Natal, ainda.
Felipe e Sarah se fitaram em silêncio, como que se perguntando quem contaria que André não viria afinal...
Após o almoço, os homens conversavam na varanda favorecida pela sombra de uma trepadeira florida. Sarah se aproximou, sentando-se, como sempre fazia, no braço da cadeira de seu pai. Ele resolvera contar sobre o dia em que a encontrara.
- Foi um dia difícil aquele. Trabalhamos demais para conter aquele incêndio. Ele parecia sobrenatural, não apagava nunca. Acreditávamos, pelo menos, que não havia ninguém no local, não havia vítimas. Então, do nada, comecei a ouvir um choro forte de criança. Parecia que só eu ouvia, talvez favorecido pela posição em que estava e pela direção do vento. Vinha da lateral do terreno, quase no meio do foco do fogo. Fui até lá, meio receoso até de estar imaginando coisas... e então a encontrei.
Ele olhou para Sarah, os olhos se enchendo de lágrimas.
- Lá estava ela, pequenina, envolta numa manta preta, nunca vi uma criança em algo assim. Estava nos braços de uma mulher estranha, roupas esquisitas, parecia uma dessas mendigas de rua. Se era sua mãe,nunca soubemos, mas duvido sinceramente que fosse. Estava morta, e não trazia nenhuma identificação.
- Por que está lembrando disso agora, pai? – Sarah perguntou num sussurro.
- Estávamos comentando sobre o fato de John ter sido salvo de um incêndio, e achei uma coincidência muito grande. Como se você tivesse essa dívida para com ele: foi salva de um incêndio, então tinha que salvar alguém. Ação e reação, carma, coisas assim...
- Mas não fui eu que o tirei do incêndio, pai, não sou do Corpo de Bombeiros.
- Mas é você que o está acolhendo, enquanto ele não encontra seu lar verdadeiro, não é? – Martinho exclamou com veemência, e Sarah reconheceu que não adiantava discutir com ele quando falava daquele jeito.
Martinho continuou:
- Pois é, meu caro. Quase não conseguimos salvá-la. Naquela época, era mais fácil ficar com uma criança. Hoje, a burocracia é bem maior. Mas tínhamos Berenice praticamente da mesma idade, e peito que amamenta uma, amamenta duas, não é, minha velha?
Beatriz, que também viera para a varanda, concordou com um sorriso enlevado, como se recordasse as crianças aninhadas em seu colo, mamando sossegadas.
John os fitou com curiosidade. Para eles, era natural acolher, aconchegar, socorrer. Que gente singular!
- Sabem? Vou falar a respeito com o Antônio, quando for à Associação. Ver com o pessoal da Prefeitura. Aquele lugar deveria ser condenado e interditado permanentemente. Vira e mexe tem um incêndio ali, que coisa esquisita – Martinho comentou, meio alheio.
- Como assim, pai? – Felipe indagou, curioso – Que lugar?
- Ora, não foi naquele incêndio da fábrica de fogos que vocês acharam nosso amigo aqui? No final de outubro? – ele bateu no ombro de John - pois então! Enquanto estava de serviço, vi muitos incêndios naquele lugar, sempre longos e difíceis de apagar. Inclusive, foi lá que encontrei Sarah. Vocês não sabiam? Que foi no mesmo lugar?
Todos os presentes se olharam, cada qual tomado por uma impressão diferente e estranha. Aquela revelação era a mais surpreendente que poderiam escutar. Claro que os filhos já estavam acostumados com os casos mirabolantes, alguns verdadeiramente engraçados, outros dramáticos, que o pai contava de seu tempo como oficial do Corpo de Bombeiros. Mas essa... ninguém esperava.
Ver juntos dois sobreviventes de incêndios diferentes ocorridos num mesmo local, era muito pra qualquer um.
- Parece... magia – Berenice comentou, depois de algum tempo – Eu, hein? Que coisa esquisita. O senhor fica contando essas histórias, e depois reclama que o povo o chama de “macumbeiro”...
- Mas é verdade! Foi no mesmo lugar! Volta e meia, tem incêndio ali, se você quiser confirmar é só ir à associação pra consultar os arquivos....Eles guardam até fotos, para comparação dos casos.
- Não precisa, pai. Nós sabemos que é verdade. Eu já tinha percebido a coincidência, só não comentei com a Sarah porque não houve oportunidade.
John olhou para Felipe e teve a nítida impressão de que havia mais alguma coisa que o médico ainda não tinha revelado para a irmã sobre seu caso. Mas evitou sondar sua mente, não queria fazer disso um hábito.
Beatriz, com sua sabedoria maternal, conduziu a conversa para outros assuntos, e aquilo foi esquecido por enquanto.
Felipe também se admirou quando,na biblioteca, viu como John e seu pai conversavam sobre as plantas e suas propriedades. O inglês desmemoriado era profundo conhecedor de farmacologia e botânica. Ele e Martinho chegavam a discutir sobre alguns efeitos de certos espécimes, como se fossem dois farmacêuticos em um laboratório de testes.
Sarah ria da reação do irmão, mas por fim comentou que estava achando aquilo ótimo, pois forçava a memória de John a se revelar naturalmente. E que Edmundo na certa gostaria de saber disso.

Mas chegou a hora do tal filme na tv. Os filhos de Helena haviam teimado em assistir na casa do avô, o que inquietou Sarah um pouco.
Estava desconfiada de que o filme realmente abalaria John de alguma forma, e temia que ele tivesse alguma reação estranha que assustasse sua família. Comentara o mais sutilmente possível com Felipe sobre a reação dele ao nome Harry Potter, e o médico lhe prometera ficar atento para qualquer situação que pudesse fugir do controle.
Então, o filme começou.
John permanecia calado, atento à tela, já tranqüilo para acompanhar a dublagem, pois aprendera o português inteiramente com rapidez impressionante.
Sarah mais olhava para ele do que para o filme em si, tentando estudar cada uma de suas reações.
Então, aconteceu. Harry perguntava ao colega do lado quem era aquele professor... que o encarava de volta... o ator Alan Rickman, Sarah reconheceu de pronto, mas...
- Nossa, se o “seu” John tirar a barba, fica mesmo a cara do Professor Snape, não é, tia Sarah?
A fala do filho de Helena teve o efeito de uma bomba para o homem sentado no sofá atrás do garoto.
Sarah respondeu qualquer coisa para o garoto, olhando da tela para o rosto de John. Mas este estava impassível, fixo na tela.
Na seqüência das cenas, a primeira aula de poções de Harry Potter... e John praticamente balbuciou todas as palavras da fala do tal professor Snape...como se já as conhecesse de cor e salteado.
Sarah, atenta a ele, percebeu, mas não disse nada.
Ao final do filme, com todos comentando a mesma coisa, John sorriu dizendo que iria distribuir... como eles chamavam mesmo? Autógrafos, isso, depois do lanche que a “Vó” Beatriz preparara.
E acabara por arrancar dos garotos a promessa de que eles levariam os livros para ele no dia seguinte, sim, eles tinham todos os seis, Helena comprara o último naquela semana mesmo.
- Você vai ter uma semana cheia, meu amigo – Martinho bateu em seu ombro – seis livros para ler.
- Acho que vai ser uma experiência... esclarecedora – ele comentou apenas.
E não deu mais nenhum sinal de que havia sofrido algum abalo com o filme.

Na manhã seguinte, ele se mantinha tranqüilo. Por nada no mundo diria a Sarah que passara a noite praticamente em claro, relembrando cada cena do filme, tentando puxar mais alguma coisa da memória, em vão.
Quando Eduardo, o sobrinho de Sarah de 13 anos, chegou lhe trazendo os livros como prometera, ele teve que se conter para não se retirar para o quarto no mesmo instante, tão ansioso estava por conferir a história escrita.
E a semana inteira, ele se dedicou a ler os livros, um por um. Sarah resolveu acompanhar sua leitura, e conseguiu de um amigo dos sobrinhos os livros emprestados. Queria ler ao mesmo tempo que John, sem ter que lhe pedir os livros. Então, na sexta-feira, eles se sentaram sozinhos na varanda, e ele finalmente falou a respeito.
- Você leu também, não foi? – e ao sinal afirmativo, indagou – E então? O que achou?
- Bem... gostei dos livros, mas... aonde exatamente você quer chegar?
- Você pode achar que estou louco, mas cheguei a uma conclusão: Sou Severus Snape, o antigo mestre de poções da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
- John... isso não tem cabimento! Esses livros são obras de ficção!
- Como você pode ter certeza? – ele a fitou com profundidade – Seu pai repete sempre que “há mais...
- ... mistérios entre o céu e a terra do que pode prever a vossa vã filosofia”... eu sei, mas...
- Quer que eu prove?
Então, sem que ela imaginasse o que faria, ele retirou a varinha, pois agora sabia, aquilo era uma varinha, a SUA varinha, e exclamou:
- Lumus!
A ponta da mesma se acendeu.
Ele exclamou: “Nox” e ela se apagou, e ele fitou Sarah.
- Este é o feitiço mais simples que eu posso fazer, mas se você quiser, faço um de transfiguração... deixe-me ver...
Ele apontou para as graciosas pantufas que ela usava e as transformou em dois coelhos rosados que começaram a correr pela varanda.
Sem saber o que dizer, Sarah o fitava, completamente aparvalhada.
- Eu também posso fazer você flutuar de ponta-cabeça, quer ver? Levita...
- Não! Chega, já entendi. – ela segurou seu braço – Por mais que possa parecer loucura, eu acredito em você mas... duas perguntas.
- Sim?
- Sua memória. Voltou, ou você apenas concluiu pelos livros?
- As duas coisas. As lembranças foram voltando à medida que eu lia, e confesso que foi interessante saber de mim mesmo por outro prisma, me ajudou a entender certas... coisas. Mas minha memória ainda não voltou integralmente. E qual a outra pergunta?
- Como você veio para aqui, se é mesmo um bruxo?
- Isso, realmente, não sei. Esta parte da memória teima em não voltar. Lembro-me da fuga de Hogwarts, como está no último livro – ele silenciou um tempo – Sei que sou considerado traidor e assassino e que aqui – ele apontou para o braço onde a leve mancha persistia – existia mesmo aquela tatuagem que você viu no tal site, a “marca negra”. Mas como ela saiu daqui e o que aconteceu depois, não me recordo bem ainda. Apenas fragmentos. Não sei também como fui parar no meio daquele incêndio... ainda.
- Entendo... – Sarah murmurou
- O mais surpreendente – ele continuou – é que parece existir um lapso de pelo menos 8 anos entre estes acontecimentos e o momento em que estamos... e isso é o mais difícil de entender...
De repente, ele riu. Então, olhou pra ela com expressão estranha e perguntou:
- Eu sou tão feio como a tal de JK descreve?
- Claro que não! – Sarah respondeu de pronto. Depois, estendeu a mão, brincando com os cabelos dele que haviam crescido mais um pouco e já batiam nos ombros – Pode ser por estar lavando-os com mais freqüência, mas seus cabelos não são tão oleosos, sua pele não está mais tão... branca, você está meio rosado pelo sol e não acho que seja macilento... e... nem seu nariz é tão grande! Isso é excesso de liberdade literária da parte dela!
A risada dele cortou o ar, mas ele logo ficou sério.
- E você me acha tão mesquinho e rancoroso como diz nos livros?
- Bom... você tirava mesmo pontos da Grifinória, assim, por nada?
Ele a fitou de um jeito estranho... e Sarah achou melhor nem saber a resposta, mas continuou:
- Bem... digamos que o Snape dos livros precisa mesmo de um bom terapeuta! Mas os livros são escritos pelo prisma de um garoto que antagoniza com o professor desde o primeiro instante... Claro que a relação entre eles é meio tumultuada, me parece que o Snape... – ela olhou para ele – não enxerga o garoto exatamente como um garoto.
- Você ainda não acredita que eu sou Severo Snape... – ele constatou – ainda acha que é loucura minha afirmar isso...
Sarah ia responder, mas a voz de sua mãe se fez ouvir, vinda do outro lado da casa:
- Martinho, tem um par de coelhos correndo pelo quintal! Olha lá, eles vão pra minha horta! Vão comer tudo!
Dali a pouco, a voz de Martinho dizendo que ela devia estar sonhando, que não existiam coelhos soltos pela cidade, e ela insistindo, mesmo não conseguindo mais ver os bichinhos.
- Acho melhor dar um jeito nisso – “Snape” comentou, antes de erguer a varinha e exclamar – Accio coelhos!
No mesmo instante, os coelhos estavam no colo da Sarah. Ele apontou novamente a varinha, e eles voltaram a ser um inocente par de pantufas rosadas, embora agora ostentassem um par de orelhas.
- Assim fica mais... fofinho. – ele disse, rindo.
- Bom, duvido que o Snape dos livros fizesse algo parecido... – Sarah comentou – Se você é ele, então mudou sensivelmente... e pra melhor – apressou-se em completar.
- Realmente. – ele sorriu – Mas acho que a dose maciça de “família” que tive convivendo com vocês mexeu mais comigo do que se tivesse ficado um ano agüentando os Weasley...
- Os ruivos... a família de cabeleiras flamejantes que você falou!
- Sim. – ele suspirou – Arthur sempre me pareceu um louco... Sete filhos! Na condição dele!..
- E... agora? – ela se forçou a perguntar – O que você pretende fazer?
- Esperar. – ele disse por fim – Manter posição e aguardar os acontecimentos, pelo menos até conseguir me lembrar do que falta. Não sei exatamente qual minha posição atual, embora tenha a impressão de que o Lord das Trevas foi destruído, ou esta história não teria vazado para o mundo trouxa como vazou, através desses livros... Não sei se ainda sou procurado pelo assassinato de Dumbledore...ou se já fui condenado e estou fugido... não consigo me lembrar de coisas excepcionalmente importantes.
- Mas... – Sarah soltou um longo suspiro – a mim pareceu que era tudo um plano... quer dizer, pelo desenrolar dos livros, o Snape... você... me pareceu um agente, um espião sempre colocado ao lado do inimigo em situação estratégica.
- Mas de qual lado eu estaria realmente? Você conseguiu concluir?
- Bom... isso só você pode me dizer mas... entrei hoje na Internet, fiz umas pesquisas...
- E...?
- Encontrei um fórum sobre... Harry Potter... onde muitos questionam isso e consideram que você agiu o tempo todo sob as ordens de Dumbledore. Vi tópicos com títulos como “Prova definitiva da inocência de Snape”...
- É mesmo? – ele sorriu – Isso me faz sentir melhor. Parece que os trouxas vêem coisas que os bruxos não enxergam nem debaixo do próprio nariz – e olhou para a ponta do seu nariz, por um momento pensando que aquela tal de JK tinha exagerado sobre o seu tamanho...
Sarah o observou com certa tristeza. Não queria pensar muito no assunto, mas aquilo tudo ainda parecia loucura, mesmo ainda segurando suas pantufas, com o receio tolo de calçá-las e levar uma mordida.
- Garanto que não há perigo. São apenas pantufas agora. – ele a tranqüilizou, e Sarah reagiu.
- Você podia pelo menos deixar de usar essa... legilimência, é isso? Pois é, você podia parar de usá-la em mim, por favor?
- Tudo bem, eu prometo. – ele ergueu a mão, intimamente se divertindo com isso – Ah, e acho que não precisa continuar a me chamar de John. Pode ser Severus, daqui pra frente.
- Está bem. Eu vou tentar... mas isso vai ficar esquisito...
- Ah, diz que é só uma brincadeira, porque eu pareço com o tal de... Alan Rickman...
- É, vamos ver no que dá.

No dia seguinte, ele comentava risonho à mesa do café que Sarah o achara tão parecido com o cara do filme, que ele agora atenderia pelo nome de Severus Snape. Que, sinceramente, soava bem melhor do que “John Smith”, concluiu.
A explicação pareceu agradar aos outros, e ficou por isso mesmo, para alívio de Sarah. Martinho chegou a afirmar contente que então poderiam conversar muito mais sobre as plantas medicinais e suas propriedades, já que ele era mesmo um expert em poções... mas passou a chamá-lo simplesmente de “Professor”.
Seus sobrinhos, quando eles foram pessoalmente devolver os livros, é que gostaram da novidade. Iriam dizer aos amigos que conheciam o Snape de verdade. Mas queriam saber dele o que aconteceria no próximo livro.
- Isso, eu sei tanto quanto vocês. – ele respondera, dando uma piscada misteriosa.
À tarde, fez Sarah entrar no tal de fórum, ficara curioso com o que os “trouxas” diziam sobre tudo aquilo. Também descobriu que havia fóruns específicos para o “seu personagem”, e muitas fãs femininas, algumas pródigas em escrever histórias românticas e até... ousadas a seu respeito.
- Está vendo? – Sarah rira ao comentar – O Professor Snape, inocente ou não, só fica sozinho porque quer. Embora eu continue achando que isso é mérito do ator... O Alan Rickman é bem mais charmoso que você.
- E tem alguém aqui querendo descobrir o efeito de uma maldição imperdoável ou coisa parecida...
- Você não teria coragem... Sua assistente social favorita... sua “irmã de sangue”!
Sarah fazia alusão pela primeira vez à doação de sangue que lhe fizera, mas ele parou e a fitou, subitamente sério.
- O que foi? – ela já aprendera a reconhecer naquela expressão uma preocupação a mais.
- Isso ainda está estranho pra mim... No mundo bruxo, não existem intervenções como esta. Eu teria tomado uma poção revitalizadora, apenas isso.
Sarah não disse nada. Algo lhe dizia que a preocupação dele não era exatamente esta.
======================

ufa... pronto. agora é que a coisa esquenta... será? :?
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Fantástico!!

Post by Sally Owens »

AHHHHHHHHH! :o :o :o
Que capítulo :palmas :palmas :palmas :palmas
Reviw completa, então? Ok!
1) Capítulo grande de quem escreve bem é uma benção e não uma chateação, então, seu capítulo ficou PERFEITO!
2) "Convidada Misteriosa": Uma moça brasileira que mora na Inglaterra, chamada Ana? Vou ter que pensar muito sobre isso :roll: . Conheço uma que a mãe se chama Bel e a madrinha Sally, será? Hehehe
3) Severo Snape encontrando sua memória através da percepção do Harry! Genial, genial, genial!! Sem outra palavra.
4) Outras duas coisas que acho que já sei: as crianças do orfanato e a ligação entre a Sarah e o Snape... Mas vou deixar assim, até vc contar com todas as letras, hehe :D
Para finalizar, AMEIIII esse capítulo! mal posso esperar pelo de amanhã! Que bom que vem amanhã hihi! :wink:
Beijão, Regina!
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Re: Fantástico!!

Post by Regina McGonagall »

Sally Owens wrote:2) "Convidada Misteriosa": Uma moça brasileira que mora na Inglaterra, chamada Ana? Vou ter que pensar muito sobre isso :roll: . Conheço uma que a mãe se chama Bel e a madrinha Sally, será? Hehehe
sinto muito... você está errada... embora tenha passado perto (não tem a Ana por aí.. ainda :lol: )

e como diria a JK: não posso falar mais nada, ou vou me comprometer... :mrgreen:
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Post by Morpheus-O- »

Regina McGonagall,
Na sessão de regressão do Severo eu achei que ele ia descobrir mais sobre Hogwarts...
Mas como vi ele descobriu mais sobre o sangue do que ele mesmo podia imaginar...
Risos...

Mas a convidada especial eu sinceramente boiei....
To adorando ler! Só espero que ele não fique bonzinho demais! Perde o encanto...
Risos...
Ps:Entre, leia e comente as minhas fic's:
---------->História da Fundação-<----------
e a nova:
----------> Resolvendo o Passado (Lupin/Mary)<----------

sem mais,
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Post by Belzinha »

Pantufas com orelhas... "Assim fica mais... fofinho" - HAHAHAHAHAHAHAHA! :lol: hHAHAHAHAHAAHAH!

IM-PA-GÁ-VEL ver estas palavras saindo da boca do Snape! Hhahahahaha! Genial.

Não, e a parte que ele se recorda de quem é a partir do filme? Uau!

Sem contar as "sirigaitas" atrás do cara que é parecido com o Alan Rickman... HHAHAHAHAHA!

Demais! Já elegi este capítulo como um dos melhores!
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Post by Regina McGonagall »

Morpheus-O- wrote:Regina McGonagall,
Na sessão de regressão do Severo eu achei que ele ia descobrir mais sobre Hogwarts...
Mas como vi ele descobriu mais sobre o sangue do que ele mesmo podia imaginar...
Risos...

Mas a convidada especial eu sinceramente boiei....
To adorando ler! Só espero que ele não fique bonzinho demais! Perde o encanto...
Risos...
Bem... a parte referente à própria identidade estava bem bloqueada mesmo... e o psiquiatra o ajudou a ir mais longe... mais na origem... e pegou justamente uma parte... traumática, digamos.

Fico feliz que esteja gostando tanto, e fique tranquilo... bonzinho demais, eu não digo. Mas, pô, todo mundo pode melhorar um pouquinho, né? :lol:

quanto à convidada... vou ter que ajudar um pouco :? Lembrando que Sarah e Berenice, presumivelmente têm 34 a 35 aninhos... a "pessoa" citada por elas tem uns 10 anos a menos.
- Sarah, lembra-se da Izabel, aquela garota novinha de Santa Catarina que estudou inglês conosco?
- Lembro sim. Aliás, falei com ela há uns quinze dias, acredita? É uma senhora “dotora adevogada” agora! Um casal de Santa Catarina adotou um dos garotos da Fundação, ela que tratou da papelada pra eles.
com esta super dica... não é possível, né? :roll:
(a menos que ela mesma se revele... não vou dizer mais do que isso)
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Post by Sally Owens »

É a Bel, é a Bel, é a Bel!!!!!!!! :D :D :D

(Lembrei dos gritos de "é o lobo, é o lobo, é o lobo" - alguém lembra do desenho do cachorrão e do carneirinho? Hehehe!!!)

Genial, Regina, eu até tinha pensado nisso quando li, depois... passou hehe :oops:

E o capítulo novo???
Pleaseee
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Post by Regina McGonagall »

Sally Owens wrote:
E o capítulo novo???
Pleaseee
Já que a madame insiste... quem sou eu pra fazer doce?
lá vai.
==============================
Cap 10

Tomavam o lanche da tarde, quando Berenice comentou que um amigo delas, que se tornara músico profissional, e famoso, estava na cidade para as férias, e prometera uma “canja” no antigo ponto de encontro da turma. Isso significava uma roda de violão que provavelmente iria varar a madrugada... Afinal, além dos amigos antigos a cantar velhas canções, apareceriam os fãs novos, com certeza. A presença do músico não passaria despercebida.
A irmã insistiu, disse que ela não podia ficar isolada dos antigos amigos, nem perder aquela oportunidade de ver o “amigo” sem ter que pagar ingresso
- Ok, você venceu! Batata frita! – Sarah exclamou e as duas riram juntas, enquanto Snape levantava uma sobrancelha curiosa.
- Isso seria o nome de algum feitiço daquelas suas... personagens favoritas? – ele perguntou, por fim
- Hein? – Berenice o fitou, confusa, mas Sarah respondeu de pronto, entendendo o que ele queria dizer.
- Ah, não. É só um pedaço de música. De um conjunto chamado Blitz. É como uma novelinha, eles estão em um barzinho e a garota quer batata frita, mas o cara não quer comprar. Depois, ele se dá por vencido e diz: “Ok, você venceu. Garçon, traga uma porção de batata de frita.”
- Isso! – Berenice completou, risonha – E nós usamos pra dizer: está bem,eu faço o que você quer...
- Ah... – ele entendera... pelo menos esta parte, admitiu em silêncio, mas Berenice lhe perguntava algo – O que disse?
- Eu disse que você vai também, claro.
- Bem... – ele olhou pra Sarah, antes de responder em tom alegre – Claro, não vou ficar trancado em casa numa noite que promete tanto!
Sarah examinou sua expressão com cuidado. Nunca imaginara que ele concordaria em acompanhá-las num programa desse tipo. Ainda mais que tinha detestado o movimento intenso do shopping...
Mas Snape lhe sorriu, um sorriso inimaginável no antigo professor de poções de Hogwarts, ela concluiu. Então, disse em voz alta.
- A sua sorte é que não estou com a câmera de Colin Creevey aqui!
Ele fez um falso ar de susto, ergueu as mãos como para repelir a ação da câmera, e os dois riram então com vontade.
- Vocês poderiam pelo menos me explicar qual a piada, assim eu posso rir também – Berenice reclamou, e eles a fitaram como se ela fosse uma assombração. E riram mais ainda.

Intimamente, Snape pensou que, sem dúvida, muitos de seus ex-alunos não acreditariam se o vissem agora, rindo como se tudo em sua vida se resumisse àquela tarde na varanda programando um passeio noturno com duas mulheres, e o que era pior: duas trouxas. Uma vaga impressão de Lucius Malfoy fazendo um comentário maldoso a respeito também passou, fugaz, por sua mente, mas ele o expulsou sem pestanejar. Não nutria nenhuma “segunda intenção” para com Sarah ou sua irmã, com certeza. Nada parecido sequer passara por sua cabeça, e por um momento ele se perguntou porque. Mas depois, resolveu não pensar no assunto, pelo menos não por enquanto...

Quando, finalmente, estavam prontos para saíram de casa, Snape pensou por um momento se não seria um erro expor-se mais ainda, convivendo com tantos trouxas assim. Por um minuto, passou por sua cabeça a idéia de que talvez ali também existissem bruxos, não revelados. E se soubessem do ocorrido na Inglaterra, e o reconhecessem?
Sarah riu-se de sua preocupação. Estavam no “mundo real”... bem, isso não era um argumento muito forte, ela reconheceu, mas, quem sabe ele não atravessara o portal dimensional que dividiria o “mundo da ficção” e o “mundo real”? Quem sabe, ele não teria também passado por aquele véu misterioso, como Sirius Black?
A simples possibilidade de ter ido parar no mesmo lugar que aquele... “Pulguento” o fez ficar tenso.
Sarah se desculpou, era só brincadeirinha. E ele a ameaçou com uma “cruciatus”, caso pretendesse continuar com aquelas... brincadeirinhas.
Mas Berenice reclamou daquele papo de doido, enquanto Martinho os acompanhava até o portão, com as costumeiras e infindáveis recomendações de pai:
- Meninas, lembrem-se: se pedirem bebida, que seja aberta na sua frente. Se forem ao banheiro, quando voltar peçam outra, e...
Berenice interrompe: - Ora, pai, não somos mais crianças, sabemos nos cuidar. E todo mundo lá é de casa!
- Nunca se sabe, todo cuidado é pouco. Vigilância constante! Não é mesmo, Professor?
Entre divertido e espantado, já que o velho bombeiro acabara de repetir o "lema" do lendário auror Olho Tonto, Snape respondeu:
- Claro. Nunca se sabe se alguém vai pingar umas gotinhas de veritaserum na sua bebida e fazer você confessar seus segredos na frente de todo mundo...
- Meu Deus! Quanta bobagem! – Berenice retrucou – Gente, só vamos à Pizzaria do Bentinho...ali na praça da cidade!
Ao que Snape respondeu:
- Você ouviu seu pai, mocinha. “Vigilância Constante”!
Rindo, os três se despediram do velho coronel que resmungava um discreto “pelo menos alguém me entende” – e seguiram a pé até a tal pizzaria, que realmente era muito próxima.

Ao entrarem, viram logo o grupo já bem estendido de mesas e cadeiras, em volta de um homem de cabelos claros e repicados, tocando violão e cantando. John logo o reconheceu como o cantor da festa de Natal da Fundação. Ele também os viu, acenou-lhes, despertando a atenção dos outros, e parou de cantar:
O cantor pigarreou, enquanto alguns protestos eram ouvidos.
- Desculpem, mas... é que chegou alguém muito importante pra mim, e não posso deixar de cantar uma especial para ela, mesmo que pelo visto não tenha mais nenhuma chance... Mesmo assim, ela continua sendo a Dona do meu coração, por isso...
Ele posicionou novamente o violão, e cantou:
- “Donna desses traiçoeiros sonhos sempre verdadeiros... Donna desses animais, donna dos seus ideais...”
Sarah o fitou, embaraçada, mas sorriu. Murilo não tinha jeito, não mudaria nunca. Ele piscou, e enquanto cantava toda a melodia, permaneceu encarando-a sem inibição. Snape olhou de um para o outro, desconfiado. Desde que recuperara a memória, evitava sondar a mente de Sarah, mas neste momento não resistiu. Então, pode ver que ela e o homem que cantava já haviam partilhado alguma espécie de relacionamento.
Então, perguntou, em voz baixa, sem refrear a curiosidade:
- Vocês já foram... íntimos?
Sarah o olhou, confusa por um instante, mas foi Berenice quem respondeu, antes de se adiantar para as cadeiras vazias que já eram ajeitadas pelos amigos:
- As palavras “primeiro namorado” lhe dizem alguma coisa?
Sarah fez uma careta pra irmã, que já se sentava, cumprimentando alegre a todos, e explicou em voz baixa:
- Sim, foi meu primeiro namorado, eu era muito nova. Mas ele foi atrás da carreira, e nos distanciamos. Hoje somos amigos, mas praticamente só nos vemos em situações como esta, em que tanto eu quanto ele estamos por aqui. E quando ele aparece em alguma festa lá na Fundação, claro. Sempre podemos contar com ele por lá, se estiver na cidade.
E o cantor continuava:
- “Pelas ruas onde andas, onde mandas todos nós...”
Alguns cantavam junto com ele, outros só acompanhavam em silêncio. Mas um casal chamou a atenção de Berenice, que cutucou a irmã.
- Olha quem está ali do outro lado.
Infelizmente, alguns companheiros da mesa também perceberam, e comentavam alguma coisa baixinho, o que incomodou Sarah de verdade.
- O que foi, agora? – Snape perguntou, seguindo a direção de seu olhar levemente contrariado e observando o casal disfarçadamente.
O homem parecia sem lugar, com cara de quem queria ir embora naquele mesmo instante, mas a mulher mantinha uma postura altiva, desafiadora, e de vez em quando procurava por Sarah com o canto do olho. Ao perceber que Sarah, aparentemente, não estava sozinha como pensou, voltou sua atenção pra Snape, analisando-o descaradamente. Snape a fitou, entre curioso e contrariado. Nunca gostara deste tipo de situação, que a ele parecia pura perda de tempo, quando coisas muito mais importantes estavam acontecendo por todo lado... Não sabia, mas sua atitude o fez parecer um atento e perigoso protetor de Sarah.
Entretanto, Murilo terminava a música, sendo saudado por palmas efusivas.
- Então? Agora, vocês é que mandam... O que vamos cantar juntos? – ele perguntou, meio indeciso. – Já que puxei Sá e Guarabira, vamos de “Riacho do Navio”, que tal?
E começou uma série de outras canções.
Quando fizeram uma pausa, Murilo cochichou para Sarah, ao seu lado:
- Vejo que continua preferindo os “mais maduros”... – e apontou sutilmente para Snape.
Sarah entendeu e balançou a cabeça em negativa:
- Ele é só um amigo, Murilo. Não temos nada um com o outro. Além do mais, é mais novo que você! – ela completou com ar de troça.
Murilo a fitou uns instantes, depois falou sorrindo:
- É... pelo que conheço de você, deve ser isso mesmo. Ou você teria tido um troço, agora. – ele riu de sua expressão indignada - Então, posso esperar que você mude de idéia e volte pra mim? – e piscou, maroto, enquanto cantava baixinho, chamando a atenção de todos mesmo assim
Agora entendo...Que andei perdido...O que é que eu faço...Pra você me perdoar? Ah, que bom...Seria se eu pudesse te abraçar...Beijar, sentir...Como a primeira vez...Te dar...O carinho que você merece ter...E eu sei te amar ...Como ninguém mais. Ninguém mais...Como ninguém jamais te amou. Ninguém jamais...Te amou, te amou......como eu... Como eu...”
- Seu bobo! Maluco! – ela riu, mas depois ficou séria – E a Eliana?
- Ah... – ele ficou triste de verdade – Nos separamos “de novo”... Talvez você pudesse... ter uma conversa com ela. Você me conhece mais do que ninguém, talvez ela te ouça.
- Ia ser engraçado isso... Tome juízo, Murilo! Onde já se viu? Vou lá me meter no casamento de ex-namorado? Se a moda pega... E vocês são mais maduros que eu, ou deveriam ser, que coisa!
Eles riram juntos. A diferença de dez anos entre eles nunca fora problema para se entenderem, nem antes, nem durante, nem depois do namoro terminado.
Então, ele se virou para Snape, comentando:
- Lembro-me de você, na festa de Natal. Sarah já te “aliciou” também?
- Como? – Snape foi pego de surpresa com a pergunta
- Ora! – o outro riu – Essa mulher é uma coisa, vira um trem quando quer convencer alguém a defender sua causa favorita. Precisa ver quando ela está cem um salão cheio, então. Sei lá, parece que enfeitiça a gente, os olhos brilham de um jeito, que todo mundo fica é pensando: “Por que ainda não estou colaborando?” Você precisa ver, pra entender o que estou dizendo. Essa mulher é uma bruxa... Consegue convencer até o mais insensível dos brutos de que é preciso ajudar aquelas pobres criancinhas...
- Deixa disso, Murilo!
Sarah ficou sem graça e deu-lhe um empurrão, enquanto Snape a observava, curioso e pensativo. Entendia um pouco do que o outro falara, claro. Afinal, ele estava ali, não estava?

Mas o pessoal reclamava de Murilo ter parado de cantar, e ele recomeçou, depois de brincar que não adiantava pedir, não ia fazer mais nenhuma declaração de amor para uma certa ingrata... Todos riram, alguns meio constrangidos, pois já estavam imaginando que o casal estaria voltando... e olhavam de soslaio para o tal professor inglês, como a dizer: - Como? E esse cara?
Murilo cantou suas “músicas favoritas” ainda um tempo, músicas que os presentes com menos de trinta anos reclamavam de não conhecer, o que o divertia muito, e respondia dizendo que podiam chamá-lo abertamente de “coroa” que não se importava.
E o casal da mesa do fundo se retirou, Sarah percebeu, acompanhando-os disfarçadamente com um olhar triste. Involuntariamente, suspirou. Berenice a cutucou e disse:
- Deixe de bobagem. Só é assim porque o bobo do Marcelo quis assim. Não sofra por causa disso. Não vale a pena!
Sarah concordou com a irmã, enquanto Snape a observava em silêncio. Ele e Murilo se fitaram, Snape percebeu a genuína preocupação do outro. Ele realmente gostava muito de Sarah e não gostava de vê-la assim. E Snape se viu compreendendo o sentimento do outro, uma espécie de zelo por alguém muito caro, que continuava sendo especial, mesmo sem o vínculo mais profundo.

Então, surpreendeu-se por estar entendendo isso. Nunca se preocupara com ninguém assim. E sempre fora julgado como insensível e frio.
Com certeza, o convívio com aqueles trouxas estava “mexendo” com ele...
Sacudiu a cabeça energicamente, chamando a atenção de Sarah com o gesto, que o fitou, intrigada.
Ele sorriu discretamente, concentrando-se no seu suco, como se fosse a coisa mais importante do mundo.
E a noite continuou alegre e festiva, pontilhada de canções e risos.

Já em casa, Sarah não foi imediatamente pro seu quarto. Deixou-se cair no sofá da sala, enquanto Berenice fazia uma “última ronda” na cozinha. Sua justificativa é que rira, cantara e conversara tanto , que se esquecera de comer e estava morta de fome.
Snape fitou Sarah por um minuto. E percebeu que ela queria ficar sozinha, então, foi fazer companhia a Berenice na cozinha.
Sarah, depois de alguns minutos com o olhar perdido em suas lembranças, com certeza pensando no tempo em que era uma adolescente apaixonada pelo melhor amigo do irmão mais velho, e que ficava horas, sentada no degrau da varanda, olhando pra ele com verdadeira adoração, enquanto ele e a turminha cantavam, ergueu-se dali e, com um suspiro cansado, foi se deitar, sem esperar pela irmã ou pelo hóspede.
Enquanto isso, Snape resolveu dar curso à sua curiosidade, e perguntou:
- Berê... perdoe-me se pareço inconveniente, mas... Por que a presença daquele casal incomodou à sua irmã?
Berenice piscou, fazendo uma pausa na tarefa de fazer um sanduíche para ambos, e depois de alguns minutos, sentou-se, preparando-se para contar:
- Bem... eu era jogadora de basquete do time juvenil da cidade. Foi assim que conheci Marcelo. Parecíamos ter muito em comum, nos divertíamos juntos, e começamos a namorar...
- Você e ele? – Snape espantou-se – Mas pensei que...
- Calma, homem, deixa eu contar! - Berenice riu e continuou – Logo no começo, percebi que Sarah ficava meio... esquisita, quando Marcelo estava perto. Mas nós logo vimos que era melhor terminar, éramos melhores amigos que namorados, nada a ver. E, aos poucos, também percebi que ele olhava “diferente” pra Sarah, mas nenhum dos dois tomava coragem, ele porque achava que ela ainda gostava do Murilo, ela porque achava que eu ia me chatear. Então dei um empurrãozinho...
Snape a fitou ainda mais espantado. Será que todos os trouxas eram assim tão despojados? Ou ele realmente estava convivendo com um tipo muito especial de trouxas? Berenice continuou:
- Eles começaram a namorar, ficaram noivos depois quase dois anos de namoro...Mas, aí, o cara pisou na bola!
- Como assim?
- É que... teve um jogo em outra cidade, do time masculino. Eu e Sarah não fomos nem na torcida. Ela estava super gripada. Depois, fiquei sabendo que ele tinha “ficado” com uma menina, lá... Primeiro, achei que era fofoca, depois, vi os dois juntos, no clube, se beijando. Aí, contei pra Sarah, achei que era muita deslealdade dele.
- Entendo. Eles tinham um compromisso, não?
- Sim, o casamento já estava marcado e tudo! E ele por aí beijando outra? Não podia deixar assim.
- Posso concluir então, que eles desmancharam o noivado?
- Claro, né? Sarah disse que não ia se casar com um cara em quem não confiava mais... Ele esperneou, xingou, chorou... mas ela não voltou atrás. Daí a seis meses, ele casou-se com a Lucinha. E... – Berenice suspirou –Sei que ele se arrependeu da burrada que fez e ainda gosta dela e confesso que até hoje eu pensava que a Sarah ainda gostasse dele... Mas ela reagiu super tranqüila, quando viu os dois. Tudo bem que Murilo dá um apoio incrível... e ainda tinha você lá...
- Mas eu... – Snape atalhou, mas foi interrompido.
- Sarah superou, com certeza. Só fica triste quando os vê, sabe que não estão bem. E que não tem mais volta. Mesmo sem estar apaixonada por ninguém, atualmente. O que é uma pena... Ela precisa fazer outra coisa que não seja trabalho, trabalho, trabalho...
A convicção com que Berenice disse isso o tranqüilizou. De alguma forma, temia que Sarah manifestasse um interesse maior por ele. Nos últimos dias, chegara a pensar nesta possibilidade, ao vê-la tão preocupada, tão atenta e solidária.
Mas Berenice continuou a falar, enquanto terminava o lanche, e ele a acompanhou por cortesia.

Intimamente, sentia que a noite fora rica em informações e conhecimento. Principalmente de si mesmo.
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Taí.
Infelizmente, é tudo até 3ª feira, quando volto a entrar na net :lol:
(aí, dá tempo pra todo mundo se atualizar)
Regina McGonagall
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Tina Granger
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Post by Tina Granger »

Atualizar e capotar pra tras!Tá muito bom1
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Duas mulheres - A um passo - A irmã da Serpente

mais fics? olhe no fanfiction.net...

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Sally Owens
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Post by Sally Owens »

Estou adorando o jeito que você está estruturando essa "mudança" do Snape. É muito interessante ver o "morgegão"com uma outro olhar sobre si mesmo e mostrando emoções que escondeu a vida toda. Parabéns! :palmas :palmas

O pior vai ser ter de esperar até terça-feira :roll: !

Beijão Regina e bom feriadão para você!
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