POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 24 a 30(att 10/03/2014)

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louis
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 21 pós-GP

Post by louis »

Oi! Te achei aqui menina!!!
Adoro sua fic :)
Beijos
wictor
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 21 pós-GP

Post by wictor »

sabeeee... consegui ler tudooooo...

mas agora quero maisss :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: :shock: :shock: :shock:

simplesmente achei tão envolvente... gastei meu feriado inteiro lendooo :D

quero maisss
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Sheu
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 22

Post by Sheu »

Sheu » 02 Fev 2010, 11:51 wrote:E eu vou logo avisando... o capítulo depois desse já está na boca do gol ^^ Só preciso de um tempinho.
OWMYF*GOD!!!!!
~foge léguas dos leitores.

Ok,ok. Eu sei que estou em mega débito com todos vocês, mas quem me acompanha sabe que eu consegui um trampo que consumiu meu tempo, meu espírito, minha criatividade e quase minha vontade de viver...
TIVE BLOQUEIO, fato!!
Não consegui seguir em frente, desenvolver diálogos, fazer o capítulo menos chato possível, mas acho que não consegui, mesmo depois de pedir demissão do trampo. É um capítulo pesado, pq diz muito em pouco tempo. Vocês vão notar isso e espero que se surpreendam a cada revelação, assim como os alunos se surpreenderam. Alguém tinha que ter o pulso moral para fazer isso, já que tia Jô não fez.

Esta humilde escritora pede desculpas a todos vocês!!!
Perdoem-me tá??
*afofa todos e só larga para deixar ler*
_________________________________________________________________________________________
22
A MAIOR AULA DE TODAS
Após a última aula, Lizzie arrastou Khai para a sala comunal antes de se dirigirem para o Grande Salão. Ela deixou alguns materiais no dormitório feminino, enquanto um dilema atingia o colega que a aguardava do lado de fora, sob ordens específicas de não se mexer. Ele não tinha coragem de passar por cima da autoridade que a garota havia instituído para si, talvez por medo do que a varinha dela pudesse fazer, por ser egoísta ou outra razão qualquer. O fato é que mesmo insistindo com a amiga para ela voltar atrás e liberar Malfoy da azaração, não conseguia transpor a determinação de Lizzie.

Quando ela retornou, ambos se dirigiram para fora da Casa. Caminharam algum tempo em silêncio no corredor, remoendo os últimos acontecimentos. Khai titubeou um pouco, abriu e fechou a boca sem dizer nada e, por fim, resolveu voltar a tocar no assunto, antes que entrassem no Salão para o almoço. Sua expressão continuava um misto de súplica e espanto, enquanto ela mantinha as feições duras e sem emoção.

– Lizzie, se ele não for na próxima aula os professores vão começar a desconfiar!

– E daí? – perguntou indiferente.

– Daí que eles vão encontrá-lo petrificado!

– Duvido que ele abra a boca, Khai – disse, com um gesto de desdém.

– Mas Lizzie, somos todos amigos, não somos? A gente podia sentar e conversar e chegar a um acor...

Sua voz foi interrompida pela parada brusca de Elizabeth. Diante dela, bem na porta do Salão Principal, vindo do lado externo da escola estavam James e Oliver. A garota se moveu para o lado e Potter a acompanhou. Ficaram nesse movimento constrangedor para a garota algum tempo, com Oliver não contendo o riso. Elizabeth suspirou fundo e desistiu, permanecendo calada.

– O que foi? Depois de tantas declarações ontem Madame Norra comeu sua língua?

A garota levantou os olhos, pálida. Foi então que notou um silêncio desconsertante dentro do Salão Principal. A frase de James tinha alcançado as quatro grandes mesas, tamanha a retenção de vozes no local. Em segundos, o silêncio se transformou em burburinho geral, recheado de risinhos, dedos apontados e olhares de descrédito e pena, que iam da garota até James.

– Vejo você por aí, minha fã número um! – e entrou no Salão com o amigo, não escondendo o largo sorriso de provocação.

Tiago levantou-se da mesa da Corvinal e veio rapidamente ao encontro dos colegas, parados na porta, ainda em choque.

– É verdade? – perguntou para os dois – Todos só falam que você gosta do James, Lizzie. Isso não é verdade, é? Porque... eu não entendo como...

Lizzie não podia acreditar que aquela história já tinha se espalhado por Hogwarts inteira, mais rápido do que uma trilha de explosivins. James, sorrindo junto com seu grupo, tirando onda de “garoto mais desejado do colégio”, deu um aceno cínico e uma piscadela para a garota, que girou nos calcanhares e saiu porta afora, seguida pelos colegas.

– É inacreditável! – repetiu Tina, pela 20ª vez – Ontem ela estava só amores pro lado do Tiago e agora ela gosta do James? É muito suspeito!

– Eu ainda acho que é mentira! Ela é uma sonserina, gente! Lógico que ta mentindo só pra chamar atenção da escola toda! – reclamou Angélica Wood, ao lado de Peter, da Lufa-Lufa.

– Por que? Eu não sou bonito o suficiente para ela gostar de mim? – perguntou James, chegando de surpresa no grupinho de lufos e grifinórios, com um sorriso tentador, deixando as meninas sem graça.

– Eu não acho nada engraçado, James – disse Lena, cruzando os braços.

– Lena, dá um tempo, vai! Ela é uma sonserina! Por Merlim! Chega a ser ridículo.

– Por que? – Alvo se manifestou.

– Como assim por quê? Grifinórios e Sonserinos são que nem água e vinho, Al. Não se misturam!

– Os opostos se atraem – brincou Barbra, que se calou diante do olhar severo de Lena.

– Eu acho que se você gosta de uma pessoa, não deve importar de onde ela vem – afirmou Peter.

– O que você acha, John? – perguntou Tina – John??

O garoto estava absorto em pensamentos, com os olhos fixados na parede da entrada do Salão. Tantas coisas estranhas estavam acontecendo com sua irmã desde que começaram a estudar em Hogwarts e ele se sentia completamente impotente diante de tudo. Não estava com ela na mesma Casa, não estava ao lado dela a todo momento, não tinha resgatado sua irmã do banheiro da Murta, não a salvou da inundação... De que forma poderia protegê-la, como havia prometido a si mesmo, se não estavam juntos? Era como se um muro invisível começasse a se erguer entre eles. O ápice de tudo ocorreu bem ali, diante de todos, embora ninguém pudesse ver: pela primeira vez, ao fitar os olhos da irmã, Jonathan não conseguiu lê-los. O que estava acontecendo com a forte conexão entre eles?

– John?? – insistiu Tina.

– O que?

– Tá tudo bem? – perguntou Alvo, tocando-lhe o ombro.

– Não sei – disse e se calou.

Um mal estar momentâneo se instalou na mesa e todos começaram a comer, discretamente. Falaram algo sobre Rose ainda não ter aparecido e comentaram de Tiago saindo com duas tigelas de comida, mas Jonathan sequer ouvia ou tocava em seu prato. Estava sem fome e tinha muitas coisas na cabeça.

Malfoy entrou naturalmente no Salão Principal como se nada tivesse acontecido. Procurou os colegas na mesa com um olhar rápido, mas não os encontrou. Tentou andar para chegar mais perto, quando uma mão o segurou pelo braço, parando-o no meio do caminho e ele se virou para encarar o corvinal.

– Eles não estão aí – sussurrou o garoto com tigelas em uma das mãos.

– O que aconteceu?

– Bom – começou constrangido – Aquilo foi verdade, Malfoy? Porque eu duvido muito – continuou falando discretamente.

– Como... Como assim? – perguntou, surpreso.

– A história da Lizzie com o James se espalhou mais rápido do que uma infestação de gnomos no jardim. Não tem outro comentário nas mesas. Eu já virei o ex desolado e a namorada do Potter – apontou para a mesa da Grifinória – fuzilou a Lizzie assim que ela e James fizeram uma ceninha constrangedora na porta. Pior foi o silêncio inicial e o burburinho depois. Foi muito ruim.

– Onde eles estão?

– Vem comigo!

Tiago levou Deymon até o corujal, com passos apressados e avisando a todos os bruxos de plantão nos corredores aonde iam. Assim que chegaram na escada que dava para o recinto das corujas, deram de cara com Khai parado na entrada, de braços cruzados e cabeça baixa. Quando ouviu o barulho de pessoas se aproximando, ergueu a varinha e encarou os dois, espantado por Malfoy estar ali e desgostoso por Tiago tê-los seguido.

– Como você conseguiu...

– Isso não vem ao caso, Khai. Sai da frente! – ordenou Malfoy.

– Ela quer ficar sozinha – disse.

– É. Eu já notei que você costuma fazer tudo o que ela manda – e passou, sem resistência.

– Você não! – disse para o corvinal bloqueando a passagem quando o outro fez menção de acompanhar Malfoy.

– Pensei que vocês estariam com fome – respondeu Tiago, mostrando a comida na tigela.

– Não, obrigado – respondeu, mesmo faminto.

– Bom, você não pode responder por ela, não é?

– Você não pode entrar. A gente disse que você não se meteria em assuntos da Sonserina, não é? Pois então – cruzou os braços com um sorriso irônico – Assunto da Sonserina!

Malfoy encontrou a colega sentada próxima a uma das janelas, com as pernas juntas ao corpo, seguradas pelas mãos, e a cabeça repousando delicadamente nos joelhos. Lizzie mantinha o olhar vago. Nem parecia aquela garota furiosa e demoníaca que o azarou horas atrás. Na verdade, Deymon nunca a tinha visto tão frágil.

– Eu disse sozinha, Khai.

– É. Ele me disse, mas eu não dei ouvidos.

A garota sobressaltou-se com a presença inesperada de Malfoy. Pôs-se de pé e tateou o bolso em busca da varinha, erguendo-a contra o colega, imaginando que ele buscaria vingança.

– Estou sem varinha, Carter. Esqueceu?

– Você pode ter pegado a de Khai – falou, desconfiada.

– Embora eu queira muito te azarar por você ter me deixado petrificado lá naquele corredor – disse revoltado no início, mas seu tom tornou-se compreensivo em seguida - O que você assumiu pela gente foi muito pior. Tiago me contou que todo mundo já sabe.

– Como se isso não fosse acontecer – disse triste, enquando baixava a varinha.

– Você não precisava ter feito aquilo.

– Vocês seriam expulsos... E eu não quero ficar sozinha na Sonserina.

– Obrigado – disse, de sopetão.

A garota arregalou os olhos por alguns instantes e depois soltou um muxoxo de indignação, com um sorriso maroto nos lábios.

– Pena que câmeras não funcionam aqui. Um Malfoy agradecendo é um momento único para ser registrado!
Deymon assumiu uma postura séria e murmurou algo como “os Malfoy sempre foram muito bem educados, ora”, quando foi pego de surpresa por um desabafo da amiga.

– Eu queria fazer um feitiço para que tudo isso acabe logo.

– Acho que os próximos dias vão ser bem chatinhos, mas nós vamos estar do seu lado, tá? A gente te deve isso.

Malfoy se aproximou da colega e acariciou seu rosto gentilmente. Ela pousou sua mão sobre a dele e sorriu, sendo correspondida pelo amigo em plena cumplicidade. Nem notaram que outras duas pessoas entraram no recinto naquele momento. Tiago tinha um sorriso nos lábios como se soubesse que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, enquanto Khai ficou mais pálido do que o costume. Se fosse possível ouvir, todos perceberiam o estrondoso barulho de um coração se partindo.

– Hu-hum! – limpou a garganta – Interrompemos algo? – perguntou Tiago, irônico.

Imediatamente os dois sonserinos se separaram e ficaram vermelhos de vergonha.

– Claro que não! Estávamos só... Conversando – respondeu Deymon muito mais para Khai do que para Tiago.

– Bom, eu tenho comida, quem quer?

– Vamos comer aqui? – perguntou Lizzie, enojada.

– Ora, por que não? É isolado, anti-social e sombrio. Muito sonserino, não acham?

Deymon e Lizzie trocaram olhares divertidos, enquanto Khai se mantinha um pouco mais afastado. O garoto se sentou com os outros e engoliu a comida, ainda em choque pelo que tinha visto e imerso em seus pensamentos. Não conseguia entender. Por que Malfoy, a quem ele considerava um amigo, fez aquilo? Por que ela? Ele estava realmente gostando dela? Se fosse assim, que chances teria um garoto sem dinheiro algum cujo pai estava em Azkaban? Ele voltaria a ficar sozinho e isolado, como sempre. Por que Malfoy tinha que gostar justamente da menina que sabia que ele gostava? Um falso amigo. Era isso que Deymon havia se mostrado. Levantou-se de repente, sem dizer uma palavra, e foi embora.

– Khai? Onde você vai? – Lizzie perguntou, mas ele sequer olhou para trás.

Malfoy olhou para o amigo se afastando, meio sem jeito de ir atrás dele. Não seria muito fácil explicar para o colega que a coisa toda não era exatamente aquilo que ele tinha visto. Seu orgulho sonserino de não dar explicações sobre seus atos falou mais forte, sem falar na provável ceninha de discussão que Khai certamente faria. Achou melhor deixar o colega esfriar a cabeça e conversar depois.

– O que deu nele? – Lizzie perguntou.

– Como se você não soubesse.

– O que? – perguntou a garota a Malfoy, numa sinceridade absurda.

– Deixa para lá.

– Então, a Lizzie vai levar essa história adiante?

– Hein? – perguntaram os dois sonserinos.

– Não sou corvinal à toa, gente. Eu sei que você não gosta do James e imagino que o lance do quadribol seja verdadeiro, até porque encontrei com vocês naquele dia. Lembro que não me queriam por perto até o fim do jogo. É melhor mesmo passar por isso?

Os meninos encararam a garota que deu um longo suspiro e levantou os ombros.

– Que jeito?

– Bom, eu tenho uma idéia para tentar diminuir isso tudo.

– Que ideia? – perguntaram os outros, em uníssono.

– Namore comigo.

– Quê? – reagiram, abismados.

– Não sei o porquê da surpresa. Você não fingiu ser minha namorada ontem? Por que não podemos continuar com isso? É só dizer que o James já passou. O lance do recadinho foi há semanas atrás. As meninas gostam e desgostam das pessoas mais rápido do que isso mesmo.

– Ei! Eu não sou esse tipo de menina.

– É melhor virar, se não quiser ser “a pobre garota apaixonada pelo menino mais popular da escola”.

– A idéia dele é boa, Lizzie – Malfoy se manifestou – E nós podemos ajudar a reforçar.

– Mas... eu não vou ter que namorar você de verdade, né? Quero dizer, com beijos de namorados e tudo mais?

– Nossa! Sou tão repulsivo assim para você? Prefere o Malfoy?

– Não! – diante do olhar assutado do colega ao lado, prosseguiu - Ai, desculpa, não quis dizer isso. É que... você ... e ele são... meus amigos...e...

– Tá! Pare antes que fique pior – interrompeu Tiago, achando aquilo bem divertido - A gente só precisa andar de mãos dadas e parar nos corredores de vez em quando, como o que fizemos no dia dos namorados. E você pode me beijar no rosto na frente das pessoas. Eu deixo.

– Ha! Ha! – resmungou, queixosa.

– Claro que tudo isso vai lhe custar alguns galeões.

– Ei! – protestou a garota.

– Ei o que? Vamos fazer um acordo comercial! Você suspende o pagamento dos galeões que eu te devia e eu faço esse favor para você.

– Chantagista – disse, apertando os olhos.

– Chantagista, não. Esperto – e piscou o olho de forma cúmplice e sedutora - É melhor do que ficar de dancinha no corredor com o Potter, não acha?

– Não precisava me lembrar daquela cena ridícula.

– E então? Namorados fake? – Tiago esticou a mão para a sonserina.

– Namorados fake – e aceitou a proposta do corvinal, unido as mãos em acordo.

O trio seguiu para a aula de DCAT e deram de cara com o grande desafio. Alunos do 3º ano da Lufa-Lufa e Grifinória dirigindo-se para aula de Poções. Todos os olhares dos mais velhos estavam sobre as mãos de Lizzie e Tiago entrelaçadas, o que deixava a garota extremamente desconcertada, encarando o chão. Malfoy caminhava atrás, com as mãos nos bolsos, como se nada daquilo fosse anormal. Lena foi a primeira a notar e cutucou o namorado.

– Parece que você já perdeu sua admiradora.

James olhou para o lugar onde Lena apontava e notou a postura agressiva do corvinal, encarando-o. Potter esboçou um largo sorriso, cruzou os braços e aguardou que eles se aproximassem, encarando Tiago e Elizabeth. Aquilo tudo estava realmente mexendo com os nervos da garota. Sua mão suava, seu rosto pegava fogo e não sabia exatamente para onde olhar. Os olhos debochados de Potter sobre eles faziam a garota achar que era pura perda de tempo. Assim que eles passaram por James ele assoviou e Elizabeth fechou os olhos quando Tiago parou.

– Bonita namorada, garoto. Mas alguma coisa me diz que ela prefere jogadores de quadribol.

Os amigos grifinórios riram, junto com alguns lufos, enquanto Lena dava tapas para ele parar com aquilo e deixar as crianças em paz.

– Como é que é? – Tiago se voltou e deixou Lizzie mais para trás – Qual o seu problema Potter?

– O meu? Nenhum. Já você, posso começar a enumerar – mais uma onda de risos invadiu o corredor e os sonserinos do primeiro ano que não gostavam deles faziam coro com o restante.

– Eu vou dizer qual é o seu problema, Potter.

James cruzou os braços com um sorriso irônico para ouvir o pirralho diante dele. Tiago prosseguiu:

– Seu problema é se achar bom demais para qualquer pessoa aqui nessa escola. E o pior: achar que toda menina de Hogwarts sonha em namorar você. Todo mundo tá cansado de saber que você quer uma desculpa esfarrapada para terminar com sua namorada, para aproveitar. Mas você não está nem aí pra Lena, né? Só vou avisando que não adianta mais ficar provocando a Lizzie. Você é passado. Morreu. Supere isso! – avançou para os amigos que o aguardavam e entraram na sala, aproveitando que todo o corredor estava embasbacado, olhando para Potter.

– Uau! – exclamou Lizzie, quando se sentaram na última cadeira.

– Muito bom – elogiou Malfoy.

– É? Foi, não foi? Eu nunca fiz uma coisa assim na minha vida! – disse, corado e respirando com agitação.

– Como se sente? – perguntou a garota.

– Um super herói.

– Ei, super herói – disse Malfoy – Você agora arranjou um inimigo.

Do lado de fora, uma confusão se formou entre Lena e James, que discutiam abertamente, na frente de todo mundo. Filch apareceu para botar ordem no corredor e enfiar todo mundo dentro da sala.

Durante o jantar, o casal se manteve em mesas separadas. James estava sorridente e rodeado pelos amigos de quadribol, enquanto Lena tinha um olhar mortífero direcionado para ele: haviam acabado o namoro. Um rumor de que eles tinham se separado por causa de Elizabeth começou a rodar em discussões nas mesas. Dessa vez, os mais novos estavam todos sentados na ponta da mesa da Lufa-Lufa.

– Você acha que tem a ver? – perguntou Tina para Rose, que não respondeu.

– Para mim, o James já queria terminar faz tempo. O que você acha, Alvo?

– Eu, Barbra? Não sei... Nunca parei para falar dessas coisas com ele. Alguém viu o Peter?

– Dá última vez que o vi, ele estava indo para o Corujal – afirmou Détrio – Olha ele vindo ali! – e apontou para o colega que se aproximava.

– Desculpa, gente. Fui mandar uma coruja lá para casa, sabem como é. Pais! Sabem quem eu encontrei lá? O Khai, amigo de sua irmã, John. E eu tenho que dizer uma coisa: ele é muito esquisito. Me ignorou parecendo que eu não estava lá.

– Peter, meu caro, os sonserinos ignoram a existência de todos os outros que não são sonserinos – afirmou Détrio, categórico.

– Mas a irmã do John quebra essa regra, não é, John? – perguntou Peter.

– Oi? – respondeu o grifinório, distraído.

– Não liga não, Peter. Ele está assim já faz um tempo – Angélica Woods informou.

Na mesa da Sonserina, o falatório sobre o fim do namoro de James e Lena continuava. Alguns celebravam a discussão vexatória no corredor; outros olhavam para Elizabeth como se ela tivesse uma estranha barba azul e fosse caolha.

– Era só o que me faltava. Achei que a coisa ia acabar.

– Desculpe – disse Tiago à amiga, com um olhar sincero.

Malfoy ouvia os colegas conversando, quando algo na mesa da Lufa-Lufa lhe chamou atenção. Uma garota de cabelos castanhos encaracolados, levemente ruivos, lhe encarava com uma intensidade raivosa. Deymon manteve o olhar na direção dela e fez uma expressão de ironia. Cogitou a possibilidade de dar tchauzinho, mas apenas ergueu as sombrancelhas em sinal de “e daí?”. A garota bufou de raiva, cruzou os braços e Malfoy sorriu, balançando a cabeça negativamente.

– O que foi isso?

– Oi? – Malfoy se viu pego de surpresa por Elizabeth.

– Isso – e apontou para Rose e o amigo.

– Nada. Esses grifinórios são todos uns imbecis. Odeiam a gente por natureza. Alguém viu o Macbeer? – mudou de assunto, questionando os outros colegas sentados próximos dele.

– Eu queria saber para onde Khai vai quando some – disse a garota, ainda olhando de relance para Malfoy - A gente nunca encontra ele.

– Não até ele querer ser encontrado, Lizzie. Olha ele chegando ali – Tiago fez sinal para o sonserino, que o ignorou e sentou na ponta oposta – Alguém ainda não superou.

– Eu vou falar com ele – disse Malfoy, mas desistiu de levantar ao notar que a diretora pedia atenção.

– Caros alunos e professores aqui presentes. Já há alguns anos, a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts tem investido no método da cooperação entre Casas, a fim de que todos os alunos sejam amigos uns dos outros. Alguns bruxos mais experientes e, talvez, até mesmo os pais de vocês, discordem um pouco desta linha educacional não tradicional, mas nós acreditamos que este é o melhor caminho para promover a tolerância e respeito mútuo entre estudantes. Contudo, tenho recebido relatórios dos professores e observado, com tristeza, desde o início deste ano, a resistência de alguns alunos. A cooperação entre Casas significa entre todas as Casas. Está se espalhando, entre vocês e por vocês, a idéia de que as terríveis provações que temos passado nos últimos meses foram causadas pela Casa Sonserina – imediatamente os sonserinos começaram a falar em sua defesa, mas Minerva os calou – Sei também que muitos alunos da Casa Sonserina têm dificultado a cooperação entre Casas – e os outros alunos se manifestaram, confirmando e dando trabalho para a diretora controlar o Salão – Por esse motivo, amanhã não haverá aula.

Um burburinho confuso se espalhou entre as mesas e entre os professores. Eles também não estavam cientes do que a diretora estava preparando.

– Amanhã pela manhã teremos um café especial, com alguns convidados. Espero que vocês se comportem e, especialmente, que escutem bastante. Acredito que possamos derrubar esse muro invisível que nos separa como bruxos. É hora de começar a mudança, de dentro. Agora, vamos ao jantar.

Imediatamente, pratos de sopa, pães e sucos apareceram diante dos alunos. Aos poucos, eles começaram a se alimentar, discutindo o que haveria de especial pela manhã. Os professores aguardaram um tempo de discrição para questionar Minerva.

– Tenham paciência, meus amigos. Trata-se apenas de uma grande palestra com algumas pessoas especiais que convidei. As crianças são muito influenciáveis por suas famílias e acredito que, ao verem que é possível um outro caminho, elas reconsiderem. Prof Slughorn e Prof Potter, poderiam me dar a satisfação de participar da palestra de amanhã? O senhor foi um dos Sonserinos que bravamente nos ajudou a proteger a escola no passado e você, Harry, gostaria que falasse sobre o ex-diretor Snape.

– Claro, diretora. Tudo pelo bem de Hogwarts – disse Horacio, com o ego massageado.

– Harry?

– Tudo bem, diretora – ascentiu, ainda desconfortável.

– Excelente! – sorriu – Vamos nos ocupar de nosso jantar, então.

Assim que as crianças deixaram o Salão, começaram os preparativos para o dia seguinte. Minerva McGonagall comandava os elfos domésticos e Argo Filch durante uma montagem diferente do habitual. Os professores, curiosos, também ficaram de fora. A diretora planejava uma surpresa para todos.

Pela manhã, os diretores das Casas foram instruídos a reunir os alunos e caminhar ao Salão Principal às 7h em ponto. Harry e os outros professores que não tinham esta obrigação aguardavam diante das portas fechadas, sem disfarçar a ansiedade. Assim que todos os alunos se aglomeraram no hall de entrada, as portas foram abertas por pura mágica. Dentro, um Salão do jeito que eles nunca viram.

Todas as grandes mesas desapareceram. Somente os estandartes de Hogwarts adornavam o lugar e uma grande bancada circular com três patamares, como num grande estádio de quadribol, ocupava o espaço. Não havia cantos, pois o Salão dava a impressão de que tudo era oval. Quando os alunos olharam para o teto, assustaram-se com as imagens refletidas ali: eram os fundadores de Hogwarts registrados pelas primeiras câmeras bruxas da época. Uma relíquia conquistada a muito custo por Minerva.

– Sejam bem vindos! Por favor, encontrem seus lugares!

Com um movimento de varinha, uma série de nomes, coloridos de acordo com suas Casas, surgiu flutuando nos assentos, causando surpresa e admiração. Da forma como estavam dispostos, deu para perceber que todas as Casas estavam misturadas. Foi divertido para os alunos caçarem seus lugares. Os do 1º e do 2º anos ficaram no patamar de baixo, os do 3º e 4º anos no meio e os do 6º e 7º anos no superior. James e Lena acabaram ficando lado a lado, o que causou certo incômodo. Elizabeth sentou entre Jonathan e Timmy; Alvo entre Deymon e Bruce; Rose entre Veruska e Tiago; e Khai ao lado de Peter, próximo dos alunos do 2º ano. Quando todos se acomodaram, a arquibancada mágica fechou-se num grande círculo, cujos últimos espaços foram indicados para os professores.

– Muito bem, vejo que estão todos confortáveis. Agora, vamos ao café!

Com outro movimento rebuscado de varinha, uma bancada mágica começou a surgiu diante dos alunos e percorreu todos os assentos, formando um grande anel. A comida surgia à medida que as bancadas iam se formando e todos ficaram maravilhados com uma magia tão fantástica. Até o Prof Pratevil estava impressionado com a graciosidade da diretora. Não era à toa que Minerva era professora de transfiguração, afinal. McGonagall seguiu para o espaço entre os professores e tomou café com eles. De onde estavam sentados, todos podiam ver tudo o que os outros estavam fazendo. Era bem estranho, levando-se em conta que, normalmente, nem dava para ver os colegas na mesa das próprias Casas direito. Às 8h30, após todos estarem relativamente satisfeitos, a diretora se levantou, fazendo uso da palavra:

– Acredito que esse café da manhã foi uma experiência única em Hogwarts, não? – sorriu para os alunos que a encaravam - Pois bem, já podemos prosseguir com a programação de hoje.

Com outro aceno de varinha, uma série de cadeiras surgiu no patamar inferior, onde estavam os professores. Eram móveis trabalhados de forma clássica no ferro, de coloração preta, com detalhes que somente duendes poderiam fabricar.

– Sei que muitos de vocês, inclusive alguns dos nossos queridos professores, estão se perguntando a que devemos tamanha mudança – começou seu discurso, encarando os diversos rostos atentos ao seu redor – Há tempos venho avaliando o comportamento dos alunos desta escola, desde que assumi a diretoria. É com tristeza que vejo certas discordâncias entre vocês, fruto, principalmente, da visão de mundo de uma geração que viu muito e sofreu muito – e deixou seu olhar se demorar um pouco mais em Harry Potter – Mas agora tudo é diferente: o Mundo da Magia tem a chance de recomeçar; de iniciar uma nova caminhada; de fazer escolhas diferentes e compreender que não se pode julgar o presente pelos erros do passado. Não é à toa que Hogwarts entra na era de colaboração intercasas. Grifinória, Corvinal, Lufa-Lufa e Sonserina foram idealizadas por estes bruxos – e indicou o teto encantado com imagens deles – para compor os quatro pilares da nossa escola. Nenhuma é melhor do que a outra; tampouco inferior. Cada uma preza as características que regem os princípios desta escola: coragem, inteligência, lealdade e perspicácia. Vocês – e apontou para as arquibancadas repletas de alunos - completam uns aos outros com estas qualidades. Por um instante, só neste momento, eu gostaria que esquecessem tudo o que já ouviram falar sobre as Casas de Hogswarts. Quero que vocês abram suas jovens mentes para o que vamos ver aqui, neste Salão. Precisamos mudar a forma de pensarmos e, para isso, é preciso entender que existe uma vida pós Hogwarts que pode, muitas vezes, surpreender vocês – então abriu os braços e indicou o centro do Salão - Por favor, recebam nossos convidados:
Silverblate Carnagihall, funcionário do Ministério da Magia, membro do Comitê de Desculpas para Trouxas; Homerus Aracnio, criador e especialista em aranhas; Apolinário Termopholis, caçador de tesouros e artefatos mágicos; Casper Visionack, especialista em fantasmas...

À medida que Minerva citava o nome dos convidados, eles aparatavam bem no meio do Salão e se dirigiam para as cadeiras providenciadas pela diretora. A exemplo das aulas de aparatação, McGonagall temporariamente permitia que os bruxos selecionados surgissem de surpresa, o que causou certo impacto diante das crianças. Quando o último finalmente aparatou, a diretora não o apresentou propositadamente e ele permaneceu de pé no centro, com todos os olhares curiosos e excitados em cima dele. Tinha os cabelos grisalhos, a pele enrrugada pela idade e um olhar vivo, apesar da aparência frágil e cansada. Sem dúvida, aquele homem era muito mais do que aparentava.

– Bom dia! Eu sou Waller Mattadock, subgerente da Administração de Azkaban.

Um burburinho relativamente alto se espalhou entre os estudantes e alguns passaram a desviar o olhar, com medo.

– Sim, crianças, eu lido com Dementadores quase todos os dias. Um trabalho que não é nada fácil e nos envelhece precocemente, como podem perceber. Como um legítimo bruxo inglês, me formei aqui, nesta escola. Alguém poderia adivinhar qual foi a minha Casa em Hogwarts?

– Sonserina! – gritou um sonserino do 5º ano.

– Oh, sim, sim! É o que costumam dizer, mas não, meu jovem. O meu trabalho precisa de muita coragem para ser feito. Alguém mais se arrisca?

– Grifinória! – falou James, com certo orgulho.

– Ah, Grifinória! Sabem, quando entrei em Hogwarts era para lá que eu queria ir, mas o Chapéu Seletor tinha outros planos para mim. Achou que eu me sairia melhor na Lufa-Lufa.

Exclamações de surpresa, olhares confusos e cochichos percorreram todos os patamares das arquibancadas do Salão. Como um aluno da Lufa-Lufa seria capaz de ter uma função tão perigosa? Todos, inclusive alguns lufos, achavam que os alunos dessa Casa meio insossos.

A diretora tinha os cotovelos sobre a mesa e o rosto apoiado graciosamente nas mãos cruzadas. Seu olhar absorvia a reação de todos com um prazer instantâneo, refletindo o seu pensamento naquele momento. Tudo estava caminhando conforme era esperado. Minerva queria mostrar para os alunos que a vida real, pós Hogwarts, podia levar a caminhos surpreendentes e que nem sempre fazer parte de determinada Casa definia o seu futuro.

Os professores captaram imediatamente a grandiosidade e a ousadia das ações da diretora e lançavam olhares admirados. Harry encarou aquela senhora com o coração palpitante. Era um fato digno de realização de Alvo Dumbledore, se ele ainda estivesse entre os vivos. Potter sorriu para si mesmo tendo ainda mais certeza de que somente Minerva poderia levar Hogwarts através daquele caminho.

O Sr Mattadock levantou as mãos tentando retomar um pouco o controle das coisas. Quando o burburinho cessou, ele prosseguiu.

– O Chapéu Seletor estava certo, porque na Lufa-Lufa tive a oportunidade de me destacar muito mais. Conheci amigos que me ajudaram quando eu mais precisei e é por conta deles que hoje sou este homem diante de vocês. Desde a minha época eu ouvia que os lufos eram sem graça, sempre em cima do muro e que não faziam diferença. Bobagem! Qualquer pessoa pode fazer a diferença, basta se dedicar a isso com todas as forças do seu ser. Sou lufo, trabalho em Azkaban e tenho muito orgulho disso.

Uma salva de palmas começou a se espalhar ao redor do Sr Mattadock, que observou com lágrimas nos olhos os atuais alunos de sua Casa de pé, entre eles Alvo, Peter, Lucy e seus amigos. Os lufos tinham, diante de si, a prova de que tudo era possível. Os outros alunos também os acompanharam, certos de que era um feito digno de se admirar.

Sr Mattadock curvou-se para a sua platéia e se dirigiu a uma das cadeiras vazias, quando um outro homem tomava o seu lugar. Era forte, levemente rechonchudo, com cabelos negros e bem cuidados e um par de olhos amendoados, donos de um brilho perspicaz. Os alunos cujos pais eram bruxos já conheciam o homem diante de si, embora estivesse muito diferente sem o seu chapéu e avental. Aqueles que não faziam ideia de sua profissão ficaram calados, ansiosos pela próxima história.

– Bom dia, meus queridos. Boa parte de vocês já me conhece ou já ouviram falar de mim, eu suponho. Sou Ronald ‘Don’ Kook e culinária é a minha vida. É claro, não preciso dizer que sou filho da Corvinal.

Os filhos de trouxas se surpreenderam com tal revelação e até bruxos que não conheciam a fundo a história do maior mestre cuca do Mundo Bruxo. Afinal, trabalhar no ramo culinário parecia algo extremamente lufo. O senhor Kook esperou o silêncio para continuar.

– Quando entrei na Corvinal eu queria ser um cientista político, membro da Suprema Corte ou qualquer posto importante que dependesse exclusivamente do uso do cérebro para ser alcançado. Eu imagino que muitos corvinais ainda devam sonhar com isso. Fui um aluno brilhante, monitor chefe e logo ganhei uma vaga de estágio no Departamento de Execução das Leis da Magia. Um dia, meio sem querer, acabei conhecendo a cozinha do Ministério da Magia em um mega evento e, consequentemente, o chef de cuisine, Monsier LeBatiste. Devo dizer que encontrei um jeito muito melhor de usar a minha inteligência sem ser um chato sabe tudo que ninguém suportava.

Muitos alunos soltaram um riso contido e sr Kook fez uma breve pausa, sorrindo também para eles.

– O mundo tem tantas possibilidades, meus queridos! Não deixem que o fato de estar em uma determinada Casa limite as suas escolhas. Cada um de vocês pode ser exatamente o que quiser, não importa a cor e a insígnea que carregam no uniforme da escola. Pensem nisso!

Mais uma vez as palmas se seguiram e a surpresa começava a desaparecer a cada nova apresentação. O Sr Carnagihall revelou ser um corvinal, juntamente com a Srta Milles McStocker, batedora relativamente violenta da seleção da Inglaterra, que foi bastante ovacionada. Apolinário Termopholis, caçador de tesouros e artefatos mágicos, revelou para as crianças como sempre foi caçoado pelos colegas por ser meio desastrado, mas demonstrou dar a volta por cima e depois se revelou um grifinório; assim como Homerus Aracnio, criador e especialista em aranhas (fato que deixou Hagrid com os olhos brilhando). As crianças ficaram deslumbradas com as histórias perigosas narradas pela criativa mente do escritor Hermético Keshnner e pelas horripilantes teorias de Casper Visionack, especialista em fantasmas; ambos, lufos. Os sonserinos ficaram surpresos ao perceberem que havia membros de sua Casa em lugares de confiança na seção de Aurores e na Suprema Corte: Nikola Deathway e Sean Kirsebad, respectivamente. Foi quando Horacio Slughorn se dirigiu ao centro com muita pompa e todos fizeram um silêncio respeitoso.

– Eu sou Horacio Slughorn, Professor de Hogwarts e sonserino, é claro, vocês sabem muito bem disso. Venho aqui hoje para tratar de um assunto delicado e que não ousaria falar caso não fosse o pedido gentil e respeitoso de nossa diretora. Todos vocês já conhecem ou estudarão, no 7º ano, o período das duas Grandes Guerras dos últimos anos. Foi uma época terrível, terrível! – fez uma pausa enquanto sentia as respirações dos alunos suspensas – Um jovem bruxo, que fez parte do meu círculo de alunos brilhantes, resolveu fazer escolhas de caráter duvidoso e conseguiu convencer muitos a compartilharem seus ideais por lábia, medo, conveniência ou mesmo por achar que era o destino da Casa Sonserina.

Um clima tenso invadiu o Salão onde era possível ouvir o simples umedecer dos lábios do professor, que prosseguiu:

– Escolhas muito, muito erradas – enfatizou – Mas o que muitos insistem em não lembrar é que não havia apenas ex-alunos desta Casa entre eles. Muitos estrangeiros, alguns lufos e corvinais também aderiram àquela causa – houve um cochicho nervoso entre os alunos das Casas citadas – Ouso dizer, inclusive, que havia dois ou três grifinórios.

Com a última sentença, uma horda começou a se formar contrários ao que Slughorn dizia e Minerva teve de interferir para silenciar o Salão.

- Devo dizer também que uma parte, diria que até razoável, de sonserinos não aderiu à causa. Pelo contrário! – levantou a voz ao sentir vibrações de contestamento – Houve sonserinos que lutaram em segredo contra os planos Daquele-que-não-deve-ser-nomeado.

Harry deu um longo suspiro sabendo onde tudo aquilo iria resultar. As palavras proferidas pelo professor eram, por mais duro que parecesse, a mais pura verdade.

– Eu, por exemplo, fiquei bem aqui, por trás destes muros, lutando pelo que eu acreditava e ainda acredito! Era fácil dizer que todos os sonserinos eram Comensais e que não se deveria confiar neles, mas eu sou um sonserino e escolhi provar que em mim podiam confiar. E não foi por falta de convite, porque os Comensais tentaram me alistar... – e ergueu as vestes da manga para revelar o braço nu – Mas eu disse não - concluiu, de forma dramática.

Muitos alunos até prenderam a respiração, deslumbrados por tamanha coragem do Professor de Poções. Logo, uma salva de palmas calorosas foram direcionadas a Slughorn que as aceitou sem nenhum traço de humildade. Alguns sonserinos ficaram até incomodados depois de tantas verdades. Horacio, é claro, não entrou no mérito de suas fugas subseqüentes e desesperadoras dos homens de Voldemort. Enquanto ele se dirigia para a cadeira e Harry se preparava para ir ao centro, um barulho de algo se quebrando revelou, no centro do Salão e diante de seu olhar, a presença Draco Malfoy, carregando uma sacola preta.

– Perdoe-me pelo atraso, diretora McGonagall. Espero ter chegado em tempo – disse, direcionando seu olhar para a diretora e depois para o Salão, surpreso com seu formato.

– Bem na hora, Sr Malfoy. Agradeço pelo esforço.

Aquela súbida aparição de Draco fez o estômago de Harry embolar e ele voltou a se sentar. Neville tinha o rosto em chamas, dividindo o mesmo sentimento que o colega grifinório, enquanto Slughorn retornou para cumprimentar seu ex-aluno.

Nas arquibancadas, Deymon teve de segurar os nervos para não ter um acesso com a aparição do pai. Respirou fundo e encarou a mesa por algum tempo, sob um olhar curioso de Alvo Potter, sentado ao seu lado. Era um momento constrangedor saber que metade do Salão olhava para seu pai e a outra para ele mesmo. Ergueu o olhar e manteve-se firme, encarando o infinito. Suas mãos estavam geladas, seu coração batia aceleradamente e o único pensamento que tinha era: “pai, por Merlim, não me faça passar vergonha”.

– Bom dia. Sou Draco Malfoy, da Casa Sonserina e sou o que hoje se considera um multiempresário. Isso significa que atuo em diversos ramos e lucro bastante com eles. Leiam o Profeta Diário de amanhã e entenderão melhor – e deu um sorriso arrogante, como Harry bem conhecia – Contudo, tive de lutar pela reputação da minha família. É de conhecimento geral que meu pai foi um Comensal da Morte, portanto, após a última Grande Guerra, o prestígio e a riqueza do nome Malfoy ficou manchado na comunidade bruxa. Decidi, portanto, que as coisas não continuariam a decair daquela forma. Arrisquei-me, aventurando em caminhos desconhecidos de minha família, sob protestos, zombarias e descrenças. Hoje, venci. Dupliquei os rendimentos, recuperei o crédito da fortuna e negócios dos Malfoy, assim como o nome de minha família já retorna ao seu lugar de origem, entre as mais ricas da Inglaterra. Não me deixei abater pelas acusações do passado e nem pelo desafio do presente, focado apenas na mudança que projetaria no meu futuro. Financiei a construção de novos prédios e possuo diversas ações em instituições significativas. Montei com alguns sócios a fábrica das novas vassouras SonicBlaster. O caminho foi difícil, perdemos muitos galeões, mas acabamos de desenvolver um novo design que promete emparelhar com a Firebolt.

Dito isso, abriu a sacola de viagem preta que estava no chão, encantada por um feitiço de expansão, e retirou uma vassoura com design arrojado, completamente prateada, com o nome SonicBlaster em alto relevo negro. Olhares cobiçosos dos jogadores dos times de quadribol eram direcionados àquela preciosidade.

– Pelo sucesso que vocês acabaram de ver, devo anunciar em primeira mão que fechamos um acordo com o time Spectrus, que recentemente ascendeu à 1ª divisão da liga Inglesa de quadribol. Vocês estão olhando para seu novo acionista majoritário e foi por isso que me atrasei para esta reunião – concluiu vitorioso.

Uma onda de expressões de surpresa se espalhou pelo Salão. Para Deymon, que estava receoso de seu pai fazer alguma coisa ridícula e covarde, como muitas vezes seu avô dissera que ele fazia, era uma revelação saber exatamente o porquê dele viajar tanto. Seu pai não gastava o dinheiro da família à toa, mas o investia em negócios que o seu avô não aprovava e só agora ele começava a entender. O jovem sonserino sorriu, pois começava a olhar para seu pai de uma forma diferente.

– Durante a Guerra eu vi muita coisa. Muitas das quais não gostaria de ter lembrança, mas não se pode fugir do passado. Severo Snape foi diretor da minha Casa e por inúmeras vezes me ajudou. Posso não ter reconhecido naquele tempo, mas isso ficou gravado em minhas lembranças e posso, hoje, admirar o homem que ele foi. Snape foi um sonserino odiado por alunos, professores e adultos, mas que provou que as aparências não passam disso: meras aparências. Talvez, se não fosse pela diferença que fizeram alguns sonserinos, a Guerra não teria terminado tão facilmente. Obrigado.

Os alunos aplaudiram Malfoy, que fez uma mesura à diretora e se encaminhou para o lugar vago próximo aos professores. No caminho, cruzou com Potter e seus olhares se encontraram por alguns instantes, refletindo a indiferença que um sentia pelo outro. Cumprimentaram-se com gestos moderados, como cabia a dois adultos, e Harry assumiu o centro do Salão. As crianças se acomodaram melhor nas arquibancadas, ansiosas pelo que o herói da comunidade iria falar.

– Olá a todos, eu sou Harry Potter, chefe do Quartel General dos Aurores, sócio da Gemialidades Weasley e temporariamente professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Sou grifinório, como todos sabem, e prezo muito pela minha Casa. A Grifinória sempre foi a Casa arquirival da Sonserina, desde muito antes de Argo Filch nascer – muitos alunos soltaram uma risadinha, enquando o zelador torcia o rosto, em desgosto – Mas, avaliando as coisas de um ângulo neutro, como uma amiga minha costuma fazer, sonserinos e grifinórios se aproximam em muitos aspectos.

Houve um desconforto geral entre os alunos das Casas que se entreolharam e Harry aguardou o silêncio para continuar. Tinha ensaiado isso durante a noite em sua sala e acreditava que poderia dar tal contribuição para diminuir essa disputa e discriminação entre as Casas. Embora, em seu coração, não pudesse se considerar tão próximo assim de Draco Malfoy.

– Coragem, perspicácia, amizade, ousadia, um certo desrespeito pelas regras... eu tinha as qualidades que Godric gostava, mas também todas as que Salazar prezava e o Chapéu Seletor cogitou seriamente me colocar na Sonserina – um burburinho geral rodou as arquibancadas entre alunos e professores e Harry teve de aumentar o tom de voz – Na verdade, anos depois ele chegou a repetir que eu teria me dado muito melhor se tivesse ficado na Sonserina.

James e Rose estavam em choque, assim como Draco Malfoy e boa parte da escola. A própria Minerva achava-se surpresa com tal revelação e encarava com respeito o homem que Harry havia se transformado, pois dividir isso certamente não deveria ter sido uma resolução fácil. Alvo mantinha uma expressão neutra, pois já sabia de tudo aquilo desde o início do ano letivo, quando Harry lhe contou na plataforma. Deymon olhava para ele estupefado e Alvo apenas ergueu os ombros e continuou a prestar atenção às palavras de seu pai.

– Mas – continuou apesar do tumulto – Eu tinha ouvido falar tão mal da Casa, que não queria ir para lá e por isso o Chapéu me colocou na Grifinória. Contudo, o que eu escutei não era toda a verdade. Uma criança não saberia disso e demorei a compreender que rótulos não significam nada, porque o prof Slughorn me mostrou como um sonserino poderia ser leal. E um ex-diretor de Hogwarts me provou que eu não conhecia a natureza Sonserina. Severo Snape era um homem que eu odiava, um Comensal da Morte, mas também era a prova de que não havia obstáculo se existisse a verdadeira vontade de mudar e de se arrepender. Eu não posso fazer outra coisa senão... concordar com o Sr Malfoy no que diz respeito a Severo Snape. Ele foi sonserino o suficiente para se manter frio e mais corajoso do que qualquer um ao se colocar contra Voldemort.

A citação do nome do ex Lorde das Trevas fez muitos alunos soltarem um gritinho de pavor.

– Sabem, um bruxo muito sábio que também tinha sua cota de equívocos, afinal, ninguém é perfeito, me disse certa vez que o medo do nome de algo só faz aumentar o medo da coisa em si. Voldemort é passado e é preciso dizer que devemos isso também à coragem de uma sonserina. Alguém que tinha nas mãos a minha vida, mas teve muita coragem de mentir para Voldemort e, de certa forma, salvar a todos nós – as palavras de Harry causaram um leve tremor em Draco, imperceptível para os outros – Narcisa Malfoy, sonserina, também provou que é possível reparar os danos feitos, não importa quão ruim a situação esteja. Temos o Prof Slughorn, a memória do ex-diretor Severo Snape e a Sra Malfoy que fizeram a diferença nessa guerra em que uma maioria era da Casa Sonserina. Por isso eu afirmo que não se pode julgar um cesto de maçãs só porque uma está podre. Você vai perceber que muitas outras ainda não foram contaminadas. Parece difícil um grifinório dizer isto, mas uma das pessoas que mais admirei, mesmo só reconhecendo isso após a sua morte, foi Snape. As influências de Alvo Dumbledore e Severo Snape na minha vida significaram tanto que resolvi homenagear a ambos com meu filho, Alvo Severo Potter.

O lufo tentou se esconder atrás do balcão enquanto todos os outros alunos direcionavam seu olhar para ele. Parecia que só agora haviam se dado conta do nome dele e até o próprio Alvo tomava conhecimento do peso da homenagem que carregava.

– Eu só queria dizer a vocês que lá fora grandes oportunidades surgirão e vocês vão acertar e errar muitas vezes. E lá fora, não importa se você é grifinório, corvinal, lufo ou sonserino. Você tem que ser bom no que faz. Aqui, nesta escola, conhecendo os alunos das outras Casas e firmando laços de amizade é como vocês começam a construir suas próprias histórias. Depois vocês vão se dar conta, quando tudo terminar, que os anos em Hogwarts terão sido os mais maravilhosos de suas vidas. Não desperdicem isso.

Todos aplaudiram enquanto Harry acenava e caminhava para seu lugar de origem. A maioria acreditava tudo já tinha terminado, quando um casal, pouco mais velhos do que o próprio Harry Potter, caminhou até o centro. As crianças trocaram olhares curiosos, surpresas em ter algo melhor do que o herói da Segunda Grande Guerra para fechar aquele ciclo de palestras.

– Bom dia a todos! É bem difícil falar depois do grande Harry Potter, mas vamos fazer o nosso melhor. Sou Flora Mordry Benz, diretora de finanças da editora global Floreios e Borrões.

– E eu sou o diretor de comunicação, Hector Benz. Somos um casal, eu diria, não convencional. Já passamos por muitas dificuldades, provocações e conseguimos superar tudo isso, com muita força de vontade e confiando em nosso sentimento.

– Temos um filho, Samuel, de 9 anos e estamos muito curiosos quanto ao seu futuro em Hogwarts. Claro que ele tem todas as características para ser escolhido para minha Casa.

– Amor, já discutimos isso. Ele tem todos os requisitos para ser da minha.

– Há controvérsias, querido. Até sua mãe acha que ele tem outro perfil.

– Minha mãe não é uma referência, Flora!

– Hu-hum! – interrompeu Minerva, enquanto os alunos tentavam controlar a risada.

– Desculpe – disse Flora – Enfim, nossa história começou bem aqui, alguns anos antes de Harry Potter ingressar em Hogwarts. E nós brigávamos além da conta, com um ódio implacável, como a diretora McGonagall certamente se lembra. Não que a gente tenha deixado de discordar em alguns pontos - e sorriu, divertida para o marido.

– No fim, acabou virando amor.

– Um amor com muitas implicações e carregado de preconceitos. Nossos amigos não acreditavam e nossos parentes reprovavam, mas ele foi forte o suficiente para se sustentar até hoje.

- Sou Hector Benz, grifinório.

– E eu Flora Benz, sonserina.

– O quê??

Foi inevitável a reação de surpresa incontida de todo o Salão. Muitos alunos, particularmente da Grifinória e Sonserina, estavam com os olhos arregalados diante de tal fenômeno absurdo da natureza.

– Qual a surpresa nisso? Certamente já ouviram falar que o amor transpõe barreiras? Quando ele surge, existe e pronto? Que é o sentimento mais teimoso do mundo? – Flora tinha um olhar divertido, como se soubesse mais do que as crianças diante de si.

– E põe teimoso nisso, porque nós lutamos com todas as nossas forças contra, mas não pudemos fazer nada a não ser aceitar. O fato de estar em Casas separadas não impede nenhum tipo de relacionamento.

– Exatamente, Hector. Só existe uma barreira para o sentimento se for criada uma. E quando é um amor de verdade ou “aquela” amizade, daquelas que você daria a vida em prol do outro, nada mais importa.

Como se as palavras estivessem direcionadas para eles, os irmãos Dumbledore se entreolharam. Jonathan encarou a irmã com a mesma ternura que era admirado. A amava tanto que nem sabia como medir o que sentia. Elizabeth sorriu para o irmão de um jeito puro que há tempos ele não via, com os mesmos sentimentos refletidos no brilho do seu olhar. Os dois sabiam que o casal dizia a mais pura verdade, pois dividiam um amor que ultrapassava barreiras. Casas iguais ou não, bruxos ou não, nada poderia interferir no amor fraternal que existia entre eles. John esticou sua mão e Lizzie entrelaçou seus dedos nela. Havia muito significado e cumplicidade neste singelo ato. Assistiram ao fim do discurso do casal de mãos dadas, soltando-as apenas para aplaudir.

Minerva McGonagall sorria satisfeita. As palestras haviam tomado toda a manhã e já entravam no começo da tarde. Pediu a palavra e os alunos silenciaram o Salão.

– Meus caros alunos e professores, hoje tivemos a oportunidade de ouvir boas histórias de vida de nossos queridos convidados. Personagens que mostraram a existência de muito mais além de Hogwarts do que é possível supor com tão pouca idade. Eu pude notar muita surpresa no olhar de cada um de vocês e, ao fim, uma sensação de orgulho por tantos ex-alunos de suas respectivas Casas. Não vou me prolongar em fazer discursos, pois acredito que muito já foi dito neste Salão. Por hora, vamos nos ater ao almoço e, depois, sintam-se livres para conhecer um pouco mais dos nossos convidados, que permanecerão na escola. Quem quiser conversar com eles, basta seguir para as salas que estão designadas neste pergaminho – com um movimento de varinha, um grande pergaminho surgiu em ambos os lados do Salão, com o nome e o local onde cada um estaria – Bom almoço para todos.

As bancadas foram novamente preenchidas com todo o tipo de gostosuras. Coxas de frango carameladas, arroz doce, suco de abóbora, gratinados de lingüiça e queijo, maçãs adoçadas, tortas de todos os tipos e taças de pudim. Como os pratos não estavam ao alcance de todos, a interatividade era essencial para que a comida chegasse aos alunos. Pouco depois, a Prof Carmelita Trelawney, sentada próxima a Minerva, direcionou-lhe a palavra, com uma curiosidade.

– Diretora McGonagall, poderia me fazer a gentileza de satisfazer esta mente inquieta?

– Pois não, Profª Trelawney?

– Diretora, muitos de nós acreditávamos que Harry Potter encerraria esta espetacular iniciativa, contudo, a senhora nos surpreendeu quando permitiu que Sr e Sra Benz fechassem o ciclo de palestras. Posso ousar perguntar-lhe o porquê?

– É claro que sim, Profª Trelawney, faça-o sempre. Veja bem, um velho amigo e eu compartilhamos de um mesmo raciocínio que justifica tudo isso. Não importam as dificuldades e como uma situação pode estar caótica, se houver amor no mundo ainda haverá esperança.
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 22

Post by Kyo »

Droga, por conta do lapso você vai me obrigar a reler tudo!

Espero que esteja feliz com isso, Sheu! *tum dum dsssssh*
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 22

Post by Sheu »

Poooooxa, desculpa mesmo gente U.U
Eu também tive que reler tudo pra escrever 457mil vezes o mesmo capítulo ~plofta
Peço desculpas, mais uma vez tá??
*faz carinho*
Mas a fic continuaaaaa!
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 22

Post by Kyo »

Não veja meu post anterior como uma reclamação e sim como uma piada, não percebestes o *tum dum dssssh* não? *tum dum dssssh*
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 22

Post by Sheu »

hauhauuahhauauh
claro que eu percebi, meu querido.
Mas aew eu aproveitei pra pedir desculpas geral ^^
Cadê suas considerações *ansiosa e cum medo*
^^
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 22

Post by Gabione »

=OO
Nunca tinha visto sua fic aqui!
Vou me organizar pra ler. xD
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 22 (att 10/08)

Post by JCA »

Li 3 capítulos em um dia, 2 foram p rever... e me apaixonei 3 vezes mais por esse mundo.

Curiosa qnt ao Khai, reclama, reclama e não faz nada...
Nossa que idéia, que aula!
McGonagall eh mara! Tio Dumbly teria adorado isso... estou com umas 200 frases do discurso dela na cabeça agora.. amei msm!

Perdão pela demora mana, mas vc sabe a atenção que essa fic exige!

Bjão e não demora p atualizar, preciso saber o q se passa na cabeça da Lizzie.
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 23 (att 06/01)

Post by Sheu »

Oláaaaaaa, pessoas!
Sim, sumi, mas estou de volta.
Mais um capítulo para vocês, que escrevi antes do sumiço geral.
Mana, obrigada por conseguir se atualizar na fic *_______________*
Ainda aguardando o retorno dos jedi... :roll:
Enfim, vamos ao que interessa, né?
Esse capítulo... bem, ele não deveria existir. Na verdade, ele deveria estar junto com o anterior ou deveria ser a introdução do próximo, mas a coisa ficou grande demais. Virou um capítulo. relevem, oka?
Bjocas
_________________________________________________________________________________________
23
O PODER DAS ESCOLHAS
O resto do dia transcorreu com muita agitação nos corredores de Hogwarts. Os estudantes tentavam ao máximo conhecer a maioria dos palestrantes. A sala que de imediato se encheu foi a de Draco Malfoy. Os times de quadribol de todas as Casas, inclusive da Grifinória, queriam dar uma boa olhada na nova vassoura a ser lançada. Lizzie, Khai e Tiago acompanharam o colega, Deymon, para a sala e chegaram quando Draco explicava obre a redução da resistência do ar com o novo design, a leveza e a durabilidade do material. Assim que viu o filho, passou a vassoura para as mãos do capitão da Sonserina e se aproximou do grupo.
– Oi, pai!
– Olá, Deymon.
– Não sabia que o senhor vinha. Poderia ter mandado uma coruja.
– Não era do interesse da diretora McGonagall que vocês soubessem. Quem são estes? – perguntou, enquanto analisava os dois sonserinos e o jovem corvinal próximos dele.
– Elizabeth Carter e Khai Macbeer, meus amigos, e Tiago Richards... Acho que é um amigo também, afinal.
Tiago sorriu ao ouvir Deymon apresentá-lo como um amigo, enquanto Lizzie tinha uma expressão surpresa e Khai estava muito sério.
– Srta Elizabeth Carter. Ou muito me engano ou foi a senhorita quem apareceu na capa do Profeta Diário como descendente de Alvo Dumbledore, junto a um outro garoto.
– Hum... Sim, senhor. Sou eu – respondeu, enquanto apertava a mão de Draco.
– É um prazer conhecê-la, finalmente. Já ouvi falar muito da senhorita, desde a última vez que estive aqui.
Lizzie olhou para Deymon, que desviou o olhar, aparentemente interessado no que o time da Sonserina falava sobre a nova vassoura.
– O prazer é todo meu, Sr Malfoy – disse a garota.
– Sr Macbeer, como vai? Sr Richards, um corvinal andando com sonserinos, quem diria?
– É a nova política da escola, Sr Malfoy – respondeu Tiago, cumprimentando-o educadamente.
– É um prazer conhecê-lo, senhor – disse, Khai, também apertando as mãos. – E parabéns pela nova vassoura.
– É verdade! Ela parece incrível, pai!
– Ela é incrível, mas ainda não posso fazer doações para o time da Sonserina, como desejava. Os outros sócios querem manter a linha de produção um pouco restrita, pelo menos no início. Certamente, para o próximo ano poderei mandar algumas. A sua já está em casa, Deymon. E a de seus amigos poderá ser encaminhada em breve, se for do interesse deles.
– Sério?? – exclamaram Khai e Tiago, surpresos e felizes.
– Certamente. Como amigos do meu filho, merecem o melhor. A srta Dumbl... Perdão, Carter, não está interessada?
– Ela é contra voar em vassouras – adiantou-se Deymon – Mas você deveria aceitar, Lizzie. Ela pode ser bem útil, sabe?
– Você pode estar certo, Deymon. Ficarei feliz em aceitar o presente, Sr Malfoy. Muito obrigada.
– Sr Malfoy, a que velocidade ela pode chegar? – perguntou Vector Pendraconis, apanhador da Sonserina.
– Com licença, preciso responder a algumas questões. Foi uma satisfação conhecê-los – disse e retornou para a muvuca de alunos.
Draco estava realmente muito à vontade em ser o centro das atenções e, muito além disso, estava feliz por ver, na expressão de seu filho, o traço do orgulho. Não saberia dizer se Lucius gostaria de tudo aquilo, pois, certamente, seria contra várias coisas como sempre o foi, na verdade. Mas aquele era o seu legado para Deymon e, pelo filho, seria capaz de tudo, embora jamais demonstrasse dessa forma. Olhou para o garoto que sorria para seus amigos e sorriu de volta, sem que ele notasse. Deymon não passaria pelas coisas que Draco passou: tinha amigos que realmente gostavam dele; não tinha um pai que o sobrecarregava com expectativas; e Deymon não era obrigado a fazer escolhas cruéis. A vida de Draco Malfoy não tinha sido nada fácil e por isso sabia dar valor ao que estava construindo para seu próprio filho.
– Seu pai parece ser muito legal, Deymon – Lizzie disse.
– Ele é – respondeu o amigo, olhando para os próprios pés.
– Bom, gente, eu vou dar uma volta, tá? Quero ver os outros palestrantes. Pelo menos alguns deles. Vocês vão ficar aqui?
– Eu devo ficar mais um tempo, Carter. Sabe como é... meu pai e tal...
– Eu acho que vou olhar aquela vassoura mais de perto – resolveu Tiago.
– Eu vou ficar com o Malfoy.
– Sem problemas. Então vejo vocês depois. Tchau.
Em instantes, a garota desapareceu pela porta. Visitou as outras salas rapidamente, procurando por aqueles que realmente eram interessantes. Encontrou Rose conversando animadamente com Apolinário Termopholis, o caçador de tesouros, e ficou alguns instantes, no fundo da sala, acompanhando uma discussão sobre precauções quando se parte em uma nova aventura. Avistou Peter e Alvo ouvindo as histórias sobre prisioneiros de Azkaban, que Waller Mattadock contava. Estava no corredor quando sentiu um toque sutil em seu ombro e notou a diretora McGonagall caminhando ao seu lado.
– Boa tarde, Srta Dumbledore. Espero que tenha achado nossa atividade interessante.
– Sim, diretora – disse, surpresa e tensa.
– Notei que é uma entre poucos alunos ávidos em observar todas as salas.
– São casos muito interessantes, diretora. É complicado escolher apenas um para escutar.
– Fico feliz que esteja lhe agradando. Srta Dumbledore, poderia me fazer a gentileza de dizer aos seus colegas, Sr Malfoy e Sr Macbeer que os aguardo, junto com a senhorita, esta noite, em minha sala? – disse, afetuosamente.
A expressão da garota mudou. Estava confusa e desconfiada. Em nada o tom afetuoso da diretora lhe parecia positivo. Em seu íntimo, sabia que estavam bem encrencados. A questão era saber qual o motivo desta vez?
– Ah... Claro, mas... Na sala...
– Excelente. Com certeza já é hora de superar isso, senhorita. Com licença, devo conversar com outros alunos. Até mais tarde.
Observou a diretora ocasionalmente parar algumas crianças e conversar com elas. Algumas bem animadas, outras extremamente tensas. Por mais que parecesse uma frágil senhora idosa, tinha algo nos olhos e na postura daquela senhora que ratificavam sua posição de diretora da maior escola de bruxos do Mundo da Magia.
Elizabeth entrou em algumas outras salas e não tinha encontrado Jonathan, até vê-lo junto do casal Benz. A sala estava repleta de mulheres ouvindo o Sr s Srta Benz falarem das dificuldades do amor e ele era minoria absoluta. Sorriu, sem perceber, lembrando-se de mais cedo, quando suas mãos estavam entrelaçadas. Havia muito amor, apesar de tudo o que os tinha separado neste ano.
– Eu sabia que a encontraria aqui – disse uma voz empostada, em seu ouvido.
Lizzie fechou os olhos e praguejou impropérios para Merlim. Sentiu um toque no seu ombro e encarou com seu melhor olhar assassino o garoto ao seu lado, que tinha um sorriso de ironia no rosto e um olhar ainda mais petulante. Atrás dele, o time quase completo da Grifinória segurava as risadas, com pouco esforço.
– Tire suas mãos de mim, Potter.
Ele se afastou.
– Calma, minha querida – disse, venenoso – Eu não vou manchar a honra do seu queridíssimo e corajoso namoradinho, apesar dele merecer uma bela lição – disse e se aproximou da garota, que recuou quando ele apoiou sua mão na parede – Eu não me esqueci.
Elizabeth abriu a boca e tornou a fechá-la. Queria dizer várias coisas para aquele rapaz insolente diante de si. Quem ele pensava que era? Poderia sacar sua varinha a qualquer momento e lançar-lhe um Avada Kedavra, mesmo não fazendo a mínima ideia de como. Ou então lhe empurrar um veneno mortal goela abaixo. Mas não poderia fazer nada daquilo ou estragaria tudo para os sonserinos. Infelizmente, teria que ser a garota-não-mais-apaixonadinha-pelo-garoto-mais-popular-do-colégio.
– Pois eu já virei a página, James Potter – cruzou os braços e encarou o garoto.
– Então você é uma daquelas menininhas enjoadinhas que gostam e desgostam num piscar de olhos! Suspeitei! – acusou, com desprezo.
– Eu não sou assim! – disse, de sopetão e depois tapou os lábios.
– Ah, não?
James sorria, enquanto todo o time da Grifinória gargalhava. Lizzie sentia seu rosto ficar vermelho como um pimentão e aquilo só piorava tudo. Por que a vida estava sendo tão cruel com ela? A algazarra gerada pelos grifinórios foi tanta que muitas pessoas da sala começaram a notar o que estava acontecendo ali. A visão de um James Potter conversando em uma proximidade absurda com uma garota encurralada na parede e, além disso, sorrindo para ela, era de conclusões óbvias. Principalmente porque, esta mesma menina, como todos sabiam, até poucos dias era apaixonada pelo capitão de quadribol da sua Casa rival. “Não tem como ficar pior”, pensou a garota. Em instantes, o casal de adultos que conversava sobre o jogo do amor entre as Casas os alcançou. “Retiro o que pensei” e suspirou.
– Por favor, não! – suplicou para os adultos, mas eles apenas lhe sorriam.
– O ódio é o caminho mais rápido para o amor – disse Flora Benz e Lizzie revirou os olhos.
– Mocinha, não há nada que impeça o relacionamento de vocês – completou Hector, seu esposo.
– Olha só, Dumbledore, podemos ser felizes para sempre! – disse, com ironia, James.
– Cala a boca, Potter!
– Minha jovem, não há nada de mais em amar um grifinório só porque você é uma sonserina.
– Não tem nada a ver. Eu já amo um grifinório e é aquele ali! – disse e apontou para o fundo da sala deixando o casal confuso – Meu irmão.
Jonathan, que até agora observava atônito a situação, pareceu despertar de um transe e foi abrindo caminho para alcançar a irmã. O casal sorriu, aprovando o amor fraternal e fazendo referências a como eles eram exemplos de que irmãos poderiam ser grandes amigos, mesmo em Casa diferentes e retornaram para o interior da sala. Lizzie lançava olhares assassinos para Potter, que ria dela e cumprimentava John, colocando sua mão no ombro do primeiro anista.
– Assim fica mais fácil entender porque se apaixonou por mim, Dumbledore – James sorriu enquanto apontava para si e para o colega de Casa.
Elizabeth parecia soltar faíscas pelos olhos e tocou a varinha. James notou o movimento da garota e ergueu uma das sobrancelhas, o que fez ela voltar atrás e se render à humilhação. Em seu íntimo, apenas repetia que aquilo teria retorno, pois ele não fazia ideia em que ninho de cobra estava mexendo. Jonathan não estava gostando muito das atitudes do Potter mais velho e retirou o braço do outro de seu ombro.
– Já chega, James.
– Claro. Desculpe. Eu não tenho culpa, você sabe. Ela que mandou o bilhete para mim.
– Eu sei. Agora, por favor, vá embora.
– Claro, John – disse sério e se dirigiu para outra sala, passando pela garota – Até mais, Lizzie.
O grifinório carregou a voz ao falar o nome dela com tamanha intimidade e a garota fechou o punho com muita força. Jonathan agradeceu por todos já terem ido ou sentiriam a fúria da irmã e ele sabia muito bem como Elizabeth podia assustar outras pessoas. Já a tinha visto fazer algo parecido, em um acampamento trouxa. Brincar com ela como se brinca com uma bolinha de lã não era muito saudável, pois o sangue dela era bem quente. John fez uma nota mental de falar a James sobre isso. Então, assim como a raiva veio, ela se foi e aquilo preocupava o irmão. Por que ela estava se contendo?
– Precisamos conversar – disse o garoto.
– Agora?
– Sim.
– Mas eu queria falar com... – sua frase morreu diante do olhar decisivo do irmão. - Eu sei de um lugar onde podemos ficar sozinhos, sem ninguém interromper.
Jonathan assentiu e Elizabeth o levou até a sala vazia do 5º andar, onde geralmente tinha aulas com a diretora McGonagall para aprender a controlar sua varinha, o que, aliás, vinha dando muito certo. Eles entraram em silêncio e John se sentou no chão, convidando a irmã a fazer o mesmo. Lizzie cruzou as pernas e olhou para o irmão, aguardando que ele enfim se pronunciasse. John deu um longo suspiro e encarou o chão por alguns instantes, até que lançou um olhar de devastadora tristeza para a sonserina.
– Estou perdendo você.
Definitivamente, estas não eram as palavras que Lizzie esperava ouvir. A tristeza na voz do garoto fez seu coração se apertar em uma dor aguda e se aproximou dele, envolvendo-o em um dos braços e apertando-o forte.
– Claro que não. Estou aqui – falou, com um sorriso de incentivo.
– Está aqui agora, Lizzie. Mas desde que entramos nesta escola você se afasta cada vez mais de mim – havia seriedade em sua voz.
– Ah, Jonathan! Você sabe que a Sonserina...
– Não me importa a sua Casa! – interrompeu em um tom exaltado – Pouco importa a minha Casa – completou. – Você é minha irmã. Nós somos a única família de verdade um do outro. Não será uma divisão idiota desta escola que vai nos separar.
Um silêncio constrangedor inundou a sala. John encarava a irmã e Lizzie brincava com seus próprios cabelos.
– Acho que a diretora está tentando mudar isso, John.
– Quando eles foram nos buscar lá em casa você disse que algo ia mudar e mudou – continuou, como se não tivesse feito nenhuma pausa. – Eu não consegui estar ao seu lado para te proteger das coisas ruins que você passou até agora.
– Eu não preciso de guarda-costas, Jonathan. Eu tive amigos para me ajudar quando foi preciso. Se você me proteger para que nada me aconteça, que tipo de vida eu terei? Vazia. Cada coisa que me aconteceu foi um desafio e você sabe como eu adoro desafios.
– Não, eu não sei – encarou as próprias mãos, enquanto Lizzie tinha um olhar confuso. – Eu não sei porque... Não sei mais quem é você – completou com os olhos pregados no chão.
– O que? – se afastou dele, surpresa com tal declaração.
– Lizzie, você está envolvida em coisas estranhas. Eu não consigo mais ler você – concluiu, triste.
– Ora, isso deve ser uma coisa boa. Sinal de que estou conseguindo bloquear meus pensamentos de você. Essa coisa de gêmeos...
– Não estou falando disso.Eu não consigo mais entender o que você faz e isso está me deixando muito mal. Seus olhos parecem estar sempre mentindo, escondendo algo de mim, que sou seu irmão!
Jonathan tinha um olhar de súplica voltado para Lizzie e aquilo sempre acabava com ela, por mais que tentasse não transparecer tal fraqueza. A garota entendia perfeitamente o que ele estava tentando passar: essa angústia de não entender o porquê das coisas estranhas da escola geralmente envolvê-la.
– Jonathan, ser uma sonserina...
– Que droga, Lizzie! – explodiu e levantou-se de súbito – Eu não quero saber da Sonserina, Grifinória, Corvinal ou Lufa-Lufa! Não quero saber das características que os fundadores gostavam de avaliar nos alunos, porque é só uma coincidência a gente cair nessas Casas, sabe? Mas elas não deveriam guiar a nossa cabeça, como tanta gente disse hoje. O mundo da magia é muito mais do que Hogwarts! Você é você, apesar de tudo. Mas você, irmãzinha, não está mais sendo você. Está sendo outra pessoa. Por quê?
Era isso. Essa era exatamente uma das perguntas que Elizabeth temia e o próprio John quase a havia alcançado naquele dia, enquanto conversavam a sós no vagão do trem. A única pessoa que poderia fazer essa pergunta e abalar sua estrutura tinha conseguido mais rápido do que ela imaginava. Lizzie não tinha certeza se estava preparada para explicar os porquês. Talvez, não precisasse explicar exatamente tudo. Deitou-se no chão e encarou o teto por algum tempo, suspirando. Jonathan parecia entender que tinha chegado em um ponto importante, pois se deitou ao seu lado e aguardou, pacientemente, até que sua irmã organizasse seus pensamentos e se sentisse à vontade para falar.
– Na escola, na escola normal de trouxas, quero dizer, eu sempre fui a nerd estranha, sabe? Os amigos que eu tinha eram muito mais pela certeza de que trabalhos comigo rendiam boas notas do que por amizade. Você, John, você conseguia sempre ser popular e agradar a todos, mesmo que nem tentasse isso de verdade. Sempre invejei essa sua capacidade. Você achava que tinha se tornado amigo dos meus amigos, mas na verdade eram eles que gostavam muito mais de você do que de mim, porque é simplesmente muito fácil – olhou para o lado com ternura para o irmão e voltou a encarar o teto. – Quando vim para cá, decidi que iria ser diferente. Ninguém mais iria me usar e eu não seria uma idiota. Existem três motivos pelos quais eu pedi para ser colocada na Sonserina.
– Você pediu? Ao Chapéu Seletor? – o garoto encarava a irmã com olhos arregalados, enquanto ela mantinha o olhar para o nada.
– Você quer ouvir ou não?
– Desculpe.
– Eu pedi porque não queria ser da mesma Casa de Alvo Dumbledore. Eu sei que você acha isso bobagem – completou, antes que o outro conseguisse falar – Mas eu quero construir minha própria imagem, John. Não quero comparações e isso seria inevitável dentro da própria Casa. Não quero ser a neta de Dumbledore; quero ser Elizabeth que se aprofundou em determinado ramo do mundo bruxo, descobrindo coisas fantásticas e, por acaso, teve um avô famoso. O segundo motivo pelo qual pedi foi por você.
– Por mim?
– É claro. Já estava na hora de você entender que não precisa de mim o tempo todo para se dar bem. As amizades que você fez mostram o quão maravilhoso você é, menos o James. Ele eu acho que você deveria repensar, enfim... Eu só queria te mostrar que você pode crescer do seu jeito, longe de mim.
– Mas eu não quero isso – respondeu, baixinho.
– Eu sei, mas isso te fez mais forte, não foi? – lançou um olhar sincero para o irmão.
– Parece que você ainda consegue me ler – disse, envergonhado – E o terceiro motivo?
– Bom, esse é o mais complicado. Eu quero ser outra pessoa.
– Por que? Eu gosto de você do jeito que você é... Ou era.
– Você é meu irmão e isso não vale. Cansei de tirarem vantagem de mim, de ser aquela certinha de sempre e de seguir as regras para ser a mais perfeita Doutora de Cambridge. Eu queria, não, eu quero ser a descolada, a inteligente, a garota que simplesmente não se importa, sabe? Sempre me gabei das minhas notas e você sabe disso, mas agora aprendi a dizer não e o não é uma coisa poderosa. Mesmo quando você só pensa nele. O egoísmo pode ser uma coisa boa, afinal.
– Mas você ajudou o Alvo na aula de Transfiguração.
– Aquilo foi um lapso. Além disso, eu pedi a varinha dele para que não achasse que sou boazinha demais.
John riu e balançou a cabeça.
– Você pode tentar mudar quem você é por fora. Você pode até fingir que mudou. Mas lá dentro, você não vai mudar nunca.
– Duvida?
– Eu não quero apostar nada, Lizzie. Essa coisa toda não quer dizer que vai parar de falar comigo, não é?
– Não. Eu não devo nada aos sonserinos mesmo. Da minha vida cuido eu.
– Então me explica – disse, ao se sentar novamente.
– Explicar o quê? – e sentou-se de frente para o irmão.
– Por que você está namorando com aquele corvinal, enquanto todo mundo acha que você foi a causa do fim do namoro do James e da Lena. Porque, depois do que eu vi agora há pouco, não acredito em nada que ouvi até agora.
Elizabeth deu um longo suspiro e deixou escapar um sorriso no canto dos lábios. Ele definitivamente a lia com mais facilidade do que poderia imaginar.
– Segredo de irmãos? – perguntou a garota.
– Segredo de irmãos – e uniram o dedo mindinho em acordo.
– Não estou namorando o Tiago. Foi só uma forma de tentar fazer o povo parar de falar que eu gosto do irmão do Alvo.
– Eu sabia! Mas você não gosta do James.
– Não. Ele é um idiota exibicionista.
– Certo. Então... Lizzie! Então aquela história do quadribol...
– Sim, nós armamos para ele.
– Lizzie! – exclamou, chateado.
– Ora, Jonathan! Alguém precisava dar um jeito no ego dele! Estava insuportável, humilhando a minha Casa, de certa forma.
– Mas daí a fazer uma trapaça... Não sei se vou gostar dessa nova você e nem se mamãe e papai vão.
– Eles não vão saber, exatamente. Vai ser uma coisa mais... Bruxa, entende? Nesse mundo.
– Bom, mas de uma coisa eu sei – fez uma pausa e a encarou – Você está colhendo pelo Castelo exatamente o que plantou. O que James está fazendo é pouco.
– Ei! Pensei que fosse meu irmão.
– Só estou sendo justo. Eu devia falar...
– Mas você não vai. Você fez um juramento!
– Eu sei, eu sei - suspirou. – Bem, agora entendo porque estava mentindo, mas não concordo, que fique bem claro. E se você fizer outra coisa dessas...
– Não vou mais trapacear no Quadribol. Juro. Nem vou me envolver.
– Não era bem isso que estava esperando que você dissesse.
– Enfim, já podemos descer? Acho que ainda dá tempo de falar com os palestrantes. Estava procurando a sala do Sr Casper Visionack.
– Por que está interessanda em fantasmas? Pensei que tinha medo.
– Eu não tenho medo! – John tossiu para abafar um riso e ela continuou, inabalável – Só acho que se deve entender aquilo que não se compreende.
– Se a mamãe descobrir que você vai se converter ao espiritismo vai ter acessos.
– Ah! Cala a boca, Jonathan!
Ambos sorriram e se encaminharam para a sala do especialista em fantasmas. Embora Lizzie estivesse interessada e fizesse algumas perguntas, logo aquilo pareceu tedioso demais para o garoto e ele saiu, esbarrando em Rose.
– Estava lhe procurando! Descobri coisas bem interessantes – disse a garota.
– Eu também – sorriu, de um jeito enigmático.
Rose olhou para ele com uma sobrancelha arqueada e uma as mãos na cintura, tentando entender do que se tratava. Espiou a sala e notou alguns gatos pingados ouvindo atentamente até identificar a cabeleira escura e as vestes sonserinas.
– O que ela está fazendo? Pensei que tivesse medo de fantasmas.
– Não é interessante? – sorriu. – Onde estão os outros?
– Ainda ouvindo histórias de Azkaban.
– Ah, cara! Eu quero muito ouvir também.
– Por quê?
– Porque eu não conheço. Acho que devo saber onde vou parar se cometer um crime no Mundo da Magia.
– Você? Cometer um crime? Você é Jonathan Dumbledore. Isso é impossível. Você não faria mal a uma mosca.
O garoto coçou o queixo por uns instantes e voltou a encarar a amiga.
– O fato de eu ser o melhor caçador e matador de moscas da minha escola trouxa não iria interferir nisso, né? – sorriu de novo e começou a caminhar, deixando a garota atônita. – Você devia vir também, afinal, é a dona de planos mirabolantes.
Rose corou diante das palavras do amigo. Ele estava praticamente jogando na cara dela, com muita sutileza, que o plano dela de invadir a sala da Diretora era algo como um crime. Certamente, estaria violando muitas regras da escola, mas será que aquilo poderia levá-la a Azkaban? Sentiu um arrepio na nuca ao chegar à conclusão de que seus pais a matariam. Correu e alcançou o amigo, pedindo desculpas, embora ele insistisse que não havia nada para desculpar.
Havia ainda algumas horas para que outras salas fossem visitadas, o que rendeu uma média final de três palestrantes ouvidos por cada estudante. Havia um clima muito sociável entre os colegas de diferentes Casas, comentando sobre os feitos de seus ex-alunos. Alguns até sentiam vontade de mostrar suas salas comunais e de se vangloriar pela Casa. Claro, não era algo aplicável a maioria dos alunos. Embora fosse liberado, não era muito comum que acontecesse.
Foi a primeira vez que Rose e Jonathan levaram Alvo e Peter para a torre da Grifinória e eles prometeram retribuir a gentileza, logo que pudessem voltar para os dormitórios da Lufa-Lufa. Alvo tinha relutado em fazer aquela visita porque estava com medo de se sentir mal, um intruso ou um filho desnaturado incapaz de seguir os passos dos pais. Mas agora estava mais confiante com sua Casa e, de fato, sentindo-se parte dela, de modo que nada poderia abalá-lo. Foi um fim de tarde feliz, brincando de snap explosivo com os amigos e com o irmão na Sala Comunal da Grifinória.
O grupo de sonserinos e corvinal se dispersou logo depois da partida de Draco Malfoy. Elizabeth não tinha retornado a tempo de se despedir do pai de Deymon e o amigo teve a certeza de que ela estaria discutindo com algum palestrante intelectual coisas de intelectuais. Apenas disse ao seu pai para desculpá-la, pois não era fã de quadribol. Khai e Deymon encontraram-na por acaso, saindo da sala, acompanhada do Sr Visionack e alguns livros a tiracolo.
– Foi uma satisfação conhecê-la, srta Dumbledore. Perdão, srta Carter. Ainda não consegui me adequar. Espero que possamos continuar esta conversa por correspondência.
– Sr Visionack, eu adoraria!
– Mandarei outros livros assim que me escrever sobre o que achou destes.
– Certamente, senhor. Farei isso o mais breve possível. Até mais.
Deixou o palestrante e viu os amigos no corredor, vindo encontrá-los com um largo sorriso.
– Meu pai já foi – cortou Malfoy, seco.
– Ah! Desculpe. Acabei perdendo o horário – disse, com o sorriso desaparecendo.
– O que ele tem de interessante?
– Coisas pelas quais me interesso, Malfoy.
– Fantasmas? – perguntou Khai.
– Desde que aquela Murta que Geme me atacou tenho pensado em como revidar – sussurrou, olhando para se certificar de que ninguém a tinha ouvido. – Ela é um fantasma, não é? Não tem muitos livros sobre isso na biblioteca e achei que poderia descobrir mais.
– E descobriu?
– Muito mais coisa, Khai, na verdade.
– Eu não sei quanto a vocês, mas estou louco para dormir – disse Malfoy, já começando a andar – Ainda bem que o jantar será servido nos dormitórios hoje. Tanto contato com grifinórios já estava me fazendo mal.
– Vocês não sabem do pior – Lizzie falou e começou a contar seu encontro com James.
Os colegas estavam revoltados com Potter e juraram pensar em uma forma de fazer aquilo tudo acabar o quanto antes. Estavam bem próximos da Ala onde estavam seus dormitórios temporariamente, quando alguém pigarreou atrás deles. Viraram-se e deram de cara com o Prof Pratevil.
– Boa noite, senhores e senhorita.
– Boa noite, professor – disseram, em uníssono.
– Vim aqui para acompanhá-los até seu compromisso noturno.
– Desculpe, professor, não entendi – disse Malfoy.
– Ai, droga! Esqueci! A diretora quer nos ver.
– Por quê? – perguntou Malfoy, assombrado.
– Não faço a mínima ideia – respondeu a garota.
– Sigam-me.
As crianças não tinham outra opção senão seguirem o Professor de Trasfiguração pelos corredores quase desertos da escola. A maioria dos alunos já estava em suas camas ou tomando uma boa xícara de chocolate quente com creme. Por estar acompanhados do professor mais linha dura, o trio de sonserinos não poderia discutir entre eles o que estava acontecendo.
– Fico imaginando o que vocês aprontaram para merecer um chamado da diretora logo após este evento tão grandioso – comentou o professor, encarando o corredor.
– Nós também – deixou escapulir Khai, mas logo foi repreendido por um cutucão da garota.
– Eu acho que deve ser por causa das palestras...
– Srta Dumbledore, há de convir que, se fosse para relatar suas percepções sobre o evento de hoje, a diretora esperaria até amanhã. A senhorita é sagaz o suficiente para chegar a esta conclusão sozinha. Não invente histórias que não sejam plausíveis.
A garota calou a boca e encarou o chão, não conseguindo encontrar nenhum outro motivo. Caminharam em silêncio pelos corredores, até que o professor fez sinal de que parassem. Um barulho estranho vinha de trás de uma tapeçaria para onde o Sr Pratevil se dirigia. Ele ergueu o tecido com rapidez para revelar um casal de adolescentes com os olhos arregalados e ainda agarrados.
– 10 pontos serão retirados da Grifinória e da Corvinal e ambos terão detenção comigo nos dois próximos sábados. Ensinarei a vocês como passar o dia fazendo algo de produtivo na companhia um do outro. Agora vão para seus dormitórios e não me façam encontrá-los de novo.
Os adolescentes saíram andando o mais rápido que puderam, sem encarar o professor ou os primeiro anistas que o acompanhavam. O trio se entreolhou como se uma luz tivesse iluminado um quarto escuro e voltaram a caminhar, com sérias suspeitas do que os aguardava. Quanto ao casal, sem dúvida, estaria praguejando contra o professor assim que estivessem fora do alcance auditivo dele.
Balinês era a senha atual para a dar acesso aos aposentos da diretora. O sr Pratevil bateu quatro vezes educadamente à porta e ouviu a autorização interna para que entrasse. Não era uma sala incomum para os três, que já a visitaram anteriormente. Também não era um lugar de boas recordações. Elizabeth hesitou na hora de entrar e foi conduzida pelo Prof Pratevil pelo ombro até uma das três cadeiras que se encontravam diante da mesa da diretora. Encarou os próprios sapatos e pretendia ficar assim até a hora de ir embora.
– Obrigada, Prof Pratevil. O senhor me faria a gentileza de aguardar até que eu tenha terminado este assunto? Garanto que não levarei mais do que alguns minutos.
– Certamente, diretora – disse e fechou a porta ao sair dos aposentos, aguardando do lado de fora.
– Boa noite – disse e analisou o trio que se comportava de forma nervosa. – Então, o que acharam do dia de hoje?
– Bom – Khai falou.
– Bom? – tornou a perguntar a diretora.
– Er... Ótimo. Eu quis dizer que foi ótimo, diretora.
– Certo. E o senhor?
– Foi uma surpresa a presença de meu pai.
– Imagino que sim. A senhorita esteve em todas as salas. O que achou das conversas mais pessoais?
– Excelente, diretora. Foi melhor até do que a palestra porque pudemos conversar com eles e trocar ideias.
– Hum, muito bem. E o que vocês aprenderam hoje?
O trio trocou olhares nervosos. Já não sabiam mais onde a diretora queria chegar. Seria simplesmente isso? Ficaram em silêncio, com medo de errar, embora soubessem que resposta deveria ser dada. Após alguns instantes, a garota tomou a palavra.
– Aprendemos muitas coisas, mas acho que o principal foi sobre as nossas Casas. Não importa se somos da Sonserina, Grifinória, Corvinal ou Lufa-Lufa, afinal é apenas uma coincidência a gente ser escolhido. Aprendemos que o Mundo da Magia é muito mais do que Hogwarts e que não devemos nos deixar levar pelo que dizem, porque nada disso define quem somos. É uma questão de escolha e de esforço.
Os colegas olhavam boquiabertos para a amiga, enquanto Minerva McGonagall se recostava em sua cadeira, com um sorriso no rosto e uma expressão satisfeita. Se uma primeiro anista, por mais inteligente e de boa comunicação, chegava a esta conclusão, poderia dar seu trabalho por concluído.
– Excelente, srta Dumbledore. Bela escolha de palavras - alguns quadros murmuravam em concordância. – Agora, vamos ao que realmente os trouxe aqui – dito isso, sentiu as crianças se remexerem nos bancos. – O caso do jogo de quadribol e o bolinho enfeitiçado, é claro. Certamente, não acreditaram que poderiam enganar alguém com tamanha experiência em desculpas de alunos. Já ouvi muito absurdo quando fui diretora da Grifinória, podem acreditar nisso. Agora, o que farei com vocês? – disse, encarando os três – Devo castigá-los? Expulsá-los?
– Não, por favor – disse a garota.
– Em primeiro lugar, quero a verdade. Expliquem-se.
Logo, os três estavam contando tudo, nos mínimos detalhes, com os créditos das ideias e os motivos de cada um para levarem o plano adiante. Falaram também de como mentiram para a diretora e o que tinham de suportar agora, que era um castigo, na verdade, principalmente para a garota. Após o relato, seguiu-se um silêncio pesado na sala da diretora. Minerva suspirava e rabiscava em sua mesa alguma coisa. Enfim, parou e encarou o trio.
– O que vou fazer com vocês?
– Por favor, diretora, não nos expulse – pediu Elizabeth.
– Eu... não tenho outra escola para ir, diretora – disse Khai.
– Eu não quero estudar em Durmstrang – afirmou Deymon.
– Nós aceitamos a punição, diretora. Qualquer coisa – falou Khai e os amigos concordaram.
– Alguma sugestão da forma como devem ser punidos?
– Um ano de detenção? – sugeriu Malfoy.
– E perda de muitos pontos para a Sonserina – compleou Khai, triste.
– Pedir desculpas aos grifinórios e sermos proibidos de jogar quadribol – disse a garota e os meninos olharam em choque para ela.
– Bem, vejo que vocês compreenderam a gravidade de seus feitos. Farei o seguinte: não tirarei pontos da Sonserina, não lhes darei detenção de um ano e nem evitarei que possam jogar no time de sua Casa. Basta que me façam um grande favor.
As crianças se remexeram nos assentos. Aquilo não lhes parecia simples.
– Que favor seria este, diretora? – perguntou Malfoy.
– Sejam um grupo modelo.
– Como assim? – questionaram.
– Sejam um grupo modelo para o que apresentei hoje. Como sabem, a Sonserina é uma Casa muito rotulada e vocês, por iniciativa própria, decidiram quebrar esta imagem ao acolherem um corvinal em seu convívio diário. Peço apenas que extendam isso.
– Como? – perguntou Khai.
– Ela quer que a gente faça a mesma coisa com lufos e grifinórios – concluiu Deymon.
Khai olhou para os colegas e para a diretora.
– Mas... – Khai começou a falar.
– Vamos ser postos para fora da Casa a pontapés – alertou Deymon.
– Não serão. Ninguém pode fazer isso – constatou a diretora.
– Mas eles vão deixar de falar com a gente – disse Khai.
– Vão apenas considerar algo diferente, como foi no início, quando aceitaram o Sr Richards.
– Com todo o respeito, diretora, uma coisa é um corvinal ou até mesmo um lufo. Outra completamente diferente é um grifinório – afirmou Deymon.
– A senhorita concorda? – a diretora direcionou seu olhar para a menina, que encarava o chão. – Acha impossível conviver com um grifinório?
Khai suspirou e Deymon se segurou muito para não rolar os olhos diante da diretora.
– Não – respondeu a sonserina.
– Bom, como disse, é apenas um favor. Posso voltar a analisar a situação de vocês.
– Espere. Pode nos dar licença um instante, diretora?
– Certamente.
Elizabeth guiou os outros dois até o fundo da sala, ficando de costas para o retrato dos ex-diretores e sussurrando o mais baixo que podia. Tanto que os meninos precisaram se aproximar ainda mais.
– Podemos fazer isso.
– Claro que não, Carter. É um ultraje! – sibilou Deymon.
– Malfoy, a outra escolha não é favorável para ninguém – disse a garota.
– Não vou suportar um grifinório entre a gente.
– Mas Malfoy, não estamos falando de alguém como o Potter. Pode ser o meu irmão. Posso controlar ele, fazer acordos e impor limites.
– Bom, tem o irmão dela, Malfoy. Ele não me parece tão ruim assim.
Deymon olhou incrédulo para o outro e rolou os olhos, balançando a cabeça negativamente.
– Escuta – disse a garota agarrando o braço do relutante – Ou fazemos isso ou vamos ser expulsos. É isso que você quer? Nós dois sabemos o que irá acontecer com você, Malfoy, mas o que irá acontecer com a gente?
– Você é uma Dumbledore. Vai ter espaço em qualquer lugar.
Ela largou Deymon e cruzou os braços.
– Agora eu sou uma Dumbledore? – perguntou, chateada.
– Desculpe...
– E quanto a mim, Malfoy? Vou ser criado pelo meu avô? Do jeito dele?
Ambos encaravam o garoto, aguardando uma definição. Na cabeça de Deymon, seria moleza para Lizzie, e Khai suportaria o irmão dela porque tava na cara que ele gostava dela. Sentia-se pressionado, mas não era uma decisão fácil para ele. O que seu pai diria? Não queria decepcioná-lo logo agora que estava começando a achar que seu avô tinha uma ideia equivocada sobre ele. Conviver com um grifinório poderia significar a morte social de seu pai, mais uma vez. Como poderia viver com isso? Mas não era justo que seus amigos pagassem sozinhos por uma ideia que tinha sido dele, afinal. Deymon iria para Durmstrang para não ter de conviver com um grifinório, sem dúvida, mas não queria ficar longe dos amigos. Ele nunca teve ninguém como Khai e Elizabeth, até mesmo o chato do Tiago era uma boa companhia. Seu pai ia ter que entender e se não o fizesse, ele ainda tinha sua mãe para defendê-lo. Suspirou fundo, fechou os olhos e cruzou os braços.
– Está bem. Mas você vai conversar direito com o seu irmão.
– Combinado – dito isso, os três voltaram para os assentos. – Diretora, se aceitarmos fazer esse grande favor para a senhora, poderia nos fazer um pequeno favor?
Os meninos encaravam a colega com supresa e a diretora chegou a erguer uma de suas sobrancelhas e cruzar as mãos.
– Prossiga.
– Esquecer tudo. Quero dizer, não revelar aos grifinórios.
– Mas isso significaria deixar eles acreditarem que a senhorita, de fato, estava apaixonada pelo Sr Potter.
– Não me importo, o mal já está feito. Prefiro isso a ter duas histórias com meu nome rolando pela escola. Eu consigo suportar – disse para os amigos, que a encaravam.
– A senhora pode fazer isso, diretora?
– Creio que sim, Sr Malfoy. Mas não pelo fato de escolherem fazer um grande favor para mim e esta escola, e sim pela sincera amizade que presencio nesta sala. Fico feliz por chegarmos a esta conclusão. Sr Macbeer, pode chamar o Prof Pratevil?
O garoto assim o fez e, em poucos instantes, estavam caminhando pelos corredores. O trio estava silencioso, pois não havia muito que se conversar. Tinham apenas de seguir adiante.
– Então não foram expulsos e nem sofreram detenção – comentou o professor.
– Como o senhor... – Khai começou a falar, mas foi interrompido.
– A diretora comentou que achava o grupo de vocês muito interessante para propor uma experiência. Não julguei que daria certo. Pela expressão dela e de vocês, acredito que os convenceu. A questão é: como?
– Pelo bem da escola, é claro – disse a garota.
– Ah, sim, é claro!
– Achamos que a diretora está fazendo a coisa certa – completou Khai.
– Evidente – respondeu o bruxo, carregado de ironia.
Um silêncio constrangedor e repleto de denúncia seguiu-se ao comentário do professor. Ele deixou as crianças no corredor e se retirou em seguida, sem dizer nada. Cada um seguiu para suas camas, também em silêncio. Tinham muito que refletir a partir de suas escolhas feitas à noite.
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Rodrigo I
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 23 (att 06/01)

Post by Rodrigo I »

Sheu!!! Parabéns!!!

Seu Fanfic é sensacional!!! Não tem como descrever com outras palavras!!!
O que vc tem é um dom!!! Vc consegue amarrar a história, unir os pontos, manter o suspense ao mesmo tempo que não perde a caracteristica inicial dos personagens!!! Como falei, sensacional!!!

Entrei no forúm por causa da seu fanfic!!! Em busca de informações sobre o Mundo Bruxo, encontrei o forum e vi essa continuação perfeita da hiostória!!!

Confesso, gostaria muito do Alvo na Griffinoria!!! Mas, como a Minerva disse, são tempos diferentes e a Lufa-lufa tem o seu valor!!!

Li tudo e já estou MEGA ancioso para a continuação!!!
Faz tempo desde que o ultimo post foi feito e espero que não tenha abandonado o história!!!
Sei que não tenho intimidade, mas necessito implorar: POR FAVOR NÃO DEMORA COM O PRÓXIMO CAPITULO!!!

Forte abraço!!!
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LaryLestrange
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 23 (att 06/01)

Post by LaryLestrange »

SHEEEEEEEEEEEEEEEEEEUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU
*---*


oi...
passei pra falar oi e cobrar o próximo cap, viu?
estou te esperando, sheuzinha *--*
~*~*~*~*~*~*~*


“The Last Enemy That Shall Be Destroyed is Death”

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Sheu
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 24 a 30(att 10/03/2014)

Post by Sheu »

Descobri que abandonei a fic aqui
~choralitruz
~desvia das avadas... er... Alguém em Casa ainda? :roll:
Então, vou postar aqui mesmo por uma questão de finalizar, né?
Vou postar os capítulos 24 a 30. Boa leitura... Er... Se é que tem alguém em casa interessado ainda...rs

___________________________________________________________________________________________
24

O ESCONDERIJO DE MACBEER
Finalmente, Harry Potter se encontrava sozinho em seus aposentos, após um longo dia de palestra e bate papo com os alunos. Tinha acabado de enviar corujas contando tudo para Rony, Mione e Gina, incluindo sua visita rápida à sala comunal da Grifinória e uma partida de snap explosivo com seus filhos e alguns amigos deles. Harry compreendia a grandeza do evento de McGonagall e sentia-se feliz por colaborar com aquele momento. Era uma sensação diferente defender Hogwarts sem precisar erguer a varinha para isso. Parecia-lhe algo muito mais nobre do que uma guerra. Estava cansado, afinal. Por mais que tentasse não transparecer, já não era o jovem de 17 anos de antes. Tudo o que precisava era de um bom banho e uma massagem de Gina. Bem, teria que deixar a massagem para as férias.

Mal tinha vestido seu pijama para dormir quando um patrono, em forma de cisne, surgiu no meio de seus aposentos e ele logo soube de quem se tratava. A questão era: por que Cho Chang lhe enviava um patrono falante àquela hora?

Harry. Fuga de Azkaban. Precisamos de você, imediatamente. Explicações na lareira.

Imediatamente, Harry aumentou as brasas e aguardou o contato de um de seus aurores. Estava impaciente. Uma crise assim, do nada, não fazia sentido. A segurança em Azkaban estava mais severa desde a Segunda Grande Guerra. Quem poderia ter arquitetado isso? Quantos teriam fugido? As brasas começaram a se mexer e logo ele pôde identificar o rosto de Luna Lovegood. Suspirou.

– Olá, Harry! Como vai? Espero que não tenha lhe acordado, mas é uma coisa boa, afinal, precisamos de você.

– Quem fugiu de Azkaban?

– Tenessa e Cho estão com o administrador verificando isso.

– O que aconteceu, Luna?

– O dia estava lindo hoje, mas acho que era atividade de luminosins, você sabe como eles adoram pintar o céu com luz e cores antes de tempestades. Acho que uns sete ou oito, talvez dez prisioneiros de Azkaban conseguiram fugir depois de uma explosão e os dementadores não parecem muito felizes, apesar de sugar a alegria dos outros. O que é bem paradoxo, não acha? Seria muito legal da sua parte se pudesse dar uma passada aqui, sabe?

– Estou indo imediatamente. Vou falar com a diretora e partir.

– Ótimo. Ah, Harry! Eu recomendo chocolates... E colar de rabanetes, eles afastam os zonzóbulos. Tem muitos deles por aqui.

Harry conjurou novas vestes em seu corpo e saiu apressado de seus aposentos. A situação era alarmante, mas Luna parecia fazer tudo soar muito diferente do que realmente era. Preocupar-se mais com zonzóbulos do que dementadores era um feito e tanto, tinha de admitir. Seus passos ecoavam altos no silêncio dos corredores e em poucos instantes atraiu a atenção de um animago. O Sr Beezinsky veio voando ao seu lado e Harry encarou, com uma expressão interessante, um zangão com listras amarelas e roxas. Segundos depois, um homem loiro, alto e esguio com vestes roxas o acompanhava e Harry reconheceu o bruxo que o acompanhou até os sereianos.

– Algum problema, Prof Potter?

– Boa noite, Sr Beezinsky. Fuga de Azkaban. Receio ter de me ausentar.

– Por Merlim! Quantos escaparam? Como?

– Ataque à fortaleza. Ainda não tenho os números exatos, mas precisamos nos mobilizar imediatamente.

Quando alcançaram a estátua dos aposentos da diretora, Sr Beezinsky fez uma breve reverência e se comprometeu a avisar os outros adultos do ocorrido. Mal Harry tinha erguido o pulso para bater à porta, ela se abriu, revelando uma McGonagall de robe rosa e cabelos presos em grampos. Sua expressão estava espantada.

– Por Merlim, Prof Potter! – disse ao colocar suas mãos no peito. – Fuga em Azkaban!

– Exato. Diretora, vim comunicar minha saída imediata e não sei quando poderei voltar.

– É claro, Sr Potter! Eu compreendo a sua obrigação com a comunidade bruxa, é claro. Venha, utilize minha lareira. Vou arranjar um professor substituto. Talvez o Prof Pratevil não se incomode em realocá-lo...

– Sobre isso diretora, talvez eu possa indicar alguém. Encaminharei uma coruja confirmando assim que possível.

Harry pegou um punhado de pó de flu e falou seu destino, claramente. Um lampejo de fogo verde o engoliu e, em segundos, estava em Azkaban.

A manhã raiou em Hogwarts prometendo um belo dia para aulas ao ar livre. Khai e Deymon se dirigiram para o banheiro dos meninos e caminharam muito lentamente, sem muita disposição para as aulas. O garoto Malfoy estava com uma expressão muito pior do que o colega.

– Ei, Malfoy! Conseguiu terminar o pergaminho sobre Transfiguração de Líquidos? – perguntou Lyu Ho.

Deymon olhou surpreso para o outro primeiro anista. Quase nunca falava com ele.

– Er... Sim. Ontem.

– Posso pegar seu livro? Bachking fez a idiotice de colocar fogo no meu na aula de feitiços.

– Por que não pega o dele?

– Porque ele queimou o dele antes de reduzir o meu a cinzas – disse, com muita raiva.

Malfoy deu de ombros. Seu colega entendeu aquilo como um sim e voltou correndo para o dormitório a fim de terminar sua lição. Deymon coçou a cabeça, se perguntando o porquê de tamanha mudança, até que se lembrou da vassoura nova da companhia do pai e do time de quadribol. Agora, tudo fazia sentido.

– E pensar que muito em breve eles vão nos detestar novamente – falou para Khai, mas o outro estava parado, em choque. – O que foi agora?

– Transfiguração de Líquidos.

– Não me diga que esqueceu? É a segunda aula, Macbeer! Prof Pratevil vai devorar a sua alma em doses pequenas de detenções semanais e a Carter vai avadar você.

– Droga! – disse e voltou correndo para o dormitório.

Malfoy lavou-se e encontrou o outro jogado no beliche, lendo desesperadamente o livro de transfiguração. Balançou a cabeça negativamente para o outro e retirou de sua mochila um pergaminho, atirando-o ao amigo.

– Vê se muda as coisas para não parecer que copiou de mim. Se tivesse tudo no livro, o Prof Pratevil não passaria esse trabalho.

– Valeu, Malfoy.

– Que seja. Quero de volta na primeira aula e antes do Prof Potter chegar.

O sonserino seguiu para o Salão Principal para o seu desjejum, acompanhado por alguns membros do time de quadribol: Seth Hiccock, Callum Darkmouth, Lucius Morbinavell e Vector Pendraconis. Falavam sobre a nova vassoura que Draco havia mostrado e se o primeiro anista estava pensando em se candidatar à vaga para o time no ano seguinte. Não precisou de muito tempo para o garoto sacar qual era a intenção deles, mas fingiu não entender, para render a conversa. Queria muito participar do time, de qualquer maneira. Ele não conseguiu sentar-se próximo a Elizabeth por conta do grupo que o colocou no meio da mesa, junto a Amélia Bulstrode, Bella Parkinson e seu grupinho de sonserinos rebeldes. Aquilo meio que mexeu com Dumbledore, mas ela seguiu fingindo que estava tudo bem. Até Madeline Cascavel e Veruska Tim-Morbidom se sentiram mais à vontade para sentar e falar com ela e Tiago.

– Isso é estranho – sussurrou o garoto. – Me sinto quase aceito.

– Quase – salientou a amiga.

Mal tinham tocado nos pratos quando a diretora pediu a palavra.

– Bom dia a todos! Gostaria de agradecer pelo dia de ontem. Conversei com alguns alunos e pude notar que a visão de mundo de vocês foi realmente ampliada. Fico feliz por ter colaborado com um pouco a mais além do ensino acadêmico. Os palestrantes também ficaram entusiasmados com as conversas durante a tarde e acredito que possamos fazer disso um evento anual em Hogwarts! – houve aplausos e muitos professores concordavam com ela. – Devo, contudo, trazer uma notícia nada agradável para vocês. Fui informada, durante a noite, sobre um incidente mágico extremamente grave. Como logo vocês poderão ler no Profeta Diário, alguns bruxos conseguiram escapar de Azkaban – uma onda de gritinhos de terror e burburinho se formou no Salão. – O Ministério já está providenciando a captura dos fugitivos e, por esta razão, o Prof Potter estará ausente por tempo indeterminado – pôde-se ouvir comentários chateados dos alunos, enquanto James, Alvo e Rose pareciam bem preocupados. – Por hoje, vocês terão o horário livre, mas amanhã chegará uma outra pessoa para substituí-lo. Espero que usem o tempo extra para colocar os estudos em dia, especialmente os que prestarão NOMs e NIEMs no fim do ano.

Dito isso, todos voltaram suas atenções para conversas sobre a fuga em Azkaban, o novo professor que substituiria Harry Potter e alguns ainda comentavam sobre a palestra. Alvo e Rose logo se levantaram e sentaram junto de James e seus amigos, seguidos por Peter e Jonathan.

– Estou preocupado com nosso pai – o tom de Alvo era apreensivo.

– Eu também estou muito nervosa. Será que meu pai também está com ele? – perguntou Rose.

– Ora, Al, é o trabalho dele e eu acho que o tio Rony também deve ter sido chamado. Qual é, gente! Sabemos que eles lidam com o perigo todos os dias – afirmou James.

– Mas não algo assim.

– Ser auror não é algo fácil, Alvo. Não seja idiota. Papai sabe o que faz, afinal, ele é ele não é?

– Mesmo assim, primo. Parece que foram alguns bruxos perigosos.

– E são muitos aurores, Rose. Não é como se nossos pais fossem caçar cada um pessoalmente. Mamãe e tia Mione não deixariam eles irem se não achassem que dessem conta do recado. Acho que vocês estão preocupados à toa – respondeu, mordendo um pedaço de bolo.

James estava preocupado, mas não poderia deixar transparecer para os menores. Ele era o mais velho e tinha que tomar conta dos outros, afinal de contas. Mas ele, de fato, acreditava que Harry e Rony estavam bem, senão nunca teriam sido admitidos para um trabalho tão perigoso. Além de terem se safado há anos contra o ex Lorde das Trevas, é claro. James nunca tinha contado para ninguém, mas sabia de muito mais detalhes do que seus pais suspeitavam. Tinha conseguido que Teddy contasse a maioria das coisas quando ainda era muito novo, chantageando-o ao descobrir que ele namorava Victoire escondido.

Pouco antes de o café terminar, as corujas invadiram o Salão Principal. Todos os alunos se inquietaram nos bancos, aguardando a edição do Profeta Diário cair em seus colos. Elizabeth abriu seu jornal com rapidez, cuja capa estampava a manchete Fuga em Massa de Azkaban e a fotografia do Administrador, Viterlino Delciber, junto ao Chefe dos Aurores, Harry Potter. Ela folheou avidamente até encontrar a página da matéria e passou a ler, acompanhada de Tiago e das meninas que se acotovelavam ao seu lado.
FUGA EM MASSA DE AZKABAN

Ministério teme que fugitivos promovam nova onda de pânico
Na noite de ontem, a prisão de segurança máxima do Mundo da Magia, a temida Azkaban, foi novamente violada. Segundo o Ministro da Magia, Kingsley Shacklebolt, onze dos doze prisioneiros cumpriam pena por associação com o ex-Lorde das Trevas e o Primeiro Ministro Trouxa foi avisado sobre a situação. “Trata-se de uma ação planejada e executada por bruxos com alto conhecimento de magia. Estamos tomando as medidas cabíveis para recapturar os fugitivos e peço à comunidade bruxa que permaneça atenta e vigilante, entrando em contato assim que avistá-los. Não tentem capturá-los sozinhos, pois são indivíduos perigosos”, afirmou o Ministro.

O Administrador da prisão, Sr. Viterlino Delciber, instaurou uma comissão para investigar os bruxos com acesso à ilha, pois julga que a fuga foi facilitada por alguém. É fato também que alguns dementadores, após o ocorrido, espalharam-se em busca dos prisioneiros. “Estamos trabalhando em conjunto com o Ministério da Magia para encontrar e recolher os criminosos. Os dementadores não têm permissão para atacar cidadãos inocentes. Temo, apenas, que a morte chegará depressa para os fugitivos que cruzarem seus caminhos”, ressaltou.

De acordo com Sr. Harry Potter, chefe do Quartel General de Aurores, “a situação é extremamente delicada. Uma fuga de Azkaban, mesmo com precedentes, é inadmissível. Os aurores estarão trabalhando à paisana, dentro e fora do Ministério. Agradecemos à população que nos informar sobre o paradeiro de algum fugitivo ou caso avistem os dementadores”.

Os recentes acontecimentos remetem a célebres fugas da prisão de segurança máxima. Até hoje, o Ministério da Magia não sabe explicar como o ex-assassino, posteriormente absolvido, Sirius Black, conseguiu escapar dos dementadores sem o auxílio de bruxos das trevas. O Ministério levou dois anos para encontrá-lo e depois perdê-lo, novamente. A fuga em massa, proporcionada pelo ex-Lorde das Trevas, também consta na história da ilha, pois muitas famílias perderam seus entes queridos após o ocorrido em janeiro de 1996.

Além de recapturar os fugitivos, o Ministério deve se preparar para travar uma luta com a sociedade. Para Charles DeVillian, presidente da FROG (Frente de Reivindicações à Ordem e Governança), responsável por defender e encaminhar projetos de interesse da comunidade bruxa, “Azkaban não passa de uma prisão obsoleta. Já ficou comprovada sua incapacidade em reter os prisioneiros de alta periculosidade. Imaginem vocês se o ex-Lorde das Trevas não tivesse morto? Onde ele ficaria preso, aguardando o beijo da morte? Em Hogwarts? Em um dos cofres do Gringotes? Certamente, não seria em Azkaban”, defendeu.

Na página seguinte a lista com todos os nomes dos fugitivos, suas fotos para identificação e o contato para emergências do Ministério da Magia.

Rabastan Lestrange
Rodolfo Lestrange
Aleto Carrow
Amico Carrow
Walden MacNair
Antonio Dolohov
Thor Rowle
Khaleb Macbeer...


Quando chegou a parte do nome Khaleb Macbeer, Elizabeth não conseguiu mais ler. Ergueu os olhos e procurou Malfoy, no meio da mesa. Segundos depois ele a encarava e levantou-se sem maiores explicações, dirigindo-se ao lugar onde ela estava sentada.

– É o pai dele? – perguntou a garota.

– Com certeza, Carter.

– Onde Khai está?

– No dormitório. Merlim! Ele vai ficar muito mal. Ainda bem que não está aqui no Salão.

– Acabou de chegar – constatou Tiago, apontando para a entrada.

Khai acenava com a cabeça para os amigos, sorrindo levemente por ter terminado de copiar o trabalho de Malfoy a tempo de beliscar alguma coisinha no café da manhã. Sua nota não seria lá muito boa, porque teve que mudar algumas coisas e errar em outros pontos, mas, pelo menos, não teria problemas com o Prof Pratevil ou Lizzie.

Logo que entrou no Salão notou que o local foi silenciando aos poucos e todos começaram a encará-lo e apontar para o Profeta Diário. Ele se aproximou da mesa da Sonserina e pescou para ver a manchete do jornal. Empalideceu na mesma hora, encarando Lizzie e Deymon, que tinham se levantado. Foi a confirmação que ele não queria: seu pai estava entre os fugitivos. O garoto cambaleou um pouco, virou-se e saiu correndo porta afora, seguido pelos dois amigos.

– Você não vai com eles? – perguntou Veruska a Tiago.

– Não. Macbeer não vai muito com a minha cara, então, prefiro não atrapalhar. Vou pegar o material deles e sentar na mesa da Corvinal. Obrigado pela companhia, meninas.

– Eu pego as coisas do Malfoy para você não precisar, sabe? Ir lá no meio.

– Obrigado, Cascavel.

Lizzie e Deymon correram até a Câmara das Passagens a tempo de ver o quarto quadro da direita se fechar. Eles trocaram olhares incertos. Aonde Macbeer iria no segundo andar? Certamente estava desorientado e aquilo os fez ter pena do garoto. A senha era rabo de porco e em pouco tempo estavam em um corredor vazio. Ouviram uma porta se fechar do lado esquerdo e tomaram o rumo para lá, correndo de forma desenfreada. Estavam receosos de que o amigo fizesse alguma besteira.

Ao cruzar o cotovelo do corredor, Lizzie estagnou. Deymon olhou para ela e avaliou a possibilidade de Khai estar em qualquer outra sala, mas lhe parecia improvável. Ninguém gostava de ficar ali, pois a companhia não era nada agradável.

– Fique aqui, Carter. Eu vou entrar.

A garota assentiu e ficou apenas olhando o menino entrar no banheiro feminino; o banheiro da Murta Que Geme. Há alguns meses ela tinha protagonizado um acidente estranho justamente ali. Aquilo ainda fazia seu sangue ferver e jurava que teria retorno. Acreditava que o fato de Murta ser uma garota morta, não significava que podia tentar matar os outros estudantes, assustando-os. A porta se abriu e Deymon colocou o rosto para fora. Estava com uma expressão surpresa, ansiosa e lívida.

– Você precisa ver isso!

– Mas...

– Murta não está aqui. Venha, rápido! – e esticou a mão para ela.

Lizzie avaliou aquilo com cautela, mas tinha de acreditar em seu amigo e entrou com ele. O banheiro continuava o mesmo de sempre, exceto pelo fato de não haver água em lugar nenhum. Poderia até se passar por um lugar comum, não assombrado. As mesmas portas gastas, o mesmo chão de pedra e alguns espelhos oxidados nas pontas, mas havia algo que não fazia parte daquele cenário antigo.

– O que é isso? – apontou para o lugar onde antes estava a pia.

– Um buraco.

– Você acha que a Murta foi por aí?

– Não. Acho que Macbeer desceu aqui.

– Você está pensando em ir atrás dele, Malfoy? Mas e se não for ele?

Malfoy lhe deu um meio sorriso e seus olhos diziam que ele ia arriscar do mesmo jeito.

– Eu tenho uma suspeita. Se eu não voltar, chame ajuda.

– Mas...

Elizabeth não pôde falar mais nada, pois o garoto se jogou pelo buraco na parede, que, na verdade, fazia parte do encanamento do castelo. O caminho era escuro e havia um cheiro forte de mofo e algas vindo de algum lugar. Colocando as mãos na lateral, Deymon notou que outros pequenos desvios se abriam a partir do cano principal por onde escorregava. Decidiu manter as mãos próximas ao corpo, a fim de não se machucar no caminho. Ele se sentiu jogado para um lado e depois para outro, mas sempre para baixo. Parecia que iria atravessar o planeta e aparecer do outro lado do mundo. Aos poucos, sentiu que o túnel se nivelava de forma a diminuir sua velocidade. Ainda assim, foi jogado e deslizou no chão frio e com uma fina camada de água. Levantou-se, limpou as vestes e puxou a varinha.

Lumus!

O garoto olhou ao redor e percebeu que se encontrava em uma câmara alta o suficiente para um adulto ficar de pé. Tinha um caminho adiante e ele teve a intenção de ir para lá, quando ouviu um barulho vindo do cano. Instantes depois, Elizabeth foi jogada e ele teve de desviar da trajetória, para não ser derrubado no chão.

– O que você está fazendo aqui? – sussurrou, zangado. – Eu disse para você ficar lá no banheiro!

– E você acha que eu ia ficar lá esperando a Murta voltar? Além disso, a passagem estava se fechando – disse, limpando as vestes.

– Aquilo fechou? – perguntou, espantado.

– Fechou. Como a gente vai voltar para lá?

Deymon estava com cara de quem tinha comido feijãozinho sabor bosta de dragão.

– Agora que você está aqui e ninguém vai saber onde a gente se meteu, temos que dar um jeito. Deve ter alguma saída para lá – e apontou com a varinha o caminho adiante.

– Deymon – disse a menina, segurando o braço do amigo. – E se tiver algum dos hungús aqui? Ou trasgos? Ou aranhas gigantescas? Hagrid disse que tem acromântulas na Floresta.

– Então eu acho melhor você sacar a sua varinha e ficar atenta. Agora, vê se fica calada e aponta isso para bem longe de mim – disse, referindo-se à varinha da colega.

Lizzie fechou a cara e caminhou ao lado do garoto, dizendo impropérios mentalmente. Quando ele iluminou o chão, notaram que estavam pisando em esqueletos de roedores, corujas e toda a sorte de bichos que um dia entrou ali. As crianças trocaram olhares nervosos e permaneceram colados um ao outro, atentos a qualquer barulho. Depararam-se então com um entulho de pedras.

– Parece que alguma coisa desabou aqui – constatou Malfoy.

– Deymon, você acha que Khai realmente continuaria andando?

– Eu não sei, mas não tem saída do lado de cá, não é?

– A gente devia voltar e olhar direito.

– Está com medo, Carter? – perguntou, com um sorriso provocador e escalou as pedras, passando pelo buraco – O caminho continua aqui – disse.

Lizzie suspirou e escalou os destroços, alcançando Malfoy do outro lado. Detestava ser desafiada e não suportava que a chamassem de medrosa. Na verdade, não era medo. Era aquela mesma sensação estranha que sentiu quando viu os bruxos pela primeira vez, de que algo não ia acabar bem. Sentia, no seu íntimo, que alguma coisa estava errada com aquele lugar. Quando viu a primeira fileira de ratos, revirou os olhos.

Deymon tinha o olhar atento, a respiração acelerada e um sorriso no rosto. Aquilo estava lhe parecendo uma aventura e, desde que estranhas coisas tinham acontecido na escola, poderiam estar no caminho certo. Quem sabe, descobririam o dono da voz? Aquele parecia um bom lugar para alguém pedir socorro. Era escuro e, certamente, a pessoa estaria sozinha. Era essa certeza que o levava adiante, sem raciocinar direito sobre os perigos que poderia encontrar.

Os dois seguiram por um túnel longo e podiam ouvir o som de gotas de água chocando-se no chão de pedras e em poças. Foi então que perceberam uma mudança na atmosfera. Encararam, abismados, uma câmara comprida e iluminada por uma estranha luz verde. Parecia que estavam de volta à sala comunal da Sonserina. Caminharam cautelosamente, observando as altas colunas de cada lado.

– Malfoy, parecem cobras – sussurrou a menina, no ouvido dele.

– O quê?

– As colunas! Parecem cobras – repetiu, baixinho.

O garoto forçou a vista e viu a que ela se referia. As colunas eram formadas por cobras em alto relevo, dando voltas e mais voltas até o alto. Deymon não soube dizer exatamente como foi que a ideia surgiu em sua mente, mas lhe pareceu tão óbvia que soltou um riso nervoso. Foi repreendido por um tapa da amiga e olhou feio para ela, que fazia sinal de silêncio. Ele parou e escutou. Seria algum descendente do basilisco que Harry Potter tinha encontrado na Câmara Secreta de Salazar? Trocou o peso das pernas e voltou a escutar. Além do constante pinga-pinga vindo de todos os lugares, havia algo mais.

– O que eu vou fazer? Por que isso está acontecendo? Eu não quero que ele volte, eu não quero que ele volte. Vai ser ruim, muito ruim – murmurava Khai, absorto em seus problemas.

Lizzie e Deymon trocaram olhares significativos e caminharam para a frente. O barulho dos seus passos nas poças d`água denunciaram a presença dos dois e, por pouco, Deymon não foi atingido por um feitiço estuporante que passou a centímetros do seu braço esquerdo. Aquilo o fez recuar e colocar a garota atrás de si, automaticamente.

– Khai, somos nós! Eu e Lizzie.

– O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou, atônito. – Vocês não deviam estar aqui. Como entraram? – o garoto parecia desesperado, angustiado e nervoso.

– Calma, Khai. Estávamos preocupados com você e te seguimos – explicou o garoto.

– Oh! Eu esqueci de fechar logo – disse, em um tom receoso.

Os dois entraram no campo de visão de Macbeer, ainda de varinha em punho e ficaram abismados com a visão que tinham. Uma estátua enorme de pedras ocupava o fim da Câmara tão alta quanto o teto, que se perdia no breu. Um homem estava esculpido nela e tinha a barba enorme, quase alcançando a barra das vestes. Era grandioso. A única coisa estranha era o fato de o bruxo estar de boca aberta. No chão, um esqueleto de uma enorme cobra ocupava boa parte do espaço.

– Oh, meu Deus! – falou Lizzie, encarando os restos mortais do basilisco.

– Se diz Merlim, Carter. Por Merlim! – corrigiu Malfoy, ainda encarando aquilo tudo. – Macbeer! Você encontrou a Câmara Secreta de Salazar Sonserina!

– O quê? – perguntou a garota, confusa. – Aquela da história que você me contou outro dia? Tá de brincadeira!

– Mas como? Quando? – questionou ao amigo.

– Foi... Sem querer. Vocês não deviam estar aqui – disse Khai, torcendo a varinha nas mãos.

– Você é descendente de Salazar Sonserina? – Malfoy continuou perguntando, enquanto se aproximava do outro.

– Não. Minha família não tem nada a ver com ele – respondeu, encarando as paredes.

– Então...

O interrogatório de Malfoy foi interrompido pela garota, que pousou a mão em seu ombro, enquanto encarava Khai. Ela deixou o amigo para trás e se aproximou do outro, tocando-lhe as mãos nervosas. Macbeer encarou, embasbacado, as mãos quentes da garota e suspendeu seu olhar.

– Você está bem?

Aquelas três palavras tiveram um efeito catastrófico no garoto. Em instantes, sentiu uma força invisível apertar a sua garganta, como se desse um nó. Seu estômago revirou, suas pernas tremeram e sentiu vontade de vomitar. Então sua visão ficou embaçada, tomada pelas lágrimas que jorraram como duas nascentes de seus olhos. Por fim, desabou no chão, chorando, segurando firme as mãos da garota.

– Ele... Ele...

– Nós sabemos – Lizzie disse.

Ficaram em silêncio até Khai conseguir conter as lágrimas e sentar-se direito, largando as mãos da garota, com certa relutância. Ela e Malfoy acompanharam o outro e ocuparam um lugar seco no chão.

– Belo lugar você achou – disse Deymon, fazendo Khai sorrir.

– Eu meio que esbarrei nele, sabe?

– Isso foi hoje? – perguntou a sonserina.

– Ah...não – respondeu, desconsertado. – Eu esbarrei na entrada durante o natal.

– No natal? E não falou nada para a gente?

Diante da pergunta da colega, Khai encarou o chão. Encontrar a Câmara Secreta foi uma coisa tão fantástica que ele queria manter para si durante algum tempo. Nunca na vida tinha conquistado o direito de ter um segredo tão valioso. Agora tinha chegado o momento de dividir isso. A única alegria era que o local não tinha sido contaminado pela presença de um corvinal. Isso seria o fim, com certeza. Eles dois estarem ali não era uma agressão à memória de Salazar, pois Deymon era sangue-puro e Elizabeth, mesmo não tendo certeza, era uma Dumbledore e aquilo devia servir de algo. O difícil era explicar para eles o porquê de não falar nada. Certamente, não iria revelar tudo.

– Deixe-me explicar do começo, então. Eu passei no banheiro da Murta só para abusar ela mesmo, porque tinha feito aquilo com você, Lizzie. Depois de expulsá-la do banheiro, fazendo ela sumir pelo encanamento da privada, fiquei lá passando o tempo. Ninguém nunca entrava ali mesmo e não estava muito no clima de natal, sabem? Aí descobri que em uma das torneiras tinha uma cobra esculpida e fiquei com aquilo na cabeça. Apareci outras vezes no banheiro, sempre mandando a Murta descarga abaixo, porque ela é muito chata e enxerida. Então eu sonhei com... – encarou a garota e desviou o olhar. – Uma corrida de hipogrifos e o prêmio era um baú do tesouro e uma cobra. Então, ela disse que era só mandar abrir em língua de cobra e pronto. Então...

– Espera! Espera aí! Você é ofidioglota? – perguntou Malfoy, surpreso.

– Er... Sou. Minha mãe era. Foi por isso que meu pai casou com ela, achando que tinha alguma relação com Salazar Sonserina, mas acabou meio chateado porque ela não tinha.

– E você nunca disse para a gente? – questionou o sonserino.

– Não é muito legal falar com cobras, mesmo no Mundo da Magia, Malfoy.

– Sim, Macbeer, mas você é um sonserino. Isso, tipo, te coloca lá no topo.

O garoto sorriu, meio sem graça, olhou para os amigos e desviou o olhar.

– Não achei que devia falar sobre isso, mas se você acha...

– Não – disse a menina, de repente.

– Por que não, Lizzie? Khai vai ficar famoso na Sonserina!

– Não, claro que não. Esse tem que ser o nosso segredo, entendem? Para que a gente tenha sempre no olhar essa sensação de que somos melhores do que todo o resto de sonserinos que sequer sonham em pôr os pés aqui; que sequer sonham em conhecer alguém que fale a língua das cobras; ou tenha um pai que faça vassouras fantásticas e compre times de quadribol.

– Ou tenha um grande bruxo como avô – completou Malfoy.

– Isso também. Temos que jurar manter segredo.

– Podemos fazer um feitiço. Khai, você pode ser o fiel do segredo. É muito justo porque foi você quem descobriu. O que acha? – perguntou o sonserino.

– Você sabe como fazer? – Khai indagou ao colega.

– Sim, eu sei. Meu pai me mostrou, uma vez. Bom, vamos precisar das varinhas, mas isso vai ser meio perigoso por causa da Lizzie. A gente pode acabar sem a mão no processo – disse Malfoy.

– Idiota. Minha varinha está bem controlada, ouviu? Wingardium Leviosa!

Instantes depois, algumas pedrinhas próximas a eles começaram a flutuar. Malfoy deu de ombros.

– Não temos muita escolha, de qualquer jeito. Levantem. Agora, Khai você mantém a palma da mão direita para cima e eu e Lizzie posicionamos as nossas viradas para baixo, acima da sua. Segurem a varinha na mão esquerda. Bom. Agora você repete comigo o seguinte, Lizzie: A entrada para a Câmara Secreta de Salazar Sonserina fica no banheiro do segundo andar, na pia marcada pelo símbolo da cobra. Eu, daí você fala seu nome bruxo, escolho Khai Macbeer como fiel do segredo.

A garota assentiu segura, compreendendo a importância da magia que fariam.

– Você, Khai, vai repetir a mesma coisa, menos o final. Ao invés disso, você fala: Eu, Khai Macbeer, aceito ser o fiel do segredo. Então contamos até três e falamos juntos fidelius. É muito importante que você tenha bem clara a intenção de fazer o feitiço, porque o difícil mesmo é sentir a magia.

Todos concordaram e seguiu-se um longo silêncio enquanto se concentravam. Malfoy foi o primeiro a falar e os outros encararam surpresos um fio azul royal que saía da ponta da varinha e parecia ser absorvida pela mão dele. Elizabeth falou logo em seguida e sentiu uma beliscada dentro de si, como se algo estivesse sendo retirado. Para Khai, era como se algo estivesse sendo acrescentado ao seu corpo. Por fim, todos disseram o feitiço e olharam, encantados, o fluxo azul de energia fluir de um para outro, sendo depositado na palma da mão de Khai, que a fechou, sentindo-a quente. Depois disso, os três sentaram com sorrisos nos rostos.

– Foi até fácil – disse Lizzie.

– É porque a intenção era forte, vocês sacaram a importância. Muito da magia é sentir o fluxo – explicou Malfoy.

A garota o encarou, surpresa.

– E eu perdi tantas horas-aula com professores chatos tendo você como especialista em sentir a magia?

O garoto sorriu, sem graça.

– Minha mãe me ensinou isso. Khai, como fazemos para voltar? Tem alguma saída por aqui?

– Não. A saída é a entrada.

– Mas como vamos subir naquele cano? É impossível! – exclamou a garota.

– Vocês não viram a corda?

– Que corda? – perguntaram em uníssono.

– Da primeira vez que eu achei a passagem, eu não entrei. Roubei do armário do Filch muitos metros de corda, dei vários nós e desci. Vocês não acham que eu seria idiota o suficiente para me atirar em um buraco sem saber a profundidade, onde iria parar e como voltar, não é?

Os outros dois sonserinos sentiram o rosto queimar, desconcertados.

– A corda não chega até a saída do cano, mas dá para ir engatinhando até ela. Coloquei um feitiço adesivo para ficar colada na parte de cima.

– Muito inteligente da sua parte, Khai – avaliou Lizzie.

– Obrigado – respondeu, passando a mão na nuca, meio sem jeito.

– Isso quer dizer que ainda temos bastante tempo até a segunda aula. Podemos explorar um pouco mais a Câmara – interessou-se Malfoy.

– E a aula do Prof Potter? – perguntou ao colega.

– Ele não está. Foi resolver o problema da fuga de Azkaban.

Elizabeth cutucou o amigo pela sua falta de sensibilidade. Khai virou o rosto, parecendo interessado em alguma coisa no canto escuro da parede, enquanto Lizzie criticava Deymon com o olhar.

– Seu pai não vai poder vir até Hogwarts, Khai. Você está seguro – a sonserina tentou animá-lo.

– Eu sei, mas em casa...

– Terá dementadores. Ele não vai se aproximar – assegurou Deymon.

– Isso é para me animar? – Khai perguntou sarcástico. – Minha vida já é ruim sem dementadores para sugar a alegria do ambiente! Além disso, vocês não entendem. Meu avô vai agir como se ele estivesse prestes a entrar pela porta a qualquer momento. Se duvidar, ele vai obrigar os dementadores a irem embora.

– Mas eles não irão. Você estará seguro, tenho certeza de que a diretora deve pensar em alguma coisa – disse Lizzie. – Precisa ter um pouco mais de confiança.

– Está bem.

Malfoy saiu de perto deles e foi caminhando até o esqueleto do animal. Os outros o observaram por um tempo, enquanto ele tocava os restos do basilisco com curiosidade.

– Só não toque nas presas – advertiu Khai. – O sangue está seco, mas pode ser perigoso.

– Por que? – perguntou a garota.

– Basiliscos possuem um veneno mortal e ele fica muitos anos impregnado nas presas. Eu... Li em um livro – completou, diante do olhar espantado da amiga.

– Vocês dois estão ficando espertos demais.

– É a convivência – disseram os garotos ao mesmo tempo e sorriram.

Passaram mais alguns minutos observando o esqueleto, tecendo comentários e ouvindo Khai falar sobre a beleza e o perigo dos basiliscos. Depois admiraram a Câmara, falaram sobre Salazar Sonserina e de como eram sortudos em encontrar tudo aquilo.

– E eu que pensei que poderíamos estar na pista da voz que escutamos naquele dia – disse Malfoy, enquanto caminhavam para a saída da câmara principal.

– Nossa! Nem tinha me lembrado disso. Faria todo o sentido! – sobressaltou-se a garota.

– Acho que continuamos na estaca zero – disse Deymon.

– Malfoy! Você não me entregou a inscrição da pedra para eu ver o que significa.

– E como é que eu vou molhar aquilo sem que ninguém veja? Não posso simplesmente chegar na beira do lago e enfiá-la debaixo da água! Se você não reparou, aquilo praticamente acende como um feitiço lumus!

– Você tem um caldeirão, não tem? Use o cérebro: encha-o de água. Ou melhor: agora que temos este lugar, molhe a pedra aqui. Garanto que essa água toda vem de algum lugar do lago.

O garoto estancou e voltou a encarar a menina. Depois suspirou e seguiu na frente.

– Chata sabe tudo – murmurou.

O trio continuou andando, desviando das goteiras e conversando coisas aleatórias. Khai comentou que daria para consertar o trabalho dele ainda e, quando Lizzie lhe perguntou o porquê, ele desviou o assunto falando de quadribol. Minutos depois, a garota já estava entediada, achando as paredes mais interessantes. Escalaram a parte desmoronada, fazendo mais algumas pedras cederem a fim de passarem com mais facilidade.

De repente, Lizzie ouviu um barulho e apontou a varinha para um canto, fazendo todos segurarem a respiração, até que um rato apareceu. Todos riram e ela mandou o animal longe, estuporando-o. Aquilo lhe deu uma ideia, mas ainda precisava amadurecer a coisa na sua mente.

Entraram na tubulação e começaram a engatinhar até alcançar a ponta da corda. Khai lhes mostrou um aro acolchoado improvisado e mostrou como prendê-lo na cintura. Em seguida, apontou a varinha para o anel que o ligava à corda, dizendo que iria na frente para se certificar de que não haveria ninguém e expulsar a Murta, se fosse o caso.

– Você teve realmente muito tempo para pensar em tudo isso, não foi? – comentou, Malfoy.

– Foi. Vejo vocês logo. Para cima! – ordenou com a varinha e o aro começou a puxá-lo.

Alguns minutos depois, o aro voltou a aparecer e Lizzie subiu, seguida por Deymon. O resto do dia transcorreu com muita tranquilidade, apesar das olhadelas que Khai recebia de quase todos os alunos. Embora o trabalho de Transfiguração de Khai estivesse paupérrimo, tiveram outros muito piores e o Prof Pratevil tinha até feito algumas meninas da Lufa-Lufa chorarem. A última aula do dia era da Profª Carmelita e se revelou a mais interessante de todas.

– Vamos, sentem-se todos. Srta Ronyvew, peço que deixe a conversa com a Srta Parker para a sala comunal da Corvinal, sim? Agora, sei que todos estão ansiosos pelo fim do ano letivo e está sendo impossível controlá-los nestas aulas.

Trelawney acenou com a varinha e um pedaço de giz voou na cabeça de Goyle, fazendo alguns sonserinos rirem. Lançou um olhar significativo e, finalmente, conseguiu a atenção total da turma.

– Assim como os últimos meses de aula se aproximam, é chegada a hora de vocês saberem como será a minha avaliação – disse e fingiu não notar os olhares assustados dos alunos. – Eu, o Prof Pratevil e Madame Hooch julgamos adequado avaliá-los em conjunto.

A professora de Feitiços teve de aumentar o tom da voz e bater com o apagador no quadro, através de um floreio de varinha, para conseguir acalmar a turma.

– Vocês serão avaliados trabalhando em conjunto, utilizando os feitiços que aprenderam este ano na minha disciplina, em Transfiguração e a habilidade no voo. Estamos preparando uma pequena aventura e espero que gostem. Agora, existe apenas mais um novo encantamento para vocês aprenderem comigo, antes que passemos para a revisão. Alguém saberia me dizer o que é necessário para lançar bilhetes voadores?

Poucas mãos se ergueram alto.

– Sr Richards.

– Primeiro, é preciso que o bruxo escreva alguma coisa em um pedaço de pergaminho. Depois, ele tem que ser enfeitiçado com o feitiço aletas versatum enquanto você pensa claramente para quem ele tem que ir. Um bilhete voador não vai muito longe, por isso é ideal para usar dentro de salas comunais, por exemplo – explicou Tiago.

– Muito bem, Sr Richards. Cinco pontos para a Corvinal. É um feitiço de nível um pouco mais avançado, mas como já estamos preparando vocês para o segundo ano de Hogwarts, acho adequado. É bastante fácil. Um aluno do primeiro ano conseguiu sair desta aula inicial com um bilhete voador quase perfeito. Agora quero que escrevam alguma coisa em um pedaço de pergaminho, depois pensem em alguém e movam a varinha em dois círculos no sentido horário e digam aletas versatum!

Carmelita apontou para um pergaminho em cima de sua mesa e as crianças observaram ele flutuar, como se ela tivesse lançado um wingardium leviosa. Depois, duas asas de libélula surgiram de cada lado do pedacinho de papel e ele voou até as mãos de Elizabeth, na primeira fila, ao lado de Tiago. Assim que tocou nas mãos da garota, o pedaço de pergaminho voltou ao normal.

– Vocês têm até o final da aula para tentar. Mãos à obra!

Apesar de ser um feitiço extremamente simples, não era tão fácil quanto a professora fazia parecer. Alguns pergaminhos foram queimados, outros foram rasgados, Tiago, da Corvinal, até tinha conseguido fazer o pergaminho flutuar, mas a grande maioria os fazia lançar-se como foguetes contra as paredes. Prof Carmelita teve que desviar de um bilhete suicida enviado por Macbeer. Quando todas as esperanças de conseguir algo estavam no fim, um bilhete chamou a atenção pelo seu vôo incerto. As asas de libélula tinham ficado de um tamanho muito pequeno, mas ainda assim mostrava a habilidade do feitiço. Khai admirou-se ao receber o bilhete em mãos e ler o que estava escrito:

Shhh!
Ass: Malfoy


Sorriu para o amigo, entendendo perfeitamente o recado, e a Prof Carmelita deu 10 pontos para a Sonserina.

Após o jantar, o quarteto de colegas se desfez para seguir até seus respectivos dormitórios. Elizabeth pediu que Khai esperasse do lado de fora enquanto ela pegava uma coisa. Malfoy também ficou, ao passo que Tiago seguiu com seus colegas da Corvinal. Minutos depois, a sonserina reapareceu com um pacotinho verde de presente para o outro.

– Isso é para você. Comprei de... Hum... Presente de natal.

– De natal? – perguntou Khai, surpreso, afinal, estavam a dois meses das férias de verão.

– Eu... Hum... Sou meio ruim nisso, sabe? Quero dizer, eu comprei isso, mas como você foi pego com a minha poção polissuco e tudo mais, eu fiquei muito chateada e decidi que você não merecia ganhar presente nenhum. Eu já devia ter dado quando a gente voltou a se falar, mas... Bem, eu não sou muito boa nessas coisas.

– Eu acho que ela quer pedir desculpas por não ter lhe entregue isso antes – traduziu, Malfoy.

A garota lançou um olhar irritado para ele, mas depois revirou os olhos.

– Vamos, Macbeer. Abra! – mandou.

Ainda sorrindo, Khai abriu o pacote e olhou com admiração uma corrente de prata com o brasão da Sonserina cravejado de esmeraldas semi-verdadeiras. No verso, estava escrito em letras de caligrafia perfeita: “Nada pode nos deter”. Olhou para os colegas e Deymon puxou uma correntinha prateada por baixo de suas vestes e a garota fez o mesmo.

– Uau! Isso é demais! Muito obrigado – disse Khai.

– Agora somos verdadeiramente um grupo unidos de sonserinos – afirmou a garota.

– E nada pode nos deter – completou Malfoy, colocando as mãos sobre os ombros dos dois colegas.
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 23 (att 06/01)

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25

CLUBE DE DUELOS
A manhã de primavera anunciava um dia tranqüilo na escola, apesar do grande temor que sentia a comunidade bruxa, em virtude da perseguição aos fugitivos de Azkaban. Os alunos ainda não sabiam que Minerva, alguns professores e os bruxos do Ministério tiveram um sério trabalho à noite, expulsando dementadores que apareceram para conferir se algum dos prisioneiros estava por lá, mas era apenas uma questão de tempo. Todos foram escoltados de volta para Azkaban, pelos animagos e funcionários da seção de Desastres Mágicos. Talvez, por este mesmo motivo, um maravilhoso aroma floral parecia ocupar os corredores do castelo. Como mágica, todos estavam muito mais tranquilos e relaxados. A ausência de uma aula no dia anterior, o tão comemorado período vago, fez muito bem aos alunos. Teria sido melhor – e era de consenso geral – se o professor afastado tivesse sido Hermito Pratevil.

Peter e Alvo aguardavam por John e Rose no pé da escada principal, enquanto conversavam animadamente com Timmy e Détrio sobre o Clube de Duelos. Finalmente, a semana de torneio entre estudantes tinha chegado e a ansiedade era grande, entre os alunos do 2º ao 7º anos. Alguns primeiro anistas, contudo, estavam se sentindo excluídos do grande evento.

– Vimos os professores duelando, não foi? – insistiu Détrio. – Somos novatos, mas temos direitos também. Tinha que ter justiça nesse mundo – choramingou.

– Se fosse assim, poderíamos ir à Hogsmeade esse ano mesmo – Alvo se manifestou, brincando.

– Eu acho que a gente devia ir para Hogsmeade. Não vejo nada demais. Os mais velhos ficam tirando onda e humilhando a gente porque eles vão, enquanto a gente tem aula! – o lufo continuou se queixando.

– Détrio, quando você for diretor de Hogwarts, você muda tudo isso – brincou Peter. – Se não quiser esperar tanto, tenho certeza de que a diretora vai adorar ouvir sua opinião.

– Você acha o quê? Eu bem que poderia falar uma ou duas coisas para ela – desafiou o amigo.

– Ótimo! – exclamou Timmy. – Olha aí a sua chance!

A diretora McGonagall vinha caminhando em direção ao Salão Principal, escutando as observações do Prof Hagrid quanto a uma movimentação estranha na Floresta Proibida. Segundo o professor, os centauros estavam inquietos e os animais estavam avançando um pouco mais para a orla. Rúbeo afirmou também ter encontrado uma das filhas de Aragogue sondando um espaço desabitado. Registrou ainda que, em suas últimas investidas na Floresta, não encontrou registro do último hungú, mas pôde ver algumas espécies novas de animais mágicos, porém inofensivos.

Minerva ouvia com atenção e agradecia o aviso do Guarda-Caças, quando notou os quatro alunos lufos lhe encarando. Hagrid despediu-se e a diretora sorriu ao encarar os olhos verdes de Alvo, por trás de seus óculos redondos, como os de Harry. Era impressionante a semelhança entre os dois, embora considerasse o lufo com muito mais juízo. Identificou seus colegas Peter, Timmy e Détrio, que tinha no rosto a expressão de estar passando muito mal.

– Está tudo bem, Sr Arinellus? – perguntou, aproximando-se do grupo.

– S-sim, senhora.

– Détrio tem uma coisa para dizer à senhora, diretora – afirmou Peter, segurando o riso o quanto pôde.

– É mesmo, Sr Arinellus? – questionou, com uma expressão dúbia.

Détrio encarou, de cara fechada, o amigo que mal segurava a gargalhada que queria dar. Sentiu sua mão suar e sua boca ficar seca bem ali, diante da diretora. Antes que pudesse notar, estava dizendo a coisa mais patética do mundo:

– A... A senhora está muito bonita hoje.

Alvo teve que dar as costas para não rir na cara da diretora, enquanto Peter e Timmy ficavam roxos, de tanto prender a respiração.

– Como disse, Sr Arinellus? – perguntou a diretora, pega de surpresa.

– Er... Está uma linda semana para os duelos, não é? – o lufo sorriu, sem graça.

– Sim, Sr Arinellus. O Clube de Duelos será proveitoso nesta semana – respondeu, desconfiada. – Ora, não sei o que os senhores estão aprontando, mas se continuarem aqui perderão o anúncio da nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.

– Será uma professora, então? – perguntou Timmy e Minerva apenas sorriu.

– Estamos só esperando por Jonathan e Rose, diretora – Alvo explicou.

– Está bem, então. Não se atrasem para o café.

Dito isso, caminhou para dentro do Salão Principal. Alvo, Peter e Timmy racharam de rir quando a diretora saiu do campo de audição. Détrio tinha o punho fechado e lançava um olhar assassino para Peter. Ainda tentou se justificar, mas os colegas o chatearam tanto que resolveu entrar, seguido por um Timmy piadista.

Rose e Jonathan apareceram alguns minutos depois e encontraram os dois lufos ainda sorrindo, com lágrimas nos olhos. Quando questionados, inventaram uma desculpa qualquer, afinal, era uma piada interna. Combinaram de praticar alguns feitiços no fim da tarde e se dirigiam para o Salão, quando o trio de sonserinos e o corvinal apareceram. Vinham conversando em seu mundinho particular, mas assim que alcançaram o quarteto, algo diferente aconteceu.

– Oi, John! – disse Lizzie, parando de frente para ele.

– Bom dia! – falou Tiago, para todos.

– Oi – resumiu Khai, particularmente para Jonathan.

Malfoy apenas meneou a cabeça, em sinal de cumprimento ao irmão de Lizzie.

– Estaremos no lugar de sempre – afirmou Tiago, enquanto seguia os dois sonserinos, que continuaram caminhando.

Jonathan, Alvo e Peter estavam meio boquiabertos diante da cena que presenciaram. Rose estava muito chateada e de braços cruzados.

– Educação mandou lembranças! – disse, venenosa. – Não somos invisíveis, sabia?

Elizabeth limitou-se a olhá-la com uma sobrancelha erguida e depois voltou-se para seu irmão:

– Preciso falar com você. Agora.

– Estaremos lá dentro, John – afirmou Alvo, enquanto empurrava sua emburrada prima para o Salão, seguido por Peter.

– E então? – perguntou o grifinório.

– Conversei com os meninos sobre você e consegui convencê-los a te dar uma chance. Isso quer dizer que eles vão ser mais legais com você daqui para frente.

– Estão mais educados comigo, eu notei.

– Pois é. Bom, talvez possamos até fazer alguma coisa juntos.

– Vamos poder juntar meus amigos com os seus?

– Menos, Jonathan.

– Vou poder sentar com vocês na mesa da Sonserina?

– Bem menos, Jonathan.

– Vou poder andar com vocês pelos corredores?

– Quase nada, na verdade.

– Então, o que podemos fazer juntos?

– Não sei ainda, mas não força a barra, ok? Tá sendo meio complicado para eles.

– Tiago me pareceu bem à vontade – disse, erguendo uma sobrancelha.

– Ele é um corvinal, John. Olha, a gente está abrindo uma exceção. Se você não notou, os sonserinos não fazem muito isso. Então, dê tempo ao tempo.

– Ok. Mas esse é um sacrifício que eles estão fazendo. E quanto a você?

– Não entendi.

– Ora, Lizzie! Se eles estão fazendo isso por você, o que você pode fazer por si mesma?

– Continuo na mesma.

– Eu quero que você seja mais legal com meus amigos.

– O quê!? – exclamou, exaltada.

– Se seus amigos serão mais legais comigo, quero que você seja mais simpática com o Alvo, Peter e a Rose. Dê um oi de vez em quando.

– Eu não...

– Você não vai querer que eu conte ao papai e à mamãe como você está demonstrando a educação que eles te deram, não é? – perguntou, irônico.

Lizzie encarou o irmão com os olhos semicerrados. Bufou de raiva, enquanto Jonathan permanecia com uma expressão neutra, como se aquilo não lhe dissesse respeito. A sonserina bufou mais uma vez, murmurou algo inaudível e relaxou. Detestava ser vencida pelo irmão.

– Ótimo! – e virou-se em direção à entrada.

– Quer sentar comigo na mesa da Grifinória? – perguntou, com um sorriso brilhante.

– E ser morta antes da primeira aula? Não, obrigada.

Entraram juntos no Salão Principal e se dirigiram às suas respectivas mesas. Havia uma euforia no ar com relação à nova professora de DCAT, aliado aos comentários sobre a perseguição dos aurores, pois parecia que tinham capturado alguém. Macbeer ficou particularmente tenso. Pouco antes do começar o café, aproveitando-se de um Salão quase lotado, Minerva pediu a palavra e imediatamente fez-se silêncio.

– Meus queridos alunos e alunas, caros professores... Como todos sabem, o Prof. Potter teve de se ausentar da cadeira de Defesa Contra as Artes das Trevas em prol da comunidade bruxa. Para que o cronograma de aulas não fosse prejudicado, o próprio Sr Potter me sugeriu alguém, ciente de seu planejamento, para que o substituísse com mais facilidade. Fiquei muito feliz e a escolha não poderia ser diferente, nesse sentido. Gostaria que recebessem uma ex-aluna desta escola, de excepcional talento de magia, monitora chefe e capitã do time de quadribol de sua época. A nova professora, Sra Ginevra Weasley Potter.

Gina entrou pela câmara lateral, arrancando exclamações dos alunos e palmas frenéticas de Arthur, Hagrid e Neville. Seu cabelo ruivo parecia ainda mais sedoso; suas vestes negras, com um tecido vinho revestido internamente, davam-lhe ainda mais destaque; e havia um brilho esplendoroso em seu caminhar. Os meninos empertigaram-se nos bancos e as meninas dividiram-se entre desconfiadas e admiradas.

Gina nunca havia lecionado antes, mas tinha no sangue o poder Weasley de dominar a massa descontrolada de crianças. Suas habilidades com a varinha não eram segredo nenhum e, mesmo que não estivesse ao lado de Harry em sua batalha contra Voldemort, travou sua própria guerra junto a Neville e Luna, tornando-se um terror para os irmãos Carrow. Minerva não se esquecia da coragem e fé que ela e Longbottom demonstraram. Sabia de cor o cronograma de Harry, pois ela mesma havia ajudado a construi-lo. Como Hermione estava ocupada ainda entrevistando os bruxos responsáveis pela reconstrução de Hogwarts, aceitou o convite do marido. Acenou para os alunos e sentou-se, ao lado de seu pai.

Alvo cutucava Rose a todo instante, sem crer no que via. A prima também tinha o queixo caído e se perguntava quando seria a vez de seus pais aparecerem para dar aulas. James estava atônito e não sabia como reagir. Queria bater em todos os caras que olhavam cobiçosos para sua mãe e, ao mesmo tempo, queria correr e se esconder no dormitório masculino. A presença dela, para seu filho mais velho, significava uma séria vigilância.

Após o café, Gina falou com alguns alunos e recebeu as boas vindas dos monitores. Caminhou até, finalmente, alcançar seus filhos, embora James tentasse fugir e Alvo o segurasse.

– Oi, mãe! – sorriu Alvo.

– Olá, querido! Lembre-se que aqui sou a Profª Potter agora, sim? James, o que você está fazendo?

James tentava se soltar do irmão.

– Estão me chamando ali. Er... Oi, Profª Potter – e sorriu amarelo.

– Eles podem caminhar para a aula sem você. Solte-o, Al. Rose, sua mãe mandou dizer que está muito orgulhosa de seu progresso, especialmente nas atividades extra classe.

Rose sorriu para a madrinha, enquanto James olhava feio para o irmão.

– Vai ser ótimo ter a senhora aqui – afirmou Alvo, radiante porque James não poderia fazer nada.

– Mas será algo temporário, só até tudo se resolver em Azkaban. Até lá, espero acompanhar vocês um pouco mais de perto – disse, encarando os olhos azuis de James. – Bom dia, Sr Canaghan. Bom dia, Sr Dumbledore.

– Bom dia! – responderam, em uníssono.

– Onde estão Hugo e Lily? Com a tia Hermione? – perguntou Alvo.

– Não, querido. Hermione está viajando a trabalho, por isso os dois estão na Toca.

– Meu pai está com o tio Harry? – questionou Rose, um pouco angustiada.

– Sim, ele foi chamado, mas não se preocupe, Rose. Eles são muito bem treinados, por isso são aurores – respondeu, afagando o rosto preocupado da garota.

– Eu disse isso para ela – afirmou, James. – É verdade que pegaram alguém?

– Sim, recapturaram alguém. Deve sair amanhã, no Profeta. Agora acho melhor todos se dirigirem para as aulas. Não posso chegar lá atrasada, muito menos vocês. Vamos!

Sua primeira aula como Profª Potter seria com um grupo de sexto anistas da Corvinal e Sonserina. Gina estava bastante nervosa, mas saiu-se muito bem com seu carisma e autoridade Weasley. Sem falar no fato de a maioria absoluta de garotos estar sentada nas primeiras cadeiras da classe. Em poucos minutos, tinha a turma nas mãos. Não havia perdido a majestade da popularidade, afinal.

No segundo horário, deu aula aos alunos do 3º ano da Grifinória e Lufa-Lufa, onde observou um James tenso e calado. Os colegas, a todo momento, olhavam de Gina para o filho, estranhando o comportamento sério do garoto mais gaiato da sala. James mantinha a varinha à mão, pronto para estuporar o primeiro que tentasse gracinhas com a sua mãe. Ninguém ousou cair na lista negra do capitão da Grifinória, mas era apenas o primeiro dia. A coisa piorou quando Lena Jordan adquiriu destaque na turma e uma empatia pôde ser notada entre a professora e a aluna. James estava corado e queria morrer, pois notava os cochichos e piadinhas abafadas da turma.

A última aula do dia era com os primeiro anistas da Lufa-Lufa e Grifinória. Alvo e Rose sentavam-se juntos e sentiam-se à vontade tendo Gina como professora. Era como voltar à época em que não estavam em Hogwarts e ouviam ela falar sobre as suas diferentes aventuras, pois não andava com Harry, Rony e Hermione. Como sempre, Rose se destacou ao responder uma série de perguntas corretamente. A Sra Potter estava satisfeita com o nível dos alunos, sinal de que seu marido tinha feito tudo certinho.

– Quero aproveitar para dizer a vocês que não esqueci da promessa do Sr Potter a esta turma, no início do ano. Vocês conhecerão um verdadeiro bicho papão e aprenderão como se livrar deles. Inclusive, tenho-o bem aqui! - e apontou para um armário no canto da sala, de onde vinham barulhos estranhos desde o início da aula.

Todos ficaram receosos e excitados, imaginando como seria a imagem do seu bicho papão. Começaram a tentar adivinhar do que mais tinham medo, criando um certo burburinho na aula. Com um estalar de dedos, Gina retomou a atenção dos pequenos e iniciou a apresentação das últimas criaturas das trevas: os hungús. Estranhou, contudo, que primeiro anistas da classe anterior tivessem mais informações sobre eles.

A semana passou voando. A cada dia, Gina ampliava sua popularidade por sua beleza, pelas conversas fora da sala que mantinha com os alunos, pelas atividades bacanas que passava ou mesmo as broncas colossais durante as aulas. Logo os alunos aprenderam a manter um pé atrás, compreendendo que ela era mais difícil de contornar na lábia do que Harry Potter. Mesmo com os aurores recapturando Augusto Rookwood, Nott e o velho Avery, o assunto do momento era algo extremamente interno: o Clube de Duelos.

O fim de semana chegou repleto de expectativa no ar. As inscrições foram abertas na sexta-feira, logo após as aulas, e uma fila enorme formou-se do lado de fora da sala de Carmelita Trelawney, a coordenadora. Os alunos de cada ano, exceto os calouros, duelariam entre si e os campeões conquistariam 20 pontos para suas Casas. Somente os vencedores do 5º, 6º e 7º anos teriam seu desempenho na qualidade e estratégia de feitiços avaliados pelos juízes, a fim de conquistar o título de Duelista Júnior Ordem da Fênix, de grande prestígio na escola. Desde que foi instituído, apenas uma pessoa venceu por três anos consecutivos: Ted Remus Lupin.

O Salão Principal foi fechado logo depois do jantar. Os alunos já sabiam como se dava a arrumação, mas para os primeiro anistas tudo era novidade. Nas grandes portas fechadas, uma longa tapeçaria informava a programação e os horários dos duelos:

Clube de Duelos

Sábado
6h às 8h ~ Café da Manhã
9h às 11h ~ Duelos do 2º ano
11h às 13h ~ Duelos do 3º ano
13h às 15h ~ Almoço
16h às 18h ~ Duelos do 4º ano
18h ~ Jantar

Domingo
6h às 8h ~ Café da Manhã
9h às 11h ~ Duelos do 5º ano
11h às 13h ~ Duelos do 6º ano
13h às 15h ~ Almoço
16h às 18h ~ Duelos do 7º ano
18h ~ Jantar


Às 6h da manhã os alunos começaram a chegar para um café da manhã absolutamente normal. As grandes mesas continuavam no mesmo lugar e a tapeçaria com os horários estava posicionada atrás da mesa dos professores. Os emblemas das quatro Casas enfeitavam o ambiente e o céu estava de um azul claro revigorante.

Quando o relógio da escola alcançou 8h em ponto, os elfos recolheram a comida das mesas, deixando os atrasadinhos ainda com um pedaço de torta de abacate a meio caminho da boca. Os mais novos tomaram um grande susto, mas o restante já estava acostumado. Então, os professores solicitaram que os alunos se levantassem das mesas e se dirigissem para as paredes do Salão. Alvo e seus amigos assim fizeram e observaram uma maravilhosa mágica ser feita diante de seus olhos.

Foi como se o chão simplesmente virasse ao contrário. As quatro mesas desapareceram em um loop e quatro grandes tablados, dispostos na horizontal, ocuparam o espaço. Eram arenas brancas estreitas, como uma passarela, com certa de 1,50m de altura por 3m de largura. Não havia arquibancada, mas logo se notou um espaço entre uma arena e outra, onde os alunos poderiam assistir, de pé, e motivar os colegas, inclusive com sugestões de feitiços. Havia ainda uma tela translúcida, observada por Rose quando um raio de sol brilhou intensamente dentro do Salão, que protegia os expectadores contra feitiços lançados pelos duelistas.

Na parede à direita da porta, uma faixa informava: Clube de Duelos - 2º ano. Já à esquerda, um pergaminho gigante mostrava os nomes dos duelistas e seus confrontos, sorteados durante a madrugada. A juíza da Arena 1 era Carmelita Trelawney; o juiz da Arena 2 era Hermito Pratevil, a pedido de Slughorn, que não se sentia muito bem; o da Arena 3 era Mikhail Marstrovich; e Neville Longbottom supervisionava a Arena 4. Todas as Casas estariam representadas pelos seus diretores e um rodízio evitava discussões sobre favorecimento.

As quatro arenas logo foram ocupadas por estudantes nervosos em sua estreia. Os dois primeiros adversários nunca eram da mesma Casa, mas dali em diante não havia como controlar. Assim que pisavam na ponta do tablado, o escudo da Casa surgia e o animal símbolo aparecia, como se fosse um patrono, para apoiar o duelista. O evento tinha o formato de confronto direto, onde apenas o vencedor avançava.

O duelo entre alunos do segundo ano não foi tão emocionante. Alguns logo eram desarmados, pondo fim ao duelo. Outros faziam os feitiços errados, mandando alguns colegas para a Ala Hospitalar, e acabavam desclassificados. A inexperiência dos garotos logo fez com que os mais velhos se retirassem do Salão para pensar em suas próprias estratégias de luta. Os primeiro anistas, contudo, permaneceram atentos e vibrando.

A final do 2º ano foi disputada entre Juleen Abderman, da Lufa-Lufa e Núbia Minninck, da Corvinal. O juiz do duelo foi o Prof. Longbottom. Os estudantes assistiram à melhor luta da categoria, envolvendo feitiços de ataque, defesa e contra-ataque. A lufa levou a melhor após desviar, praticamente se jogando, de um petrificus totalus e contra-atacar com um lumus maxima. A corvinal ficou sem conseguir enxergar por alguns segundos, tempo suficiente para Juleen lançar um certeiro expelliarmus. Fim da luta e vitória para a lufa, que saiu carregada do Salão pelos colegas.

Com um simples movimento de varinha, os professores limparam as arenas, mudaram a faixa onde agora se lia Clube de Duelos – 3º ano e expuseram quem duelaria com quem, no grande pergaminho encantado. James só entraria na segunda rodada na arena e conversava com Wood, Alvo, Rose e seus amigos.

– Vou torcer por você, James – afirmou Alvo.

– Valeu, maninho – sorriu. – Ano que vem quero ver você arrebentar também.

– James, você acha que pode vencer? – perguntou Rose.

– Claro que ele pode! – defendeu Alvo.

– Bom, na verdade mesmo, eu quero acabar com o Goldnail. Ano passado ele ganhou o Clube de Duelos, mas eu acho que ele trapaceou com a Lactarius.

– Olha, James, pelo que eu estou vendo das chaves, eu pego o Jack nas oitavas, se chegar até lá – informou Oliver.

– Então é melhor você chegar. Eu quero ver esse cara beijando a lona.

– E o fato de ele ser um sonserino não tem nada a ver – salientou Peter, irônico.

– Que tipo de feitiços você vai usar? – perguntou Jonathan, desviando o assunto.

– Depende do meu oponente. Se for alguém fraco, vou pegar leve. Claro, isso não acontecerá se for um sonserino, né? Sonserino a gente não perdoa, porque são...

James parou de falar ao sentir uma mão conhecida tocar o seu ombro. Gina havia se aproximado e escutado a conversa deles, tocando com relativa força no filho, sinalizando que ele estava indo longe demais. Quando seus olhares se encontraram, ela sorriu para ele.

– Vim torcer por você. Seu pai me exigiu que eu contasse linha por linha o que acontecerá durante o duelo. Ele sente muito por não estar aqui, você sabe, não é?

James sorriu e foi chamado, pois uma arena ficou livre para recebê-lo.

– Jogue limpo! – pediu Gina, enquanto uma leva de garotas e amigos do filho rodeavam a arena na qual iria se apresentar.

Gina observou Alvo encarar admirado o irmão, assim como uma boa parte dos alunos. James era tão popular quanto ela foi, na época da escola. Ele tinha carisma para fazer amigos e desenvoltura para conquistar os inimigos. A torcida gritava alto o seu nome e o adversário, um garoto da lufa-lufa, foi eliminado com um movimento de varinha: expelliarmus. A Sra Potter estava orgulhosa do filho, sorria e batia palmas. James desceu do tablado soltando beijos para seus fãs e sendo irônico quanto à facilidade do duelo. Aquilo mexeu com ela, que tratou de observar, com atenção, o comportamento dele durante o evento.

Da segunda vez que subiu ao tablado, seu adversário era um sonserino: Seth Hiccock, batedor. Logo a atmosfera ficou tensa, mas o garoto não era um desafio em feitiços. James começou lançando um impedimenta que foi desviado pelo protego do outro. Seth atacou com o rictusempra, mas James defendeu com escudo. Em seguida, lançou um rictusempra com muita rapidez, pegando o adversário desprevenido. Seth rodopiou e caiu no tablado, com a varinha na mão. James correu em sua direção e lançou o feitiço cara de lesma. O sonserino começou a ficar pálido e vomitar lesmas, o que gerou exclamações de nojo da plateia. James ainda conjurou, habilmente, um pequeno balde com os dizeres ponha sua cabeça de lesma aqui e empurrou para o colega, que não tinha notado e o pegou, arrancando risos da geral. O Prof Pratevil encerrou o duelo, liberando o garoto do feitiço e chamando James para lhe falar.

– Outra gracinha dessas e estará desclassificado, Sr Potter – afirmou.

James pediu desculpas para o adversário, deixando claro que não se desculpava. Depois desceu do tablado para receber a ovação de todos, exceto os sonserinos. Alguns lufos e corvinais não concordavam com a atitude do garoto. Gina, que observava de longe, mordia o lábio inferior e mantinha os braços cruzados. Ela sabia que seu filho era um maroto, gostava de brincar e curtia uma boa piada. Mas, para ela, parecia que James estava perdendo a noção de onde terminava a brincadeira e começava a humilhação. Ela entendia o porquê de Harry não ter notado, afinal, até agora seu marido só o tinha visto no quadribol. Até ela mesma poderia ser ludibriada pelo afã de um jogo, mas em duelos isso não seria provável. Teria uma boa conversa com seu filho.

Potter não era o único que avançava nos tablados. Lucyle, Nicolau, Oliver e Lena também seguiam firmes e fortes, assim como os sonserinos Bella, Klaus e Jack. Nas oitavas de final os duelos começaram a se complicar. Klaus perdeu para a corvinal Wanda Lactarius, vice campeã do ano passado. Wood chegou a disputar com Goldnail, mas perdeu para o sonserino. Potter duelou com o artilheiro Daniel Hoots e foi um jogo complicado, com muitas defesas. No fim, James ganhou com um petrificus totalus. Lena também avançou, derrotando o colega de dormitório de James, Adam, com maestria.

O ruim do duelo era cair na chave com alguém que não gostaria de duelar. Foi o que aconteceu com Lucyle e Nicolau. Ambos subiram no tablado meio chateados com a situação. Fizeram a tradicional reverência, com um sorriso sincero nos lábios. Eram amigos desde que se lembravam e seria a primeira vez que brigariam um com o outro.

– Vamos brincar – disse Lucy, o que animou o amigo.

Foi uma das lutas mais variadas e demoradas, pois nenhum dos duelistas buscava vencer a todo custo. Neville torcia pelo filho, agarrado a Gina, que o controlava para que o amigo não se empolgasse demais. Nicolau era um bom duelista, melhor do que o pai em sua época, com certeza. Desviava com facilidade dos ataques da amiga e inventava combinações que produziam efeitos maravilhosos, uma vez que cursava Magia da Arte. Ele usou ebublio para encher o ambiente de bolhas, depois as estourou com diffindo e lançou lumus solem, cegando a todos por um tempo para maravilhá-los com o brilho da água iluminada. Lucy bateu palmas para o amigo e deixou a varinha cair, sem querer, encerrando o duelo. Ambos sorriram.

– Pelo menos, ninguém perdeu, de verdade – disse Lucy. – Da próxima vez, deixarei as palmas para depois – afirmou, ao cumprimentar o amigo.

Faltavam os resultados da Arena 1, onde estavam Jack Goldnail, da Sonserina e Dennis Blostm, da Corvinal e da Arena 3, onde duelavam as corvinais Aldora Beverly e Wanda Lactarius. Era uma disputa de muitos raios coloridos. James acompanhava a Arena 1, desejando que o sonserino avançasse, para que fosse ele a derrotá-lo, na semifinal. De repente, Alvo apareceu ao seu lado, um tanto esbaforido.

– James! James!

– O quê? – perguntou, sem tirar os olhos do tablado.

– Você já viu com quem vai duelar?

– Não me importa, Al. Só me interesso em saber se Jack vai avançar para eu poder dar uma lição nesse ladrão de duelos.

– Mas James... – começou Rose, que havia alcançado o primo.

– Já disse que não tô nem aí.

– Cara, meus pêsames! – disse Oliver, ao se aproximar e tocar no ombro do amigo.

– Por quê? – perguntou James, agora desviando o olhar para o grupo.

– Você não viu ainda? É a Lena.

De repente, James começou a perder a cor do rosto e olhou para o pergaminho, que indicava seu duelo na Arena 3 com a Srta Jordan. Encontrou a garota, rodeada pelos seus simpatizantes: ela o encarava séria, estreitando os olhos e apertando a varinha com força. James engoliu a seco e respirou fundo.

– Ela vem com a varinha nos dentes – informou Oliver.

– Ela quer te dar o troco, cara – confirmou Adam, seu colega de quarto.

– Que bosta de dragão! – reclamou. – Como foi seu duelo com ela, Adam?

– Arrasador. Ela está bem determinada a chutar o seu traseiro.

Nesse instante, os duelistas das quartas foram convocados para suas respectivas arenas. Os recém saídos do combate tomavam uma poção restauradora para reaver suas forças. Lena e James subiram no tablado, os emblemas de suas Casas surgiram e os animais símbolos ficaram de seus lados. A plateia podia jurar que o texugo lufano parecia mais agressivo do que o leão grifinório. Fizeram a reverência inicial e aguardaram o gongo, que daria início aos quatro embates ao mesmo tempo.

Furnunculus! Conjutivitus! Cara de lesma! Tarantalegra! Riddikulus!

Lena foi mais rápida e lançou feitiços seguidos no adversário. James desviou o que podia com o protego e saiu da frente do restante, jogando-se para os lados, se agachando e correndo. A garota estava com vontade mesmo de acabar com a sua raça.

Petrificus totalus! – lançou seu primeiro feitiço de ataque.

Protego! Impedimenta!

Revertum! – contra-atacou o garoto e a lufa viu seu feitiço retornar.

Lena desviou com o corpo do feitiço e continuou agressiva. Ela não estava para brincadeira.

Expelliarmus! – lançou Potter.

Escudo! Enlacio!

James se viu pego pela corda que saía da varinha de sua adversária e, antes que ficasse totalmente imobilizado, se defendeu:

– Diffindo!

– Riddikulus! Furnunculus!


O garoto desviou os ataques com a varinha ao mesmo tempo em que se aproximava da garota.

Lumus maxima! – lançou, na direção dos olhos da adversária.

Obscurus! – revitou no contra-ataque, absorvendo com a varinha toda a luz do ataque.

A plateia do duelo amoroso estava indo à loucura com tamanha dinâmica dos dois alunos. Como estavam próximos, Lena aproveitou para dar um recadinho ao seu ex-namorado.

– Você vai se arrepender agora, Potter! Aguamenti!

Um jato de água atingiu em cheio a cara de James, que andava para trás, a fim de se desvencilhar, mas a garota caminhava para frente. O grifinório não conseguiria segurar sua respiração por muito tempo e, provavelmente, o duelo seria interrompido pela impossibilidade de lançar um feitiço. Ela tinha planejado muito bem a hora de lançar o encantamento, esperando que ele estivesse próximo o suficiente. Ele não imaginava que ela já dominasse o último feitiço que aprenderam no ano. James balançava freneticamente a cabeça, tentando encontrar um pequeno vão para respirar e se livrar daquilo. Quando estava quase perdendo as esperanças, conseguiu gritar, meio embolado:

Estupefaça!

Ouviu um grito feminino curto e um baque. Lena estava desacordada no outro extremo do tablado. A torcida de James gritava enlouquecida, enquanto o garoto só queria respirar e botar para fora toda a água que tinha engolido. O juiz reanimou a garota e secou James, dando fim ao duelo. Lena olhava desgostosa para o menino, que lhe encarava zangado.

– Eu podia ter sufocado ali – reclamou.

– Infelizmente, isso não seria possível! – disse, amargurada e saiu do Salão.

– Garotas...

– James! James! – veio ao seu encontro um Oliver afobado. – Jack avançou. Você e ele vão fazer a semifinal!

Potter vibrou mais com essa notícia do que o próprio avanço no duelo. Logo ele e os amigos começaram a relembrar vários feitiços que poderiam ser úteis contra o sonserino. Alvo, Rose, John e Peter ouviam com muita atenção, mas evitavam dar sugestões. Nicolau logo se juntou aos garotos, um pouco entristecido, enquanto os juízes limpavam as arenas. Seu duelo foi o primeiro a terminar, já que Bella Parkinson não entrou para brincadeira. Agora ela e Wanda, da corvinal, fariam a outra semifinal.

Os duelistas foram chamados e, evidente, havia mais público na Arena 1, onde o duelo grifinória versus sonserina se daria. John acenou para a irmã do outro lado do tablado e a provocou, em tom de brincadeira saudável, apostando no grifinório. Ela sorriu e fez sinal de que o garoto não tinha chance.

James e Jack subiram ao tablado com um semblante carregado e a atmosfera tensa já dizia muito sobre o duelo. A juíza Trelawney solicitou que eles se cumprimentassem, uma vez que nenhum dos dois tomou a iniciativa. A reverância foi extremamente curta. Desde o duelo passado, havia algo preso na garganta de James sobre o outro garoto.

Expelliarmus! – lançou Potter, assim que o duelo iniciou.

A rapidez do grifinório quase pegou o sonserino desprevenido, mas ele defendeu bem com o protego e contra-atacou:

Rictusempra!

Protego! – defendeu-se, enquanto diminuía o espaço entre os dois. – Tarantallegra!

Sem muito tempo para lançar um feitiço de defesa, Goldnail acabou se agachando para desviar do feitiço, que explodiu na tela de proteção, bem onde os primeiro anistas da sonserina estavam. A maioria reagiu instantaneamente, se agachando com o susto.

Impedimenta! – lançou o sonserino.

Revertum! – bradou imediatamente James.

Revertum! – devolveu, mais uma vez, o feitiço.

Potter se desviou com o corpo.

Relaxo!

Escudo! – protegeu-se do ataque secundário – Incendio!

– Aqua eructo!

O encontro do jato de fogo criado por Jack com a água lançada da varinha de James gerou o chiado tradicional de duas forças opostas se encontrando. A fumaça logo tomou conta da arena, tornando a visualização do oponente difícil. Ambos esperaram alguns segundos para ver se a coisa melhoraria, mas veio da platéia, de um sonserino do 5º ano, a dica para o próximo feitiço. Goldnail ouviu com atenção e sorriu. Era um feitiço típico de sonserinos.

– Serpensortia!

Alguns alunos não sabiam exatamente o que aquilo faria, mas desconfiavam que boa coisa não seria. A fumaça começou a dissipar para revelar, bem diante de James, uma serpente de médio porte, encarando-o. Todos da plateia soltaram exclamações de surpresa e de medo, enquanto o grifinório se mantinha calmo. O Prof. Marstrovich tomou a iniciativa para finalizar o duelo, mas Potter o impediu.

– Vipera evanesca!

O feitiço lançado por James destruiu a serpente do sonserino, deixando todos boquiabertos. Alguns segundos de choque depois, o público veio à loucura. A cara dos sonserinos, diante da desintegração da cobra, era impagável. O que as pessoas não sabiam é que Harry já tinha contado uma história parecida para seus filhos e a curiosidade e insistência do mais velho o tinha feito revelar como se livrar dessa encrenca. O próprio juiz da arena o encarava com uma expressão surpresa.

– Trip! – lançou James, em um Jack ainda disperso.

O feitiço tinha como propriedade fazer a varinha desenganar, ou seja, seus feitiços lançados saíam muito diferentes e errando o alvo. Foi isso o que aconteceu, quando o sonserino tentou lançar uma série de feitiços. Porém, o que o grifinório não contava era com o fato de um desses feitiços o acertar.

– Não vale – falou Tiago, baixinho.

– O que foi? – perguntou Lizzie, ao seu lado.

– James foi atingido por um feitiço de confusão.

– Desenganar uma varinha não quer dizer que torna você imune a feitiços – afirmou Malfoy. – Potter foi um idiota se achou isso.

– Sim, ele é um idiota por uma série de coisas, mas não por isso – disse categórico e abaixou o tom da voz de modo que apenas os amigos pudessem escutá-lo. – O feitiço que o atingiu não veio do sonserino. Veio da plateia. Eu vi.

Deymon, Khai e Lizzie olharam surpresos para o corvinal que mantinha a expressão de certeza de suas acusações.

– Mas a contenção... – Khai tentou argumentar.

– Ela impede que feitiços saiam da arena, mas não que entrem – concluiu Malfoy.

– Deveríamos falar – disse Tiago. – Seria o justo.

– Seria justo também Potter ter o que merece – afirmou Lizzie.

– Olha, Lizzie, o fato dele te atormentar é realmente um saco, mas ele tem um motivo e vocês meio que merecem o castigo pelo que fizeram – afirmou, diante do olhar sanguinário dos colegas. – Mas eu acho que ele está fazendo pouco dos adversários mais fracos, então, por esse motivo, vou ficar na minha.

– Pensei que fosse nosso amigo – disse a garota, em tom de ironia.

– Eu sou, mas ser amigo não quer dizer que eu tenha de concordar com tudo o que vocês fazem.

Contudo, o corvinal não foi o único a ter notado a interferência externa ao duelo. Rose olhava desconfiada para o primo sob efeito do feitiço de confusão. Depois, encarou a plateia sonserina com cara de poucos amigos.

– Tem algo errado. O sonserino poderia até acertar James, mas a varinha não deveria provocar um feitiço tão bem feito.

– O que você quer dizer, Rose? – perguntou Peter.

– Eu acho que o feitiço veio de fora. Alguém mais velho deve ter lançado o feitiço sem falar – afirmou, baixinho.

– Mas e a tela de proteção? – perguntou Alvo.

– Deve impedir o feitiço de sair, mas não de entrar. Acho que eles não pensariam que alguém teria coragem de fazer isso. É totalmente contra as regras! – informou a garota.

Alvo encarou a torcida adversária e notou que um certo grupo de sonserinos olhava com raiva para o corvinal primeiro anista. Pensou que eles seriam os culpados, mas depois descartou a ideia, afinal, nenhum deles saberia como lançar um feitiço sem falar. Então, seus olhos procuraram os caras mais velhos e se deparou com um grupo de sonserinos, provalvelmente do 6º ano, que batiam nos ombros de um deles. O garoto alto e de vestes caras sorria com desdém.

– Acho que sei quem mandou o feitiço, mas o que podemos fazer, Rose?

– Podemos fazer a mesma coisa, Al – disse com convicção e uma sobrancelha erguida.

– Seria injusto, não? Deveríamos falar para o juiz.

– E como provar, John? Não vão acreditar na gente. Podemos lançar um feitiço para acabar com o efeito da confusão – argumentou a garota.

– Iriam ver! – Peter contestou.

– Não, se a gente fizesse uma barreira, John apontasse a varinha e sussurrasse discretamente o feitiço – sugeriu Rose.

– Eu?! Eu não quero fazer isso.

– Então eu faço – afirmou a garota. – Vamos só colocar a disputa como deveria ser. James já teria ganhado, se não fosse pela trapaça deles, em primeiro lugar. E então?

Os garotos se encararam e decidiram fazer uma barreira para esconder a garota. Enquanto isso, o efeito do feitiço lançado por James estava quase passando, mas a confusão do grifinório continuava. Rose encarou as pessoas ao redor, que exclamavam a cada feitiço lançado pelo sonserino que quase acertava Potter. Ninguém estava prestando atenção nela, então ergueu a varinha e murmurou finite incantatem.

Seu feitiço ultrapassou a barreira e alcançou James, que sacudiu a cabeça, voltando ao normal. Sorte da garota que o feitiço lançado não deixava rastros de cor. Alvo notou a expressão desgostosa do sonserino do 6º ano, que procurava de onde tinha vindo o contrafeitiço, mas jamais cogitaria a possibilidade de uma primeiro anista tê-lo feito.

James ainda desviou de um petrificus totalus que quase o atingiu na cabeça e encarou o sonserino, agora com sua varinha em ordem.

Expelliarmus! – ambos disseram.

O feitiço os atingiu por igual, lançando suas varinhas para longe. O Prof Marstrovich encerrou a partida, por empate, desclassificando os dois. Neste caso, o título do 3º ano foi concedido à corvinal Wanda Lactarius, vencedora do duelo contra Bella Parkinson.

Embora não tenha derrotado, de fato, o sonserino, James estava satisfeito com o resultado. Alvo e seus amigos decidiram não comentar o caso da trapaça, uma vez que aquilo poderia gerar uma discussão sem provas e estragar todo o torneio.

Logo em seguida, as mesas para o almoço foram recolocadas no Salão Principal e os alunos, com o apetite feroz, devoraram tudo o que viam pela frente. Afinal, participar e assistir duelos era um evento que abria o apetite. Os elfos da escola haviam caprichado na comida: arroz ao molho de abóbora, asa de galeto da Irlanda, bolinhos de xucrute, lasanha verde e variados sucos. Alvo estava no meio de seu sorvete de frutas silvestres quando tudo sumiu, deixando o lufo com cara de cachorro pidão.

Todos se afastaram do centro, onde as arenas voltaram a aparecer, sob aplausos dos estudantes. Era, de fato, uma mágica muito legal de se ver. Rapidamente, as arenas foram limpas e os duelos do 4º ano deram início. Após uma disputa bem acirrada, Clancy Baron, da Sonserina, venceu Egbert Farell, da Corvinal.

O Clube de Duelos deu por encerrada as atividades do dia e o Salão Principal voltou a assumir seu usual aspecto para a janta, com direito a sete tipos de sopa: de ervilha, cebola, abóbora, canja, abacate, ovos e milho. Havia muita conversa animada nos corredores e, principalmente, nas salas comunais. Alguns alunos, que duelariam no dia seguinte, aproveitavam o tempo livre antes do toque de recolher para uma visita longa à biblioteca, na esperança de que um novo feitiço genial caísse em seu colo.

A manhã de domingo despertou os estudantes com uma sensação de quero mais. A expectativa criada acerca dos mais velhos, quais os feitiços veriam e como eles o duelariam fazia do evento um espaço concorrido. Todos sabiam que sairia deste domingo o Duelista Júnior Ordem da Fênix, embora seu nome fosse revelado apenas na cerimônia de encerramento.

Logo após o café, os alunos do 5º ano iniciaram seus duelos, cada vez mais complexos. Os feitiços utilizados davam mais emoção à partida e as defesas espetaculares retiravam exclamações extasiadas da plateia. No duelo final, Edwino Darin, da corvinal, venceu Zacharias Smith Junior, monitor da Lufa-Lufa.

Os duelos do 6º ano foram ainda melhores. A combinação de feitiços básicos com os mais complexos, as estratégias de dissimulação e armadilhas para os adversários tornavam os duelos fantásticos. Claro, não eram como os dos professores, mas ainda assim era muito inspirador, especialmente para os novatos. O corvinal Frank Gnouche venceu a grifinória Telma Nicleback em uma virada de mesa sensacional, atingindo-a enquanto ainda rodopiava no ar.

Mais uma vez os duelos foram interrompidos para o almoço. Havia muita conversa entre as mesas, com os alunos relembrando passagens sensacionais dos últimos embates. A atmosfera que envolvia o Salão Principal não era de rixas, mas de uma competição saudável. Os mais novos aprendiam observando os mais velhos, que se tornavam professores temporários. Frank Gnouche teve que dar alguns autógrafos para os novatos e eles não eram apenas de sua Casa.

Assim que o Salão Principal voltou a assumir sua forma de arenas paralelas, os alunos abriram espaço para os duelos mais tensos e concorridos da escola. Os estudantes do 7º ano tinham a obrigação de desempenhar uma exibição com uma postura de adultos, uma vez que já estavam com um dos pés fora da escola. Era o momento de demonstrar que anos de estudo e dedicação surtiriam resultados. Normalmente, os alunos desse ano eram os mais cotados para o título de Duelista Júnior Ordem da Fênix.

Victoire subiu na Arena 1 apenas da terceira rodada. Sua adversária era a sonserina Cadyna Ludwig. James, Alvo, Rose e seus amigos reforçavam o apoio à prima, enquanto Gina observava a destreza da segunda Weasley nascida após sete gerações. Victoire e Cadyna fizeram uma curta reverência e se posicionaram para o duelo. O primeiro movimento foi da sonserina:

– Spiratus!

– Revertum!
– a espiral de ar voltou-se contra a garota que o desviou com relaxo. – Levicorpus!

O feitiço atingiu em cheio a adversária, que passou a flutuar na frente de toda a platéia, sob o comando da varinha da Weasley. Contudo, isso não impedia que a garota conseguisse lançar um feitiço na grifinória. Victoire teve de quebrar o encantamento para se desviar de um rictusempra.

Orbis inflamarae! – lançou Ludwig, assim que tocou o chão.

Glacius!

As bolas de fogo que vinham em sua direção foram transformadas em bolas de gelo e com o novo peso caíam no chão, indefesas.

Trip! – atacou, mais uma vez, a sonserina.

– Protego! Uédiósi!

As bolas de gelo, outrora abandonadas ao longo do tablado, foram lançadas descontroladamente contra Cadyna, que se defendia com evanesco, desintegrando-as. Contudo, deixou sua guarda aberta e com um expelliarmus, Victoire encerrou o duelo.

Da segunda vez que se apresentou para o duelo, a garota enfrentou Milles Hanksy, lufano. Foi um duelo bem equilibrado, com muitas defesas. Talvez tenha sido o mais longo da competição e ninguém sabia quem poderia ganhar. Por fim, após receber um soco no estômago com o rictusempra, Victoire lançou um incarcerous, ainda no ar, pegando o garoto desprevenido e imobilizando-o.

Após avançar em duelos contra seus próprios amigos e amigas, Victoire chegou à final, mas era algo esperado de uma monitora-chefe. Por um momento, Gina imaginou como as coisas poderiam ser diferentes se o Clube de Duelos funcionasse em sua época. Eles estariam preparados para se defenderem e, quem sabe, ao demonstrar todo o seu talento, Harry a teria notado mais cedo.

Victoire Weasley enfrentou Alexander Portucallus, da Corvinal, em uma final espetacular. Mal o duelo começou, o choque do feitiço incendio, lançado por ambos, gerou uma explosão de fogo em que os dois se protegeram com escudo.

– Evertum statum!

O feitiço lançado pelo garoto atingiu a grifinória, fazendo-a dar piruetas desgovernadas no ar, em direção à parede do Salão. Os alunos prenderam a respiração, mas a garota usou um siphonis e a força contrária do ar, gerada por sua varinha, lhe impulsionou de volta para o tablado.

Expelliarmus! – bradou o corvinal, atacando-a novamente.

– Protego! Asthma!

– Protego! Aracnea encarcerous!

– Diffindo!
– Victoire defendeu-se cortando os fios da teia antes que a alcançassem. – Simulatus Corpus! Protean Corpus!

Os feitiços combinados da garota foram lançados com grande velocidade. Uma imagem sua surgiu ao seu lado e, com o encantamento seguinte, uma série de cópias iguais tomaram sua frente, encobrindo a visão de seu adversário sobre sua localização. Em seguida, Victoire efetuou um feitiço desilusório e a plateia foi à loucura. Aquilo era simplesmente demais.

Tentacullus! – disse o corvinal e uma série de cipós saíram de sua varinha e atacaram todas as cópias ao mesmo tempo, sob seu comando mental.

– Immobilus!

Victoire lançou o feitiço ao se revelar, atrás do corvinal, dando fim ao duelo sob aplausos estrondosos de todo o Salão. Não tinham dúvidas de que seria ela a escolhida para o título de Duelista Júnior Ordem da Fênix, pelo segundo ano consecutivo. Gina sorria, junto a Arthur, Neville e Hagrid. Era incrível como ser um Weasley, nesses novos tempos, impunha uma sensação ainda maior de orgulho e respeito.

James, Alvo e Rose tiveram alguma dificuldade para alcançar a prima, mas assim que o fizeram parabenizaram a garota. O duelo tinha sido incrível e James aproveitou para espetar um pouco, dizendo que escreveria para Teddy contando tudo. Victoire sentiu seu rosto se avermelhar e afirmou não ser preciso, mas para o garoto a necessidade era evidente. Gina encarou sua família com um sorriso cúmplice, junto a Arthur. Embora o clima fosse de celebração, ela não havia esquecido que tinha o dever de convocar James para uma conversa séria.

O Salão Principal voltou a assumir sua forma original e Minerva McGonagall anunciou o fim do Clube de Duelos, agradecendo a participação de todos. Ressaltou a importância do evento para o desenvolvimento do caráter dos estudantes e a demonstração do resultado de muito estudo e dedicação. Conjurou uma tapeçaria logo atrás da mesa dos professores, com os nomes, imagens e Casas de cada um dos vencedores das categorias, além de conferir, automatiamente, 20 pontos a eles.

Clube de Duelos

2º ano ~ Juleen Abderman ~ Lufa-Lufa
3º ano ~ Wanda Lactarius ~ Corvinal
4º ano ~ Clancy Baron ~ Sonserina
5º ano ~ Edwino Darin ~ Corvinal
6º ano ~ Frank Gnouche ~ Corvinal
7º ano ~ Victoire Weasley ~ Grifinória


O jantar foi um dos mais festivos do ano, repleto de gostosuras, pudim e doces da Dedos de Mel. Era uma celebração pelo ambiente saudável observado durante o Clube de Duelos. Os caldeirões de feijõezinhos de todos os sabores fizeram o maior sucesso, como da última vez, no Halloween. Minerva não poupou despesas para recompensar seus alunos. A noite em Hogwarts seria bem longa.


__________________________________
Nota da autora:

Oi, gente! Como sabem, eu não sou muito de escrever após um capítulo, acho que é a primeira vez, mas juro que é por um bom motivo. Queria agradecer a todos vocês! Isso mesmo!! Você, que chegou até o fim deste capítulo, sabia que acabou de ler 301 páginas do word? =D
Obrigada pela paciência. Meus capítulos não saem com a frequência que eu gostaria, mas espero que a qualidade agrade vocês.
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Sheu
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 24 a 30(att 10/03/2014)

Post by Sheu »

26

PLANOS ARRISCADOS


A semana seguinte aos duelos manteve os alunos em plena atividade. A proximidade dos exames finais estava deixando todos com os nervos à flor da pele. Especialmente os novatos e aqueles que prestariam NOMs e NIEMs. Os professores passavam metros de trabalhos e a biblioteca havia se tornado o point de encontro da maioria.

Só após essa semana plena de atividades, Gina arranjou tempo para ver seu velho amigo. Neville havia dado seu toque especial ao seu aposento. Os livros sobre herbologia e até mesmo estudo de trouxas, como o geneticista Gregory Mendel, povoavam as estantes de madeira polida. A decoração do lugar lembrava e muito a sala comunal da Grifinória: tinha uma grande lareira com um sofá vermelho em frente, onde conversaram longamente; uma escrivaninha repleta de pergaminhos ainda a serem corrigidos; alguns quadros de herbologistas famosos, além de fotos dos Longbottom, de sua avó, de Nicolau e dos colegas da escola. Evidente, não poderiam faltar algumas espécies raras protegidas por Receptáculos de Liebermant que alteravam a temperatura e pressão a favor das plantas. Algumas estavam livres, como a pequena e adorável que fazia cócegas em Gina, por se sentir atraída pela vibração da risada humana.

– Amei essa plantinha de tentáculos laranjas, Neville! – disse Gina, ainda rindo.

– É uma titillandus tentaculum. Ela também gostou de você – respondeu o amigo. – Gina, você notou, durante os duelos, na semana passada, como o Nicolau é bom? Bem melhor do que eu, quando participei da Armada.

– Nicolau foi fantástico. E você não era ruim... Só um pouco distraído – argumentou.

Neville apenas sorriu para a amiga, gentil com ele, como sempre.

– James também foi genial, pena que não chegou à final.

– Sim, mas não posso dizer que o comportamento dele foi excelente.

– Ele é apenas um garoto popular de muita criatividade.

– Sei que toda criança se mete em encrenca e gosta de aprontar, mas James está passando um pouquinho dos limites.

– Não podemos podar toda a criatividade. Notícias do trio maravilha? – mudou de assunto.

– Mione continua entrevistando bruxos. Alguns deles são realmente difíceis de encontrar. Ron e Harry capturaram um dos Lestrange. Já está tarde, Neville. Volto outro dia, ok?

– Tão cedo? Deixe-me abrir a porta para você, Gina. Assim, volta mais vezes.

Ela sorriu enquanto seu amigo passava à frente, cavalheiro. Neville tentou abrir a porta, mas não conseguiu. Usou um pouco mais de força, mas parecia completamente emperrada.

– Algum engraçadinho anda usando herbivicus na escalarius ascienda que fica na minha porta. Certamente, se diverte me prendendo aqui. Quando descobrir o culpado, vou garantir que o diretor de sua Casa seja bem rígido.

– Que falta de respeito! Mas como saímos?

– Ah! Isso é bem simples agora – com um floreio de varinha, a porta se abriu. – Até, Gina.

A colega saiu olhando para o chão, a fim de tomar cuidado onde pisava. Os ramos da planta pareciam apenas desmaiados e o amigo lhe aconselhava a evitar esmagar as pontas, pois ela poderia não reagir muito bem. De repente, estagnou. Abaixou-se e pegou um botão.

– Algum problema, Gina?

– Creio que sim. Você será o primeiro a saber, Neville – retirou-se, deixando o colega confuso, caminhando na direção da biblioteca, a fim de encontrar seu filho.

James estava no corredor do 4º andar, conversando com Aldora Beverly, uma corvinal terceiro anista. A julgar pelo olhar derretido da garota, ele usava seu charme para que ela fizesse seu trabalho de História da Magia. James brincava com o cabelo encaracolado, enquanto ela sorria de forma tola, prometendo ajudar o garoto mais popular da escola. Potter sorria e acenava para a menina, que ia embora. Foi então que uma figura surgiu a passos largos no fim do corredor, com uma pilha de livros nos braços. Seria algo típico de sua prima, mas sabia que agora ela estudava no 7º andar, junto com Alvo. Decidiu pegar um atalho e surgir diante daquela desavisada. Iria se divertir atazanando a sonserina.

Elizabeth tinha mil e uma coisas na mente para os trabalhos finais. Ainda topou fazer a pesquisa e apresentação de Poções de Malfoy e Macbeer, em troca de alguns livros proibidos surrupiados das prateleiras de suas casas. Não viu quando o grifinório posicionou-se na sua frente. O choque inevitável levou-os ao chão, cobertos de livros.

– Oh, me desculpe! Eu... Ah! É você – disse, com desprezo.

– Devia prestar mais atenção, Lizzie. Deixe que eu te ajudo.

O garoto recolheu os livros do chão, sob o olhar petrificado da garota e jogou a mochila em seus próprios ombros.

– O que você quer, Potter? – perguntou, após se recuperar do choque.

– Somente ser gentil – respondeu, irônico.

– Você não é gentil, Potter. É um pé no saco, um garoto esnobe que se acha o dono da escola. Não serei vista com um grifinório ridículo como você. Sou exigente na companhia.

– Ora, até parece que você é grande coisa, sonserinazinha. Eu ainda não engoli aquela história do quadribol. Você e sua corja de maus perdedores, trapaceiros, traidores do mundo bruxo deviam saber o lugar de vocês. Traidores covardes!

Elizabeth deu-lhe um tapa no rosto, que ecoou pelo corredor vazio. Depois de alguns segundos recuperando-se da surpresa, James deixou cair os livros e a mochila da garota e fez um movimento com a intenção de derrubá-la no chão.

– James Sirius Weasley Potter! – uma voz firme e mortal soou bem próxima. – Não ouse.

À medida que os passos se aproximavam, James foi sentindo o fluxo de sangue sumir de seu rosto. Pálido, sentiu um calafrio percorrer seu corpo. A felicidade parecia ter sido levada como na presença de um dementador. Gina tocou-lhe o ombro, olhou firme nos olhos azuis do filho e voltou-se para Elizabeth, parada, sem saber o que fazer. Com um floreio de varinha, a mochila da sonserina veio para as mãos da professora. Ela deu dois toques leves no objeto e depois fez com que os livros restantes no chão voassem para dentro, onde antes nada mais cabia.

– É um feitiço de expansão, para que possa carregar tudo o que precisar na mochila, sem correr o risco de esbarrar em alguém. Acrescentei um feitiço para aliviar o peso.

A garota olhava boquiaberta para a professora e agradeceu, ainda embasbacada. Retirou-se rapidamente do corredor, dando uma última olhada para o pálido James. Poderia até sentir pena do garoto, se ele não fosse um completo imbecil.

– Meus aposentos. Agora.

James acompanhou sem pestanejar, mortificado de medo pelo que o aguardava. A cada passo que dava parecia o caminho para a guilhotina. Respirava em um estado apático e seus olhos encaravam a imensidão do chão, temendo encontrar o olhar reprovador de sua mãe. Enfim, chegaram à sala que antes era de Harry.

– Sente-se.

James o fez, calado. Gina posicionou-se de frente para ele e colocou as mãos na cintura, assumindo a postura materna Weasley, temida por qualquer geração.

– James Sirius Potter! Estou tão decepcionada! Esta não é, nem de longe, a educação que nós lhe demos! O que seu pai vai pensar quando eu escrever para ele? Ah, sim! Eu irei escrever. Você iria mesmo bater em uma garota?

– Eu não ia bater nela. Só empurrar, porque ela me deu um tapa...

– Que você mereceu! Há quanto tempo está importunando aquela sonserina?

James abaixou a cabeça e se calou, pois tinha certeza de que ela sabia quanto tempo fazia.

– James! O que está acontecendo com você? Sei que tem um espírito criativo, inquieto e que gosta de atenção, mas você está passando dos limites! O que foi aquilo durante os duelos? Você estava fazendo pouco caso das habilidades em magia de seus colegas! O que estava pensando quando fez aquela brincadeira de mau gosto com o sonserino? Por Merlim, James! – voltou a se alterar. – Que discurso foi aquele chamando os sonserinos de traidores do mundo bruxo? Onde ouviu isso? Com quem aprendeu? Eu e seu pai lutamos contra a intolerância, fazemos de tudo para não deixar os eventos do passado influenciarem tanto no presente. James! – exclamou, exaltada. – A diretora McGonagall trouxe profissionais para contarem suas histórias, envolverem vocês e minimizar os danos causados pela guerra e você me faz um discurso daqueles? O que ela iria pensar se lhe ouvisse?

James mantinha a cabeça baixa, ouvindo tudo. Assim, do jeito que ela falava, fazia ele parecer um grande idiota.

– Meu filho – Gina suavizou a voz, mais uma vez, agora alisando seus cabelos castanhos rebeldes e encarando seus olhos azuis. – Sei que é popular, é bom no que faz e será um grande jogador de quadribol profissional um dia, mas você precisa entender que isso tudo traz responsabilidades. Você é um modelo para alunos mais novos e para seus irmãos. O que você quer ensinar a eles? Intolerância? Agressividade? Que marca pretende deixar nesta escola? Quer ficar conhecido como o garoto popular, namorador e egoísta?

– Não, mãe.

– Eu também acho que não – disse, afastando-se do garoto e caminhando de um lado para outro. – Isso termina por aqui, James. Você vai aprender que a fama cobra o seu preço na moeda da responsabilidade, humildade e justiça. Como sua mãe, estou lhe colocando de castigo nestas férias, sem visitas à Toca ou passeios com seus amigos.

– Mas mãe... – suplicou, apelando para o emocional.

– Você tem enfeitiçado a planta da sala do Prof Longbottom! – afirmou, em tom acusatório.

James sentiu o sangue evaporar do seu corpo e calou-se imediatamente, em choque. Seu coração batia acelerado, mas parecia bombear apenas ar. Sabia que teria um treco a qualquer momento. Sua mãe lhe mostrou o botão personalizado de suas vestes.

– Por que, James? Como pôde? Estou tão desgostosa! Neville! Nosso amigo! Ele gosta tanto de você. Como pôde?

O garoto encarava o chão, sem defesa. Tudo começou como uma simples brincadeira com seus amigos. Tinha a intenção de parar, mas a coisa simplesmente fugiu ao controle. A marotice fez sucesso e os principais suspeitos eram os sonserinos. Acabou se acomodando.

– Vamos – disse Gina, indicando a porta.

– Mãe...

A voz quebrada e trêmula do filho apertou o coração de Gina e o partiu em minúsculos pedacinhos, mas ela precisava ser forte. Após uma caminhada longa e silenciosa, chegaram à porta da sala do Prof de Herbologia. James encarava a mãe com uma expressão de súplica desesperadora, mas Gina não poderia ceder. Somente assim, ele aprenderia o que realmente importa. Neville abriu a porta, surpreso pela inesperada visita. Ambos entraram nos aposentos.

– Neville, James sabe quem é ou são os responsáveis pelo feitiço em sua planta.

– Verdade? – perguntou, surpreso. – Então me diga, rapaz. Estou querendo pôr as mãos nesse aluno há muito tempo.

James olhou, mais uma vez, em súplica e Gina manteve-se séria. Sabia que o filho precisava passar por aquele momento. Por dentro, queria colocá-lo no colo e enchê-lo de amor, beijos e mimos. Sofria tanto por fazer aquilo que azararia o primeiro que dissesse que ela não tinha coração.

– Fui... Fui eu, professor – disse, quase num sussurro.

Neville ficou alguns segundos em choque, encarando o jovem sentado na cadeira.

– Eu sinto muito, professor. Sinto muito mesmo! Foi só uma brincadeira que fugiu do controle. Me desculpe, tio. Por favor, me desculpe! – pediu, com lágrimas descontroladas.

– Quem mais, James? – questionou Neville, firme. – Você não fez isso sozinho.

James encarou o professor por alguns segundos.

– Sim, eu fiz. Sozinho. Fui um idiota. Queria me mostrar para um colega – mentiu e todos sabiam que estava mentindo.

Neville começou a caminhar de um lado para o outro dos aposentos, pensando. Deveria ser enérgico da mesma forma que cobraria dos outros diretores, se fosse um aluno de outra Casa. Sentiu-se mal. Há tempos jurava se tratar de um ataque sonserino. Envergonhou-se. Realmente, o preconceito do passado fazia suas vítimas.

– Você está suspenso da próxima partida de quadribol.

– NÃO! – seu grito de terror soou mais alto do que imaginava. – Por favor, professor! A partida é amanhã! Por favor... Tudo menos isso! Precisamos vencer!

– Tenho certeza de que o time tem mais jogadores. Ainda estou pensando seriamente em revogar seu título de capitão e suspendê-lo de todos os jogos no próximo ano.

– NÃO! Por favor, professor! Quadribol é a minha vida! Eu faço qualquer coisa! Qualquer outra coisa! Posso... Posso ser seu assistente... O ano inteiro! Todos os anos que eu estudar!

Gina e Neville trocaram olhares rápidos. Na verdade, nenhum deles gostaria de perder um excelente jogador de quadribol da Grifinória.

– Será meu assistente durante todo o próximo ano letivo. Sua principal função será limpar a estufa e cuidar das plantas, quase todos os dias, depois das aulas.

– Sim, senhor – disse, segurando um sorriso de felicidade.

– Não pense que lhe darei colher de chá.

– Não penso, Professor.

– Não jogará amanhã e 50 pontos serão descontados da Grifinória.

James chegou a abrir a boca, mas a fechou rapidamente. Não haveria negociação.

– Sim, senhor – respondeu, cabisbaixo.

– Agora vá para a biblioteca ou para a sala comunal terminar suas tarefas.

O garoto agradeceu e saiu, dando uma última olhada para sua mãe antes de fechar a porta.

– Oh, Neville! Ele vai me odiar! – disse Gina, largada em uma cadeira, entristecida.

– Ele sabe que errou, Ginny. Já, já isso passa. É normal.

– Me sinto uma carrasca – disse, agora não contendo as lágrimas. – Ele suplicou tanto...

– Você fez o que era certo, minha amiga. Filhos precisam de limites – confortou a amiga.



Minutos antes, Elizabeth tinha chegado à biblioteca com um sorriso no rosto. Malfoy, Macbeer e Richards acharam aquilo um pouco estranho. Ela sentou ao lado do corvinal e jogou a mochila em cima da mesa, fazendo um barulho inesperado. Para os amigos, parecia que uma pequena estante de livros havia desabado.

– O que foi isso? – questionou Tiago.

– Um presente – respondeu, sorrindo. – A Sra Potter colocou um feitiço expansivo na minha mochila, junto com outro para deixá-la leve. Não é legal?

– Realmente, um presente que é a sua cara. A questão é: por que ela fez isso?

– Ah, Tiago! Ela pegou o Potter sendo estúpido comigo e quis compensar. A essa hora ele deve estar tomando o maior sermão da vida dele – afirmou, com um sorriso de satisfação. – Mas isso não importa, não é? Temos coisas mais interessantes a fazer – disse, baixando a voz. – Vocês copiaram a inscrição? – perguntou, dirigindo-se aos sonserinos.

– Sim. Dê para ela, Macbeer.

Elizabeth pegou o pergaminho com os caracteres desenhados.

– Vamos levar séculos para decifrar isso. Deve ser serêico – constatou Tiago.

– Sua mãe não sabe? – perguntou Malfoy.

– Talvez conheça alguém.

– Não sejam bobos. Eu tenho tudo sob controle – afirmou a sonserina e piscou para os amigos, deixando-os em seguida.

O trio de garotos faziam suas tarefas enquando observavam a garota olhar displicente algumas prateleiras. A demora da sonserina, em analisar várias estantes, chamou a atenção da bibliotecária. Quando seus olhares se encontraram, Lizzie sorriu e foi ao seu encontro.

– Como vai, Madame Pince?

– Muito bem, obrigada, Srta Dumbledore.

– Já conseguiu pegar quem estragou aquele livro de herbologia?

– Ainda não. Esses arruaceiros acham que podem simplesmente rasgar a página de um livro e levá-la com eles. Não se importam com o crime que realizam.

– Verdade, Madame Pince. Deveriam ser castigados pela diretora.

– De fato! Mas diga-me, Srta Dumbledore, notei que estava em busca de um livro. Conhece a biblioteca muito bem para não encontrá-lo.

– Pois é, Madame Pince. Na semana passada estava bem ali. Chama-se Submergindo na Cultura Serêica, de Morgan Glubbles.

– Hum... Uma garota do terceiro ano o pegou emprestado. Uma escolha que não parecia combinar com ela, na verdade, mas logo estará de volta.

– Ah! – exclamou, muito desapontada.

– O que foi, minha querida?

– Eu precisava dele para ganhar uma aposta. Agora as meninas do dormitório vão dizer que eu não sou inteligente o suficiente.

– Ora, não diga uma bobagem dessas!

– Aposta é aposta, Madame Pince. Muito obrigada – disse, acenando com o pergaminho.

A bibliotecária tomou-o das mãos da garota, que lhe lançou um olhar falsamente incrédulo. A senhora passou o olhar pela frase e sorriu. Pegou uma pena e rabiscou no pergaminho, enquanto Elizabeth a encarava, curiosa. Madame Pince dobrou o pedaço de pergaminho e o entregou à garota, com um sorriso.

– Ninguém vai julgar uma amante da leitura só porque um livro não está disponível.

– Obrigada, Madame Pince! A senhora é um anjo!

– Ora, não por isso – respondeu, com o rosto corado. – Agora vá terminar suas tarefas.

A garota se despediu educadamente e voltou a se sentar, fingindo dar conselhos a Tiago. Deymon sacou a varinha das vestes e, por debaixo da mesa, murmurou um feitiço.

Abaffiato! Pronto. Agora ninguém pode nos ouvir. E então?

– A luz mostrará o caminho – afirmou a garota. – É isso que a frase quer dizer, segundo Madame Pince. Embora não tenha um ponto final.

– Hã? – perguntaram os garotos, confusos.

– A língua dos sereianos tem um símbolo que representa o ponto final. Nenhuma frase pode ser escrita sem ele. É uma regra gramatical.

– Como sabe disso? – perguntou Tiago.

– Eu li no livro Submergindo na Cultura Serêica. Tenho ele aqui na mochila.

– Então você...

– Eu paguei para alguém pegá-lo, Malfoy. Com o seu dinheiro, aliás.

– Era para isso? Bom, foi um investimento. Embora a frase não diga muito.

– Pelo menos sabemos que temos de levar a pedra com a gente – argumentou a garota.

– Levar para onde? Você ainda não conseguiu pegar um pouco da poção veritasserum do Prof Slughorn para investigarmos onde fica o portal gêmeo.

– Pois saiba que eu peguei sim, ontem à noite, quando estava ajudando o professor a arrumar o organizador portátil de ingredientes – informou a garota.

– Bom, então precisamos achar o portal gêmeo, logo. Malfoy, o que tem em mente? – perguntou o corvinal.

– Precisamos atrair Filch para usar a poção recém conseguida sem ninguém ver. Tiago e Khai, vocês sequestrarão a Madame Norra e deixarão rastros dela na direção do corredor do 3º andar, aquele deserto. Eu vou seguir o aborto com a capa de invisibilidade para garantir que ele ache as pistas. Elizabeth, você fica esperando em uma das salas, disfarçada. Então, amarramos ele e damos a poção. Depois uso o feitiço obliviate nele.

– É um feitiço avançado. Você sabe fazer? – questionou Tiago.

– Sei. Meu pai me ensinou nas férias.

– Mas você não pode usar magia fora da escola! – argumentou a sonserina.

– Posso, se tiver um adulto para dizer que foi ele. Além disso, usei a varinha do meu pai, para garantir. Vocês não sabiam que o rastreamento também é baseado em nossas varinhas?

Os três colegas olharam espantados para o amigo. Havia, afinal, um jeito de enganar o Ministério. Seu pai tinha ensinado vários de feitiços, mas os outros não precisavam saber.

– Quando faremos? – perguntou Khai.

– Amanhã, durante o jogo de quadribol da Grifinória e Corvinal. É o último jogo deles, então, todos estarão lá.

– E nós vamos perder isso? – Tiago parecia desapontado.

– Você pode não ir com a gente – informou Khai e o corvinal negou com a cabeça.

– Então arranje uma boa desculpa para não estar lá – disse Malfoy.

– É simples. Vou aproveitar o tempo livre para ficar com a Lizzie e ela odeia quadribol.

Malfoy deu de ombros, enquanto a garota e Khai olhavam desgostosos para o corvinal. Os quatro voltaram a se concentrar no trabalho, até que Elizabeth se reitirou para continuar nos seus aposentos. Na saída, cruzou com James, que buscava os colegas de quadribol, a quem tinha que revelar as más notícias. Trocaram apenas um olhar rápido, pois Jonathan chamou a atenção da irmã, ao se aproximar da entrada da biblioteca.

– Finalmente apareceu! Por onde anda?

– Estamos estudando em outro lugar. A biblioteca está muito cheia, sabe? Vim só buscar um livro. Aliás, Lizzie, eu não agüento mais. A Rose é tão chata quanto você.

– Ei! Não me compare àquela garota.

– Tenho que ir. Nos vemos depois.

Lizzie abandonou o lugar, enquanto Jonathan procurava um livro de História da Magia. Assim que o encontrou, subiu rapidamente para o 7º andar, onde seus amigos estudavam, próximos à sala da diretora McGonagall. Alvo, Peter e Rose estavam esparramados, cercados de livros. Contudo, enquanto os garotos finalizavam suas tarefas, Rose examinava seu pergaminho onde acrescentava, olhando em um livro trouxa, raças novas de felinos.

– Rose...

– Primeiro termine sua redação de Herbologia, Al.

– Mas eu acho que...

– É mais fácil terminar logo do que convencer a sua prima, Al – disse John e, após alguns minutos, completou. – Pronto. Terminei – mostrou para a amiga seu trabalho.

– Está muito bom, Jonathan.

– Por mim, se estiver aceitável já é suficiente – afirmou Peter.

– Você devia levar mais a sério os trabalhos. Se tiver boas notas pode conseguir um estágio.

Peter balançou a cabeça e sussurrou “neurótica”. Alvo deu um cutucão no amigo e fez sinal para que ele calasse a boca. Mais alguns minutos e todos tinham terminado as tarefas.

– Agora, Rose, o que faremos? – perguntou Alvo.

– Vamos descobrir qual a senha para entrar na sala da diretora. Pelas orelhas extensíveis eu ouvi que a de hoje é sphynx, então podemos riscar ele da lista.

– O que é sphynx? – questionou John.

– É uma raça de gato. Notei que a diretora sempre escolhe uma diferente, embora tenha repetido algumas vezes. Veja, eu listei mais de 80 raças diferentes. Podemos testá-las amanhã e tenho certeza de que acertaremos – entregou o pergaminho para o colega.

– Amanhã? Mas amanhã é o jogo de quadribol do James! – exclamou Alvo.

– Eu sei, Al, mas é nossa melhor chance. Todos estarão lá.

– Exatamente, Rose – argumentou John, devolvendo a lista. – Se todos estarão lá, vai dar na cara que não estamos. Especialmente porque é o jogo da Grifinória, com o seu primo.

– Olha, já inventei tudo. John, você vai perder sua mochila com todos os seus trabalhos e nós vamos te ajudar a refazer tudo durante o jogo de quadribol – afirmou Rose.

– O quê? – assustaram-se os garotos.

– Por que eu? Por que não pode ser o Alvo ou Peter ou mesmo você?

– Não seja bobo, John. Precisamos fazer a cena na sala comunal da Grifinória, senão ninguém vai acreditar. Já me imaginou perdendo um trabalho?

– E o que faremos depois da senha? – Alvo mudou o foco do assunto.

– Você e Peter vão ficar de olho na diretora e eu vou ficar no 7º andar, caso algo dê errado. Amanhã Jonathan entra na sala da diretoria e pega o mapa da escola. Ele sabe o que fazer, afinal treinamos bastante feitiços convocatórios e de cópia. Não deve ser difícil, só se tiver proteção contra encantamentos, então ele vai ter que procurar.

– Ele vai ser visto pelos quadros! – informou Alvo.

– Claro que não. Ele usará a sua capa de invisibilidade e eu tenho pó escurecedor instantâneo do Peru e uma bala golfolante Weasley que disfarça a voz – afirmou resoluta e recolheu suas coisas. – Nos vemos amanhã – disse e saiu, deixando os colegas.

– Sabe, Alvo, a sua prima pode ser uma brilhante grifinória, mas arquiteta planos bem assustadores. Acha que eu posso me dar muito mal nisso?

– Relaxa, John! Nós te damos cobertura. Além disso, ela já pensou em tudo. Rose pode ser mandona, mas ela nunca colocaria alguém em perigo – afirmou Alvo.

– Vamos tomar um chocolate quente com marshmallows – disse Peter. – Precisamos relaxar a mente antes de amanhã. Rose fica apertando os nossos miolos!

Os três riram, recolheram suas coisas e tomaram o caminho do Salão Principal, a fim de pegar o lanchinho noturno servido para os alunos que estavam estudando um pouco mais.

Pela manhã, o castelo acordou com os ânimos exaltados pela partida de quadribol após o café. Lógico, todos sabiam que James estava suspenso do jogo, pelo diretor da Casa, por ter sido pego enfeitiçando a planta da porta dele. Os grifinórios estavam muito chateados com o capitão por ter feito isso justamente com o Prof Longbottom, mas seus amigos agradeciam por terem sido poupados da detenção. O clima entre os jogadores era de tensão, mas James ainda fazia o papel de capitão, dando apoio moral e repassando jogadas com Elberta Breslin, ex-artilheira do time, do 7º ano, que o substituiria.

Assim que os alunos começaram a descer da sala comunal para o estádio, Rose alertou a Jonathan que estava na hora. Entregou um pergaminho para o amigo, dizendo ser o trabalho corrigido e aguardou que o outro guardasse em sua mochila. Em poucos minutos, ouviu a confusão começar no dormitório masculino. Em poucos instantes, um pequeno grupo de amigos, inclusive a garota, procurava em todos os cantos pela mochila com os trabalhos. Rose segurava muito o sorriso, pois o amigo realmente se superava. Enfim, Rose disse que deveriam procurar por Filch e, se não encontrassem, teriam que ficar na escola, durante a partida, para terminar tudo a tempo. Os amigos ficaram tristes por John, mas não se ofereceram a ajudá-lo, afinal, era “o” jogo. Rose solicitou que Jerry Marvelick, colega de quarto do amigo, avisasse a James, caso Alvo também não aparecesse.

Rose e John encontraram com Alvo e Peter no Salão Principal, à procura de Filch, que negou ter encontrado alguma mochila. O zelador olhou ao redor, preocupado, e perguntou onde estava Madame Norra, mas para si do que para o quarteto próximo. A surpresa foi grande quando Malfoy, surgido ninguém sabe exatamente de onde, afirmou ter cruzado com a gata no quarto andar. Uma gentileza que não passou despercebida ao grupo. Argo saiu imediatamente, enquanto os quatro olhavam curiosos para Deymon.

– Boa sorte ao assistirem a partida – falou, com um tom irônico.

– Você não vai, Malfoy? – perguntou Alvo, um tanto ansioso.

– Não perdi nada lá – respondeu, analisando o lufo.

– Minha irmã não deveria estar com você?

– Sua irmã está por aí com aquele corvinal. Não iria ficar por perto, não acha?

John automaticamente sentiu que alguma coisa eles estavam aprontando, já que sabia não existir nenhum romance entre os dois, mas fingiu-se de ofendido. Não iria trair a confiança da irmã ao rebater a informação falsa do sonserino.

– Vamos, gente! Ainda temos que achar a mochila do Jonathan – informou Peter.

Cada um tomou um caminho, posicionando-se conforme seus objetivos. Malfoy voltou para a Câmara das Passagens, no encalço do zelador. Tinha combinado com os amigos que as pistas deveriam começar em outro andar, para não chamar atenção. Sob a capa de invisibilidade, observou o castelo se esvaziar enquanto seguia Filch. Felizmente, ele notou os rastros do pêlo da gata, que pareciam presos em uma passagem secreta que dava para o terceiro andar. Deymon o acompanhou quando passou pela tapeçaria, quase sendo notado pelo outro, que parou ao suspeitar de um barulho.

Filch chegou ao terceiro andar desconfiado, olhando ao redor e espreitando os cantos. Não era do feitio de Madame Norra não responder quando fosse chamada. Suspeitou, imediatamente, de um desrespeito contra a sua parceira e começou a praguejar sobre detenções nas masmorras. Logo entraram no corredor deserto, onde as salas não eram utilizadas. Argo chamou novamente pela gata e ouviu um miado baixinho, vindo de uma das pesadas portas, no fim do corredor. As tochas acendiam automaticamente quando passavam e Deymon tomou o cuidado de não permanecer muito distante do zelador.

– Madame Norra! – exclamou estarrecido, ao ver sua gata presa em uma gaiola de pássaros.

Quando partiu para socorrê-la, sentiu um feitiço lhe atingir pelas costas, embora não conseguisse identificar a voz de ninguém. Reconheceu, contudo, os efeitos das balas proibidas da loja Weasley, que ele tanto detestava. Desmaiou logo em seguida.

Enquanto isso, Jonathan e Rose tomavam o caminho da diretoria e os lufos assumiam uma posição para vigiar Minerva. Alvo estava de tocaia, na área externa do castelo, atento ao fim da partida e à saída de McGonagall. Peter estava fingindo fazer uma leitura, sentado no primeiro degrau do quarto andar, que dava acesso à escadaria principal, agora inutilizada. Tinha sugerido assim, para que o amigo pudesse acompanhar o jogo da Casa do irmão. Alvo logo pôde ouvir os gritos bem de longe, sinal de que o jogo estava emocionante, assim como a marotice que eles estavam tramando no 7º andar.

Após se certificarem de que o corredor da ala da diretoria estava vazio, Rose puxou um pergaminho e começou a ler uma série de nomes rapidamente.

– Abissínio, Angorá turco, Balinês, Bengal, Bobtail americano, Bobtail japonês, Bombaim, Burmês europeu, Chartreux, Cornish Rex, Crookshanks, Devon Rex...

– Garfieldis Felinus, Gato Mosqueado da Califórnia, Gato Rafeiro, Khao Manee, Korat, LaPerm, Maine Coon, Manx, Mau Egípcio e...Er...? – John tentou ajudar.

– Minskin, Munchkin, Nebelung, Norueguês da Floresta, Ocicat, Persa, Persa Teacup, Pixie-bob, Ragamuffin, Ragdoll, Russo azul, Sagrado da Birmânia, Savannah, Scottish Fold, Selkirk Rex, Siamês, Siberiano, Sokoke, Tonquinês...

– Nada. Tem mais algum, Rose?

– Tenho uma segunda categoria, menos provável – disse a garota.

Ela começou a ler, mas a passagem não se abria. Já estava lendo pela quarta vez, agora com calma, quando Jonathan começou a soltar umas risadinhas. Rose encarou o garoto, zangada.

– Desculpe. É que eu pensei em uma que não está aí.

– Qual?

– Ah, Rose, é bobagem. Idiotice minha. Nem é uma raça de gato!

– Fala logo, Jonathan.

– Peixe-gato.

A gárgula que protegia a sala da diretora começou a se mover, revelando uma escadaria em caracol. Os grifinórios se encararam por alguns instantes e Rose logo começou a repassar as instruções. Em seguida, caminhou para a esquina do corredor, pronta para fazer uma cena se alguém viesse, até que o amigo conseguisse escapar. Seu temor era Madame Norra resolver aparecer por ali, trazendo Argo Filch em seu encalço.

Para a sorte dos lufos e grifinórios, os carrascos dos corredores estavam sob o poder de três sonserinos e um corvinal. Após o desmaio de Filch, Malfoy orientou os outros dois garotos que o arrastassem e amarrassem.

– Não deveríamos colocar uma venda nele também? – perguntou Lizzie, com a voz grave e distorcida pela bala golfolante.

– Acho que não sobrou mais nada. Sabe conjurar uma venda, Malfoy? – sugeriu o corvinal.

– Não.

– Ai, gente! Usa a gravata! – disse a garota.

Elizabeth se encaminhou até Khai, ao seu lado, tirando gentilmente a gravata do garoto, deixando-o avermelhado. Fato que não passou despercebido aos outros meninos, embora a garota não tenha prestado a mínima atenção. Assim que vendou o zelador, ele reagiu, fazendo a sonserina saltar duas vezes para longe dele.

– Quem está aí? Você vai se arrepender! Solte agora a minha gata! Imediatamente! A diretora vai saber disso e você será expulso!

– Pegue o veritasserum – ordenou Malfoy e Filch se remexeu, agora tenso.

– Um absurdo! Uma falta de respeito! A diretora saberá disso! Mostrem seus rostos, seus delinqüentes juvenis! Vou amarrá-los nas masmorras e fugnf...

Elizabeth derramou o líquido viscoso na boca do zelador e a tapou, junto com o nariz, obrigando-o a engolir. Assim que o fez, ela retirou a mão, limpando nas vestes, com nojo.

– Quanto tempo para fazer efeito? – perguntou Malfoy para a garota.

– Já está fazendo. Sr Filch, qual a pior coisa que podemos fazer com sua gata?

– Matá-la – disse, a contragosto, num resmungo.

– Por que seria a pior coisa? – continuou.

– Porque... Por anos... Ela tem sido minha única... Amiga – disse, tentando vencer a poção.

Todos se entreolharam e um mal estar coletivo envolveu o ambiente da sala. Argo Filch abaixou a cabeça, cedendo aos efeitos da poção. Estava vencido e sabiam sua fraqueza. Queria voar no pescoço do que presumia se tratar de quatro alunos e quase sufocá-los, levando-os para uma detenção sombria nas masmorras.

– Vamos ao que interessa. Sr Filch, além daquela infiltração, existe outra no castelo? – Malfoy perguntou.

– Não – respondeu, após pensar um pouco.

– Isso é mau – disse Khai. – Como fica o port... Ai!

Lizzie deu um cutucão no garoto, impedindo-o de falar.

– Existe algum vazamento, uma goteira, qualquer coisa? – perguntou a garota.

– Goteira tem em muitos lugares e o banheiro do terceiro andar está sempre com vazamento – respondeu o zelador.

– Murta. Assim não vamos para frente – afirmou Khai.

– Será que não existe nada que tenha a ver com a água do lago? Ou teve? – indagou Tiago.

– Nossa tese pode estar errada – expôs Lizzie ao corvinal. – Talvez tenha outro jeito de...

– Teve... – interrompeu o zelador, atraindo o olhar de todos.

– Como assim? Explique – ordenou Deymon.

– Quando eu... Retirei a pedra da infiltração e... Causei... A inundação – afirmou o que acreditava ser verdade.

– Mas a inundação começou da infiltração, não foi? – questionou Khai.

– Também – respondeu Filch, com um rosnado.

– Explique-se – mandou a garota.

– A inundação começou da infiltração... Mas também... Da masmorra.

– Faz sentido. As salas comunais da Sonserina e Lufa-Lufa inundaram rápido demais – afirmou Malfoy. – Onde começou a inundação da masmorra? Diga o lugar certinho.

– Na masmorra... Número... 13... – disse, enquanto resistia mais.

– Ahá! – vibrou Deymon.

– Tem uma... Passagem secreta... Que leva para... Fora da escola. Passa por... Baixo do lago e... A inundação começou lá também.

– Achamos! – comemorou a garota. – Agora faça o feitiço. Ele está resistindo, sinal de que a poção está perdendo o efeito. Só tinha um pouquinho – informou para Deymon.

– Saiam todos por precaução. Vou precisar tirar a venda dele.

Argo Filch se moveu, nervoso. Será que era sua hora de morrer? As últimas coisas que veria seriam os olhos e a varinha do inimigo. Deymon retirou a gravata do colega e a guardou no bolso, para que o zelador não pudesse vê-la. Estava ansioso e suava frio. Sabia fazer, mas nunca tinha feito para apagar uma memória tão longa. Por via das dúvidas vestiu a capa e subiu em um caixote. Havia deixado apenas a varinha para fora, assustando Argo. Suspirou fundo e se concentrou em sua própria magia.

– Obliviate!

Observou o foco do olhar do zelador se perder em algum ponto e tentou se concentrar para apagar todo o tempo que ficaram conversando. Passado alguns, minutos, ficou receoso de ter apagado coisa demais e interrompeu o feitiço. Argo Filch desmaiou.

– Venham aqui! Vamos levá-lo para fora do corredor. Pegue a gata – indicou para Lizzie. – Sem nomes ainda. Não sei exatamente se ele pode nos ouvir. Rápido.

– Acha que deu certo? – Khai perguntou, ansioso.

– Só vamos saber quando ele acordar.

Os três garotos arrastaram Filch até a saída do corredor deserto, tomando cuidado para não serem vistos por nenhum quadro e, principalmente, Pirraça. Todos os quatro se espremeram sob a capa, atrás de uma armadura e observaram o zelador começar a se mover, confuso. Ele chamou pela gata e andou sem rumo certo, perguntando-se como foi parar ali. Elizabeth soltou Madame Norra ao mesmo tempo em que Khai acendia o pavio de bombinhas presas no rabo do animal. Ela soltou um longo miado e saiu em disparada, passando por Argo, na tentativa de se livrar do estouro. O zelador saiu correndo atrás da gata, praguejando contra os arruaceiros que estudavam naquela escola.

Longe dali, Jonathan subia os degraus de pedra, temeroso. Lançou um feitiço de silêncio nas dobradiças da porta, ensinado por Rose e entrou. Tinha nas mãos uma amostra do pó escurecedor instantâneo do Peru e trazia óculos especiais para ver no escuro, mas nada disso foi necessário porque, assim que abriu a porta, notou que todos os quadros dormiam. Encostou com cuidado a porta, a fim de ouvir qualquer barulho que viesse por ela e observou atentamente o interior da sala, iluminada pela claridade de uma janela aberta.

Além de estantes repletas de livros e pergaminhos aparentemente muito raros, havia uma mesinha de pernas finas e instrumentos de prata por onde passou o olho, curioso. Uma escrivaninha tomava um canto da sala, com uma luminária que lembrava um felino. John notou que havia um móbile com miniaturas de gato e imaginou tudo aquilo tomando vida, quando a ex-professora de Transfiguração estivesse de bom humor.

Começou a vasculhar um local onde o mapa da escola pudesse estar. Pegava os pergaminhos e os abria cuidadosamente debaixo da capa, atento a qualquer movimento dos quadros. Parecia complicado até respirar. Passou então a explorar a grande mesa da diretora, lançando feitiços de silêncio em sussurros quase inaudíveis nas gavetas. Havia papéis para a correspondência oficial, selos, diversas penas, uma chave bem antiga, alguns documentos que pareciam importantes e diversas tralhas de escritório.

Continuou vasculhando as prateleiras por longos minutos, que lhe pareceram horas, mas nada de encontrar o mapa da escola. Viu alguns desenhos que, de fato, lhe pareciam a estrutura de Hogwarts, mas não um mapa. Suspirou, derrotado, tendo que apelar para o feitiço que poderia se tornar um grande problema, pois sabia que acordaria os quadros, chamaria a atenção e deveria partir imediatamente. Já estava ficando tenso, sem saber a quantas andava o jogo de quadribol e se ainda teria tempo.

Do lado de fora, Alvo acompanhava atentamente a vibração de ambos os times. Parecia-lhe que o jogo, de fato, estava muito emocionante, mesmo sem a participação de James. Queria reprovar a marotice que o irmão tinha feito, mas como poderia se, naquele exato momento, ele estava fazendo coisa pior? Seus pais teriam acessos com dois filhos com tamanha habilidade de se meter em confusão. Em sua defesa, repetia mentalmente que suas ações eram por um bom motivo. Passou o tempo tentando escutar o que as torcidas gritavam, curioso em saber qual era o placar. Ainda não tinha 1 hora de jogo, quando ouviu uma explosão de gritos que só podiam significar uma coisa: o pomo fora apanhado.

Imediatamente, correu para o interior do castelo. A intenção de Alvo era chegar até a escadaria e avisar a Peter, que correria até Rose e alertaria Jonathan. Contudo, foi impedido pela aparição de Firenze, o centauro que dava aulas de Astronomia. Ele lhe cumprimentou e passou a falar sobre posicionamento de estrelas, mapa astral e algum evento interessante, não dando ao garoto a oportunidade de interromper, sem ser muito grosseiro.

As pessoas começaram a entrar e Alvo passou a suar frio, agora não mais prestando atenção a nenhuma palavra que o centauro lhe dirigia. Peter escutou o movimento de pessoas no hall de entrada e apurou os ouvidos. De repente, a própria McGonagall surgiu na entrada e Alvo soltou em alto e bom som:

– Diretora McGonagall!!

– Pois não, Sr Potter? – perguntou, com uma expressão curiosa.

– Ah... Desculpe, Prof Firenze. Eu queria muito saber qual foi o placar, sabe diretora? É que o Jonathan perdeu a mochila com as tarefas e ficamos para ajudá-lo a refazer tudo.

– É muito bom observar a camaradagem entre amigos, Sr Potter, sacrificando algo de seu interesse. O jogo terminou 200 a 50, para a Grifinória – afirmou, disfarçando um sorriso.

– Que ótimo! – vibrou.

– Com licença, preciso despachar uma coruja – disse a diretora ao se retirar, sem dar espaço de manobra para o lufo retê-la.

Alertado pelo grito do amigo, Peter levantou-se rapidamente e correu para o 7º andar, da forma mais rápida que conhecia. Tinha que encontrar Rose e lhe alertar sobre a diretora, antes que fosse tarde demais e Jonathan se desse muito mal.

Dentro da sala, o grifinório se decidia a utilizar o feitiço convocatório. Enquanto dava uma rápida olhada na sala e colocava os óculos especiais, jogou no chão o pó escurecedor do Peru. Por uma fração de segundo, jurou ter visto um dos olhos do quadro do ex-diretor Dumbledore falsear em sua direção. Em meio ao breu, ficou imobilizado encarando Alvo, mas ele não voltou a dar sinais de que estava acordado. Saiu da apatia e voltou à ação.

Accio mapa da escola – convocou, em um sussurro.

Alguns pergaminhos voaram de prateleiras superiores e cantos esquecidos, despertando os quadros. Imediatamente, eles desconfiaram daquela escuridão e passaram a perguntar quem ousava entrar nos aposentos da diretoria, enquanto outros avisavam que iriam alertar os funcionários. Jonathan sabia que não teria muito tempo e passou a olhar, desesperadamente, cada material. Enfim, encontrou um pergaminho retangular muito empoeirado e gasto, como se não fosse tocado há um século. Viu seu nome escrito dentro da sala da diretora, além de Rose no corredor e mais alguns alunos da grifinória, que pareciam se dirigir, aos montes, para a sala comunal. Gelou: não havia tempo algum.

Protean! – se esqueceu e falou alto, aumentando a indignação dos quadros.

O feitiço de cópia funcionou como havia treinado exaustivamente, apesar de ter feito muito bem da primeira vez que tentou. Um talento impressionante, segundo Rose. Em poucos segundos, tinha um mapa como o da diretora. Tratou de colocar tudo no lugar de onde se lembrava, utilizando o wingardium leviosa para as prateleiras mais altas. A tensão o fez se atrapalhar com os mapas e não sabia mais qual era o original e qual a cópia. Fez uni-duni-tê e saiu da diretoria, lançando uma pedra de sol dos Maias que interrompia o pó do Peru.

Correu para a esquina onde estava Rose, mas parou bruscamente ao ouvir a voz da diretora. Rose e Peter faziam uma cena sobre o desaparecimento da mochila, quase gritando de falsa indignação, enquanto carregavam livros e pergaminhos tirados da bolsa da garota, segundos antes de Minerva aparecer. A diretora pedia que eles acalmassem os ânimos.

– O que estão fazendo aqui, afinal? – perguntou, desconfiada.

– Viemos terminar o trabalho do Jonathan. Agora que o jogo terminou, a sala comunal ficará lotada de gente comemorando. Achamos que poderíamos voltar para o nosso cantinho. Não podemos? – perguntou a garota, soando inocente.

– Ah, claro. Fiquem à vontade.

Jonathan pegou o caminho inverso, dando de cara com um beco sem saída. O desespero, então, tomou conta da sua mente. O mapa em sua mão era a prova da invasão. Precisava de um lugar para escondê-lo. Como sairia daquela situação? E se a capa falhasse? Precisava desesperadamente de um lugar para esconder aquilo. Olhou ao redor e se deparou com paredes nuas, somente uma armadura antiga ordenava o lugar. E se jogasse dentro dela? Tentou forçar alguma abertura, mas o ferro parecia fundido. Andou de um lado para o outro, ouvindo os passos firmes da diretora e as vozes nervosas dos dois amigos.

– Merlim, e agora? – sussurrou, passando as mãos pelos cabelos. – Preciso de um lugar para esconder o mapa e até a mim!

Os passos estavam cada vez mais próximos e as vozes de Peter e Rose claramente alteadas para alertar o grifinório. Seu coração batia loucamente, sentiu o suor escorrer pelo corpo e fechou os olhos, rezando para que um milagre acontecesse. De repente, sentiu que estava caindo e despertou, abismado. Uma porta havia surgido do nada na parede atrás de si, aberta pelo seu peso. Levantou-se e encarou, boquiaberto, uma sala vazia. Cheirava a coisa velha queimada, mas a julgar pela sua situação, não podia escolher nada melhor.

– Cavalo dado não se olha os dentes – disse e entrou na sala, fechando a porta atrás de si.

– Vocês sentem um cheiro de queimado? – questionou a diretora.

– Er... Um pouco – disse a garota, trocando um olhar nervoso com Peter.

Rapidamente, Minerva subiu para seu aposento a fim de verificar se um desastre havia ocorrido. Peter e Rose se mantiveram próximos à gárgula, tensos ao imaginar a diretora descobrindo tudo e expulsando a todos.

– A capa não protege ele? – perguntou Peter.

Rose mandou ele se calar no momento em que a diretora descia as escadas.

– Alguma coisa pegou fogo, diretora McGonagall? Devemos chamar alguém?

– Não, Srta Weasley. Alguém passou por vocês, enquanto estavam vindo para cá?

– Várias pessoas, porque tinha muita gente voltando para sala comunal da Grifinória – afirmou Peter. – Por que? – perguntou, curioso, enquanto Rose lhe dava um cutucão.

– Terão de arrumar um outro lugar para estudarem hoje – informou, enquanto usava sua varinha. – Esta ala está lacrada até segunda ordem. Vou acompanhá-los.

A diretora os acompanhou até o final do corredor, sem dizer nenhuma palavra. As crianças não tinham coragem de perguntar o que tinha visto em sua sala. Assim que a diretora sumiu do campo de visão e audição, Rose se desesperou.

– Ai meu Merlim, ele está perdido! Ela vai encontrar ele. Se ele tiver lá dentro, já era, Peter! Eu não devia ter inventado isso. Eu devia ter pensado melhor, feito um outro plano.

– Calma, Rose. Ele pode ter saído antes com a capa e não ter falado nada porque a diretora estava aqui. Jonathan? – chamou o amigo, mas não houve resposta.

– Ai meu Merlim! – exclamou Rose, agora com lágrimas escorrendo pela face. – A culpa é minha! A culpa é toda minha! E agora? Ele não vai me perdoar... E Elizabeth vai me matar!

– Minha irmã não mataria ninguém – informou o grifinório, surgindo da esquina.

– Jonathan! – Rose exclamou aliviada e correu para abraçá-lo. – Seu tratante! Como pôde passar pela gente com a capa e não falar nada? Já estava ficando desesperada!

– Mas eu não passei por vocês. Saí por... Cadê a porta? – olhou, espantado, para o nada.

– Do que você está falando? – perguntou Peter.

– Eu juro! Eu estava lá no corredor, perdido e então essa porta apareceu. Entrei na sala e atravessei, chegando na outra porta que abriu aqui. Mas como pode ter sumido?

– Magia, é claro! – respondeu a garota. – Mas que cheiro de queimado é esse?

– Ah... Sou eu. A sala tinha cheiro de queimado.

Rose avaliou a situação por um momento e sua mente ferveu em ideias.

– É melhor você se livrar da roupa – disse Peter. – A diretora sentiu cheiro de queimado também. Se vir você...

– É verdade! Vamos para nossa sala comunal, John. E onde está o Al, Peter?

– Eu ouvi alguém conversando com ele, perto da escadaria. Acho que era o Prof Firenze.

Alvo estava angustiado, sem saber se seus amigos estavam a salvo ou se tudo tinha dado errado. Assim que a diretora se retirou, achou que poderia fazer o mesmo, mas o centauro tocou em seu ombro e o encarou, profundamente.

– Ouviu alguma coisa do que eu disse, menino Potter?

Imediatamente, Alvo sentiu-se constrangido e suas bochechas se avermelharam.

– Me desculpe, professor. Estava com a cabeça em outro lugar. O jogo, meus amigos, sabe como é. Eu sinto muito. O senhor falava sobre estrelas?

– Sobre planetas e constelações, menino Potter. Um fenômeno muito interessante se aproxima, que há mais de mil anos não se ouviu falar. Algo que, para a minha raça, pode significar uma dádiva ou uma perdição.

– Um fenônemo?

– Sim. Um alinhamento incomum – disse, abaixando-se e aproximando-se do garoto. – Seria interessante observá-lo e saber utilizá-lo da melhor forma, não acha?

Por um momento, Alvo compreendeu que havia algo que deveria saber, mas se viu confuso.

– Eu não entendo. Por que está me contando isso, professor?

– Porque todo o tipo de magia, jovem Sr Potter, deixa rastros. Mesmo que vocês, bruxos, não estejam prontos para enxergá-los – disse e se retirou, deixando o lufo sem entender absolutamente nada.
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Sheu
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 24 a 30(att 10/03/2014)

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27

DESAFIO INTERCASAS


Assim que o Prof. Firenze saiu em direção ao jardim da escola, Alvo disparou pelos corredores. Estava ansioso para saber se o plano de Rose tinha dado certo. No caminho, cumprientou todos os grifinórios pela vitória. Continuou em direção ao 7º andar, até que uma mão o parou.

– Jonathan?! – exclamou, surpreso.

– Eu mesmo. Vivinho, ileso e inocente. Bom, talvez não tão inocente assim – sorriu, divertido.

– Por onde você andou, Al? Tudo podia ter dado errado, sabia? – informou Rose, chateada.

– A culpa não foi minha e eu ainda dei um jeito do Peter saber que a diretora estava voltando. Mas e aí? Como foi?

– O John conseguiu. Temos o mapa – disse Peter.

– Genial! – exclamou o lufo. – E agora?

Todos olharam para a garota, que se moveu um pouco, sem muita certeza de que estava no caminho certo.

– Bom, eu acho que devemos fazer um plano para vasculhar toda a escola. Se o símbolo estiver certo, devemos encontrar outro portal em algum lugar.

– Assim, só uma perguntinha, se não se importa, Rose. Eu nunca entendi direito uma coisa: por que procurar outro portal? Por que não usar esse mesmo que a gente sabe onde é? E quando encontrarmos o dono da voz, o que faremos? Porque ele deve ser um bruxo experiente e poderoso, não é?

Alvo e Peter escutaram atentamente o grifinório e voltaram a encarar a amiga, que se movimentou, incerta.

– Bom, Jonathan, nós vamos procurar pelo outro portal porque não sabemos se esse é o certo. E nós só vamos descobrir onde está o dono da voz, não duelar com ele. Aí avisamos para a tia Gina, que fala com o tio Harry, eles descobrem o que está errado com a escola e resolvem tudo – afirmou, mais decidida.

– E quando exatamente faremos isso? Caso não se lembre, os exames finais começam na segunda. Não sei se os bruxos inventaram uma máquina do tempo ou feitiço de alinhamento de planetas ou até um pó de pirlimpimpim para resolver esse pequeno detalhe – Peter falou para os amigos, com certa ironia.

– Pelas calças de Merlim! Os exames! – disse Rose, exasperada.

– Exatamente – continuou Peter. – Não temos como vasculhar...

– Eu não revisei todas as minhas anotações – ela interrompeu o garoto sem perceber. – Se eu não fizer isso, com certeza minhas notas serão péssimas! E ainda tem a prova prática em equipe que não faço a menor ideia de como será. Eu preciso ver isso... Agora! – disse e se retirou para a biblioteca, deixando os amigos sozinhos.

– Então... – começou John, com um sorrido enorme nos lábios.

– Sobre o alinhamento de planetas...

– Alvo, nem começa! – interrompeu Peter. – Logo agora que nos livramos da sua prima na tarde de sábado e certamente não a veremos no domingo, falar no exame de Astronomia é a última coisa que quero. John, me disseram que a festa vai ser longa na sala comunal da Grifinória e convidados são bem vindos.

– Quando saí de lá já estava bem animado, Peter!

– Então vamos, Alvo. Na segunda a gente se preocupa com os exames – disse, caminhando na frente em direção a Grifinória.

– Ele realmente acha que a Rose não vai lembrar da gente amanhã? – comentou Alvo.

– Deixe-o ser feliz, Al. Pelo menos, por hoje – sorriu John.

A comemoração na sala comunal da Grifinória durou além do horário permitido e Neville foi obrigado a estragar o momento. Embora ainda não tivesse o título nas mãos, agora era só uma questão de tempo até a Lufa-Lufa ganhar com um placar largo da Sonserina - o que parecia bem provável - e a Taça de Quadribol ficaria mais um ano com a Casa de Godric.

Pela manhã, Alvo, Peter e John chegaram atrasados para o café no Salão Principal e estranharam não encontrar uma Rose revoltada pelo sumiço deles. Barbra logo deu o recado da colega, informando que ela esteve por lá mais cedo e já estava na biblioteca, esperando por eles.

Os garotos deram um longo suspiro, comeram e pegaram suas mochilas para encontrar a amiga no que prometia ser um longo dia de estudos. Chegando lá, notaram que a maioria dos alunos parecia compartilhar da mesma ideia. Nunca a biblioteca esteve tão cheia e sequer encontraram um lugar para sentar ou a própria Rose. Quando estavam saindo, a garota finalmente apareceu de um dos corredores, fazendo sinal de que a seguissem.

O trio de garotos trocaram olhares curiosos e seguiram a garota até um corredor aparentemente vazio. Ela apertava contra o peito uma antiga revista, junto com alguns livros velhos. Tinha no olhar um brilho intenso que os amigos aprenderam a identificar de longe.

– O que você descobriu? – perguntou Alvo.

– Shh! Fale baixo! – alertou a garota, verificando as prateleiras ao lado.

– O que você descobriu? – sussurrou seu primo, novamente.

– Ontem à noite, enquanto vocês estavam na farra... – salientou a última palavra encarando os rapazes com uma das sombrancelhas erguidas –... Eu coloquei os abafadores e revisei todas as minhas anotações. Aí, eu peguei essa revista da Tina, só para me distrair. Veja que coisa! Eu já a tinha há séculos, mas fui dando prioridade para outras leituras e...

– Enfim...? – Peter foi direto ao ponto, o que desagradou um pouco à garota.

– Bem, eu acho que descobri. Acho que sei o que está acontecendo com a escola! Você estava certo, John. Talvez nem seja mesmo preciso procurar por outro portal. Tudo é tão claro, agora! Como me arrependo por não ter lido isso antes. Parece tolice, mas se você prestar atenção é bem óbvio, não?

– Rose, não estamos conseguindo entender do que está falando – disse John.

– Ah, claro! Eu vou explicar. Esta é a revista Duas Faces, da Madame Bisbiota. Fala basicamente da vida alheia, porque, segundo a Tina, a família Bisbiota tem revelado bisbilhoteiros de plantão, desde quando Hogwarts foi criada, há mais de 1020 anos. Esta edição é especial, onde ela reuniu uma série de boas histórias e foi até proibida de circular pelo Ministério!

– Rose, você está com uma revista ilegal nas mãos? – perguntou John.

– Não é excitante? Enfim, isso foi há anos. Tem uma história em particular, que me chamou a atenção. Uma matéria sobre os podres de um editor. Aqui eles citam uma perseguição do dono de uma editora a uma autora, só porque a bruxa não queria casar com ele: Beatrix Fairetaile. Não tem muito sobre ela aqui, mas...

– Espera! Eu já ouvi esse nome antes – disse Alvo e começou a remexer a sua mochila até achar seu estojo de figurinhas. – Aqui! Eu sabia! Ganhei essa figurinha nos jogos do James. Beatrix Fairetaile: descendente de Abelhyuda Debuois, uma das primeiras pesquisadoras dos fundadores da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Diz-se que os contos de Fairetaile são oriundos de antigas histórias contadas de geração para geração, mas nunca conseguiu publicar nenhuma porque eram muito ruins.

Rose pegou a figurinha e deu uma olhada na bruxa de feições finas e aparentemente muito frágeis, com seus cabelos castanhos escorridos, passando-a para os colegas em seguida.

– Bom, eu encontrei esse livro empoeirado esquecido atrás de uma série de livros aqui na biblioteca. Parece que alguém pegou as páginas em branco desse livro e copiou os contos de Fairetaile, talvez um descendente, quem sabe? Acho que a Madame Pince jamais se deu conta desse aqui. Eles não são muito bons, de fato, mas tem um incompleto que é tão... Nossa! Vocês vão entender. Escutem:

O argh dos testrálios.

– O quê? – perguntaram confusos os três garotos.

– É, eu sei. O título realmente é muito ruim.

– Os testrálios dizem argh? – perguntou Jonathan.

– Eu acho que eles não dizem nada – afirmou Potter.

– Ei, posso ler? – questionou Rose, retomando a atenção. – Obrigada. O argh dos testrálios.

Era uma vez, uma clareira de testrálios mágicos localizada no coração da floresta. Nela viviam quatro filhotes, em quatro cavernas, uma ao lado da outra. Viviam sempre juntos e tinham as idéias mais incríveis para arranjar confusão. Gulp Galetus era o mais velho e vivia brigando com Shilo Saltus, que se metia nas maiores enrascadas, enquanto Ruck Cascus e Helo Lingus sempre acalmavam os ânimos, mantendo o grupo unido.


– Você está falando sério? Testrálios mágicos? – Interrompeu Alvo, incrédulo.

– Eu sei, Al. Mas escuta até o fim, ok? – Rose insistiu e continuou lendo.

Certo dia, uma chuva torrencial caiu sobre a clareira, fazendo o rio transbordar, inundando cavernas e trazendo sofrimento para todos do bando. Mas como eram testrálios mágicos, logo todos reconstruíram a clareira, deixando-a ainda mais bonita e protegida por uma muralha de galhos encantada.

O bando ainda não tinha percebido que a chuva era especial, mandada pelo sopro mágico de Avalon, para cumprir uma velha profecia que traria quatro bênçãos e quatro desgraças, pois tudo no mundo mágico é equilíbrio.

O sofrimento inicial com a tragédia que se abateu na clareira logo foi abençoada pela muralha mágica, que protegeu o bando de inimigos poderosos. A praga da loucura que se abateu sobre um deles, causando a morte de inocentes testrálios foi esquecida após a bênção da multiplicação, com o nascimento de vários filhotes.

Houve um tempo em que a desunião entre os testrálios da clareira resultou em um grande duelo de cabeçadas, rachando a muralha de forma que nenhuma magia pôde recuperar. Mas, ainda assim, a esperança e a perseverança prevaleceram e eles foram abençoados com tempos de paz.

Foi então que, em uma noite elemental, quando a lua nova surgiu banhada por um azul espectral, surgiu, no centro da clareira, uma fonte de pedras luminosas e água cristalina. Os antigos logo a identificaram como a bênção da fonte de magia, uma antiga lenda testrália que traria felicidade e sorte por longos anos, à custa de um pequeno sacrifício. Então, a profecia das quatro bênçãos e quatro desgraças foi revelada pelo hurro desesperado de quatro fêmeas, de quatro cavernas, uma ao lado da outra: quatro filhotes haviam desaparecido.

Embora todos acreditassem que estavam mortos, os quatro filhotes apenas descobriram uma passagem que os levou para o caminho onde toda a Verdade foi revelada. Mas as provações até chegarem lá...


– O que tem as provações? Continua, Rose! – pediu John, com os olhos brilhando de ansiedade.

– Acaba aí.

– Como assim acaba? Que tipo de pessoa escreve algo pela metade? – perguntou o grifinório.

– Então... A fonte de magia é real? – questionou Alvo.

– Vocês não entenderam? Quatro filhotes – disse, apontando para si e para os outros. – A muralha mágica que protege a vila – fez um sinal que indicava Hogwarts. – A loucura que se abateu sobre um certo testrálio – ergueu as sombrancelhas e fez expressões para que os amigos se lembrassem de Voldemort, o que os deixou de boca aberta. – O caminho que revelou a verdade e a lua banhada pelo azul espectral! – finalizou, como se fosse óbvio.

– A noite elemental! – Peter sussurrou como se um estalo abrisse sua mente.

– Você sabe o que significa? – Alvo perguntou, ainda confuso.

– É um alinhamento incomum de planetas que acaba gerando um acúmulo de poeira cósmica perto da lua e parece que ela fica azul. Parece que o fenômeno acontece esse ano. Meu Deus! Acho que nesse mês! Eu li num livro de astronomia depois que você me deu aquele mapa de presente de natal, Alvo. Fiquei curioso sobre o assunto.

– A lenda conta que tudo pode acontecer em uma noite elemental – afirmou Rose, puxando um outro livro que estava em suas mãos e abrindo em uma página que falava sobre o assunto. – Para o bem ou para o mal.

– Dizem que foi na noite elemental que Avalon foi criada, que Merlim nasceu e até que Hogwarts foi construída! A lenda fala também da nova luz para o mundo da magia que surgirá do brilho da lua azul. É bem interessante mesmo! – disse o lufo, incentivando os amigos a lerem sobre o assunto.

– Espera! Espera! O Prof. Firenze falou isso comigo! Sobre um alinhamento incomum que os centauros estavam observando e que eu devia saber utilizar isso da melhor forma, porque a magia deixa rastros – afirmou Alvo.

– Os centauros sempre sabem de tudo. Eles poderiam até nos contar logo e poupar esse tempo todo que ficamos pesquisando. Temos que agir na noite que a lua ficar azul – disse convicta a garota.

– Espera! – interrompeu Peter, puxando o livro das mãos dos amigos. – Então vai ser... Na sexta-feira! – exclamou.

– E nós temos que traçar um plano para nos preparar para as provações. Levar todo o tipo de material para qualquer situação. Ainda bem que assisti à palestra do Sr Termopholis quando a diretora fez aquela apresentação – Rose sorriu. – Ele deu dicas muito importantes. Vamos fazer uma lista depois que revisarmos Herbologia.

– Rose! Como é que você pode pensar em estudar depois de uma revelação dessas? Eu estou tão agitado que não consigo nem me concentrar.

– Peter, isso vai ser na sexta. Até lá, precisamos garantir que passaremos para o 2º ano. Vamos! – ordenou a garota.

Rose arrastou os amigos até um espaço no chão, próximo a uma das janelas da biblioteca. Sequer percebeu quando um certo aluno saiu justamente do corredor ao lado de onde estavam, admirando, abismado, a sorte da garota em tropeçar em informações tão importantes. O corvinal havia se agachado, fingindo ler um livro, quando suspeitou dos cochichos e utilizou suas orelhas extensíveis para escutar melhor. Imediatamente, Tiago pôs-se a procurar pelos três sonserinos por todo o castelo. Só conseguiu encontrá-los na hora do jantar.

– Procurei vocês por toda a parte! – exclamou o corvinal. – Onde estavam?

– Estávamos estudando em um lugar... Reservado – informou a garota.

– Por que não me chamaram?

A garota rolou os olhos, enquanto os outros dois simplesmente ignoraram a reclamação do colega.

– É uma coisa Sonserina – Lizzie respondeu.

– Descobri coisas muito importantes sobre aquilo. Vamos lá fora.

Tiago saiu na frente para a área externa da escola e o trio de sonserinos o seguiu, ansioso. Quando se assegurou de que ninguém estava por perto para ouvir, o corvinal relatou aos amigos tudo o que tinha escutado, o mais fiel possível.

– A lenda da noite elemental! – exclamou Khai.

– Você sabia disso? – perguntou Malfoy, surpreso.

– Meu avô costumava contar essa história para mim. Diz a lenda que na noite elemental o primeiro sacrifício de sangue trouxa foi realizado, que Morgana derrotou Merlim, dizem que o primeiro basilisco foi chocado em uma noite assim e ainda contam que as trevas irão se espalhar pelo mundo em uma noite de lua azul – explicou o sonserino.

– Me parece uma coisa bem séria – ponderou Lizzie.

– E perigosa – completou Tiago.

– Mas vamos fazer mesmo assim – afirmou Deymon, categórico. – Sabemos onde fica o segundo portal e vamos fazer tudo primeiro do que eles. Se estiverem errados, nós iremos descobrir o que está acontecendo. Podemos ser até condecorados por salvar a escola.

– Ou mortos – cogitou Tiago.

– É um risco – disse Khai. – Você não precisa ir – completou, com um sorriso desafiador.

– Eu descobri. Claro que vou.

– Na verdade – interrompeu Malfoy. – A garota Weasley descobriu e você só ouviu porque é um enxerido.

Tiago ameaçou partir para cima do sonserino, porém foi impedido pela garota, que se interpôs entre eles.

– Temos coisas mais importantes a fazer do que brigar. Vamos planejar isso. Precisamos estar preparados para tudo – afirmou a sonserina. – Bom, acho que posso cuidar de boa parte do que vamos precisar. Malfoy, não se esqueça da capa e da pedra. Khai, você fica responsável por conseguir alguma comida e Tiago, precisamos saber quando os bruxos do Ministério trocam de ronda. Precisamos de alguma distração.

– Tenho alguns explosivins – informou Malfoy. – Acho que podemos fazer algum estrago.

– Ótimo e lembrem-se: temos que nos comportar como se somente as provas importassem – concluiu a garota e partiu para o interior do castelo.

A semana foi intensa para Hogwarts. Embora alguns acidentes sérios em Herbologia e Poções tivessem resultado em alguns alunos com reações alérgicas e queimaduras, tudo transcorreu dentro da normalidade para os últimos exames do ano. Para os primeiro anistas, contudo, tudo era um pouco mais tenso: havia notas a recuperar e famílias para honrar. Uma das últimas provas para os pequenos foi de DCAT e, para Alvo, se sair bem nesta prova era uma questão muito acima de mera aprovação. A prova teórica tinha ocorrido no primeiro horário da manhã e foi bem puxada, contudo, havia a segunda parte prática e ela estava deixando a todos muito preocupados.

Os alunos do primeiro ano entraram na sala de Gina com olhos receosos e curiosos, incertos do que poderiam encontrar. Os novatos acharam estranho todas as Casas estarem reunidas para a atividade prática e, assim que entraram na sala, notaram que estava completamente vazia, a não ser por Gina à frente da mesa, aguardando a todos com um sorriso travesso.

– Podem deixar todos os seus materiais naquele canto e saquem suas varinhas.

Assim que todos lhe obedeceram, ela prosseguiu:

– O Prof Potter havia preparado uma atividade interessante para vocês durante o ano, mas eu achei que seria melhor deixá-la para o final. O nosso exame prático será enfrentar um bicho papão!

As reações foram as mais diversas: olhares nervosos, pânico, desconfiança, medo, coragem e excitação. Muitas vezes essas emoções estavam presentes nas expressões das crianças ao mesmo tempo e Gina estava realmente gostando daquilo. Interrompeu o burburinho com um olhar dominador Weasley e continuou.

– Como muitos de vocês responderam corretamente no exame teórico... Sim Srta. Knighty, já corrigi as provas – completou antes que a menina sequer formulasse uma palavra. – O bicho papão irá se transformar naquilo em que o bruxo sente mais medo. Ele se alimenta disso e fica cada vez mais forte. Para vencê-lo é preciso muita alegria e risadas, por isso, utilizamos o feitiço riddikulus. Não há segredo, basta manter o pulso firme e pensar na coisa mais divertida do mundo que pode acontecer à forma que o bicho papão se transformar.

Dito isso, Gina desfez um feitiço desilusório que mantinha um armário de madeira gasta gigantesco no final da sala camuflado. Ela se colocou diante das portas e pronunciou algumas palavras. Uma fumaça negra saiu e começou a tomar forma de Harry, enquanto os alunos se expremiam de medo, ao mesmo tempo em que esticavam os pescoços para ver tudo. Antes que as crianças pudessem notar o seu medo, ela lançou o feitiço com maestria e Harry apareceu de calção de banho amarelo berrante com desenhos de fadas mordentes com tutu e uma tatuagem no peito que dizia: “eu amo minipuffs”. As crianças riram tanto que o falso Harry voltou correndo para o armário.

– Muito bem! Quem é o próximo? Formem uma fila, vamos!

Bruce Briniwick, da Corvinal, se aproximou e aguardou receoso até o bicho papão tomar a forma de um hipogrifo com olhos vermelhos e fumaça saindo pelo nariz. O garoto lançou o riddikulus e logo o animal ficou totalmente sem penas, chiando como uma gralha. Todos riram e o exame ficou muito mais interessante. Tiago Richards veio em seguida e enfrentou com maestria seu terror de abelhas africanas gigantes, transformando o próprio ferrão da abelha em uma flor que tentava comê-la. Beatriz Collins, da Lufa-Lufa saiu em prantos da sala depois que o bicho papão se transformou no seu bicho papão. Gina conseguiu trazê-la de volta para a sala depois de prometer enviar alguém até sua casa, em Liverpool, para eliminar esta praga.

A maioria dos alunos tinha medo de coisas simples como cobras, cachorros, baratas, tronquilhos, plantas carnívoras, diabretes e, claro, do Prof Pratevil, que fez a alegria de todos enquanto fugia desesperadamente de uma professora de astronomia apaixonada. Já outros realmente se superavam: Peter trouxe para a sala um verdadeiro furacão, que acabou sugado por um aspirador de pó gigante com cara de palhaço e Rose quase queimou os colegas que se atiraram para os lados quando o seu falso dragão cuspiu fogo para, no segundo seguinte, se transformar em um dragão fêmea dançarina de balé, com sapatilhas e tudo. Rose revirou os olhos e encarou o primo, incrédula, ao ver que o bicho papão de Alvo virou uma lula gigante, pois era reflexo das provocações de James, mas o lufo logo a transformou em lula de gelatina.

O ambiente ficou tenso quando Deymon enfrentou seu lobisomem, transformando-o em lobisomem-borboleta, mas Khai não conseguiu fazer o feitiço corretamente quando seu próprio pai apareceu na sala e foi consolado por uma Gina compreensiva. Quase todos os alunos já haviam se apresentado quando Jonathan se aproximou, nitidamente nervoso. Respirava com dificuldade e, antes que a professora liberasse o bicho papão a interrompeu:

– Eu não gostaria de participar disso, se me permite.

– O quê? – reagiu surpresa a maioria dos alunos e Gina encarou o jovem, ainda sem reação.

– Jonathan, ficou maluco? É a sua nota que está em jogo! – exaltou-se Lizzie, que estava atrás do irmão.

– Eu não quero fazer isso.

– Sr Dumbledore, não há perigo algum. Eu estarei aqui caso algo dê errado, não se preocupe. Vamos! – incentivou Gina.

– Eu não quero – disse e guardou sua varinha.

– Sr Dumbledore, isso irá prejudicar a sua nota final – informou Gina. – Não posso forçá-lo a usar a sua varinha, mas devo insistir. Sr Dumbledore, não há do quer ter medo.

– Jonathan! Isso não tem nenhum sentido. Vá lá agora e use essa varinha – ordenou sua irmã.

– Não. Não me importo com a nota, de verdade.

– Do que você tem medo? – perguntou a sonserina, olhando profundamente, mas John desviou o olhar. – Você está sendo patético. Foi para isso que me convenceu a ficar por último? Sai da frente – disse e empurrou o irmão, abrindo caminho.

Elizabeth ficou diante do guarda-roupa esperando o bicho papão sair. Estava furiosa com seu irmão, mas sabia que não havia motivo para aquilo. Foi então que sentiu o frio na barriga, a garganta se fechar e a atmosfera ficar gélida. Sentiu o medo escorrer pela nuca até a ponta dos pés e encarou a névoa negra diante de si: medo. Lizzie sabia qual era o seu medo e seria tão complicado expor daquela forma, na frente de todos. Recuou e entendeu o que seu irmão queria dizer. Será que ele sabia? Olhou ao redor e sentiu todos aqueles olhares. Então, tudo mudou. A forma que o bicho papão estava tomando se transformou e no meio da sala, para risinhos de um certo grupo de sonserinos, apareceu a Murta.

– Você tem medo da Murta Que Geme?

A pergunta de Jonathan saiu mais rápido do que sua vontade de tapar a boca. O comentário do irmão resultou em boas risadas na sala e a Murta-falsa recuou um pouco até entender que não riam dela. O fantasma avançou na garota que gritou e desviou, arrancando ainda mais risadas de sua plateia. Gina tentou fazer todos encararem a atividade com seriedade, pois aquilo fortalecia o bicho papão, mas Elizabeth não se saiu bem na execução dos feitiços. O fantasma fazia gracinhas, tecia comentários, todo mundo ria e Gina ficava por perto, incitando a garota a tentar mais uma vez. Estava reclamando realmente zangada com Amélia e seus amigos pela terceira vez quando ouviu a garota falar de forma cristalina e decidida:

– Riddikulus!

Gina se virou para encarar Lizzie e o feitiço passou a centímetros do seu braço. Foi tão intenso e atingiu o bicho papão com tamanha violência que ele se desfez em bolhas de sabão. A expressão da garota era de convicção, mas aos poucos Gina viu aquilo se desarmar e encontrou os olhos perdidos de uma aluna que não sabia o que fazer agora. Todos olhavam horrorizados para a cena e cabia à professora dar um rumo ao cochicho dos corredores.

– Impressionante srta Dumbledore! Poucos adultos conseguem produzir um feitiço tão forte para exterminar um bicho papão de uma vez só. Vamos aplaudir a colega pelo excelente feitiço.

Boa parte dos alunos aplaudiu com vontade, mas alguns estavam bastante irritados pelo sucesso repentino da garota. Gina ainda tentou convencer Jonathan, mas o garoto estava irredutível, portanto pôs fim à atividade.

Para os alunos do primeiro ano, apenas um exame faltava para que pudessem, enfim, descansar e curtir o último jogo de quadribol: o exame prático interdisciplinar. Assim como Gina, Carmelita também conseguiu aprovação para que todos os alunos fizessem a prova no mesmo momento. Assim que conferiu a lista e notou que todos estavam presentes, a Prof Trelawney começou a explicar como seria o exame, ao lado de Madame Hooch e Prof Pratevil.

– Sejam bem vindos ao desafio intercasas! – exclamou Carmelita, com um olhar radiante.

– Hoje vocês serão testados em transfiguração, feitiços e voo ao mesmo tempo. Queremos saber se vocês aprenderam o suficiente para se defender em grupo – informou Prof Pratevil, com uma expressão desafiadora.

– Não se preocupem porque nós só iremos cobrar o que ensinamos. É claro que adaptações e improvisações são sempre bem vindas – salientou Carmelita, com um sorriso. – Portanto, gostaríamos que se dividissem em equipes de quatro pessoas.

Os estudantes logo encararam seus amigos. Parecia algo muito excitante e diferente. Contudo, a alegria foi cortada pelas palavras proferidas com certo prazer pelo Prof Pratevil:

– Um aluno de cada Casa.

Imediatamente, um silêncio de choque extremamente constrangedor se espalhou. Parecia que uma névoa gélida avançava pelo corredor, imobilizando a todos e trancafiando no fundo da garganta o grito de horror. Alguns alunos encaravam incrédulos os professores, enquanto outros olhavam com desconfiança, principalmente para os sonserinos.

– Vamos, não sejam tímidos – incentivou Carmelita.

Alguns alunos começaram um burburinho buscando as pessoas mais próximas; outros procuravam aqueles de maior talento. Todos, entretanto, evitavam escolher sonserinos sem o consentimento dos colegas.

– Isso é patético – disse Malfoy. – Querem nos humilhar ainda mais?

– Patético – concordou Khai.

– Bom, não sei quanto a vocês, mas eu prefiro escolher a ser escolhida. Com licença.

Elizabeth passou por um grupo que tentava convencer Tiago a participar e agarrou o garoto pela mão, puxando-o. Ela deu um sorriso debochado para as garotas irritadas, enquanto ele se desculpava com um adeus simpático. Lizzie encontrou John logo adiante, discutindo com Potter.

– Jonathan!

– Lizzie! Você vai fazer isso comigo, né?

– Por que acha que estou aqui? – perguntou, deslizando as mãos no cabelo. – Tiago já está no grupo, então precisamos de um lufo – disse, encarando Alvo.

O lufo sorriu e já ia confirmar animado, quando sentiu uma cutucada nas costas. Encarou uma Rose com expressão de poucos amigos.

– Ele vai comigo – informou imperativa, passando o braço no ombro do primo.

Alvo suspirou e deixou para lá. Não iria discutir com a prima, pois tinha um pressentimento de que ela faria uma cena falando sobre união da família e tudo mais.

– Uma pena, realmente – disse, John. – Peter, o que me diz?

O garoto olhou receoso para Lizzie e sua varinha.

– Fala sério! Com medo de mim? – debochou a garota.

– N-não, claro que não. Tudo bem, eu faço com vocês – respondeu o lufo.

– Ótimo, então. Vou entregar os nossos nomes para a Prof Carmelita – informou Tiago, retirando-se em seguida.

Jonathan, Peter e Lizzie começaram a confabular sobre o que aconteceria e quem era melhor em que área. Rose e Alvo tinham uma outra discussão com Alicia, da corvinal, a quem tinham acabado de convidar.

– Então, quem vamos chamar da Sonserina? – perguntou a corvinal.

– Alguém inteligente, é claro. O mínimo que seja – respondeu Rose soltando alguns risinhos, junto com a amiga. – Certamente será uma garota. A Madeline é bem esperta para uma sonserina, o que acha?

– Ah, não! Ela acabou de entrar no grupo do Bruce, olha! – apontou a outra.

Enquanto as meninas escolhiam que sonserina convidar, Alvo observava como os outros estavam se saindo. Em geral, os sonserinos eram os últimos a serem escolhidos, com certa relutância. Potter notou alguém que recusava participar de um grupo de meninas e a ideia simplesmente lhe acometeu. Trocou um olhar rapidamente com Rose, que o encarou curiosa. Quando Alvo saiu em direção ao outro lado da sala, a garota ficou horrorizada.

– Alvo! Volta aqui! – ordenou, mas o primo não lhe deu ouvidos.

Malfoy olhava com indiferença os grupinhos se formando. Era patético ver a Sonserina deixada por último, se humilhando para ser escolhida. Já Khai estava bastante inseguro. Sabia que Deymon receberia vários convites, afinal, era um aluno inteligente. Ele próprio, ao contrário, era um estudante bastante comum. Iria ter que se contentar com o resto, como sempre em sua vida. Macbeer olhou espantado a aproximação de Alvo, enquanto o colega mantinha uma expressão fria.

– Olá! – saudou a ambos, educado. – Gostaria de fazer parte de nossa equipe, Malfoy?

Foi como receber um soco na boca do estômago. Deymon estava paralisado tamanha a surpresa de um convite tão... Inadequado. Contudo, tinha que admitir que o lufo sabia ser ousado. Recompôs-se, pigarreou e encarou o garoto.

– Você perdeu os miolos, Potter? É claro que não.

Alvo fez cara de pouco caso, ergueu os ombros como se não se importasse e disse:

– Ela tinha razão. Você não ousaria.

O garoto fez menção de dar meia volta, mas foi seguro pelo braço.

– O que você disse?

– Rose tinha razão e o James também. Uma pena que você seja covarde. De nada vale ser esperto se você tem medo de coisas idiotas como nomes. Se misturar com uma Weasley e um Potter é demais para você. Entendo. Normal que queira recuar. Bom, boa sorte no exame.

Alvo deu meia volta e saiu sem olhar para trás. Deymon tremia com uma vontade surreal de azarar terminantemente aquele lufo desbocado. Como ousava? O sonserino sentiu seu sangue ferver: não seria jamais chamado de covarde por ninguém. Estava ali para retomar a honra de sua família e não seria um Potter ou uma Granger Weasley que lhe impediriam de se mostrar superior, afinal, era um Malfoy: nascido e criado para suportar tudo, com a frieza de um dementador.

– Você estava certa, Rose, mas tive que tentar – afirmou Alvo, mas a prima olhava para outro ponto, em choque.

– Eu aceito – disse Malfoy, aproximando-se, com a expressão neutra.

– Ótimo! – exclamou Alvo. – O que acha, Alicia?

– Ah... Eu... Claro, Alvo.

– Maravilha! – disse o lufo e encarou a prima, que tinha a expressão de um vulcão prestes a explodir. – Somos um grupo democrático, Rose. A maioria vence. Poderia nos inscrever, por favor?

A garota bufou de raiva, falou algumas palavras indecifráveis e saiu em direção à Prof Trelawney que recebeu extasiada a relação do grupo.

– Bem vindo ao grupo, Malfoy – cumprimentou o garoto e estendeu a sua mão.

Por um instante Deymon quis berrar na cara do Potter e perguntar que diabos ele achava que estava fazendo, mas retomou o equilíbrio em questão de segundos.

– Trata-se de um exame obrigatório, Potter – ressaltou e ignorou a mão estendida do outro.

– Como queira – respondeu o lufo e tratou de tecer comentários sobre as possíveis provas com a corvinal.

Por dentro, Alvo estava muito elétrico. Não sabia ao certo o porquê de ter convidado o sonserino, mas lhe parecia a coisa certa a fazer. Os adultos não diziam que nunca poderiam julgar alguém por um passado que não lhes pertencia? Apesar de saber que seu pai e seus tios não gostavam dos Malfoys, sempre ouviu Harry dizer que no fundo tinha pena deles. Então, estava fazendo uma coisa boa, sem falar que Deymon era realmente inteligente e poderia ajudar o grupo a tirar uma nota elevada, mesmo que Rose já fizesse parte dele.

Em um tempo maior do que os professores imaginavam, todos acabaram por encontrar um grupo. Algumas equipes tiveram colegas da mesma Casa pela falta de igualdade de alunos. Como Tiago havia entregado a formação primeiro, o seu grupo teria a honra de abrir os trabalhos.

Carmelita passou breves orientações e encaminhou as crianças até o local. A ansiedade tomou conta de todos quando o grupo passou pela enorme porta de madeira com o brasão de Hogwarts entalhado. Após o trinco da porta bater, veio o silêncio. Certamente os professores haviam encantado a sala para que ninguém soubesse o que se passava.

A expectativa e adrenalina correndo soltas pelas veias faziam as crianças olharem curiosas ao redor, até que uma enorme cabeça de dragão surgiu atravessando a parede de pedras, assustando a todos, que sacaram suas varinhas. O velho dragão cinzento pareceu sorrir desafiador para as crianças e falou com sua voz grave, porém gentil:
“Ora, ora, crianças assustadas!
Sejam bem vindas ao Desafio Intercasas.
Três tarefas lhes serão solicitadas
E em pelo menos duas delas vocês deverão criar asas.
Transfiguração, voo e feitiços serão testados
Portanto, tudo o que aprenderam e um pouco mais podem ser usados.
Lembrem-se que em equipe devem trabalhar
Para da recompensa final desfrutar.
Todos começam e todos chegam ao fim,
Ou então serão devorados por mim.”
Com uma risada enigmática e um rodopio, a cabeça do dragão desapareceu para revelar uma passagem logo adiante. Os quatro trocaram olhares um pouco nervosos, mas iniciaram a caminhada por um estreito corredor. Ninguém queria dizer, mas a última frase ficou martelando na cabeça. O que significaria ser comido pelo dragão? Certamente ninguém se machucaria, afinal, estavam na escola; mas todos tinham séria suspeita de que aquilo foi ideia do Prof. Pratevil, o que gerava um certo desconforto e insegurança com a situação.

Quando chegaram ao final do corretor encontraram uma enorme balança de latão, com pequenos blocos de pedra maciça em uma das bandejas, mas equilibrado por magia. Espelhados pelo ambiente estavam alguns caixotes e, logo acima da balança havia uma abertura iluminada que levava para o segundo andar.

– Esplêndido! – exclamou o corvinal. – Isso realmente faz a gente pensar, não é? Gostei, embora seja um tanto óbvio.

– Eu sei que a gente tem que chegar lá em cima, mas como vamos subir na balança? Se não notou, ela tem mais de 3 metros de altura – informou Peter.

– Por isso os caixotes na sala, garoto. Temos que empilhar e subir por eles – respondeu impaciente a sonserina. – Aposto o que vocês quiserem que não poderemos empurrar ou carregar sem magia.

– Legal! E depois derrubamos os blocos de pedra também com o wingadium leviosa pra fazer a balança levar a gente pra cima, né? – falou Jonathan.

– Duvido muito – respondeu o corvinal. – Acho que teremos que usar outro feitiço. Os professores querem que a gente use tudo o que aprendemos, lembram? Vamos começar.

Rapidamente o grupo se dividiu para organizar os caixotes que estavam encantados para só se moverem com magia. Todos utilizaram o feitiço citado por John para montar, ainda que um pouco torto, um esboço de escada. Logo estavam de pé na outra prateleira da balança, com os rostos brilhando de excitação.

– E agora? – perguntou Peter.

Wingardium leviosa! – tentou John, mas as pedras não se moveram. – Não custa nada tentar.

― E se tentássemos transfigurar? – sugeriu Tiago.

― A essa distância? – perguntou Lizzie.

― Por que não? Precisamos acertar uma pedra, não é? Se errarmos uma acertamos na outra – respondeu com mais confiança o corvinal.

― Então precisamos configurar em algo leve – deduziu Peter.

― Uma pena! – exclamou John, animado. ― Pluma pondus!

O grifinório lançou o feitiço com perfeição, transfigurando uma pedra na lateral e a balança se moveu um pouco para cima. Os colegas logo o parabenizaram pelo feito e trataram de repetir, conforme orientação do amigo. Tiago tirou de letra, mas Lizzie teve dificuldade em executar o feitiço corretamente, transfigurando, muitas vezes, o bloco em abóbora. Jonathan lançava o feitiço depulso cada vez que isso acontecia, jogando a hortaliça em direção à parede, onde se espatifava. O problema de Peter era só a mira: acertou uma pedra solta na parede adiante e a transfigurou, fazendo todos rirem muito. Enfim, a balança se moveu o suficiente até que todos saltaram para o andar seguinte.

Animados com a resolução do primeiro desafio proposto pelos professores, o grupo seguiu adiante por um curto e baixo corredor de pedras, iluminados por tochas de fogo azul. Logo adiante, havia uma porta lateral de madeira gasta e frágil. Respiraram fundo e prosseguiram. A sala seguinte causou imediatamente uma sensação de familiaridade a todos:

― Batalha naval!

Os quatro trocaram olhares divertidos. A parede de pedra em frente era totalmente revestida por entalhos mágicos que formavam uma série de fileiras numeradas e guiadas por letras. Como eram descendentes de trouxas, sabiam o que deveriam fazer, mas havia uma pequena placa explicativa para aqueles que não compreendessem.

Do lado direito estava uma porta com uma textura que lembrava um espelho mole. Curioso, John foi até ele e o tocou, sendo sugado imediatamente para o outro lado. Com o susto, os amigos foram ver o que havia acontecido, mas assim que Tiago passou, Lizzie deu de cara com um espelho duro e caiu no chão.

― Você está bem? – perguntou Peter, ajudando a colega a se levantar.

― Estou. Só doeu um pouco. Que bosta de dragão foi essa? – explanou a garota.

Peter foi até a placa indicativa e a leu.

― Hum... Aqui diz que essa sala tem isolamento acústico. Agora eles têm que arranjar um jeito de dizer pra gente onde acertar. Só dois podem passar por aquela porta. O jeito é esperar.

― Ótimo! – reclamou a sonserina.

Jonathan e Tiago caíram direto no chão. Levantaram-se e limparam as vestes, enquanto olhavam ao redor. A parede não era muito larga e havia uma mesa com vários pergaminhos escritos, outros em branco, tinta e pena para escrever. Tentaram gritar pelos outros, mas ninguém respondeu. Na parede, gravado nas pedras, estavam imagens de diversos tipos de barcos mágicos, com pessoas a bordo, que começaram a se mexer assim que Tiago tocou no primeiro pergaminho. Era algo fascinante para se olhar, mas eles não poderiam perder tempo. Logo deduziram o que fazer.

O corvinal era realmente muito bom em fazer bilhetes mágicos que passavam pela porta espelho, mas Jonathan tinha um dom especial. Logo os dois cadenciaram o trabalho e, rapidamente, viram os barcos afundando à medida que os outros dois acertavam. As pequenas pessoas de pedra nadavam em direção aos barcos ou margens mais próximas, reclamando deles. Era divertido, isso eles tinham que admitir. Apenas uma vez o bilhete de Tiago não ficou muito bom e tiveram que recorrer a um novo. Peter e Elizabeth não cometeram erros, pois se aproximavam o máximo possível da parede e usavam o diffindo para rachar a pedra.

Ainda mais excitados pelo trabalho bem feito, o grupo se reuniu diante da última porta de madeira escura, quase preta e prosseguiu para o último desafio. Um salão enorme e com teto muito alto se mostrou diante deles. Seria impossível uma coisa daquele tamanho existir dentro da escola, se não fosse por magia, é claro. Do lado esquerdo, quatro vassouras estavam encostadas esperando por seus habilidosos condutores e algumas sacolas. Do lado direito, Peter começou a ler as instruções antes que alguém se precipitasse:

― Aqui diz que devemos percorrer o caminho de obstáculos indicado por setas, acertar com um feitiço os quatro alvos marcados com os brasões das Casas e recolher o bastão de cada um.

― Então você vai à frente, Peter. Acho que pode guiar melhor o caminho. Tiago, você vai logo atrás e acerta os alvos. Você e eu tentamos pegar o tal bastão, enquanto o John aqui tenta não cair da vassoura e vai à minha frente – definiu a garota, com propriedade.

― Ok – aceitou o grifinório, ciente de sua falta de habilidade com vassouras.

Assim que Peter tocou na primeira vassoura, o chão começou a se abrir, obrigando a todos a levantar voo imediatamente. Lá embaixo, eles podiam ver um lago de lava artificial que não queimava ou esquentava, onde o dragão cinzento do começo do desafio parecia nadar calmamente, só olhando de esguelha para eles, esperando o momento certo de abocanhar o primeiro que passasse. Algo aterrorizante, mas uma magia realmente incrível; tinham que admitir, mais uma vez.

Setas mágicas começaram a aparecer do lado esquerdo e Peter passou a seguir as indicações, seguido em fila indiana pelos colegas. O lufo realmente sabia guiar a vassoura com precisão. O primeiro alvo se apresentou e o próprio Tiago acertou e recolheu o bastão, guardando-o na bolsa a tiracolo. O grupo fez uma curva fechada e andou em zigue-zague, conforme a indicação das setas. Madame Hooch realmente estava testanto a habilidade de todos. Jonathan escorregou levemente da vassoura, mas foi amparado por sua irmã atenta. O segundo alvo não criou dificuldades, assim como o terceiro: ambos tiveram os bastões recolhidos pelo corvinal. No último, contudo, o bastão escorregou da mão do garoto. Jonathan, na tentativa de ajudar o grupo, tocou no objeto tirando-o do alcance de Lizze e se desequilibrou.

― Segurem ele! – gritou a sonserina para os outros, enquanto se jogava atrás do bastão.

O vento no rosto, um braço guiando a vassoura e o outro esticado, além da velocidade davam a mesma sensação de andar a cavalo. Não demorou para que a garota alcançasse e recuperasse o objeto, dando um looping para voltar aos colegas, que emparelharam a vassoura com Jonathan para impedi-lo de cair.

― Você é boa! – admirou Peter.

― Nunca vi você voar assim nos exercícios – ressaltou Jonathan.

― Ora, deixem de falar e vamos logo terminar isso. Peter, leve a gente para a saída – comandou a garota.

Após algumas manobras menos complicadas, Peter avistou um andar adiante e guiou a todos. Assim que pisaram no chão de pedra, o rio de lava desapareceu e, atrás deles, a mesma porta por onde tudo começou, apareceu. De repente, um barulho veio de cima e parecia que o teto iria desabar: caíram caixinhas de feijõezinhos de todos os sabores, sapos de chocolate, balas de alcaçuz, bombons explosivos, blacial flocos de neve e tantos outros. As crianças não sabiam por onde começar. Guardaram tudo na bolsa e saíram pela porta, divertidos, conversando animadamente entre si. Madame Hooch os recebeu, fez sinal para que não falassem nada e os encaminhou para o corredor externo, liberando-os das atividades do dia.

Os outros alunos mal puderam ver o grupo que saiu. Prof Pratevil transfigurou um véu que camuflava o corredor, tornando Madame Hooch e os alunos invisíveis. Logo o segundo grupo entrou e depois mais outro. Rose já estava tendo uma síncope quando Carmelita chamou a sua inesperada equipe. Sob olhares surpresos e desconfiados dos outros alunos, o grupo atravessou a grande porta de madeira. Assim que o dragão surgiu, Rose gritou, sacou a varinha e correu para trás, encostando-se à parede.

― O que foi isso? – questionou Malfoy, mas logo em seguida se lembrou da prova da Profª Potter. ― Ah! Você tem medinho de dragão. Mesmo os falsos como esse?

― É claro que não, Malfoy. Só achei... Enfim, foi um lapso – disse a garota, recompondo-se.

Após ouvirem atentamente a mensagem do falso dragão, com Rose pouco confortável embora jamais fosse admitir, os quatro seguiram pelo corredor. A balança de latão estava equilibrada magicamente, tal qual o primeiro grupo a viu.

― Bom, acho que é meio óbvio o que temos que fazer, não é? Alvo, você e Alicia cuidam dos caixotes pequenos e eu... Quero dizer, nós cuidamos dos caixotes maiores e Alicia e Malfoy ficam com o resto – corrigiu, constrangida, quando notou que faria a atividade com o sonserino.

― Com licença, mas quem a delegou líder desta equipe? – questionou Malfoy, com o nariz empinado. ― Precisamos construir uma escada e farei o que eu bem entender com os caixotes que encontrar no caminho. Não é uma grifinória que acha que sabe mais do que os outros que vai mandar em mim.

― Eu estou fazendo o melhor para equipe. Precisamos dividir quem faz o quê para andar mais rápido e terminarmos logo ou por acaso você não notou que o tempo conta ponto? – rebateu Rose.

― Pois eu discordo. Acho que devemos trabalhar com as peças que estiverem mais próximas, começando pelos caixotes maiores. Assim todo mundo trabalha para todo mundo – informou o sonserino.

― Acontece que eu falei primeiro e vamos fazer do meu jeito porque é mais eficiente.

― Acontece que isso pouco me importa e eu acho a sua ideia ineficiente – contestou o loiro.

― Pois então... – começou a garota, com o dedo em riste, mas foi interrompida.

― Ei! Já deu né? Estamos aqui também – informou Alvo, atraindo as atenções para si. ― Caso os dois não tenham notado, estamos perdendo tempo com essa discussão inútil! Precisamos fazer uma escada e o quanto antes começarmos, melhor. Vamos juntar as peças que estão mais afastadas e coloca-las próximas à balança para montamos a escada depois. Cada um procura o que tiver do seu lado e depois nós armamos os maiores – apontou para si e para a prima –, enquanto vocês encaixam os menores para adiantar. Todos satisfeitos? Não? Ótimo! – disse e tratou de usar o feitiço de levitação no caixote mais distante.

Havia um comichão inquietante dentro do lufo. Parecia que seu corpo estava sendo atacado por um enxame de besouros-pinça de dentro para fora. De onde tinha surgido tudo aquilo? Olhou de esguelha para a sua prima que levitava com perfeição um caixote com a cara mais amarrada do que um buldoque atingido pela azaração ferreteante. Malfoy estava com uma expressão de que nada o atingia e a corvinal era a única que sorria para ele, o que o fez derrubar seu caixote, sendo repreendido pela prima.

Rapidamente eles montaram os degraus e subiram na balança. Em seguida, decidiram transfigurar a pedra em algo leve, mas de acordo com o feitiço que cada um melhor dominava: Alvo transformou a pedra em abóbora e depois a jogava da balança, Rose transfigurou em pena, Alicia em isopor e Malfoy testou explodir com bombarda. Vendo que era mais rápido, os outros logo imitaram o feitiço do colega. Todos, exceto Rose, que fez questão de se manter dentro do programa de ensino dos professores e não arriscar com feitiços que poderiam ser considerados inadequados.

Os quatro saltaram para o patamar seguinte e caminharam pelo corredor de tochas azuis até encontrar o próximo desafio. Embora Rose e Alvo tivessem contato com alguns brinquedos trouxas, não conseguiram lembrar-se onde já tinham visto aquilo. A corvinal se aproximou da placa de explicação e a leu:

― De acordo com isso aqui, essa parede possui um isolamento mágico. Dois de nós devem ir ao outro lado e mandar bilhetes voadores com as indicações que já estão preenchidas de onde estão os barcos. Essa tarefa possui tempo e pontos serão debitados em caso de erro ou se precisar fazer um bilhete voador extra – informou a corvinal.

― O que nos diz agora, ó poderoso líder? – ironizou Rose para o primo.

― Eu nunca disse que era líder, só estava querendo fazer vocês pararem de discutir por idiotice. Eu não sou bom em fazer bilhetes voadores, então acho que o meu lugar é bem aqui. E vocês? – perguntou, deixando a prima desconsertada.

― Sou o melhor da minha Casa – informou Malfoy, com um meio sorriso. ― Vou para o outro lado – disse e seguiu pela estranha porta, sem deixar que os outros opinassem.

― Para mim tanto faz – disse a corvinal. ― Você quer fazer os bilhetes, Rose?

― Eu, do outro lado com aquele lá? Nem pensar! Pode ir. Vou aproveitar e ter uma conversinha com um certo lufo que anda demais para o meu gosto.

Alvo revirou os olhos, enquanto a outra garota passava pela porta. Nos minutos seguintes Rose falou, falou e falou. Os bilhetes voadores iam chegando, eles iam cortanto a pedra com diffindo seguindo as orientações, mas a grifinória não parava de falar. Reclamou do fato de Alvo ter chamado um Malfoy e salientou que quando contasse para a tia ela ficaria horrorizada; não gostou do tom dele quando forçou a entrada de Malfoy no grupo chamando de democracia; detestou o fato de o primo não a ter apoiado no desafio anterior, pois eles são família e devem se manter unidos, principalmente contra um Malfoy que fez tanta maldade e provocações com os pais de ambos e ele sabia muito bem disso e aproveitou para falar mais um montão de coisas. Parecia um berrador ambulante. Em determinado momento, Alvo discretamente lançou o feitiço abaffiato em si mesmo para não ouvir mais nada. A prima ficou furiosa quando notou e decidiu não dirigir mais a palavra a ele.

Seguiram para o terceiro desafio com um clima distante entre os primos, facilmente notado pelos outros dois, que sabiamente decidiram ignorar. Após ler a inscrição, ficou decido entre eles que Malfoy iria à frente, seguido por Alicia, Rose e Alvo. Rose rapidamente informou que não levava jeito algum para voar em vassoura, fato que levou o primo a escoltá-la a maior parte do voo, principalmente porque a garota estava completamente tensa com o dragão que parecia segui-la com o olhar, só esperando o momento certo.

Deymon e Alicia trabalharam em equipe para não deixar nenhum bastão cair, mas no penúltimo Rose perdeu o controle de sua vassoura e atingiu a colega à frente, a obrigando a soltar o bastão recém-apanhado para se equilibrar na vassoura e não cair. Instintivamente, Alvo se lançou ao mar de lava falsa a fim de alcançar o bastão antes que ele fosse devorado pelo dragão. Contudo, assim que projetou sua vassoura para baixo e deu o impulso, ouviu um grito agudo que desviou totalmente sua concentração: Rose estava caindo.

― Pegue o bastão! – gritou a corvinal. ― A gente pega ela!

Alvo viu que Malfoy já tinha se lançado atrás de sua prima, enquanto Alicia recuperava a vassoura da colega, portanto, tratou de pegar o bastão o quanto antes. Rose gritou ainda mais alto quando se deparou com o enorme dragão saindo da lava e vindo com seus dentes afiados diretamente para ela. Uma lembrança horrenda de sua infância na Romênia veio à mente e ela realmente se desesperou. No momento, pouco importava se era uma tarefa da escola e não se machucaria nem um pouco: sua mente já tinha compreendido que seria seu fim. Sentiu uma mão agarrar seu antebraço e olhou para cima.

― Peguei! – gritou Malfoy para Alicia.

Os dentes afiados do falso dragão passaram a centímetros das pernas da grifinória, que as recolheu. Por um instante, Rose tentou visualizar o que tinha acabado de acontecer e a sequência foi clareando em sua mente, enquanto o garoto a mandava sentar atrás dele na vassoura. Ainda em estado torpe, Rose se lembrou de sua vassoura dar uma guinada estranha e atingir a colega na frente. Procurou se segurar no primo ao lado, mas ele não estava lá e então caiu para a morte. A garota balançou a cabeça como se saísse de um transe:

“Malfoy me salvou?” – pensou, sem acreditar. “Mas... Mas ele é um Malfoy”.

Foi então que notou suas mãos agarradas no sonserino de tal forma como se sua vida dependesse disso. As soltou imediatamente, quase derrubando os dois.

― Ficou maluca? – exclamou o sonserino, zangado. ― Não basta a estupidez de não conseguir se manter em uma vassoura, ainda quer me derrubar? Knighty, traz logo essa vassoura que não quero essa garota atrás de mim não.

Mas Alvo se aproximou primeiro:

― Calma, Malfoy.

― Toma que a mala é sua – disse o sonserino, emparelhando as duas vassouras para que ela fosse para junto do lufo.

Rose passou sem pestanejar, com a ajuda dos dois garotos. Abraçou o primo e se recusou a andar sozinha na vassoura que a corvinal recuperou. Alvo tentou acalmá-la com palavras de apoio e tranquilidade, mas sentia a prima soluçar em suas costas.

O grupo seguiu adiante e completou a prova, obtendo sua doce recompensa. Todos, exceto Rose, saíram animados com a conclusão do desafio, apesar de Malfoy se conter descaradamente e manter a sua expressão neutra. Caminharam juntos para a saída do pátio e Alvo fazia sinal, com o olhar, para a prima agradecer ao sonserino. Contudo, a garota se recusou e desviou o olhar para a parede. Alicia notou e ficou constrangida pela situação. Sem saída, o lufo achou que deveria dizer algo em nome da prima:

― Malfoy – chamou e o garoto o encarou. ― Obrigado por pegar a Rose. Eu deveria estar do lado dela, mas...

― Exato! – explodiu a grifinória, de repente. ― Você deveria estar ao meu lado, mas estava onde? Mergulhou sem pensar duas vezes para recuperar uma droga de um bastão e me deixou sozinha. Sozinha! Você sabe que eu não gosto de voar e que tenho me... e tinha aquela coisa lá embaixo!

― Nossa! – exclamou Malfoy. ― Isso tudo é para não me agradecer? Você é realmente muito cabeça dura, Weasley – afirmou e adiantou o passo, entrando no castelo.

Alicia e Alvo encararam com surpresa a colega, que tinha as orelhas e bochechas avermelhadas. A corvinal se despediu e agradeceu pelo convite para o exercício com um sorriso especial para o lufo e cumprimentou com um gesto de cabeça a grifinória. Deixados a sós, Potter ficou um bom tempo em silêncio analisando a reação da prima.

― Você foi mais infantil do que o Hugo, sabia? – disse, categórico.

A garota bufou e cruzou os braços. Queria rebater o primo, mas sabia que não teria argumentos suficientes.

― Ele pegou você. Custava agradecer?

― Custava. Custa muito, porque o pai dele tem uma dívida...

― Ah, Rose! – exclamou o garoto. ― Sinceramente...

Alvo deixou a prima, consternado, e entrou no castelo. Sozinha, as lágrimas começaram a escorrer da face da garota. Sabia que tinha sido uma completa idiota, infantil e burra, coisa que ela não costumava fazer. Ficou desarmada depois da atitude do garoto; depois de tudo o que seu pai lhe falou sobre os Malfoys. Não sabia como reagir a tudo aquilo. Afinal, a culpa toda era de Alvo por tê-lo chamado e por não estar ao seu lado quando precisou. Agora tinha que engolir aquela situação. Não conseguiria agradecer ao garoto. Seu pai não lhe perdoaria se soubesse de algo assim e sua mãe iria lhe repreender por não ser justa com as pessoas. A garota chegou à conclusão que ser uma Granger Weasley era mais complicado do que supunha.

Sexta-feira finalmente chegou, para a alegria dos fanáticos pelo quadribol. Seria o confronto que definiria o vencedor da Taça de Quadribol. Se a Sonserina não marcasse mais do que 50 pontos, a Grifinória levantaria o caneco. A julgar pelo treino que James assistiu da Lufa-Lufa, a Sonserina iria perder feio. Com todos os olhares voltados para o jogo no final da tarde, ninguém notava a atividade de dois grupos distintos. Os sonserinos conversavam discretamente em frente ao lago, fingindo admirar a proximidade do verão.

― E então? – perguntou a garota.

― Observei os aurores – informou Tiago. ― Eles não constumam abandonar o posto nunca e a troca de guarda é sempre discreta e eficaz. Às vezes eles somem por vários dias, mas desconfio que eles sejam do tipo animagos, pra gente não notar e ficam sempre perto das escadas. Podemos agir no momento em que todos estarão indo para o jogo, usar a capa de invisibilidade e entrar no corredor.

― Ainda assim eles podem nos pegar. A capa do Malfoy pode dar defeito, você sabe que ela não é infalível – argumentou a garota.

― Pensei em usar os explosivins de uma forma diferente – disse Malfoy, pensativo. ― Acho que podemos informar “sem querer” a Pirraça que alguém esqueceu os explosivins para o jogo perto da entrada. Duvido que ele não vá imediatamente ao local.

― Mas para isso precisamos achar o Pirraça – afirmou o corvinal.

― Ele sempre está no hall atazanando a vida de todo mundo em dia de jogo – respondeu Khai, categórico.

― E a comida? – perguntou a garota.

― O esquema já está montado. Convenci um elfo doméstico que meu avô me deixará faminto quando chegar em casa e pedi um lanchinho para que eu possa esconder dele no malão. Fácil. Depois do almoço já posso pegar – informou à colega.

― Ótimo. Vamos nos encontrar na sala onde tive o treinamento com a diretora às 15h. De lá, descemos com o fluxo e nos posicionamos até o Pirraça aparecer. Com a confusão, estaremos mais seguros para passar pelo hall sem que os animagos percebam. Ficamos nas masmorras até o portal abrir. Malfoy, não se esqueça de pegar a pedra. Nos vemos mais tarde. Agora, vamos agir normalmente. Eu vou à biblioteca e vocês tratem de comentar sobre o jogo.

Elizabeth entrou na biblioteca diretamente para bater um ótimo papo de fim de ano letivo com Madame Pince e anotar vários livros interessantes para comprar da primeira vez que tivesse mesmo tempo para gastar garimpando a Floreios e Borrões. A sonserina sequer notou que seu irmão estava sentado na última mesa com seus amigos, protegidos pelo feitiço abaffiato.

― Já estou com tudo pronto – informou a garota. ― Suprimentos, livros de consulta, remédios, a pedra já está na minha bolsa, corda caso seja necessário, pena, pergaminho, tinta...

― Nossa! Para que isso tudo? – perguntou Alvo.

― Nunca se sabe – respondeu sua prima, relevando tudo do dia anterior. ― Andei estudando o que vocês me passaram dos nossos ilustres vigias e acho que podemos agir depois do jogo. Todo mundo vai estar eufórico, gritando, vibrando ou vaiando, não importa. Acho que não vão notar quando a gente sumir. Ficamos no corredor perto da infiltração, sob a capa, e esperamos até a hora exata. Deve ter algum sinal.

― Rose, não acha que seria mais seguro se a gente avisasse a alguém onde estamos indo? E se acontecer algo de ruim? Precisamos que alguém saiba, só por garantia – sugeriu John.

― Já pensei nisso. Combinei com a Tina para que ela mande uma coruja para a tia Gina, quando for de noite. Se alguma coisa der errada, saberemos que alguém vai nos resgatar. Mais seguro?

― Mais aliviado – respondeu John.

― Pessoal, estamos prestes a entrar em nossa própria aventura em Hogwarts! Exatamente como nossos pais, Alvo. Vocês não sentem uma coisa no ar? – perguntou Rose.

Todos concordaram com gestos que hoje o dia parecia diferente, mas somente Alvo se lembrou de um detalhe muito importante:

― Eu sinto, Rose. Essa coisa no ar é a noite elemental: para o bem ou para o mal.
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Sheu
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 24 a 30(att 10/03/2014)

Post by Sheu »

28
A NOITE ELEMENTAL
Hagrid esperou até o último dia para libertar todos os animais que participaram tão ativamente de suas aulas. Ao menos, aqueles que Minerva tinha autorizado. O Guarda Caças acreditava que, se os alunos tinham direito a férias, deveria ser a mesma coisa para os seres que o ajudavam a ser o melhor professor de Trato de Criaturas Mágicas que a escola já viu, embora tenha sido o único a lecionar esta disciplina.
Vermes cegos, tronquilhos, bicadores vermelhos, doninhas, lesmas gigantes, porco agulha, espirra veneno, salamandras, atiçadores de Rohenheim e uma série de outros seres estavam finalmente libertos.
Hagrid aproveitou para levar Canino para fora, embora o animal de recusasse terminantemente. Cansado de carregar o cão para vê-lo recuar para dentro da casa em seguida, o Guarda Caças resolveu investir suas forças para alimentar os cavalos alados e Azafugaz, que estavam no interior da floresta, acostumados à região. Não era necessário prendê-los para tê-los sempre por ali.
Ao passar pela borda da floresta deparou-se com uma pequena visitante: uma acromântula do tamanho de sua mão. Hagrid a pegou com cuidado e tentou acalmá-la fazendo carinho em seu enorme corpo peludo.
― Ora, pequenina. O que está fazendo tão longe de casa, hein? Talvez...
Hagrid pensou em levá-la para casa e criá-la com todo amor e carinho do mundo, mas lembrou-se de como era complicado cuidar de acromântula no castelo. Sem falar que a diretora McGonagall jamais permitiria, por mais que Hagrid fosse um bom Guarda Caças.
― Vá para casa, pequenina. Volte para seus irmãos – disse e deixou a aranha no chão, dando alguns incentivos para que ela continuasse floresta adentro.
Hagrid caminhava para a clareira enquanto observava o canto dos pássaros, as famílias de sariguês da floresta, os grandes comboios de ratazanas e uma série de pequenos seres que não costumavam andar por ali.“Talvez eu esteja precisando de mais tempo livre para aproveitar as pequenas coisas da floresta”, pensou Hagrid ao passo que um estalar do lado oposto o fez ficar atento e erguer o seu lançador de flechas.
― Quem está aí? – perguntou, mirando em qualquer coisa que se movesse. ― Apareça! – ordenou, contudo parecia fazer mais silêncio do que o normal na floresta.
Hagrid ficou parado, aguardando. O Guarda Caças estava tenso e passou a escutar o silêncio da floresta. Afinal, ainda havia um hungú solto por aí. Talvez ele tivesse retornado e estivesse de tocaia, apenas esperando. Mas a floresta também parecia tensa. Quando ouviu um estalo do seu lado esquerdo, atirou e acertou uma árvore. Detrás dela, viu surgir Matenzo, o líder dos centauros.
― Por Merlim, Matenzo! Você me assustou, desculpe – pediu Hagrid, educadamente. ― Podia ter respondido que era você quando perguntei.
― Prefiro ser discreto, meu caro Hagrid – respondeu.
― Eu sei, mas era mais seguro responder do que acabar com uma flecha no tras... Hu-hum! – recompôs-se ao encarar o enorme corpo de cavalo do centauro. ― Mas o que você está fazendo tão longe da área de costume? Não me diga que está caçando o hungú – disse, olhando ao redor.
― Não. Outros assuntos me trazem à Hogwarts esta noite.
― Noite? Mas mal passamos do meio-dia!
― Tivemos que garantir o nosso lugar.
― Tivemos? – perguntou Hagrid, para em seguida notar vários vultos de centauros. ― O que... Matenzo, o que está acontecendo?
― Existem certos fatos para os quais, vocês, bruxos, ainda não estão preparados. Sua raça é muito nova para entender. Contudo, talvez ainda haja esperança.
Hagrid encarou o centauro certo de que ele falava algo importante, mas do qual lhe faltava o domínio da informação. Respirou fundo, colocou sua arma sobre o ombro e despediu-se dos centauros, solicitando que não ultrapassassem a orla da floresta, pois as crianças ainda dormiriam na escola naquela noite.
Após alimentar os cavalos e Bicuço, como o chamava quando ninguém estava por perto, Hagrid decidiu que deveria falar com a diretora sobre o comportamento dos centauros, embora não soubesse o que exatamente eles estavam planejando. Já nos terrenos da escola, teve que espantar um aluno que tentava se aproximar da floresta e um casalzinho que parecia ter planos de não assistir ao jogo de quadribol. No caminho para o castelo, topou com Nicolas, filho de Neville, que estava coberto de cocô de coruja.
― Longbottom, o que houve? – perguntou o Guarda Caças.
― Ah! Algum engraçadinho atiçou as corujas hoje cedo. Elas estão atacando qualquer um que chega lá. Não estão nem entregando as cartas. Minha mãe ficou de escrever no último dia para combinarmos as férias e eu tinha que vir. Acho que, dessa vez, vou poder ficar com ela – disse, radiante. ― Agora vou ter que tomar banho. De novo! – suspirou. ― Te vejo no jogo, Hagrid – disse e entrou no castelo, enquando o Guarda Caças seguia para o corujal a fim de averiguar a situação.
O grifinório entrou no castelo sob olhares de nojo dos outros alunos, pois estava realmente fedendo. Lembrou-se de um feitiço para transformar odores e tentou em si mesmo, passando a sentir um aroma de gato escaldado. Pelo menos, era mais agradável. Ia cruzar a passagem para o 7º andar, quando deparou-se com a irmã de Jonathan.
― Ei! – exclamou o garoto.
― Você está falando comigo? – questionou a garota, confusa, pois nunca tinha trocado cumprimentos com o rapaz.
― Claro. Eu achei esta carta para você e o John. As corujas estão meio loucas hoje.
― Que cheiro é esse? – perguntou Lizzie, tapando o nariz.
― Longa história – revirou os olhos e fez sinal de pouco caso. ― Aqui. O John está na biblioteca se quiser procurará-lo agora.
― Não, não está. Acabei de vir de lá.
― Bom, quando eu falei com ele e chamei para uma partida de priscobol, a Rose disse que iriam ficar mais tempo lá. Você estava na biblioteca conversando com Madame Pince quando eu saí – disse. ― Tenho que ir. Tomar um banho, sabe? Até mais.
O garoto sumiu pela passagem e deixou uma sonserina atônita. Como não os viu ou escutou? Correu de volta para a biblioteca, mas quando chegou lá, John estava apenas conversando com Gustav e os outros já haviam sumido.
― Oi! – exclamou a garota.
― Lizzie! Tudo bem? Vai ao jogo hoje? Vai ser um grande jogo. Vamos ver juntos? – questionou animado à irmã, enquanto se despedia do colega de quarto.
― Não vou ver o jogo. Não me interesso por quadribol, você sabe. Recebemos uma carta.
― De quem?
― Não sei – falou e abriu o envelope. ― Rita Skeeter – informou sem muito entusiasmo ao ler a assinatura.
― O que diz? – perguntou John e se posicionou ao lado da irmã.

Queridíssimos Sr e Srta Dumbledore,
Em primeiro lugar, minhas sinceras desculpas por não ter enviado esta coruja imediatamente após ter recebido a carta de vocês. Compreendam que o trabalho investigativo, principalmente quando se trata de mergulhar a fundo na vida do saudoso Alvo Dumbledore, consome energia, técnica apurada e tempo dos melhores profissionais. Posso, no entanto, informá-los de que estou bem próxima de revelar-lhes a sua própria história. A verdadeira: sem cortes ou especulações. Não se preocupem, pois não revelarei absolutamente nada aos Ruffery sobre vocês, como um favorzinho entre amigos.
Meus pequenos amiguinhos, fiquei profundamente estarrecida com os acontecimentos de Hogwarts. Por Merlim, se a diretora McGonagall não tivesse impedido os profissionais da imprensa de adentrar os terrenos da escola quando houve a inundação das Casas Sonserina e Lufa-Lufa, eu poderia tê-los encontrado mais cedo. Não recebi notícias suas sobre o evento, mas suponho que a diretora não tenha permitido que minha carta chegasse em suas mãos. Que tempos! Violação de correspondência! Infelizmente minha matéria sobre o assunto foi vetada. O Ministério claramente abafou o caso para salvar a cabeça de Minerva McGonagall.
Fico encantada com os relatos do jovem Dumbledore sobre as aulas de Hogwarts, professores e de como esta nova realidade os afeta. Folgo em saber que o Mundo da Magia é muito mais do que vocês poderiam imaginar. Tenho certeza de que serão bruxos interessantíssimos, mesmo que a Srta Dumbledore enfrente alguns problemas para utilizar a varinha. Espero que nossa sincera amizade seja eterna, pois considerava e tinha grande admiração pelo saudoso Alvo Dumbledore. Estou tão envolvida na história desta família que me sinto praticamente parte dela.
A amizade com a Granger-Weasley e os Potter era algo que eu considerava previsível. Certamente a Sra Weasley orientou sua filha a aproximar-se de vocês. Sempre soube que aquela bruxa tinha uma obcessão por homens poderosos. Sua maior frustração, desconfio, é não ter conseguido fisgar o Sr Potter, tendo que se contentar com seu melhor amigo para manter-se próxima. Por isso, tomem cuidado meus pequenos. O Sr Potter, com seu complexo de ausência paterna, sempre se fiou demais no saudoso Dumbledore e certamente não permitirá que vocês escapem de seu alcance. Desconfio que depois desta passagem pela escola, ele irá se oferecer para mostrar o nosso mundo a vocês. Não me surpreenderia. Conheço o Sr Potter mais do que ele mesmo.
Já a amizade com o Sr Malfoy me preocupa. Jovem Srta Dumbledore, devo alertá-la de que a família Malfoy, embora pareça ter se reerguido do fundo do poço após a 2ª Grande Guerra, jamais será confiável. Estarrece-me este relacionamento. Como amiga íntima, devo alertá-la de que uma fonte confiável me informou que o Sr Draco Malfoy esteve diretamente envolvido na morte de Alvo Dumbledore. Sua vida certamente corre perigo.
Em breve terão notícias minhas. Quentíssimas!
Sua amiga e confidente,
Rita Skeeter.


― Como assim o Sr. Malfoy matou nosso avô? – perguntou John, horrorizado.
― Shh! Fale baixo! – ordenou a garota, puxando o irmão para longe de possíveis curiosos. – Todo mundo sabe que Snape matou Dumbledore, deixe de pensar bobagem.
― Mas Rita Skeeter disse...
― E desde quando tudo o que aquela mulher escreve é verdade? Embora boa parte seja.
― Se você não acredita nela, por que mantém contato?
― Mantenho até que seja interessante para mim. Você não vai se meter com o Malfoy, entendeu? – disse, com o dedo em riste. ― Essa história da Rita não tem cabimento. O Prof Potter defendeu os Malfoys e informou que eles estavam sendo forçados pela situação. Essa história já acabou. Você está com ciúmes!
― Eu!? Ciúmes? É claro que não.
― É claro que sim. Faz todo o sentido. Jonathan, não se meta nas minhas amizades e eu não me meto nas suas. Ou esqueceu que a Rita Skeeter também escreveu que a Sra Weasley é uma sanguessuga? A mãe da sua amiguinha?
― Isso foi invenção dela! – defendeu.
― E por que Malfoy não é? Porque você quer? Me poupe!
Lizzie voltou para a biblioteca, retirou pena e pergaminho, rabiscou algumas coisas e entregou duas cartas para o irmão.
― Por que duas cartas? – perguntou.
― Porque sim. Você pode deixá-las no corujal.
― Por que eu?
― Porque o Prof. Slughorn me pediu para ajudá-lo a arrumar o armário de estoque de poções agora. E não esqueça. São importantes! Senão nossos pais podem nos esquecer na plataforma de Londres – advertiu.
― Então eu vou lá agora! – deu as costas, mas voltou atrás e encarou seriamente os olhos verdes da irmã. – Tome cuidado.
Por alguns instantes Elizabeth podia jurar que Jonathan havia invadido sua mente e descoberto absolutamente tudo o que estava planejando. Será que seu treinamento pessoal de oclumência não era efetivo contra seu próprio irmão? Mas o grifinório desfez qualquer suspeita.
― Mesmo que não acredite no que Skeeter falou, me prometa que ficará atenta e de olhos abertos.
― Eu sempre estou – respondeu e sorriu.
Jonathan deixou a irmã e foi para o corujal ainda em tempo de ver Hagrid saindo coberto e coco de coruja, garantindo aos outros alunos que agora estava tudo bem. Ele balbuciou que precisava ver a diretora e John se perguntou como ela reagiria ao vê-lo daquele jeito, sorrindo ao imaginar a cena. Discretamente, lançou um feitiço anticheiro no meio gigante. Voltou-se para o outro lado e notou que muitos alunos enviavam e recebiam cartas, ansiosos pelas merecidas férias. Escolheu duas corujas pardas e entregou os pergaminhos, separadamente. Pagou antecipadamente a uma delas, que bicava insistentemente. Quando se virou notou o sonserino amigo de sua irmã bem próximo. Acenou cordialmente, mas o garoto sequer o viu ou fingiu não ver: estava mais pálido do que o normal. John se lembrou de que o pai do garoto era um foragido perigoso, o que transformava a alegria das férias em um grande medo. Deixou o corujal rapidamente, pois ainda precisava resolver algumas pendências antes do jogo de quadribol.
O castelo parecia ainda mais agitado naquela tarde. A ansiedade e expectativa pelo último jogo do ano e a definição da Taça de Quadribol deixavam todos com os nervos à flor da pele. Até o momento, Grifinória liderava com 530 pontos no Quadribol, seguida pela Sonserina, com 470 pontos. Contudo, nem todos estavam preocupados com isso. Elizabeth andava de um lado para o outro na sala vazia do quinto andar, ao lado da armadura de bronze, onde teve aulas para controlar sua instável varinha durante todo o ano letivo. Já estava há 20min esperando que alguém aparecesse, ansiosa. Sua mochila, largada em um canto, trazia muito mais coisas do que seu exterior supunha. Tiago chegou ao mesmo tempo em que Deymon e o trio confabulou alguns detalhes de última hora. Outros 15min se passaram e nada de Khai aparecer. Elizabeth já considerava avadá-lo e ir sem ele, quando o garoto apareceu.
― Onde você estava, afinal? – quis saber Malfoy.
― Eu... – o garoto pensou um pouco no que responder, mas foi interrompido pela colega. ― Não temos tempo para isso. Vamos! – comandou Elizabeth.
O quarteto tomou o caminho para a Câmara das Passagens em silêncio, cada qual pensando no que estava por vir. Era algo excitante e perigoso. Poderiam morrer, ou pior, serem expulsos. No meio do percurso, saindo de uma passagem secreta, deram de cara com o Prof Pratevil. O inesperado encontro deixou a todos momentaneamente congelados, em atitude suspeita.
― Boa tarde – disse o professor, seco.
― Boa tarde, Prof Pratevil – responderam, em um suspeito uníssono.
O professor ergueu uma sombrancelha e analisou as feições das crianças, enquanto coçava seu queixo. Elas estavam tensas em sua presença, inclusive a Srta Dumbledore, que raras vezes se deixava intimidar por ele.
― Indo a algum lugar? – perguntou, em um tom que beirava à legilimência.
― Para o campo de quadribol – informou Deymon, o mais normal possível.
― Mas a senhorita não gosta de quadribol – constatou dirigindo-se à única garota do grupo, pressionando o quarteto.
― E não gosto mesmo. Por isso vou ficar lendo alguns livros que peguei na biblioteca – respondeu, sem tirar os olhos do bruxo. ― Professor, onde essa passagem secreta vai dar? Ninguém nunca nos falou dela.
― Existem muitas passagens secretas em Hogwarts que vocês não ouviram ou ouvirão falar. Com licença – retirou-se, em um voleio de capa.
― Muito suspeito – ressaltou Malfoy, dirigindo-se para a passagem.
― Não temos tempo. Vamos em frente – constatou a garota, puxando o colega pelo braço.
Caminharam por um corredor junto com outras crianças que mal os notavam, tamanha a empolgação em suas próprias conversas. Conforme o combinado, Deymon e Khai seguiram na frente, enquanto Lizzie e Tiago colocavam a capa em um corredor transversal, deserto. Os dois sonserinos encontraram o hall relativamente cheio, mas não do jeito que esperavam. Pirraça estava próximo às escadas, zombando de tudo, como sempre. Os garotos trocaram olhares rápidos.
― Como assim explosivins dando mole?! – bradou Macbeer, para chamar a atenção do poltergeist.
― Shhh! Ninguém pode saber! – sussurrou Malfoy, notando a aproximação do fantasma, que fingiu desaparecer.
― Onde estão? Podemos soltá-los quando a Grifinória perder o título – mentiu Khai.
― Está na passagem secreta do 1º andar, atrás da tapeçaria. Provavelmente o Filch estava no pé de algum desavisado. Mas temos que ir agora, antes que alguém ache e...
― Achei! Acheei! Acheeeeeeeeei! Achado não é roubado, quem perdeu é um trasgo desdentado! – gritou e saiu voando pelas escadas para o 1º andar, dando língua para os alunos do hall.
Os garotos sorriram e correram para a Câmara das Passagens, posicionando-se do lado direito da saída, conversando sobre assuntos que não interessavam a ninguém no momento. Atrás deles, protegidos de esbarrões, estavam duas pessoas invisíveis. Não demorou muito para ouvirem os primeiros sons de explosões e para que a correria começasse. Aproveitando-se do fato de todos olharem para um Pirraça com um sorriso maroto, os dois sonserinos se esconderam sob a capa. O poltergeist fazia bem o seu papel, tentando acertar os alunos na cabeça, o que acabou chamuscando muitos cabelos e chapéus. O quarteto foi se esgueirando, cuidadosamente, pelo canto. Foi então que surgiu, no meio da escada do hall, onde antes não havia nada, o sumido Sr Beezinsky. Congelaram quando ele parou a um corpo de distância de onde estavam para retirar do poltergeist os explosivins que restavam e bater boca com o teimoso fantasma. Foi a oportunidade que esperavam. Passaram por trás do animago e entraram no corredor da infiltração, dirigindo-se para a masmorra número 13.
Passada a confusão que atraiu uma diretora furiosa, as atenções se concentraram na última partida de quadribol. Sonserina e Lufa-Lufa se enfrentariam em um duelo mortal. Todas as casas torciam contra os sonserinos, uma vez que achavam a saída de Potter do jogo contra eles muito suspeita e não queriam ver a Taça em suas mãos trapaceiras.
O jogo começou com muita ação de ambos os lados. James gritava com o capitão dos lufos para fazer algumas jogadas da grifinória até o próprio Leo Bernett mandá-lo calar a boca. Gina acompanhava a tudo com os olhos afiados, vibrando com a vivacidade daquelas crianças. Não teve como negar a sua vontade de entrar em campo, como no tempo de Hogwarts ou das Harpias de Holyhead e fazer valer as suas habilidades. De repente, uma leve brisa de nostalgia a atingiu, fazendo-a lembrar de como era jogar com Harry no comando, com Rony no gol e Mione na arquibancada. Sentiu seu coração palpitar e colocou a mão sobre o peito, contendo uma pequena lágrima dos tempos que não voltavam mais. Agora era uma mulher madura, com filhos, tinha um marido com uma responsabilidade imensa sobre os ombros e seu irmão, junto com sua melhor amiga, estavam em uma busca interminável dos bruxos que reconstruíram Hogwarts. Não soube o porquê, mas sua mente, por um instante, fixou os pensamentos neles dois e perguntou-se quando aquela tarefa teria fim.
No norte da Inglaterra, quase na fronteira, Rony e Hermione saíam de mais uma residência bruxa sem nada de concreto. Aparentemente, todas as pessoas da lista que o Ministério possuía eram bruxos de boa índole, embora alguns já tivessem se tornado um pouco esquisitos demais com a idade. Havia, é claro, alguns mortos e destes já não se podia ouvir muito sobre o assunto. Hermione deixou-se largar em uma cafeteria trouxa, quando aparatou em Londres, pedindo um cappuccino. Ronald preferiu um café irlandês, para rebater o cansaço, sob o olhar duvidoso da esposa.
― Admita, Hermione. Essa investigação foi uma enorme perda de tempo.
― Para os objetivos do Ministério e de Hogwarts, realmente, não posso discordar de você, querido. Contudo, as histórias que ouvimos foram fantásticas. Não tinha ideia de tamanha devoção, emoção e dedicação no levantar de cada uma daquelas pedras. Você tem noção de como isso pode ter afetado magicamente a escola?
― Não – respondeu de imediato, ao morder um biscoito que acompanhava seu café. ― Mas tenho certeza de que você tem várias ideias, amor.
― Não ideias, suposições. Gostaria de poder passar um tempo estudando esse impacto em Hogwarts. Imagine a compilação de dados que eu teria e...
― Não está pensando em escrever um livro sobre isso, está? – questionou o ruivo, com um olhar inquisidor para a esposa.
― Não Ronald. Já lhe disse que não.
― Sei... - o silêncio de seu esposo foi demais para a morena suportar.
― Mas seria um desperdício de ideia, não seria?
― Ideia, não. Suposição – corrigiu e viu uma expressão desgostosa no rosto da esposa. ― Mione, você prometeu! Sabe que quando entra nessa espiral de “ideia fantástica que não pode ser desprezada” é impossível conviver com você. Até as crianças reclamam.
― Mas ninguém precisaria saber, Ron. Eu poderia até... – Hermione encarou os olhos azuis cansados do marido e desistiu. ― Quem sabe em um outro momento.
― Bom, agora que acabou, podemos voltar para casa?
― Você sabe que tenho que fazer um relatório sobre essas visitas. Apenas um relatório, Rony, nada mais – ressaltou, diante do olhar desconfiado do outro. ― E você deve ir para o quartel dos aurores, ver o que pode fazer. Ainda existem bruxos à solta, você bem sabe.
― E quem vai olhar as crianças? Elas serão criadas por duendes ou trasgos invisíveis ou babuínos bobocas que balbuciam bobagens? É um absurdo que não tenhamos férias depois de quase 6 meses procurando por pistas na bosta de dragão dessa lista inútil!
Hermione não pôde conter uma risada. Esse lado divertido em Rony, não importava a situação, era o que mais amava nele. O mundo podia se acabar, mas sempre estaria com raiva dele e riria das suas idiotices ao mesmo tempo.
― Babuínos bobocas que balbuciam bobagens! Realmente... – balançou a cabeça negativamente, embora sorrindo e voltou a encarar o marido. ― Ora, não seja dramático. Rose ainda está em Hogwarts e sua mãe está com Hugo. Todo Weasley ama estar na Toca e é isso que você quer. Tirar longos cochilos na sua cama e comer a comida de Molly.
― E se for? Qual o problema? Sou filho da minha mãe. Não tenho vergonha de admitir.
Hermione passou gentilmente as mãos no rosto do marido, que fechou os olhos para curtir o toque suave da mão de sua esposa. Depois de algum tempo, ela quebrou o silêncio.
― Quer dizer que você prefere ir para a casa da sua mãe do que ficar comigo na nossa casa? – perguntou em um tom displiscente.
Ronald imediatamente abriu os olhos, sentou-se direito e encarou a esposa, com um sorriso nos lábios.
― Claro que não, quando você coloca nesses termos...
― Ron, você não existe! – exclamou sorrindo, enquanto abria sua bolsa para rever a lista de nomes mais uma vez, para desapontamento do ruivo que dava adeus aos seus pensamentos. ― Não vimos a Sra Aileen Ambrose – disse em voz alta.
― Ela estava em um safári na África, com o marido e 8 filhos, lembra? A mulher que teve octoplus depois de tomar uma overdose de poção de fertilidade? Devem ser colegas de Hugo, inclusive. Vou mandá-lo manter distância das meninas dessa família.
― Por que? – perguntou Mione, tirando os olhos da lista para encarar, curiosa, o esposo.
― E eu sei lá o efeito que a poção causou nessas meninas? Devem ser muito férteis.
― Ronald! Seu filho completou 10 anos a poucos meses!
― Os tempos são outros, minha querida.
― Que absurdo! Você me desaponta com seu machismo sem sentido.
― É que as mulheres de hoje não são mais comportadas como você e Rose, Mione. Elas praticamente se atiram nos caras e a gente é quem tem que desviar dessas malucas...
Hermione jogou na mesa com demasiada força um livro que tinha acabado de tirar da bolsa com anotações e encarou o marido com um olhar assassino.
― Não acho que estamos mais falando do futuro de Hugo, Sr Weasley – constatou séria.
― Amor, são observações da vida. São todas malucas, verdade, não tenho como adivinhar de onde uma desmiolada vai sair. Digo sempre que sou muito bem casado com uma mestre em feitiços, contrafeitiços, azarações e maldições, sem falar na família linda que tenho e de como sou feliz. Mas essas malucas... Precisa ver o Harry.
― O que tem o Harry? – perguntou, beirando à fúria.
― Ele é o mestre em desviar na diplomacia – respondeu rapidamente. ― Aprendi tudo o que sei com ele, verdade!
― Ronald, Ronald. Não me faça usar legilimência em você.
― Não é preciso, amor. Sabe que eu sou retardado o suficiente para não notar uma mulher interessada em mim nem que esteja diante do meu nariz. Demorei anos para notar você, não foi? E estou muito feliz até hoje com essa escolha – respondeu, se aproximando para tocar os lábios de sua esposa. ― Ninguém nunca vai me completar como você, Mione. Disso eu tenho certeza.
Ele beijou carinhosamente sua esposa, que retribuiu. O assunto seria adiado, mas Hermione já tinha uma nota mental para discutir isso com Gina um outro dia até chegarem a um acordo sobre como proceder com essas malucas desmioladas sem amor à própria vida.
― Vamos para casa? – ele perguntou num sussurro.
― Não até eu conferir a lista. Primeiro a obrigação – disse e puxou o pergaminho para si, enquanto o bruxo revirava os olhos e bufafa, frustrado. ― Sr Adolphus Kimball estava a trabalho do ministério e o interrogaram lá mesmo. Vejamos... Hum... Por que não encontramos o Sr Wades Upton? Não sei por que não anotei.
― Não faço ideia.
― Ronald, estou falando sério.
― Eu também. Não faço ideia.
― Será que o esquecemos? Bom... Se nenhum de nós lembra, só há uma coisa a fazer.
Hermione pediu a conta e saiu de braços dados com seu marido do estabelecimento. No beco deserto mais próximo desaparataram para o endereço de registro. O local onde aparataram era inabitado, mas não irreconhecível.
― A casa abandonada e a infestação de fadas mordentes, agora eu lembrei – disse Ron.
― Bom, não tão abandonada assim. Veja! Aquele par de botas sujas não estava ali antes – afirmou Mione e sacou sua varinha. ― Vamos.
Os bruxos se aproximaram cautelosamente, atentos ao alarme de algum feitiço repelente ou um ataque vindo da casa. Surpreenderam-se quando um senhor alto e esguio, com barba por fazer e começando a ficar careca abriu a porta para colocar o lixo para fora. Pego de surpresa, o bruxo ficou parado de boca aberta um tempo e depois tateou as vestes em busca da varinha, quando notou que não estava ali. Desarmado, levantou as mãos e encarou os visitantes.
― Não devo nada a ninguém. Já disse que foi um mal entendido. O que querem dessa vez? – perguntou com sua voz confusa, embolando as palavras.
― Desculpe, senhor – disse Mione, baixando a sua varinha. ― Estamos procurando o Sr Wades Upton. Assunto do Ministério.
― Sempre é um assunto do Ministério, não é? O que eles querem dessa vez? Recolocar um rastreador em mim? Me colocar como cão farejador do ministro? Ora, não tenho culpa de ser atraído por chaves de portal. Já disse que não consigo evitar. É uma bosta de dragão, se quer saber a minha opinião.
― O senhor é... É Wades Where? – perguntou Rony, surpreso.
― Não gosto desse apelido – retrucou, fazendo uma careta.
― Santo Merlim, Mione! É o andarilho dos portais. Não acredito.
― Agora o Ministério manda pessoas atrás de mim sem contar quem eu sou. Que amadorismo. Pois digam que não me interessa o que o Ministério pensa! Eu não estou disponível! – disse e virou-se para fechar a porta.
― Na verdade, estamos interessados na sua participação na reconstrução de Hogwarts – informou a bruxa, antes que o homem fechasse a porta por completo. ― Não sabíamos que o senhor era Wades Wh... Upton e que possuía esse dom.
O bruxo voltou a abrir a porta e encarar os dois forasteiros, parecendo olhar para eles com interesse pela primeira vez.
― Os senhores não me são estranhos.
― Ronald Weasley, senhor. Esta é minha esposa Hermione Granger Weasley.
― Vocês não eram os amigos de Hogwarts de Harry Potter?
― É uma forma de ver a coisa – respondeu Rony, dando de ombros, sinal de que já não se importava mais com a referência.
O velho bruxo encarou os dois refletindo sobre a questão por alguns instantes.
― Entrem.
O casebre era muito simples, com aspecto de abandono, sinal de que o seu dono passava longos períodos fora dali. Embora as teias de aranha não fizessem mais parte da decoração, os velhos móveis e o fedor de mofo ainda predominavam no ambiente. A cama no cômodo ao lado, contudo, destoava de tudo: estava completamente limpa e apta para um belo cochilo. Uma velha mala de mão estava recostada a um canto e uma garrafa cheia repousava sobre a mesa, acompanhada de um velho copo de prata.
― Em que posso ser útil? – questionou o bruxo, ao conjurar duas cadeiras para os inusitados visitantes. ― Desculpe não poder oferecer algo para beber – informou.
Ronald encarou a garrafa na mesa, mas logo foi cutucado por Hermione para não fazer comentários inadequados sobre a clara falta de educação do andarilho.
― Sr Upton, Hogwarts está enfrentando problemas inusitados, como o senhor deve ter lido no Profeta Diário – disse a bruxa.
― Não sei – respondeu. ― O que houve?
― Bom, aparentemente a escola está com uma infiltração impossível de ser estancada, ocorreu uma séria inundação em algumas áreas do castelo, estamos acompanhando o desaparecimento de alguns espécimes de flora e fauna que são atraídas pelo campo mágico da escola e as escadas que se movem, subitamente, pararam – continuou.
― Merlim! As escadas pararam? Realmente essa questão me entristece muito.
― Por quê? – questionou Rony.
― Ora, porque depois de chegar à Hogwarts foi ali que fiz questão de trabalhar. Na época em que estudei na escola, adorava ficar admirando o movimento das escadas.
― O senhor se recorda de algum acontecimento estranho quando estava trabalhando na reconstrução? Qualquer fato inusitado. Talvez alguém que possa ter feito algo diferente...? – comentou Ron, despretensioso.
― O senhor quer saber se eu vi alguém fazendo uma besteira ou se eu fiz uma besteira? – questionou irônico o outro bruxo e se levantou para dar uma olhada no caldeirão. ― Evidente que não lhes diria, não acham? Mas a supervisão na reconstrução da escola foi muito bem conduzida pelo Ministério. Nunca houve nenhum incidente – completou, voltando a sentar-se diante do casal.
Hermione suspirou frustrada. Durante os anos de treinamento no Ministério era capaz de observar, sem o uso da legilimência, os traços na expressão dos outros para saber se estavam mentindo ou não. O homem diante de si poderia ser considerado um reincidente em romper os acordos diplomáticos entre países no que dizia respeito a viagens de portal, mas não era um enganador. Realmente, o Ministério havia escolhido a dedo todos os que desejaram participar da reforma da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Ronald encarou a esposa e compreendeu que estavam, mais uma vez, na estaca zero.
― Bom, senhor, muito obrigado pelo seu tempo. Espero que possa tirar um bom cochilo – desejou Ron, apontando para o quarto arrumado.
― É o que eu desejo também – informou o outro, alisando carinhosamente a garrafa em cima da mesa.
Aquilo atraiu a atenção de Hermione para algumas palavras não ditas naquela conversa:
― Com as andanças que o senhor faz, não costuma ler muito o Profeta, verdade?
― A leitura nunca foi o meu forte.
― Então, como soube que a escola estava selecionando voluntários para a reconstrução?
O bruxo encarou Hermione com curiosidade, tentando antecipar seu raciocínio.
― Eu fui atraído, é claro.
― Por chaves de portal. Existe uma chave de portal em Hogwarts? – questionou a bruxa.
― Querida, a pergunta é: quantas chaves de portal existem em Hogwarts?
― Você a encontrou? – continuou a questionar, ansiosa.
Ronald observava a cena, tentando captar todos os detalhes e ler as entrelinhas que, para Hermione, parecia bem simples.
― Não. Chaves de portal só são ativadas no momento que foram programadas para isso. Só o que consegui foi uma pista.
― Qual a pista? – perguntou Ron, agora tão excitado pela descoberta quanto Mione.
― Não lhes direi. Chaves de portal são coisas perigosas e quem escondeu essa soube bem o que fazer. Na verdade, desconfio de quatro pessoas – disse e sorriu, enigmático.
― Os fundadores – afirmou Hermione, mais para si do que para os outros. ― Esse é o prêmio para quem descobrir a estratégia do jogo de Hogwarts.
― Jogo? – perguntou Wade, curioso.
― Informação sigilosa – informou Ronald, rebatendo a postura do outro bruxo.
― Ronald, está tudo bem. Vamos provar que somos de confiança.
Em alguns minutos, Hermione explicou toda a lógica de seu raciocínio diante de um olhar atento aos pormenores. Ao fim, Wade Where sorriu.
― Sempre as crianças – disse.
― O quê? – exclamou o casal ao mesmo tempo.
― Quando estudei em Hogwarts passei muito tempo admirando as escadas, sabe? Achando que elas queriam me dizer alguma coisa, como se eu quase pudesse ouvir a sua voz. Talvez o meu dom de encontrar chaves de portal estivesse se manifestando. Enfim, fiquei um pouco esquisito naquela época, todos me achavam louco. Minhas horas intermináveis deitado abaixo das escadas, vendo o movimento que faziam, me fizeram enxergar.
― Enxergar o quê, precisamente? – questionou Hermione, suavemente.
― As runas por trás do movimento. As escadas se movem de forma aleatória, certo? Aleatória para quem não entende a sua lógica e eu entendi. Quando retornei para a escola, depois de tantas andanças, ao ver os primeiros movimentos das escadas, eu percebi. Não que isso me faça menos esquisito, na verdade, acho que me faz muito mais. Quem diria que entender a língua de escadas mágicas renderia alguma coisa? – e gargalhou com muito gosto.
Ron e Mione trocaram olhares rapidamente. Estavam muito ansiosos e se controlavam ao máximo para não pressionar o bruxo e jogar por água abaixo todo o trabalho que tiveram. A lista do Ministério estava, enfim, dando um imenso retorno.
― Sempre as crianças. É isso que a escada diz.
― Sempre as crianças. Mas o que isso quer dizer? – perguntou o ruivo e viu o outro dar de ombros.
― Talvez que sempre as crianças importem – disse o bruxo, displiscente.
― Talvez... Talvez que sempre as crianças encontrem um caminho – supôs Hermione e seu rosto se iluminou pela teoria que se formava e Ron já conhecia o que estava por vir. ― Merlim, Ron! Sempre as crianças, é claro! Sempre as crianças são as únicas a ver o que vale a pena ser visto. Nós, como crianças, conseguimos ver muito mais do que os adultos, quando estávamos em Hogwarts. Nossas mentes estavam abertas naquela época, como os sereianos nos disseram para mantê-las. Talvez, em algum momento, nós tenhamos esquecido como é. Certamente crescemos e deixamos muitas coisas para trás, mas as crianças, sempre as crianças, nos farão lembrar e ver o que realmente importa!
― Ela é brilhante – sussurrou o andarilho, em reconhecimento ao raciocínio da bruxa.
― Sempre o tom de surpresa – respondeu Ron, sorrindo, sem tirar os olhos da esposa.
― Obrigada, muito obrigada por sua ajuda, Sr Upton. Ron, precisamos voltar para Hogwarts imediatamente – decidiu Hermione, recolhendo suas coisas.
― Os senhores vão para Hogwarts hoje? Por Merlim! Daria tudo para estar na escola esta noite – disse, num tom saudosista.
― Esta noite? O que há de tão especial em Hogwarts esta noite? – Ron perguntou.
― Ora, então não sabem? Para nós, entusiastas da mitologia bruxa, esta noite é a noite mais importante de todas.
― A noite elemental! Esqueci completamente! Como pude ser tão estúpida? Ronald, precisamos correr – Hermione se dirigiu para a porta, mas se virou e encarou o andarilho. ― Você pressente alguma chave de portal?
― Minha querida, esta noite é o meu pior pesadelo. Pretendo tomar um porre de poção para dormir sem sonhar, imediatamente – afirmou, carregando a garrafa nos braços. ― Todos os bruxos mais simplórios do mundo parecem ter criado uma chave de portal para hoje à noite. Imagine o que quatro mentes brilhantes não possam ter planejado?
Hermione aquiesceu e puxou Rony porta afora.
― Aproveite a beleza da noite elemental! – gritou, mas o casal já havia desaparatado.
Enquanto Hermione e Rony travavam uma longa conversa com o Sr Upton, em Hogwarts ocorria a partida mais dramática de todos os tempos. Os goleiros de ambos os times estavam impossíveis, realizando defesas impressionantes. Os batedores também faziam com precisão seus trabalhos, retardando o avanço dos artilheiros. Os gols da partida haviam saído de jogadas individuais, uma vez que os times haviam desenvolvido um esquema de marcação quase impecável. Lena Jordan fez a diferença no jogo, ao ampliar a vantagem dos lufos em duas jogadas espetaculares em sequência, deixando até mesmo James de queixo caído. O jogo estava 80 a 50 quando o pomo foi avistado.
Esse era o sinal combinado com Rose para que o grupo se aproveitasse da distração geral e pudessem sumir sem ser notados. A garota e Peter foram os primeiros a deixar os seus lugares, descendo as escadas da arquibancada do campo até que ninguém pudesse vê-los. De sua bolsa extensiva, a grifinória retirou a capa de invisibilidade do primo e se cobriu com o amigo. Alvo e Jonathan os encontraram em seguida, pela voz.
― Chegou a hora. Vamos andando para não esbarrarmos em ninguém – comandou Rose.
Em silêncio e a passos lentos, de forma que ninguém visse seus pés, os quatro seguiram curvados sob a capa, com certa dificuldade.
No campo de quadribol, os apanhadores disputavam ombro a ombro, centímetro a centímetro, em uma velocidade estonteante atrás da bolinha dourada. Os olhos da plateia brilhavam de ansiedade e todos prenderam o fôlego quando Artemus Ruscatcher, lufo, quase a alcançou. Ele logo se recuperou da jogada em falso e emparelhou novamente com o sonserino, em uma descida em espiral. O pomo zigzagueou e voltou a subir, forçando os jogadores a dar meia volta para cima. Ruscatcher levou a melhor sobre Vector Pendraconis e novamente quase tocava o pomo, quando o gongo soou com o gol de Ivanova Pervehell para a Sonserina, alertando os torcedores para a partida que ainda rolava.
― Não! – gritou James levando as mãos à cabeça. ― Não pegue o pomo!
Mas já era tarde demais. Madame Hooch apontou o centro do campo e encerrou a partida. Lufa-Lufa ganhou o jogo por 240 a 70. A torcida verde e prata foi à loucura gritando em triunfo. Com a soma dos pontos, a Sonserina levava a Taça de Quadribol por 10 pontos de diferença.
A evasão em massa das outras torcidas e a entrada barulhenta da Sonserina era exatamente o que Rose e seus amigos precisavam, para atrair a atenção dos bruxos do Ministério. Uma pequena confusão envolvendo sonserinos e grifinórios mais velhos foi a deixa para os quatro alunos entrarem no corredor da infiltração, sem ninguém notar a singela alteração que causaram ao atravessarem o véu de invisibilidade deixado pela diretora no início do ano.
― E agora? – sussurrou Jonathan.
― Nós esperamos sob a capa – respondeu Rose.
Os quatro acompanharam atentamente os comentários sobre o jogo dos alunos que trafegavam pelo hall. Ficaram bem desapontados pelo fato de a Sonserina ser a campeã de quadribol e voltaram a discutir sobre o suspeito acidente de James. John, claro, fingiu não saber a verdade. Do lado de fora, Gina caminhava ao lado de Neville, comentando algumas jogadas interessantes e lamentando, bem baixinho, a vitória sonserina. Enquanto conversava com o amigo avistou pela porta do hall a chegada de dois bruxos bem conhecidos e se perguntou o que Mione e seu irmão estavam fazendo nos terrenos de Hogwarts.
― Mione, Ron! O que estão fazendo aqui? Descobriram algo? – perguntou Gina.
― Precisamos falar com a diretora – informou Hermione. ― O assunto se tornou um pouco mais sério, eu acredito.
― Vamos encontrá-la em sua sala. Levo vocês – informou Longbottom.
Os quatro bruxos caminharam a passos apressados, mas o clima ao redor chamou a atenção de Ronald.
― O que houve? – perguntou.
― A Sonserina ganhou a Taça de Quadribol – informou Gina, um pouco triste.
― Por quê? Como? – questionou Ron. ― Eles são péssimos!
― Na verdade, eles são bons, Rony. O time não é de todo um trasgo, como quando a gente estudava. São jogadores espertos. Foi muito apertado, por 10 pontos – respondeu sua irmã. ― Embora a Lufa-Lufa tenha realizado jogadas individuais excelentes, principalmente Lena Jordan.
― Aquela Lena Jordan? – perguntou Mione, com um sorriso enviesado.
― Exatamente – sorriu Gina.
Os quatro bruxos seguiram para a sala da diretora. Assim que alcançaram a estátua de mármore e informaram a senha, que desta fez era Russo Azul, encontraram Minerva assinando alguns pergaminhos, preocupada. Ao levantar o olhar e deparar-se com seus antigos alunos, presumiu que haviam, enfim, alcançado alguma luz sobre os problemas da escola. Rapidamente solicitou a um dos quadros dos ex-diretores que informasse ao Ministro, com discrição, que sua presença era requerida na escola e aguardou, pacientemente.
Kingsley Shacklebolt aparatou em Hogsmeade segundos depois de receber a mensagem, acompanhado do Chefe da Seção de Aurores, Harry Potter. A visão dos dois causou, evidentemente, um alvoroço fora do comum na escola. O receio de que ela fosse fechada começou a percorrer os corredores do castelo, assim como o medo de que alguns dos fugitivos de Azkaban estivessem rondando os terrenos. Alvo e Rose se entreolharam quando os bruxos passaram pelo hall, sem notá-los atrás do véu.
Assim que entrou da sala da diretora McGonagall, Harry não conseguiu conter um sorriso por reencontrar seus amigos e, especialmente, sua esposa. Ela parecia ainda mais linda quando lhe retribuiu pelo olhar, cúmplice, a saudade que sentia. Ele conjurou uma cadeira ao lado dela e tocou sua mão discretamente, enquanto todos silenciavam para escutar, atentamente, as novas informações.
— Ronald e eu visitamos, nos últimos meses, todos os bruxos disponíveis na lista que nos foi fornecida pelo setor de Reconstrução de Desastres Mágicos. De fato, as pessoas selecionadas para auxiliar na reforma da escola foram criteriosamente selecionadas – ressaltou Mione. — Somente hoje encontramos um bruxo capaz de nos fornecer alguma pista: Wade Upton.
— Ele é mais conhecido como Wades Where – informou Rony, diante da apatia de todos.
— O andarilho dos portais? – questionou Harry. — Achei que fosse apenas uma brincadeira do Departamento de Mistérios.
— Ele é um bruxo capaz de sentir a presença de chaves de portal, diretora McGonagall – continuou Hermione. — Quando Hogwarts sofreu grandes provações na II Grande Guerra, ele foi atraído para cá, durante a reconstrução. Ele trabalhou diretamente nas escadarias, pois sempre foi atraído por elas, quando criança.
— Seria uma provável manifestação de seu dom? – questionou o Ministro.
— Acreditamos que sim, senhor – respondeu a bruxa. — Ele observou as escadas por um longo tempo até notar que a sequência delas poderia ser vinculada à escrita de runas antigas e identificar o seu teor — Hermione fez uma breve pausa, aumentando a expectativa de todos na sala. — Significa “sempre as crianças” – afirmou e diante do olhar confuso dos outros, prosseguiu. — A lenda dos sereianos nos informa que devemos manter a mente aberta e quem mais possui o dom de observar o inobservável do que as crianças? Nós, quando éramos estudantes, compreendíamos o que ocorria no mundo de um jeito diferente dos adultos, nos antecipando, muitas vezes, aos acontecimentos. Por que seria diferente com essa geração? Eles estão muito mais sensíveis e antenados do que nós. “Sempre as crianças” nos farão lembrar do que realmente importa.
— Então a teoria do jogo de xadrez seria para elas? – perguntou Harry.
— Sim. Eu acho que algum pestin… Alguma criança – corrigiu-se Rony – Deve ter alguma informação que não levou a um professor. Claro, até nós mesmos já fizemos isso. Quantas vezes falamos e não fomos ouvidos? Sem ofensa, diretora.
— Ronald! – retrucou sua esposa.
— Ele está certo – respondeu Minerva. — Sempre no lugar errado na hora certa, era o que costumávamos dizer. Coincidências, mas o Prof. Dumbledore nunca pensou assim.
— Seus filhos – respondeu, de repente, Neville.
— Perdão? – questionaram seus amigos.
— Bom, se for para pensar assim, são os seus filhos que sempre estão no lugar errado na hora certa – disse Longbottom. — Alvo e Rose estavam na escadaria no dia em que você também ouviu a voz, Harry. Os Dumbledore, Malfoy e algumas outras crianças também. De fato, eles sempre andam por aí em atitude suspeita, como diz o Prof Pratevil a toda hora na sala dos professores. Na biblioteca, nos terrenos lá fora, nos corredores e até mesmo aqui perto da sala da diretoria. Nunca notaram? – questionou a Harry e Gina, que já haviam lecionado, dirigindo depois seu olhar a uma diretora que buscava na memória todos estes fatos.
— Nesse caso, acredito que devemos ouvir o que os jovens têm a dizer para acrescentar informações para a resolução deste caso – ressaltou o Ministro. — Não vamos cometer os mesmos erros de antes. Quem sabe não venha deles a simples solução para o problema da magia que enfrentamos na escola? Eu preciso voltar ao Ministério. O senhor por ficar, Sr Potter. Acredito que lhe interesse saber sobre seu filho.
— Tem mais uma coisa – disse Hermione, atraindo a atenção de todos. — Muitos excêntricos de magia acreditam, segundo o calendário antigo, que hoje será a noite elemental.
— O Ministério esteve uma loucura durante todo o dia por conta disso e o Profeta Diário não ajudou publicando as matérias sobre o assunto. 7 páginas devoradas ávidamente por muitos curiosos. Não faz ideia de quantas corujas recebi alardeando sobre o fim dos tempos – informou o Ministro.
— O senhor não acredita? – perguntou Neville, um dos que devoraram as páginas do Profeta.
— Acredito que esse tipo de notícia vende muito jornal e atrapalha o andamento dos trabalhos mais sérios – respondeu, austero. — Metade dos funcionários do turno da noite já informou que não irá trabalhar e desconfio que a outra metade simplesmente não apareça. Todos querem observar a lua ficar azul, com o acúmulo de poeira cósmica. Deve ser algo único de se admirar e pode ser que eu o faça, se de fato acontecer. Não acredito nas informações sobre o que ocorreram em noites assim, mas devo me precaver daqueles que acreditam, pois o fanatismo, muitas vezes, leva a atitudes insensatas. Pegamos um grupo que tentou revelar a existência de nosso mundo em plena King’s Cross na hora do rush. Sem falar do monitoramento dos trouxas que acreditam em magia e fim dos tempos. Não é um dia comum, nisso os teóricos estavam certos.
— De certa forma, Ministro, Wades Where tem o mesmo pensamento que o do senhor – informou Rony. — Ele sente que muitos bruxos fizeram chaves de portais acreditando nas supertições do dia de hoje, inclusive, em Hogwarts. Se existe uma chave de portal aqui pode ter sido deixada por qualquer pessoa, em qualquer tempo – ressaltou. — Desde os fundadores até mesmo…
— Voldemort – finalizou Harry, criando um silêncio constrangedor na sala.
Hermione encarou o esposo, surpresa pela conclusão brilhante que ela mesma não teve.
— Vou verificar se dispomos de mais alguns bruxos para monitorar a escola hoje à noite – informou o Ministro, concordando com os bruxos. — Diretora McGonagall, acredito que os alunos não devam percorrer o castelo livremente esta noite.
— Concordo. Prof Longbottom, por favor, avise aos outros diretores das Casas que iremos reunir todos os alunos no Salão Principal para admirar, através do teto encantado, esse fenômeno. Dessa forma, não levantaremos suspeitas ou alardes. Vou preparar o espaço junto aos outros professores para o evento. Senhores Potter e Weasley, poderiam fazer a gentileza de conversar com os seus filhos? Nos encontraremos no salão.
Os adultos logo de dispuseram aos trabalhos. Enquanto isso, nas masmorras, o quarteto formado pelo corvinal e sonserinos aguardava, ansiosamente, algum sinal próximo à masmorra número 13.
— Acha que ainda vai demorar muito? – perguntou Malfoy à colega.
— Você precisa ter paciência – informou a garota, sem tirar os olhos de sua interessante leitura.
— A noite elemental deve acontecer entre por volta das 18h. Era como meu avô contava as histórias, pelo menos – respondeu Khai.
— Bom, estamos próximos das 18h, com certeza. O jogo já deve ter terminado. Será que a Grifinória ganhou a Taça de Quadribol de novo? – comentou o corvinal para se arrepender em seguida, diante do olhar sanguinário dos sonserinos. — Desculpe.
— Vou dar uma volta – informou Malfoy.
— Mas e se algo acontecer e… - começou Khai.
— Vocês me chamam, ora. Vou olhar o que tem nas masmorras – retrucou.
— Tome cuidado – ressaltou a garota, passando a página do livro sem encará-lo. — Deve existir uma boa razão para não deixarem os alunos perambularem por aqui. Vê se não morre comido por um dragão ou é enfeitiçado.
— Lizzie! – exclamaram Tiago e Khai.
Deymon encarou a garota por alguns instantes e sorriu discretamente enquanto saía.
— Pode deixar.
Malfoy começou a andar descompromissado, mantendo-se próximo ao local onde estavam seus colegas. Pelo caminho ascendeu algumas tochas com incendio. Espiou curioso pelas portas abertas das masmorras, empurrou outras sem trinca e até utilizou o feitiço alohomora em pequenas salas trancadas. Algumas, entretanto, foram impossíveis de abrir. Observou curioso uma sala repleta de instrumentos antigos e algemas nas paredes onde supunha que ocorriam os antigos castigos tão comentados por Filch. Na verdade, mais parecia um local para conter um animal mágico de escala XXXXX na classificação do Ministério da Magia. A maioria das salas naquela seção estava vazia.
Após alguns minutos de exploração, ele resolveu caminhar de volta e aguardar pacientemente junto aos outros quando chutou uma pedra que quicou através de uma parede sólida. Aquilo definitivamente chamou sua atenção, pois era algo excitante e perigoso. As palavras da sonserina ecoaram em sua mente como um lembrete e Deymon sacou sua varinha, atravessando a parede, cautelosamente. Um pequeno corredor escuro se revelou.
Lumus! – ordenou.
Não havia absolutamente nada. Nenhum barulho, nenhum objeto, nada. Apenas um longo corredor sem fim. Talvez fosse esta a passagem para fora do castelo à qual Filch havia citado quando tomou a poção veritasserum. Deu meia volta para se juntar aos amigos na longa vigília e contar as novidades quando notou que pisava em pequenas pedrinhas pontudas que brilhavam. Ao aproximar os olhos notou que, na verdade, eram sementes. Pegou algumas e tentou imaginar que tipo de espécie alguém estava tentando plantar por ali. Prontamente pegou o caminho de volta para questionar à sonserina se saberia identificá-la. Talvez fosse algo interessante para investir.
Elizabeth estava aparentemente calma, folheando um livro de feitiços práticos, dentro da masmorra número 13, mas mantinha os olhos atentos a qualquer alteração no ambiente. Do lado de fora, Khai e Tiago estavam sentados em lados opostos do corredor, também alertas para algum sinal. Deymon chegou pelo caminho onde Macbeer se encontrava e comentou com o amigo o que tinha visto na pequena exploração. Sacou dos bolsos as sementes e mostrou ao colega. Por alguns instantes Khai encarou o que o sonserino lhe mostrava na certeza de que sabia ser algo importante, mas não conseguia recordar exatamente o quê. Tiago, curioso, se aproximou dos dois e viu as sementes. A expressão no rosto do corvinal se tornou sombria:
— Merlim! Onde você encontrou isso? São sementes de fogo da Macedônia. Ingredientes não-comercializáveis classe A! São elas que atraem os hungús e sabemos que eles estão na floresta!
— Tem certeza de que são sementes de fogo? – Malfoy perguntou, preocupado.
— Claro que sim. Meu tio me mostrou no livro. Onde conseguiu? – interrogou tenso.
— Em uma passagem secreta mais adiante – informou. — Acho que é a passagem que leva para fora da escola – disse, em tom de afirmação.
— O que houve? – indagou a garota ao sair da masmorra, diante do alvoroço.
— Semente de fogo da Macedônia. Malfoy encontrou, possivelmente, na passagem que leva para fora. Acha que pode atrair os hungús, Lizzie? – Khai questionou.

— Tenho certeza – sussurrou a sonserina ao avistar uma sombra se formando na parede ao fim do corredor. — Mantenham a calma, saquem as varinhas e encostem na parede – sussurrou. — Ninguém move um músculo. Lembrem que os hungús são completamente surdos, têm um olfato muito ruim e se orientam pelo movimento da presa apenas. Shhh! – ordenou.
Virando no corredor, um animal de 1 metro de altura e pelugem vermelha, de corcunda acentuada e pelos espetados em toda a extensão da coluna surgiu no campo de visão de todos. Lizzie discretamente fez sinal para todos manterem a calma. O hungú caminhou vagarosamente, como se desconfiasse de algo. Farejou o ar e atiçou os sentidos para qualquer movimento suspeito de alguma presa. Passou bem próximo a Malfoy que prendeu a respiração no momento e chegou a roçar a perna de Khai, que fechou os olhos e mentalmente pediu a proteção de Merlim.
Preocupado com o que um simples movimento do sonserino pudesse acarretar, Tiago virou o rosto na posição oposta, ergueu sua varinha e murmurou o feitiço wingadium leviosa no banquinho onde estava sentado, minutos antes. A ação chamou a atenção do hungú que ergueu as orelhas pontiagudas e se retesou para analisar o melhor ataque. Tiago murmurou um outro feitiço: uediuose. O banquinho foi descontroladamente lançado para dentro da masmorra número 12. O animal partiu em um ataque violento e, assim que passou pela porta, as crianças correram para trancá-la. Tiago a lacrou com o colloportus e todos suspiraram aliviados.
— Brilhante, Tiago! Isso foi brilhante! – exclamou Lizzie.
— Arriscado, mas realmente inteligente – afirmou Deymon.
— Ora, não foi nada – e sorriu, constrangido. — Acho que devemos avisar que o hungú está preso aqui, não acham? Seria perigoso se ele fugisse e atacasse alguém no corredor.
— Se fosse o Prof Pratevil seria um alívio, na verdade – disse Macbeer e todos deram risada, concordando.
— Bom, não podemos sair daqui para avisar. O que sugere Sr Richards? – perguntou Malfoy.
— Podemos mandar um bilhete voador – informou Lizzie. — Tenho aqui exatamente o que precisamos – disse e começou a vasculhar a sua bolsa por alguns instantes.
Depois do que pareceu uma eternidade, retirou um pergaminho, tinta e pena. Rasgou um pedaço do papel e escreveu uma mensagem sucinta informando onde estava preso o hungú, mas não assinou, é claro. Seria a prova de que estavam no lugar errado e na hora errada. Tiago se prontificou a fazer a transfiguração e, instantes depois, todos admiraram o feitiço do colega seguir em direção à entrada das masmorras. Certamente, alguém o acharia.
Os minutos se passavam e nada acontecia. De um lado, os sonserinos e corvinal comentavam sobre quem poderia ter colocado as sementes para tentar se distrair; do outro, os grifinórios e lufos observavam, nervosos, os alunos serem convocados para dormir no Salão Principal. Rose se aproximou bastante e conseguiu captar algumas conversas soltas sobre um fenômeno excitante e crendices idiotas. A garota não tinha dúvida de que todos estavam comentando sobre a noite elemental. Protegidos pelo feitiço abaffiato, os quatro discutiam as opções.
— Vão dar a nossa falta, quando fizerem a contagem das Casas – começou John.
— Pior. Nossos pais vão sentir a nossa falta antes disso – informou Rose. — Péssima hora para minha mãe estar aqui no castelo. Acho melhor desistirmos, Alvo. Podemos falar para eles que o sinal será aqui. Tenho certeza de que saberão o que fazer.
— Eu não quero ser pego fora da cama e ser expulso da escola. Esse é o único lugar em que eu fico sem gaguejar e as pessoas não pegam no meu pé o tempo todo. Não quero voltar para a escola de trouxas – confessou Peter.
— Alvo, vamos deixar nas mãos dos adultos mesmo, afinal, somos apenas crianças. Até onde iríamos com isso? – disse Rose.
— Foi uma aventura boa enquanto durou, não acha? – John questionou ao lufo.
— Sabe, alguma coisa dentro de mim acha que estamos no lugar certo e na hora certa, mas vocês têm razão. Estamos arriscando coisas muito preciosas, para cada um de nós. Não serei eu a insistir em algo que a maioria não quer. Vamos encontrar os outros alunos no Salão e contar para nossos pais o que sabemos da noite elemental, do portal e dessa pedra do Lago.
Os quatro recolheram suas coisas e iam sair quando ouviram uma pequena discussão vinda do hall. Parecia que um aluno estava informando a um professor que precisava fazer uma coisa importante, em particular, antes de entrar no Salão Principal. Alvo rapidamente identificou a voz do seu irmão, James, solicitando ao Prof Pratevil que fosse na frente, pois ele iria depois. Acreditando tratar-se de uma afronta sem tamanho, o professor pegou-lhe pelo braço e levou-o até o Salão, sob protestos de que Pratevil não entendia o que estava acontecendo. Por um momento, James olhou diretamente através do véu de invisibilidade e os quatro primeiro anistas tinham certeza de que o garoto sabia da localização deles.
O Salão Principal estava totalmente decorado com temas de astronomia. Tapeçarias que imitavam as estrelas ocupavam todas as paredes laterais de pedra. As tochas emanavam uma luz azulada, o que dava um clima ainda mais mágico ao evento. No chão, vários sacos de dormir com os emblemas das Casas estavam misturados no chão. No teto que imitava o céu lá fora, a lua aparecia com todo o seu esplendor, oferecendo um espetáculo de beleza.
Assim que James entrou no Salão se desvencilhou do Prof Pratevil e foi em direção aos seus pais. No mesmo momento, Hagrid entrou no Salão com o olhar preocupado e dirigiu-se à diretora McGonagall. Harry, Rony e Hermione conheciam muito bem o Guarda Caças para saber que algo estava muito errado e foram ao seu encontro, juntamente com Gina.
— Diretora, temos um problema – informou Hagrid.
— Por Merlim, Hagrid. Estou muito ocupada agora. As corujas novamente?
— Na verdade, é tudo – continuou.
— O que houve Hagrid? – perguntou Hermione.
— Está uma loucura lá fora. Centauros, acromântulas, tronquilhos, sereianos, cavalos alados, testrálios, corujas, Bicuço, quase toda a Floresta... Estão todos lá fora – disse o meio gigante, contorcendo as mãos. — Eu não sei o que fazer. Os centauros se recusam a sair, assim como os animais. É como se Hogwarts estivesse sitiada.
— Pai... – chamou James.
— Agora não, querido. Estamos muito ocupados – disse Gina.
— Vamos até lá – ordenou a diretora.
Hagrid, Harry e Rony seguiram imediatamente a diretora, enquanto James insistia:
— Mas mãe é importante! Muito!
— James, agora não é a hora. Faça um favor para mim, sim? Encontre seu irmão. Não o vi por aqui ainda.
— E Rose também. Não acredito que ela não veio falar comigo – disse Mione, chateada.
— Mas mãe...
— Voltamos já amor. Vamos só aqui fora rapidinho.
— Mas...
Os adultos saíram do Salão deixando um James bem irritado. Ele abriu mais uma vez o Mapa do Maroto que surrupiou da sala de sua mãe após o jogo de quadribol e viu onde os quatro se escondiam. Tentou sair do local e encontrá-los, mas o Prof Longbottom não permitiu, pois era uma ordem da diretora. Estava prestes a revelar o que era o pergaminho em suas mãos quando exclamações brotaram de todos os lados. Os alunos, professores e funcionários encaravam abismados a lua no teto encantado ser completamente tomada por um azul cintilante fora do comum. A noite elemental se revelava verdadeira, afinal. Ainda embriagados pela beleza do evento, os estudantes comentavam sobre todas as histórias possíveis e imagináveis relacionados àquilo.
As portas do Salão voltaram a se abrir para a entrada de Harry, Rony, Gina e Hermione. Suas expressões eram de extrema preocupação, diante do que tinham visto. Minerva ainda estava lá fora, junto com Hagrid e bruxos do Ministério, tentando fazer os animais e seres mágicos respeitar o terreno da escola, uma vez que ameaçaram invadir. Os olhos do quarteto rapidamente procuraram seus filhos e Harry encontrou James. O jovem bruxo deu uma nova olhada no Mapa enquanto seguia ao encontro dos pais e estagnou, em choque.
— O que...?
— James, onde estão Alvo e Rose? – perguntou Harry ao alcançá-lo.
— É isso que estou tentando falar para vocês há séculos! – exclamou, alarmante. — Eles estavam bem aqui, ó! – e indicou o local da infiltração.
— Estavam? – perguntou Hermione, colocando a mão sobre o coração apertado.
— Sumiram! – respondeu o garoto.
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Sheu
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 24 a 30(att 10/03/2014)

Post by Sheu »

29
AS QUATRO QUEDAS
Parte I
Arrependimento. Era justamente isso que passava pela mente de Alvo Potter enquanto gritava, sem saber aonde iria parar. Desde que entraram através do portal os quatro amigos sentiram o peso da gravidade ao cair descontroladamente pelo túnel de pedras vazio e escuro. Tudo havia acontecido de uma forma tão rápida, que ele tentou repassar em sua cabeça exatamente como a situação chegou àquele ponto.

Rose, Peter e John conseguiram convencer o lufo a desistir daquela aventura, uma vez que seus pais estavam no castelo. Além disso, James certamente sabia onde estavam e todos já conheciam o segredo da noite elemental. Foram impedidos de deixar o local quando Hagrid passou como uma Firebolt FX, trazendo de volta os bruxos mais velhos e a diretora da escola. As crianças trocaram olhares curiosos e tentaram captar alguma coisa do lado de fora. Pelo tom enérgico da diretora, parecia que visitantes indesejados tentavam entrar na escola de qualquer jeito. O grupo decidiu então se juntar aos outros alunos, contudo, mais uma vez foram acoados pelo retorno de Rony, Hermione, Gina e Harry.

Ficaram tensos ao pensar que não conseguiriam deixar o local com segurança, quando o símbolo do portal se iluminou em um tom azul celeste cintilante. De repente, a água começou a transbordar da parede de pedras, contudo, não escorreu pelo chão. Foi ocupando toda a área até o teto, formando uma camada espessa sobre o local. Os quatro olharam deslumbrados e a curiosidade de John o fez tocar a água antes que Rose conseguisse alertá-lo para o perigo disso. Dois jatos de água saltaram rapidamente da parede e envolveram os quatro, enlaçando-os e puxando-os através das pedras para o abismo sem fim onde se encontravam no momento.

— Oh, meu Deus! Nós vamos morrer! Nós vamos morrer! – gritava Jonathan.

Lumus! – gritou Rose, colocando alguma luz naquela situação.

Peter e Jonathan gritavam e choravam, agarrando-se um ao outro. Alvo girava ainda em queda descontrolada, esbarrando algumas vezes na parede do poço em que se encontravam. A própria Rose sentia o rosto molhado de seu desespero calado e não conseguia sentir o sangue circular pelo seu corpo.

“Nós vamos mesmo morrer”, pensou consigo mesma. — Calem a boca! – berrou para os outros garotos, nervosa demais para lidar com o psicológico daquilo tudo. — A gente ainda está caindo – constatou, alarmada. — Parece que não tem fim.

— E você está querendo ver o fim disso? – gritou Peter, falseando o tom por conta do desespero, enquanto se soltava de John e enxugava as lágrimas.

— Claro que não, mas é intrigante. Deve ser algum tipo de magia. Não tem como Hogwarts ter as bases tão profundas assim – rebateu a garota.

— Mas é uma escola de magia – informou John. — Tudo é possível, não?

— Se fosse para a gente morrer, já tínhamos morrido – disse Alvo, conseguindo se equilibrar perto dos outros. — Os bruxos são muito diretos nisso quando não querem ser incomodados.

— E o que é que a gente faz agora? – perguntou o colega lufo.

— Nada – respondeu Alvo. — Só esperar e acreditar que vai acabar tudo bem.

O quarteto caiu em uma monotonia irritante nos minutos seguintes. O medo da possível morte iminente deixava a todos nervosos e sem palavras para trocar. Rose observava que as paredes do poço pareciam com as mesmas da estrutura da escola e, além disso, estavam úmidas. Um lampejo de felicidade a atingiu pensando na possibilidade de haver água abaixo, contudo, lembrou-se que a essa velocidade não faria muita diferença: iria matá-los de imediato. A perspectiva não era muito positiva.

Alvo pensava em todas as aventuras que seu pai e seu tio lhe contavam e de como as achava fascinantes. Muitas vezes fingia estar nessas histórias com seu irmão, enquanto destruíam um abajur inimigo ou atravessavam um quadro secreto. Agora conseguia notar que em muitas daquelas aventuras contadas havia perigo de verdade, mas também havia esperança e era a ela que se agarrava desesperadamente.

Peter chorava copiosamente e Jonathan começou uma disputa de cuspe para ver qual subia acima deles primeiro, o que realmente distraiu o lufo e deixou Rose enojada. Mas John, na verdade, só conseguia pensar na irmã e tinha uma estranha sensação de que ela conseguia sentir o mesmo que ele.

Rose foi a primeira a notar algo diferente: uma pequena luz amarela cintilava como uma pequena estrela no céu. Aos poucos, ela foi crescendo e os outros também a observaram, com a respiração cortante. Então, o pavor tomou conta ao notarem que ali era o fim. Gritos, lágrimas, negação, desespero silencioso eram todos um só sentimento nas crianças ao observarem o chão duro de pedra se aproximar rapidamente. Iriam morrer.

De repente, tudo parou. Alvo abriu os olhos e notou que os quatro estavam suspensos a poucos centímetros do chão, com a respiração presa nos próprios pulmões e o grito de socorro enforcado na garganta. Da mesma forma como os parou, a magia os libertou, chocando-os contra o chão de pedra frio. Quatro archotes iluminados a três metros acima iluminavam o ambiente. Os quatro levantaram após alguns muchochos e resmungos de dor da pancada inesperada.

— Estão todos bem? – perguntou Alvo.

— Acho que sim – informou John. — Onde estamos?

— Esperem! Ouviram isso? – alarmou Rose.

— O quê? – questionou o primo.

— Shh! – rebateu, exigindo silêncio com o indicador nos lábios.

Um barulho surgiu do lado oposto de onde estavam, por dentro das paredes, como se um animal se arrastasse por elas. O barulho era grave e gutural, como um mar de almas aprisionadas em sofrimento por algum monstro. Instintivamente, os quatro sacaram suas varinhas, buscaram se posicionar o mais longe possível e assistiram, com horror, uma abertura surgir bem próxima ao chão. O barulho se intensificava e ficava mais agudo. Eles notaram que se tratava de gritos humanos no mesmo instante em que quatro corpos eram lançados através da passagem.

— Vocês?! – surpreendeu-se a grifinória.

— O que vocês estão fazendo... Como...? – indagou confuso Alvo, enquanto via a abertura sumir diante de seus olhos.

— Você está bem, Lizzie? – perguntou Jonathan, ajudando-a. — Isso até que faz sentido, sabe? Tive a sensação de que você também estava caindo.

— Escorregando para o nada, na verdade. E eu estou bem – disse, limpando a roupa.

— Vocês nos seguiram! – acusou Rose.

— Claro que não. Temos mais o que fazer do que seguir vocês – rebateu Khai.

— E como vieram parar aqui, posso saber? – continuou questionando, teimosa.

— Não – respondeu Malfoy, seco. — Não é da sua conta.

— Ok, ok! – meteu-se Alvo, antes que a prima respondesse. — Temos que arrumar um jeito de sair daqui. Sugestões?

— Ei! Deem uma olhada melhor nessa parede. Tem coisas aqui – alertou Tiago, que se afastara da confusão. — Figuras, desenhos e até uma escrita. Parece ser bem antiga.

Todos se aproximaram para ver o que o corvinal apontava.

— Eu sei que símbolos são esses. É serêico! – afirmou Lizzie, categórica.

— Serêico? E como você sabe serêico? Você foi criada por trouxas, não tem como ler serêico porque leva anos. Minha mãe me disse como é difícil – disse Rose.

— Eu sei que é serêico, mas não sei ler senhorita duvido-de-tudo – respondeu a outra, irônica. — Eu li um livro sobre o assunto esse ano. Lembro-me desses símbolos.

— E o que significam? – perguntou Malfoy.

— Não sei – respondeu. — Mas eu trouxe o livro comigo – disse com um sorriso de desafio diante do olhar estupefado da outra garota.

Enquanto Elizabeth procurava nas páginas alguma referência sob o olhar curioso de Tiago e Jonathan, os outros observavam o que as figuras queriam dizer. Havia a escultura de uma cascata submersa, onde sereianos, bruxos, trouxas e seres mágicos apareciam juntos. Uma montanha que parecia formada por um muro de pequenas torres passava pelo centro da parede, desenhada em ondulações aqui e ali. O vento soprava no lado direito, onde duas torres se destacavam, suspensas, com várias janelas triangulares. Não havia símbolo de Hogwarts e, na verdade, nada daquilo parecia dizer alguma coisa. Abaixo das torres suspensas havia um grande buraco, o mesmo que aparecia acima da cascata, como um radiante sol. Perto dele, havia marcas de arranhões deixados por feitiços cortantes, espada ou pior: garras.

No rodapé da escultura, estava a escrita rústica que Elizabeth e os outros discutiam junto a um pergaminho. Divergiram em alguns momentos e então concordaram com a tradução ao pé da letra que fizeram.

— Você só pode estar de brincadeira – disse Khai, ao ler o que estava no pergaminho.

— Isso não ajuda em nada, realmente – concordou Peter.

— “O que realmente importa flui” – repetiu Alvo e ficou pensativo por um tempo. — Fluir como a água que nos puxou? – continuou o raciocínio.

— Vocês também? – questionou o corvinal, surpreso.

Os alunos trocaram olhares desconfiados e Alvo resolveu quebrar o gelo ao contar como haviam sido atraídos pela parede de água e como dois braços os agarraram e puxaram. Já Thiago explicou que, com eles, o chão inundou e abriu sob seus pés, de onde tentáculos os agarraram pelos tornozelos, fazendo-os escorregar por uma profusão de canos sem fim, até caírem ali.

— Estamos perdendo alguma coisa – disse Elizabeth.

— Por que não pedimos para a água aparecer? – perguntou John.

— Simples assim? – ironizou Khai. — E como exatamente você faria isso? – questionou.

O garoto deu de ombros, pensou um momento, sacou sua varinha e disse:

Acqua revelium!

Um barulho de água escorrendo começou a surgir lá de cima, até que as paredes ao redor da que estava com as inscrições fossem tomadas por uma fina camada contínua de água. John tocou nela, pensando que novamente os braços aquáticos os levariam dali, mas nada aconteceu além da sua natural fluidez. Logo ela começou a se acumular no chão de pedra e, em poucos segundos, Malfoy compreendeu o que viria a seguir. Seus olhos buscaram Elizabeth, completamente pálida e sem reação, do lado oposto de onde a água escorria, encarando o líquido sob seus pés com a respiração cortante.

— Seu idiota! Não viu o que fez? – gritou Deymon para o confuso grifinório, até que encarou sua irmã e empalideceu junto.

— Desculpe! Desculpe, desculpe, desculpe! Me desculpa! – pediu, segurando as mãos frias da irmã.

— Cala a boca – disse a garota, em uma voz trêmula e baixa que não condizia com ela.

— Desculpe, Lizzie. Eu não pensei... Eu não... Eu estou aqui com você.

— Cala a boca, seu idiota! – vociferou, angustiada. — Você também não sabe nadar!

— Calma gente. Vamos tentar ficar calmos, certo? Não é como se essa água fosse jorrar para sempre, não é? Finite incantatem – lançou o feitiço Tiago, mas a velocidade da água apenas aumentou.

— Temos que descobrir porque precisávamos de água aqui – disse Rose. — Está gelada, não acham? Demais até. Deve ser água do lago e pode ter mesmo propriedades mágicas. Então, estamos no caminho certo. Temos apenas que descobrir para onde ela flui.

— Eu tive uma ideia – disse Peter. — Eu vi um filme uma vez em que as pessoas ficavam presas e tentavam descobrir para onde a água escorria. Jogavam papel no chão, dinheiro, qualquer coisa e encontravam a saída.

— Brilhante, Peter! – exaltou Tiago. — Lizzie, pode me dar o resto do pergaminho que trouxe?

A sonserina prontamente fez o que foi pedido e, sob a sugestão de Malfoy, Tiago o rasgou em vários pedaços e espalhou pelo chão, mas nada aconteceu. As crianças trocaram olhares desapontados e a água já alcançava seus joelhos.

— E agora? – perguntou Khai.

— Por que não escorre água daquela parede? – questionou Alvo.

— Estamos perdendo alguma coisa – disse Rose. — Vamos olhar direito, deve ter alguma pista em algum lugar.

As crianças se puseram a analisar cada desenho, tentar decifrar o indecifrável, encontrar alguma luz no labirinto em que se encontravam. Lizzie, Rose e Tiago abriram o livro mais uma vez para ver se teria uma outra versão possível para a inscrição já submersa, mas tudo o que tentavam não fazia sentido algum. A água batia agora na cintura de todos.

— Por que nós não colocamos essa parede abaixo? – perguntou Lizzie, nervosa. — Um bombarda não resolveria? Diffindo, qualquer coisa?

— Podemos dar um grande tiro no pé, de novo – disse John.

— Está frio – comentou Peter.

— Você tem razão, Peter – respondeu Rose. — Se a gente ficar muito tempo nessa água podemos ter hipotermia e... – o restante se perdeu na garganta da garota, mas todos compreenderam.

— Eu posso ajudar nisso – disse Elizabeth. — Jogou a mochila na frente do corpo e passou a vasculhá-la. Puxou alguns vidrinhos até encontrar o verde que queria. — Poção Wiggenweld. Eu mesma fiz, não roubei – respondeu, diante do olhar desconfiado da grifinória. — Restaura as forças o que, nesse caso, pode deixar a gente quente de novo por algum tempo. Venham, virem as palmas das mãos.

Elizabeth pingou algumas gotas em cada um e eles logo sentiram o calor percorrer internamente e recuperaram o ânimo.

— Brilhante, Elizabeth! – elogiou Alvo, enquanto esfregava as mãos quentinhas.

— Obrigada – respondeu, sem falsa modéstia.

— Galera, olhem isso! – alarmou Tiago. — Quando a gente olha de longe essa coisa toda fica parecendo...

— Um dragão – completou Malfoy, estupefado.

— E aí está o símbolo de Hogwarts que a gente não viu – concluiu Rose. —“Draco dormiens nunquam titillandus”.

Um grande barulho de algo se rachando fez com que todos tapassem os ouvidos e olhassem para cima. Estarrecidos, viram a parte superior, acima dos quatro archotes, fechar-se bruscamente, permitindo apenas a passagem contínua da água.

— Não! – gritaram Elizabeth e Tiago.

— Ai meu Deus! Ai meu Deus! – exclamou Peter.

— Por Merlim, Weasley! O que você fez? – berrou Deymon.

— Eu... Eu... – a garota estava pálida. — Eu não tinha como saber... Não foi minha culpa... Eu...

— Claro que foi sua culpa, garota burra! – revoltou-se Khai.

— Ei! Calma lá. Não pode falar assim com uma menina – defendeu Jonathan.

— Vamos todos tentar ficar numa boa, ok? A situação está feia – disse Alvo. — Ninguém tinha como saber. Qualquer um podia ter dito o lema e...

O garoto perdeu a fala diante do que todos estavam vendo. Uma conhecida luz azul surgiu da parte inferior da parede de pedras, submersa pela água e foi tomando vida, percorrendo as bordas da escultura na parede para revelar um grande dragão de perfil que Thiago havia alertado anteriormente. O que antes era uma montanha que parecia formada por um muro de pequenas torres se revelou um dorso espinhento; o vento que soprava era na verdade chamas; as torres suspensas as enormes orelhas ou chifres pontudos; o grande buraco vazio era o olho; a cascata era sua cauda e o sol radiante era apenas a maça na ponta dela. As patas eram as linhas do rejunte da parede de pedras, invisíveis aos olhos.

— “A luz mostrará o caminho...” – disse Elizabeth e o grupo que estava com ela logo entendeu.

A garota vasculhou sua mochila em busca da pedra tomando cuidado para não baixar a mochila abaixo do nível da água, evitanto assim molhar tudo lá dentro enquanto estivesse aberta. Ela já batia na altura do seu peito e o nervosismo a fez derrubar uma série de coisas que estavam organizadas dentro.

— Deixe-me ajudar – disse Tiago. — Accio pedra.

O objeto saltou vigorosamente da mochila e caiu em suas mãos.

— Vocês também?! – exclamou a grifinória, surpresa.

— Vocês possuem uma igual? – perguntou Malfoy. — Quando molhamos ela fica...

— Com inscrições em azul, da mesma cor – completou Alvo, apontando para a parede.

— Não sei quanto a vocês, mas acho que coincidência tem limite e já passamos dele – informou John.

Accio pedra! – ordenou Rose para dentro de sua bolsa extensível e o objeto também voou direto para sua mão.

Os dois grupos molharam as pedras e elas revelaram as escritas a que se referiram.

— A nossa significa “a luz mostrará o caminho”, mas Lizzie acha que é só a primeira parte. O que diz a de vocês? – perguntou Tiago.

— Não sabemos. Não tinha nenhum livro disponível de serêico na biblioteca – informou Rose, olhando desgostosa para a sonserina.

— Poderia até ajudar, mas não sei se vocês notaram A ÁGUA ESTÁ QUASE NO NOSSO OMBRO! – respondeu a morena, com a voz alterada.

— Carter, relaxa. Eu e Tiago vamos ajudar você a flutuar. Não vai se afogar, tem a minha palavra. Eu não vou deixar – disse Malfoy, aproximando-se ainda mais dela.

— Nem eu. Sabe que gosto da sua companhia ao meu lado – disse o corvinal com seu sorriso mais acolhedor e sedutor.

— Ei! – reclamou Jonathan.

— Fica frio, John. A gente te ajuda – disse Peter, apontando para si e Alvo, enquanto sorria irônico.

— Deixe-me ver a sua pedra, Rose – pediu a sonserina e a outra pulou até ela, diante da dificuldade de caminhar. — A sua é mais fácil. Esses dois símbolos são números: 2 e 1. Eu preciso pegar o livro. Tiago, me levanta.

O garoto assim fez, mergulhando e colocando a sonserina acima do nível da água, embora a água já batesse no seu ombro.

Accio Submergindo na Cultura Serêica! – ordenou a sonserina e o livro saltou para a sua mão. Fechou a mochila e jogou para Khai. — Deixe-me ver... Hum...

— Eu apreciaria se fosse um pouquinho mais rápida – desse Tiago, com a água chegando ao seu pescoço.

— Shh! Não me pressione. Isso não é um dicionário. Tenho que achar um símbolo que se pareça com aqueles antes e entre os números - respondeu.

— Seria mais rápido se você passasse algumas folhas para a gente olhar – sugeriu Peter.

— Rasgar um livro da biblioteca?? – exclamaram as duas garotas, revoltadas.

— Não precisa rasgar – disse John e sacou sua varinha. — Protean!

O livro duplicou diante do olhar impressionado de sua irmã. Rose agarrou um livro. Jonathan fez mais duas cópias para as mãos livres de Alvo e Deymon. Elizabeth teve que descer dos ombros de Tiago pouco depois, pois o garoto estava no limite, mas antes guardou o livro original em sua mochila. Tensa e com princípio de pânico, não conseguiu mais procurar nada, embora o corvinal e Khai a ajudassem a manter-se flutuando.

— Achei! – disse Malfoy. — Página 47, capítulo 7: Ritos de passagem. Quando um filhote serêico se torna adulto... Quero dizer, tirando o filhote serêico e o adulto, o símbolo é idêntico.

— Você está certo – concordou Alvo.

— Então a frase é “Quando 2 se tornarem 1, a luz mostrará o caminho” – afirmou Rose.

— É “A luz mostrará o caminho, quando 2 se tornarem 1” – corrigiu Lizzie.

— A ordem dos fatores não altera o produto – respondeu Peter.

— O quê? – questionou Malfoy, sem entender o sentido.

— É matemática. Er... Trouxa. Vocês não têm essa regra de multiplicação?

— Isso não vem ao caso, lufo. Se tiver alguma sugestão do que fazemos agora, seria enriquecedor. Não? Foi o que pensei – disse duramente o sonserino.

— Malfoy, ele estava apenas comentando. Não tem necessidade dessa agressividade – disse Rose. — Por acaso você sabe o que fazemos agora? Não. Ninguém sabe. Então tenta não bancar o idiota valentão.

— Do que você me chamou?

— Você me ouviu.

— Merlim! – exclamou Alvo. — Vamos focar no problema?

— Alvo tem razão. Vejam se conseguem unir as pedras de alguma forma – disse Tiago, entregando a que tinha em mãos para Deymon.

— Rose, por favor me dê a pedra e ajude Jonathan, assim não temos mais discussões bestas – pediu o lufo e a prima obedeceu, a contragosto.

Os dois garotos tentaram unir as pedras e até lançaram um feitiço de união por sugestão de Rose, mas nada acontecia. Notaram que as duas tinham em comum alguns pedaços faltando, como se fossem retirados estrategicamente.

— Estamos perdendo alguma coisa – disse Tiago, enquanto mantinha-se em movimento para Elizabeth não se afogar.

Alvo e Malfoy voltaram a observar a parede, tentando encontrar um lugar para encaixar quando o sonserino apoiou o pé, sem querer, no que antes era o olho do dragão. Imediatamente o sonserino prendeu a respiração e mergulhou com a varinha a iluminar o caminho, para examinar melhor. Emergiu logo em seguida.

— Encontrei um buraco! Lembra, Potter? Tinha um no olho...

— E outro na ponta da cauda! – completou e nadou até a outra ponta.

Ao aproximar-se da outra ponta ainda descoberta da água pôde analisar melhor os arranhões que estavam na parede. Na verdade, pareceram muito familiares, como se já tivesse visto aquilo antes. Simplesmente a memória veio como um turbilhão de bolhas:

— Chave! São 2 chaves!

— O quê? – perguntaram os outros, absolutamente perdidos.

— Outro dia, no dia do campeonato de figurinhas clandestinas, lembram? Eu estava mal de insônia e a diretora me mandou para a Ala Hospitalar? No caminho eu... Eu achei que tinha visto uma alucinação: rabiscos apareceram na parede, mas foi muito rápido, como um raio. Lembro que estava tão alucinado por conta do que aconteceu quando achamos a pedra que pensei ser mais uma pista, mas depois deixei para lá. Mas acontece que era! Está claro aqui e forma uma palavra: chave. As pedras são chaves, sempre foram.

— E o que estamos esperando? Vamos abrir logo isso! – afirmou Peter, já cansado de bater as pernas e sustentar Jonathan.

— Não – Tiago respondeu de imediato. — Podemos ter apenas uma chance e a outra parte não está debaixo da água. Tem que estar debaixo d’água.

— Mas se for assim a água vai quase chegar lá em cima – informou Khai.

— Ninguém disse que seria fácil – respondeu Malfoy. — Carter, você vai ter que aguentar firme.

— O que você acha que estou fazendo, Malfoy? – rebateu desgostosa.

— Tentando afogar Richards e Macbeer, certamente – respondeu divertido e todos riram, inclusive ela. — Bom, vou encaixar logo esta pedra daqui para adiantar.

— Não! – gritaram as duas garotas em uníssono.

— Tem que ser ao mesmo tempo – disse Rose.

— Isso, quando 2 se tornarem 1 – completou Lizzie.

— Vocês duas estão concordando em algo? – perguntou Alvo, atônito.

As meninas se encararam por algum tempo.

— Sim – responderam juntas e sorriram da coincidência, embora desconfortáveis.

— Ok. Vocês quem mandam – disse Alvo. — A gente espera.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, a água finalmente ultrapassou a marca para o encaixe da pedra, enquanto as crianças estavam a alguns centímetros de alcançar o teto. Malfoy mergulhou com a varinha iluminando o caminho, enquanto Potter esperava seu sinal para encaixar ao mesmo tempo. Quando os garotos alocaram as peças, a luz que iluminava o dragão foi direcionada para a parte funda próximo de onde Malfoy estava. Ele emergiu em seguida:

— É a saída. Vamos ter que mergulhar.

— O quê? – perguntou a sonserina, em pânico.

— Como vamos fazer? Eles não sabem nadar – disse Peter.

— Mas sabem prender a respiração. Podemos levá-los lá para baixo – informou Alvo.

— Eu não vou – negou-se Lizzie.

— Ah é? Vai ficar aqui com o teto se aproximando desse jeito? – questionou Rose. — Faça os cálculos: a sua melhor escolha é deixar eles te levaram.

— Mas e se tiver um túnel... E se não tiver ar... E se eu me soltar...

— Eu vou primeiro – disse John. — Você vai saber quando estiver tudo bem, não é?

A garota concordou, ainda medrosa.

— Certo. Peter, você e eu vamos levá-lo – avisou Alvo, tomando o lugar de Rose.

— Mantenham as varinhas à mão – sugeriu a prima. — Nunca se sabe.

Os lufos concordaram e contaram até três para prender a respiração junto com John. Apesar de receoso, o garoto segurou no ombro dos colegas que o arrastaram para baixo e pela passagem. O que parecia ser um longo túnel na verdade era apenas uma parede d’água e eles engatinharam um a um para fora.

— Temos que voltar e avisá-los – disse Peter e tentou, mas a parede não permitiu o retorno. — E agora? – se perguntou.

— Eles sabem – informou John, tranquilo.

— Como assim eles sabem? – perguntou Alvo, mas foi interrompido pela chegada de Rose.

— Incrível! Exatamente como ela viu. Incrível! – exclamou.

— Do que você está falando? – Alvo estava bem confuso.

— Legilimência, primo. Eles são gêmeos, deve ser mais fácil, não é? – perguntou ao grifinório. — E sem varinhas!

— Não exatamente. Lizzie é melhor do que eu nisso e ela ainda andou estudando, praticando... – respondeu, mas foi interrompido pela chegada de um corvinal arfante com uma sonserina pálida agarrada em seu pescoço.

— Ela quase me afogou – comentou o garoto com Peter, massageando o pescoço.

— Desculpe – pediu Lizzie, com Jonathan a acalentá-la.

— Tudo bem – respondeu Tiago. — Nem doeu tanto assim – e sorriu.

— Nós iríamos adorar aquela sua poção, sabe? – disse Alvo.

— Claro! Um momento – rapidamente encontrou o frasco e distribui nas palmas de todos. — Isso vai resolver, mas temos que secar as roupas – reconheceu Peter.

— Conheço um feitiço de ar quente. Minha mãe me ensinou os movimentos.

Em instantes, todos estavam secos. Além disso, Tiago, Malfoy e Jonathan tinham dominado o feitiço.

— Onde estamos agora? – perguntou Khai.

Lumus! – ordenou Alvo e a ponta de sua varinha se acendeu, revelando uma parede a cinco metros com uma escultura de gato dourada.

— Aquilo é um gato de ouro sorridente ou é impressão minha? – questionou Peter, hipnotizado pelo reflexo dourado.

Malfoy fez menção de caminhar até o objeto.

— Cuidado! – disse a grifinória. — Não toque nele. Pode ter algum feitiço ou armadilha.

— Eu não vou tocar. É óbvio que pode ter um feitiço mortal com essa cara irônica que tem – respondeu e caminhou cuidadosamente, com Potter ao lado, na intenção de procurar algum detalhe que fosse uma pista.

Tiago iluminou o ambiente e notou que não havia local para onde ir. Estavam fechados em um cubículo e todos na expectativa da pista que o sonserino ou lufo fossem achar, mas para o corvinal havia alguma coisa errada. Sentia um ar de ironia, com uma atmosfera de armadilha. Era como se o ambiente estivesse dizendo algo tão óbvio que ninguém conseguisse prestar atenção. O mais óbvio que podia pensar era o gato sorrindo, mas de quê? Subitamente lembrou-se de sua tia trouxa no Natal quando o pegou mexendo nos presentes da árvore com a irmã dizendo que “a curiosidade matou o gato”.

— Parem onde estão! – gritou, mas já era tarde demais.

Em um piscar de olhos o chão sob os pés de Malfoy e Potter desapareceu e os meninos caíram na escuridão, ouvindo os gritos horrorizados dos amigos. Os garotos deslizavam em uma espécie de rampa estreita de pedra irregular. Com a varinha de Alvo a iluminar o caminho, eles logo notaram que adiante havia um tom escuro além do normal, o que não significava boa coisa no fim.

— Tem que haver uma saída. Alguma coisa a que se agarrar – sugeriu Alvo, iluminando todos os lados.

— Ali! – gritou Deymon do seu lado esquerdo, indicando algumas rochas palpáveis que poderiam servir de apoio.

— Só tem desse lado. Temos que nos jogar ali. Vou te empurrar. Vai! – incentivou, ao empurrar a parede da direita com os pés e jogar seu corpo no sonserino.

As primeiras pedras foram difíceis de segurar por conta da velocidade em que deslizava e o sonserino sentiu suas mãos rasgarem pelo contato áspero. Visualizou entre as seguintes uma que dava para enganchar seu braço, bem perto da beirada.

— Potter, vou agarrar aquela. Você tem que se jogar para cá e então eu te seguro.

— Você tem certeza?

— Não, mas não temos escolha – respondeu, sem tirar os olhos da pedra. — Agora!

Alvo deu um impulso na parede oposta e se jogou para o lado do sonserino ao mesmo tempo em que Deymon encaixava o braço em um baque surdo que o fez soltar um gemido de dor. O lufo esticou o braço para alcançar a mão do loiro, se esticou todo, mas não conseguiu segurar e sentiu o seu pé sumir no vazio com todo o seu corpo em seguida. Fechou os olhos e sentiu uma mão suada segurar o seu pulso, seguida de um grito alto de dor intensa. Seus olhos verdes surpresos encontraram os cinzas absolutamente concentrados do outro garoto.

— Obrigado – sussurrou.

— Suba, Potter. Não vou segurar por muito tempo.

Alvo notou que seu tronco ainda estava na beirada do abismo e tratou de jogar as pernas para cima, aliviando o peso para o sonserino. Ainda podiam ouvir os sons desesperados dos outros e o lufo gritou de volta para dizer que estavam bem e esperassem um pouco. Quando se voltou para o colega, observou que ele ainda se mantinha agarrado à pedra.

— O que houve? – perguntou ao sonserino.

— Não consigo mexer o braço. É... Muita dor. – respondeu, fazendo um esforço para não chorar na frente do outro garoto.

— Deve ter deslocado. Vou te empurrar para trás e liberar o braço da pedra, ok? Temos que tentar colocar ele devagar na posição. Se doer me avisa que eu paro.

O sonserino concordou e se concentrou para não chorar. A retirada da mão da pedra parecia uma estocada no peito que o fez ficar sem ar. O lufo parou e deixou Deymon respirar. Depois foi baixando o braço suavemente enquanto o colega trincava os dentes e abafava os gritos de dor que conseguia. Os outros perguntavam o que estava acontecendo e Alvo pedia para esperarem. Depois de alguns minutos o braço de Malfoy estava largado ao lado do corpo, em um ângulo anormal e ele respirava com dificuldade. Potter se virou para encarar o buraco acima ao notar que as lágrimas escorriam sem controle no rosto do garoto e fingiu não ver, para manter a dignidade do sonserino que salvou sua vida.

— Precisa de corda pra descer! – gritou aos outros. — Um de cada vez. Elizabeth primeiro.

— Por quê? – gritou de volta Rose.

— Malfoy está ferido – informou. — Ela pode ajudar.

Todos encararam a sonserina, que ficou extremamente séria.

— Eu trouxe corda, mas não sei se será o bastante – comentou.

— Podemos juntar com a minha. Também trouxe – disse a grifinória.

Ao puxarem as grossas cordas dos respectivos recipientes, Rose sacou sua varinha e lançou o feitiço “cordas reparo”, unindo as duas em uma só. Elizabeth a amarrou em volta da cintura e deu um grande nó de escoteiro, sob a atenta supervisão de seu irmão. Todos seguraram a corda e desceram a garota pelo lado esquerdo, como Alvo orientou posteriormente. Em instantes ela entrou na área iluminada pela varinha do lufo, que a segurou e ajudou a desamarrar.

— Esperem! – gritou o lufo. — É apertado aqui – explicou. — Vamos tentar tirar Malfoy primeiro.

A garota encarou o sonserino com um olhar sério e intenso. Observou o corte em suas mãos de onde escorria o sangue e o ângulo errado do seu ombro, caído para frente. Era uma visão perturbadora, mas ela soube segurar a emoção e visualizar com praticidade o que precisava ser feito. Entregou ao lufo sua mochila e começou a tirar uma série de coisas. Encontrou a essência de ditamno e utilizou para fechar a ferida das mãos do garoto. Em seguida, limpou-as com um lenço umedecido trouxa e entregou um chocolate para ele.

— Coma. Vai manter você relaxado – ordenou. — Potter, me ajude a sentá-lo na rampa.

— Você já fez isso antes? – perguntou o lufo.

— Meu irmão deslocou o ombro umas duas vezes e meu pai me mostrou como se faz. Malfoy, isso vai doer daqui a pouco, mas coma o seu chocolate.

— Muito animador, Elizabeth – respondeu fracamente.

— Bom saber que o deslocamento não afetou seu cérebro. A ironia continua firme e forte – disse e sorriu para o amigo, que retribuiu, ainda com dor.

— Ok. Potter, dobre o braço dele devagar até ficar 90º e depois deixe ele repousar na barriga. Certo. Malfoy, eu vou mexer o seu o braço e o ombro para fora e o Potter vai me ajudar a manter o braço parado. Vou empurrar devagar e tentar encaixar de volta, certo? Isso vai doer.

— Eu aguento – informou o loiro.

A sonserina começou o procedimento e Deymon fazia o possível para segurar a dor, até que não foi mais possível e soltou um grito alto, alarmando o pessoal lá em cima. Infelizmente, não deu certo da primeira vez e a gartoa teve de repetir. Malfoy segurou o quanto pôde até ouvir um estalo e sentir um alívio da dor. Imediatamente todo o seu corpo relaxou e ele abriu um largo sorriso.

— Você conseguiu! – vibrou o lufo.

— Vamos imobilizar agora. Tenho umas coisas aqui que podem servir de tipóia, mas você precisará fazer poucos movimentos e ver Madame Pomfrey o quanto antes. É perigoso deslocar assim e pode ter uma coisa mais grave. E coma esse chocolate! – ordenou mais uma vez ao amigo. — Sério, ele vai ajudar muito.

Em instantes Malfoy estava o mais confortável possível.

— Obrigado. Você vai ser uma medibruxa incrível – disse o loiro, com carinho e reconhecimento.

Em um impulso Lizzie o abraçou com cuidado e o sonserino encarou o colega à frente, tão atônito quanto ele, sem saber como reagir àquilo.

— Só me prometa nunca mais me dar um susto desses.

— Ora, é só o Potter não quase morrer de novo.

— Você quase morreu?? – exaltou-se a garota, devencilhando-se do amigo.

— Malfoy está bem? – gritou Khai, preocupado.

— Ele está bem agora – respondeu Lizzie. — Foi o Potter que quase morreu.

— O quê???? – Rose berrou, assustada.

— Eu estou bem – tentou tranquilizar a prima. — Já podem descer um por um.

— Então, como isso... – a garota apontou para o braço do amigo. — Tem a ver com o fato de Potter quase morrer?

— Depois falamos sobre isso – desconversou Malfoy. — Precisamos achar a saída daqui. Não vai dar todo mundo nessa borda. É perigoso.

Alvo e Lizzie iluminaram com suas varinhas o imenso escuro abaixo.

— Ali tem uma escadaria – apontou o lufo.

Na borda esquerda, uma curta faixa de pedra levava a uma escada escavada rudemente até uma arcada estreita e bem escondida. Alvo fez menção de ir à frente, mas como Rose já estava visível na corda e chamando por ele, Lizzie testou o caminho contrariando os meninos, sob o olhar atento e tenso de Malfoy.

— É seguro – informou.

— Se não fosse o que eu ia poder fazer sem um braço? – resmungou o sonserino. — Garota desmiolada. Potter ia primeiro.

— Depois desse esforço todo para salvar ele, agora você queria mandá-lo para o perigo? – respondeu irônica a amiga.

— Malfoy... Salvou você? – perguntou Rose, absolutamente surpresa.

— Pois é. Se não fosse por ele eu teria caído e você teria um primo a menos. Não que você tenha poucos para sentir falta de mim, não é? – brincou.

Rose o abraçou fortemente e foi a vez de Alvo encarar o sonserino adiante, que deu de ombros e depois se arrependeu diante da dor que sentiu.

— Não seja estúpido! Você é o melhor primo que tenho – disse enxugando uma lágrima e voltou-se para o sonserino, ajoelhando perto dele. — Obrigada por salvar o Al – agradeceu com sinceridade e, antes que raciocinasse, deu um beijo na bochecha do garoto.

Alvo, Deymon e Elizabeth arregalaram os olhos e a boca diante de tamanho ato inesperado, a julgar pelo que tinha acontecido na prova em equipe. Diante do rosto corado do sonserino, Rose se arrependeu do que fez e se afastou desconcertada.

— Desculpe, eu não...

— Chegandoooo! – foram interrompidos por um Peter animado com o rapel.

— Peguei você – segurou Alvo e o ajudou a se desamarrar. — Alguém vai ter que ficar por último.

— Sim, o Tiago já pensou nisso. Jonathan é o mais forte de nós, segundo ele mesmo – sorriu. — Ele vai descer todo mundo e depois escorregar amarrado enquanto puxamos a corda para segurá-lo. Disse que ajuda o pai na fazenda e está acostumado a carregar peso e sua irmã podia confirmar isso.

— Eu posso, mas sou obrigada a dizer que não concordo.

— Onde ela está? – perguntou Peter olhando ao redor e notando o sonserino. — Oh, cara! Isso ainda dói?

— Já doeu mais – respondeu Deymon. — Precisamos esvaziar essa beirada e deixar só quem pode ser útil. Vou encontrar a Carter.

— Cuidado – disse a sonserina, surgindo na passagem para que todos a vissem.

— Eu sei! – resmungou.

— Você vai depois, Rose. Nós vamos segurar o Jonathan – Alvo orientou.

Poucos minutos depois, John escorregava pela rampa de pedra enquanto os outros recolhiam a corda rapidamente para segurá-lo. Ele chegou a cair no abismo um pouco, fazendo sua irmã esquecer-se de respirar, mas logo os outros o içaram de volta.

— Isso foi divertido! – comentou.

— Vamos, temos que atravessar o caminho. Coloquem a corda aqui na bolsa de Rose – Alvo orientou novamente e depois liderou a travessia.

Todos, com exceção de Malfoy, cruzaram o corredor estreito com a luz na ponta da varinha até sentirem o ar expandir ao redor e o arco ficar para trás.

— Precisamos de mais luz. Lumus máxima! – disse Jonathan e uma bola de luz se desprendeu de sua varinha iluminando o caminho adiante.

— Onde você aprendeu esse feitiço? – Lizzie perguntou, mas a resposta se perdeu diante do que viram.

Todos ficaram surpresos ao se deparar com um enorme hall escuro, com grandes colunas em arco onde não dava para enxergar as paredes ao fundo. Na verdade, parecia não haver paredes ao redor. Tiago, Rose e Deymon lançaram com sucesso o feitiço após algumas tentativas enquanto Alvo e Peter mantinham a varinha acesa com o simples lumus. O que viram os aterrorizou ainda mais: estavam em um grande salão, infinito, que parecia tomar toda a parte de baixo de Hogwarts. O teto era tão alto que 10 Hagrids poderiam ficar de pé no ombro do outro sem dificuldade. Dentro daquele grande salão eles se sentiram minúsculos como uma formiga encarando o castelo de Hogwarts pela primeira vez. Era monstruoso e não parecia haver uma saída.

— E agora? – perguntou Tiago.

— Meu professor de matemática sempre diz que o menor caminho entre dois pontos é uma reta. Que tal tentar seguir em frente? – sugeriu Peter.

— Que besteira – respondeu Khai. — O menor caminho entre dois pontos é uma aparatação. É óbvio.

— Mas nós não sabemos aparatar. Vamos seguir a sugestão do Peter, ficando atento ao que aparece no caminho. Alguma coisa está muito errada aqui – comentou Alvo.

— Eu também acho. Está muito quieto – afirmou Malfoy.

— Então vamos em frente. Todo mundo com a varinha em mãos. Nunca se sabe o que pode surgir – disse Rose em um tom baixo e eles começaram a caminhar.

O silêncio era ensurdecedor. Podiam ouvir com clareza o contato dos tênis com o chão de pedra, a respiração acelerada e coração palpitante. Ao menor ruído todos se viravam com varinhas em punho, prontos para atacar, mas não havia nada os ameaçando. Contudo, as crianças tinham a estranha sensação de que, em algum lugar naquele escuro, algo os observava pronto para dar o bote. Um lugar grande como aquele só podia abrigar uma coisa: um dragão. Pelo menos era o que Rose pensava apavorada e, por isso, caminhava grudada ao primo.

— Vejam! Uma porta! – animou-se John.

Mais adiante uma grande porta de prata com uma enorme árvore esculpida surgia como uma tábua de salvação. Alguns metros e eles poderiam deixar para trás essa sensação de arrepio na nuca que o ambiente alastrava. De repente, um barulho realmente alto os fez gelar a espinha e, pálidos, direcionar as varinhas para lugares diversos. Outro baque e todos de encolheram, formando um círculo, incertos de onde estava vindo.

— O que é isso? – sussurrou Tiago.

As pancadas no chão de pedra foram se intensificando, contudo o eco do lugar não os ajudava a identificar de onde vinha. A constatação ocorreu a todos praticamente ao mesmo tempo: a fonte do barulho estava estabelecendo um padrão, ritmado e mais intenso. Num piscar de olhos as crianças entenderam que aquilo estava correndo até eles.

— Corram! – gritou Rose.

— Para a porta! – berrou Deymon, quase ao mesmo tempo.

Correram em debandada, lançando breves olhares para trás, sem conseguir enxergar nada, mas ouvindo as pancadas no chão, cada vez mais próximas. A porta parecia ficar mais longe à medida que se aproximavam e aquilo criava um desespero ainda maior. Cada metro vencido se mostrava dois metros distantes da porta.

— Parem! – gritou Tiago. — É inútil.

— Como assim?? – perguntou Khai, reduzindo a velocidade. — Você ficou louco? Essa coisa vai pegar a gente.

— Exato – concordou Tiago. — Esse deve ser o ponto, certo? Não vamos alcançar aquela porta. Ela se afasta com magia cada vez que corremos até ela.

— Ele está certo – concordou Alvo, recuperando o fôlego segurando as pernas. — Então, devemos enfrentar o que está vindo.

— Mas... Somos só alunos do primeiro ano! – contestou Peter. — E se essa coisa for um dragão de verdade? A gente vai ser comido!

— Cozido e comido, na verdade – corrigiu Jonathan.

Rose sentiu as pernas fraquejarem e o salão girar a sua volta. Apoiou-se no primo, encostando sua cabeça nas costas dele e tentando respirar para se acalmar. Tinha a mais absoluta certeza de que iria morrer. Alvo de imediato entendeu o que ocorria e abraçou a prima, sob um olhar de surpresa dos outros.

— Pode não ser um dragão – disse o lufo firmemente, enquanto Rose se enterrava em seus braços.

— Pelo barulho que está fazendo? – questionou Khai e Alvo lançou um olhar duro para o sonserino.

— Seja o que for, já está próximo. Se tem que ser assim, vamos acabar logo com isso – decidiu Lizzie. — Jonathan, ilumine.

O grifinório prontamente lançou o feitiço lumus máxima, mas o que viram estava além do imaginável. Uma figura gigantesca saltava em direção a eles, com um sorriso enigmático em seu rosto. Jonathan piscou e esfregou os olhos, não acreditando no que via e a maioria estava boquiaberta demais para ter qualquer tipo de reação. O estrondo que ouviam era o pisar de pesadas patas e garras de leão no chão de pedra. Revelada, a criatura agora caminhava para desfilar toda a sua desenvoltura ao pequeno grupo de visitantes e soprava nas colunas para acender as tochas de fogo azul que passaram a iluminar todo o ambiente. Sua cauda, que somente agora Jonh percebia ser uma serpente, sibilava algo assustadoramente fatal e, embora ninguém notasse, Khai tinha o horror estampado em seu rosto. Majestosa, a criatura esticou suas asas de águia e lançou breves rajadas de vento o suficiente para erguê-la sutilmente do chão, ao tempo em que desequilibrava as crianças. Seu peito leonino inflou como se fosse rugir, mas sua expressão feminina, com traços retos, cabelos lisos e olhos negros transparecia um prazer insaciável em vê-los ali, tão pequeninos, frágeis e assustados. Gargalhou maldosamente e voltou a encará-los com soberba.

— Você é uma esfinge grega – afirmou Tiago, baixinho.

— Eu sou A Esfinge, escolhido de Corvinal. Achei mesmo que não saberia quem sou – respondeu, deliciada. — Afinal, vocês cheiram a cria de leite – disse, com seu sorriso voraz.

— Como ela sabe que ele é da Corvinal? – sussurrou baixinho Peter para o colega lufo.

— É inerente que eu saiba e vocês decifrem, escolhido de Lufa-Lufa – respondeu, encarando o garoto de pele negra e sentando-se ereta, apoiando em suas patas traseiras. — Já faz algum tempo que não tenho uma refeição tão balanceada.

— Re-refeição? – Khai deixou escapar, nervoso, sem tirar os olhos do rabo de cobra, que o encarava com muita curiosidade.

— Refeição, escolhido de Sonserina – confirmou, analisando o grupo.

— Merlim! “Decifra-me ou devoro-te”! – concluiu Rose, assustada. — Você não pode estar falando sério...

A esfinge lambeu os lábios e ergueu as sombrancelhas, ansiosa por finalmente ter um alimento em seu estômago depois de tanto tempo que sequer conseguia recordar.

— Do que você está falando? – perguntou Malfoy.

— Uma história trouxa, da antiguidade. Uma lenda de Tebas. Envolvia... Quem mesmo? Ah! Édipo, eu acho. Minha mãe tem um livro – respondeu a grifinória, dando de ombros.

A criatura rugiu, desgostosa por ouvir esse nome.

— Édipo, aquele traidor. Como foi traidora a aquela que me capturou – disse, venenosa.

Mate-os antes que eles nos traiam – sibilou a cobra e Khai perdeu o sangue da face, mas a Esfinge parecia não compreender a linguagem da serpente e a ignorou.

— Agora, escolhidos, eu tenho o poder de liberar a passagem de vocês. Basta que decifrem um enigma que criei. Se acertarem, poderão seguir adiante. Caso se enganem... – fez uma pausa e gargalhou maldosa. — Devoro vocês!

Sim... Um por um... Eu mordiscarei vocês, envenenarei vocês... Mas você não, escolhido da Sonserina. Você será meu... Você será a minha voz... – sibilou em língua de cobra, enquanto Khai saía de sua vista e se encolhia, no fundo do grupo.

— E nós temos escolha? – sussurrou Alvo para a prima, mas foi interrompido pela Esfinge.

— Não – respondeu. — Eu os devorarei igualmente deliciada.

— Então pode mandar – disse Peter esfregando as mãos e a Esfinge o encarou, em dúvida.

— Ele quis dizer que a senhora pode nos falar o enigma que tentaremos resolvê-lo – explicou a sonserina.

— Senhora... Gosto quando me dão o respeito devido – e sorriu. — Talvez eu a devore por último. Estão preparados?

Rose sacou pergaminho e pena da bolsa e Elizabeth fez o mesmo.

— Quando tem 4 pés, lá estou eu: dentro e ao seu redor. Quando tem 2 pés, vive a me questionar e me divirto a saciar e multiplicar suas dúvidas. Quando tem 3 pés, finalmente compreende que sou infinita. Não pertenço a ninguém e pertenço a todos. Quem sou eu?

— Bosta de dragão – sussurrou inaudível a grifinória que esperava o mesmo enigma de Tebas: “Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?”. Mas, de certa forma, talvez fosse.

— Não pode nos dar uma dica? – pediu John, de coração aberto. — Somos apenas crianças!

— Eu não faço diferenciações.

— Por favor! – suplicou Lizzie com seus olhos verdes claros cintilantes.

— Ora... – exclamou, desconcertada pelos gêmeos. — Uma palavra. Só isso posso dizer.

— Pode nos dá um tempo para conversarmos sobre o enigma? – perguntou Alvo.

— Vocês têm alguns minutos ou até quando a minha paciência suportar – respondeu e se afastou alguns metros, encarando-os de longe sob um olhar faminto.

Rapidamente os oito formaram um círculo para debater as opções. Rose explicou como era o enigma de Tebas e ela acreditava que um estava vinculado ao outro. Ou seja, se eles não soubessem que a resposta do anterior era o homem, certamente estariam em situação ainda pior. Contudo, parte do enigma decifrado não significaria a salvação de todos. Debateram exaustivamente cada linha do pergaminho e, embora tivessem várias ideias, nenhuma agradava a todos ou à maioria. Passaram do absurdo à complexidade, mas eram poucas as palavras que pareciam encaixar. Longos minutos se passaram e a Esfinge se levantou, aproximando-se, visivelmente sem paciência para permiti-los debater um pouco mais.

— Precisamos de tempo – disse Tiago.

— Certo – concordou Alvo e caminhou até a criatura. — Senhora, eu estou um pouco curioso. Se a senhora é “A” Esfinge da lenda é de milênios atrás, como pode ter parado em Hogwarts?

A criatura soltou um rosnado de indignação e caminhou de um lado a outro, tamanha era a sua inquietação. Se pudesse rugir como um leão, certamente o teria feito.

— Ela me prendeu aqui – afirmou. — Me aprisionou por todo esse tempo. Fui traída! – gritou, visivelmente zangada.

— Desculpe, mas quem é ela? – questionou Khai, tentando ganhar tempo.

— Ela. Bela e inteligente; ávida e sutil; piedosa e mordaz. A senhora Corvinal e sua coroa infame! – desabafou desgostosa, cuspindo as palavras que guardou com tanta amargura.

— E como sobreviveu sem comida? – quis saber Peter esticando a conversa, mas logo se arrependeu ao notar o olhar faminto da esfinge.

— Hibernei por mil anos. Um esforço além dos limites de meras criaturas mágicas. Contudo, agora que acordei, necessito saciar o meu desejo – respondeu, encarando o grupo. — Já chega de discussões e conversas! A resposta. Agora – determinou.

— Nos permite uma última conversa com todos antes de sermos devorados, senhora? – pediu Elizabeth, submissa.

A pergunta graciosa mexeu com o orgulho da Esfinge que permiriu com um breve acenar de pata. Enquanto as ciranças confabulavam, a criatura afiava as garras com uma pedra qualquer, o que desconcentrava o grupo a todo instante.

— E então? – perguntou Alvo. — O que vamos responder?

— São duas charadas em uma – disse Tiago. — Ela nos deu duas dicas.

— Duas? – questionou Khai. — Quando ela disse a outra?

— Agora a pouco – respondeu o loiro. — Ela disse que a Sra Corvinal a aprisionou. Não sei quanto a vocês, mas se eu ficasse preso por mil anos a única coisa em que pensaria seria nela. Como criar um enigma sem colocar um pouco de Ravena?

— Faz sentido – concordou Malfoy.

— Então quando é um bebê está dentro e fora dele, quando é um homem questiona e só piora as coisas e quando é um velho é infinito. Pertence a todos e a ninguém – resumiu Peter, do seu jeito. — Não faço ideia – disse cabisbaixo.

— Eu ainda acho que nossa melhor resposta é magia, mas Tiago discorda – retrucou Rose.

— Magia seria uma resposta muito simples para Ravena Corvinal. Ela iria tentar nos confundir e forçar nossas mentes até a resposta certa.

— Mas Tiago, se a gente não soubesse a resposta do enigma trouxa ia ser mil vezes mais difícil – contestou Jonathan.

— Ainda assim. Eu sinto que estamos deixando passar algo – insistiu.

— Nós não temos tempo. Se não respondermos, ela vai nos devorar de qualquer jeito – informou Malfoy.

— Sim, mas...

— E então? – questionou a Esfinge, impaciente. — O tempo de vocês acabou.

— A maioria de acordo? – perguntou Alvo e os colegas acenaram em concordância. — Então vamos. Senhora – anunciou, dirigindo-se à esfinge. — Já temos uma resposta.

— Sinto muito, Tiago – disse a sonserina ao passar pelo amigo.

— Certo... – repondeu ainda pensativo e com as mãos nos bolsos.

— Varinhas em punho, pessoal – sussurrou Malfoy. — Em todo caso...

— Eu acho que Rose está certa – Jonathan puxou o assunto com o corvinal enquanto caminhavam até a criatura. — Magia é a resposta.

— Eu não sei. Me parece que falta algo – respondeu o loiro.

— Tipo o quê?

— Algo. Não é simplesmente magia, entende? É algo ainda mais antigo. O que vem antes da magia?

— Não sei – respondeu o grifinório com honestidade.

— É. Nem eu – concordou Tiago e, de repente, tudo fez sentido.

— Quando tem 4 pés, lá estou eu: dentro e ao seu redor. Quando tem 2 pés, vive a me questionar e me divirto a saciar e multiplicar suas dúvidas. Quando tem 3 pés, finalmente compreende que sou infinita. Não pertenço a ninguém e pertenço a todos. Quem sou eu?

— A resposta é...

— Espere! – gritou Tiago, cortando Rose e correndo para tomar a frente de todos. — Eu sei a resposta!

— Tiago, já concordamos... – começou Rose.

— Eu sei! – interrompeu a garota mais uma vez. — Confie em mim. 100% de certeza.

O grupo trocou olhares incertos. Magia parecia ser a resposta certa, mas a insistência do corvinal anteriormente havia deixado todos incertos. Eles estavam com medo, pois diante de qualquer resposta havia uma grande probabilidade de dar tudo terrivelmente errado. Alvo respirou fundo e tocou no ombro de Tiago, pois alguém precisava definir aquele impasse.

— Vá em frente – disse. — Essa é uma tarefa de corvinal. Se tem 100% de certeza, deve estar certo, não acham?

— Nós devemos discutir as possibilidades – sugeriu Malfoy.

— A resposta! Agora! – exigiu a Esfinge. — Antes que eu ignore essa regra e devore todos por impaciência.

— A resposta é sabedoria. Porque quando se é um bebê, a natureza já dá o saber necessário para a sobrevivência e ele pode ser desenvolvido com tudo ao seu redor. Quando se é adulto, começa a questionar as coisas e, por mais respostas que encontre, há sempre muito mais para saber. E quando já se é velho dá para entender que não adianta saber tudo, porque a cada dia as coisas mudam, as perguntas mudam e as respostas mudam. Todos podem ter um pouco de sabedoria, mas ninguém pode ter as respostas para tudo.

A Esfinge avançou sobre as crianças que lançaram feitiços aleatórios em meio à gritaria. Com sua pata e sua cauda de cobra, ela atingiu vários deles, lançando-os para longe até encurralar Tiago em uma coluna, desarmado. A criatura aproximou seu rosto ao do corvinal, próximo o suficiente para ele enxergar o fundo de sua garganta enquanto ela exibia seu rosnado feroz.

— Tiago! Não! – gritou Lizzie.

— Ajudem! – berrou Alvo e quem podia estava lançando feitiços mesmo que fora de alcance.

— Corvinal... – sussurrou a Esfinge com completo desprezo e Tiago fechou os olhos para não ver a própria morte. — Você... Decifrou... O enigma – disse, a contragosto.

— O quê? – questionou o garoto, sem entender.

— A resposta está correta – informou, afastando-se do loiro e sentando-se ereta sobre as patas traseiras.

— O quê? – perguntou Alvo.

— Como? – duvidou Khai.

— Mas então por que...? – procurou entender Rose.

As crianças estavam confusas com toda a correria, sem necessidade. Peter tinha o braço inchado e possivelmente torcido por ter caído por cima dele; Alvo tinha um corte feio no queixo, enquanto Khai estava sangrando no joelho, sob a calça; Malfoy estava se contorcendo em dor com o ombro magoado; Rose tinha uma linha de sangue escorrendo na bochecha e John estava com dor no estômago e nas costas por ter aparado a queda da irmã, que tinha apenas uma vermelhidão no punho. Todos estavam bastante sujos diante de tando rolamento no chão de pedra e poeira.

— Então deciframos... E agora? – perguntou Khai, louco para se ver livre daquela cobra.

— Podem seguir pela porta – informou a Esfinge, apontando para a porta prateada.

— E onde vai dar? – questionou John.

— Em frente – respondeu a criatura, com desafio no olhar.

— Precisamos nos recuperar. Não sabemos o que nos aguarda adiante – sugeriu Rose.

— Eu posso ajudar – afirmou Lizzie e retirou da mochila um kit de poções. Em instantes, as feridas fecharam e os ânimos foram renovados. Contudo, não havia muito o que fazer com Peter além de aliviar a dor e imobilizar o braço, à semelhança de Malfoy.

— O que acontece a você? – perguntou Tiago à Esfinge, enquanto os outros estudavam a porta sem maçaneta.

— Devo ficar e aguardar um novo desafiante.

— Por quê? – continuou o corvinal.

— Porque esta é minha sina e o papel que devo cumprir.

— Por que você não vem conosco? Você pode escolher ser livre – retrucou o loiro.

— Livre? – questionou-se a criatura.

— O mundo mudou, sabe? O Ministério da Magia pode dar um jeito de te esconder dos trouxas, digo, humanos comuns, se você prometer... Hum... Retirá-los do cardápio – e sorriu. — Não há mais ninguém para lhe manter presa aqui além de você mesma.

A Esfinge encarou os olhos azuis do loiro com interesse.

— Tiago, nós temos que ir – informou Elizabeth, enquanto a pesada porta de prata se abria após um sincero pedido de “por favor”.

— Pense nisso – disse o garoto para a criatura, fez uma mesura e seguiu a sonserina através da passagem, deixando a Esfinge a refletir.
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Sheu
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 24 a 30(att 10/03/2014)

Post by Sheu »

30
AS QUATRO QUEDAS
Parte II
— É uma bela porta – disse Tiago, ao passar pelas pesadas portas de prata e seguir por um corredor fracamente iluminado.
— Sabe, eu estive pensando. Essa coisa toda da Esfinge foi muito Corvinal, você não achou? Quero dizer, a própria criatura disse que Ravena a prendeu – comentou Elizabeth.
— Eu pensei a mesma coisa – concordou Rose, parada mais adiante. — Talvez para chegar até a voz, as provações que tenhamos de passar sejam desafios das quatro Casas.
— Faz sentido – expressou Malfoy. — Nesse caso, quem teria sido o primeiro? Não era algo de Salazar, posso garantir.
— Era de Helga – respondeu Alvo, sem titubear e todos o encararam. — Trabalho em equipe, amizade e acolhimento de todos sem distinção. Na verdade, acho que foi mais uma preparação para o que viria.
— Essa nossa fundadora tem um jeito muito peculiar de “preparar” para o desafio seguinte – disse Peter, ressaltando com as mãos o preparar. — A gente podia ter morrido.
— Bom, a gente podia ter morrido em tudo até agora – comentou Khai e todos concordaram. — Eu realmente não quero pensar no que o nosso fundador pensou como desafio. Ele era... Bem... Difícil.
Dito isso todos ficaram em silêncio por um tempo. Na verdade, até aquele momento tinham passado por tudo com muita sorte.
— Parem! – gritou Jonathan, que seguia à frente, quebrando o silêncio.
— O que houve? – perguntou Rose, passando por todos.
— Acabou o caminho. Não tem continuação, só um grande vazio – respondeu o grifinório.
— Como assim? – quis saber Tiago.
Lumus máxima! – Jonh lançou o feitiço enquanto os outros iluminavam com o lumus simples.
Adiante havia apenas um abismo sem fim.
— Vamos ter que descer de corda, novamente – constatou Alvo e olhou preocupado para Peter e Deymon.
— Mas Alvo, isso parece não ter fim – constatou Rose.
— Eu posso fazer alguns feitiços de duplicação na corda – sugeriu John. — Ela está na sua bolsa, Rose.
A garota logo abriu a bolsa e lançou o feitiço accio corda. De imediato, a grande corda unida começou a sair de forma contínua, como se fosse uma cobra e se enrolar próxima aos pés da grifinória. John a duplicou de imediato e Rose as uniu em seguida. Sem querer, Peter encostou em uma delas e a corda foi precipitada para o abismo.
— Segu...
Alvo tentou avisar para segurarem e evitar a perda da corda, mas foi surpreendido, assim como a todos. A corda simplesmente pairou sobre o abismo, como se uma camada invisível permitisse a passagem. Com cuidado, Rose colocou sua mão para constatar se era seguro, mas ela ultrapassou o ponto da corda, indicando que o vazio continuava ali.
— Talvez seja magicamente modificado para não utilizarmos a corda – disse a garota e a recolheu de volta para sua bolsa.
— E como vamos descer? – perguntou Peter, nervoso.
— Com coragem! – respondeu John, sorridente. — Esse tem que ser o desafio de Godric. Temos que escolher saltar – disse e se dirigiu para a beirada, mas foi seguro pela mão livre de Malfoy.
— Pode ser uma armadilha do Salazar, Jonathan – alertou.
— Malfoy, eu não conheço muito bem a história dele, mas acha que nos daria escolha ou já teríamos caído de qualquer jeito? – cogitou o grifinório.
O jovem loiro ponderou por alguns segundos e o soltou.
— John, isso é estupidez! – exclamou Lizzie, agora segurando o irmão pelo braço.
— Exatamente! Todo momento de coragem tem alguns segundos de estupidez – disse sorrindo, se desvencilhou da irmã e saltou.
— Jonathan!! – gritou Elizabeth em desespero, mas o silêncio foi sua resposta.
— Tente ler a mente dele, rápido – sugeriu Rose, também nervosa.
— Nada, eu não vejo nada. Só o escuro. Ai, meu Deus! – exclamou, colocando as mãos na cabeça. — Jonathan! – gritou mais uma vez e saltou.
— Elizabeth!! – gritaram os sonserinos, Alvo e o corvinal.
O grito da garota foi interrompido como se atravessasse uma barreira antissom.
— Não temos escolha. Não há volta, só... Em frente – disse Tiago e caminhou até a beirada, direcionando seu olhar para Rose. — O que John disse faz sentido, não é?
— Sim, mas...
— É o suficiente – respondeu, erguendo a mão e interrompendo a garota. Respirou fundo e saltou.
— Temos que ir atrás de Elizabeth – chiou Khai e saltou, seguido por Malfoy.
— Juntos? – sugeriu Alvo estendendo a mão para a prima, que sorriu.
— Sempre.
— Venha, Peter – chamou o colega.
— Você tem certeza? – questionou ao amigo.
— Peter, você tem que escolher pular. Se for isso mesmo, deve fazer parte da magia – explicou Rose.
— Então você também não tem certeza – desconfiou o lufo.
— Peter, não tem como – respondeu a grifinória, dando-se por vencida. — Vem com a gente – disse, estendendo a mão para o amigo.
Peter encarou a ambos como se estivessem loucos. Andou de um lado para outro, respirando de forma acelerada. Encarava os olhos dos amigos pacientes com sua indecisão, sem abandoná-lo. Realmente, voltar e encarar a Esfinge só os três não seria nem um pouco sensato e jamais conseguiriam voltar pelo poço inundado e lacrado. Era exatamente como o corvinal disse: só havia em frente.
— Se há apenas um caminho a seguir, por que deixar a gente escolher pular? – questionou Peter.
— Porque escolher por si mesmo faz toda a diferença – respondeu Rose, sem dúvidas. — Nós somos seus amigos, Peter. Confie na gente.
— Estamos juntos nisso, amigo, mas não vamos te forçar a nada – disse Alvo.
Peter encarou os dois por alguns segundou e depois deixou escapar um suspiro.
— Vamos nessa e que Deus nos acuda! – exclamou, fazendo o sinal da cruz e segurou a mão da garota com seu braço bom. — No três?
— Um... – contou Rose.
— Dois... – disse Alvo.
— Três! – gritou Peter e todos saltaram.

Antes mesmo de ultrapassarem 1 metro da beirada, a queda se transformou em uma descida suave por alguns segundos na escuridão, como se alguém os segurasse pela cintura e suavemente os colocasse no chão. Assim que tocaram os pés na pedra, o que parecia ser uma grande gota gosmenta preta os abandonou e desapareceu no teto acima, mostrando que todos estavam sãos e salvos.

— Vocês demoraram – disse um Jonathan sorridente.

O ambiente seguinte era um choque comparado ao anterior. Uma grande sala oval luxuosa, com gigantescas luminárias de ouro e velas que emitiam um calor bem vindo. Ao lado, sofás de veludo vermelho escuro pedindo para serem usados por um longo tempo e um velho espelho de corpo inteiro. Havia também uma mesa repleta de frutas frescas e uma cascata de água gelada. Um paraíso depois de todas as provações se não fosse por um único detalhe: não havia porta ou janela, conforme alertou o corvinal.

— Isso é potencialmente problemático – informou Rose.

— Potencialmente problemático? Sério? – ironizou Khai.

— Eu preciso sentar – disse Peter e se jogou no sofá.

— Não! – gritaram todos e o lufo paralisou sentado, esperando acontecer alguma coisa terrível.

— Vocês estão neuróticos – respondeu Peter, rindo.

— Um descanso não cairia mal mesmo – comentou Alvo.

— E comida! – sugeriu John. — Quer dizer, não deve estar envenenado, certo?

— Não vale a pena arriscar – respondeu Rose. — Eu trouxe comida.

— Nós também – disse a sonserina.

— Podemos fazer um piquenique! – animou-se Tiago.

— Pode ser, mas não seria prudente comer tudo. A gente pode ficar preso e precisar de comida mais para frente – ponderou a grifinória.

— Concordo. Metade meu, metade seu? – sugeriu Lizzie.

Rose concordou e elas começaram a retirar os sanduíches de atum e queijo, suco de abóbora, frutas, tortilhas, bolos de caldeirão e doces das sacolas dividindo em oito partes iguais, enquanto os meninos as circulavam com olhos famintos. Até aquele momento, eles tinham realmente esquecido da fome que sentiam. Quando as garotas informaram que estava tudo pronto, os meninos atacaram famintos e elas balançaram negativamente a cabeça.

— Meninos... – e sorriram.

Por alguns minutos, comeram descontraídos, conversando sobre as provações até ali. Contaram em detalhes como encontraram as pedras e onde estavam os portais. Khai descreveu com precisão o momento que encontraram o hungú e manteve os grifinórios e lufos com a comida parada a caminho da boca durante a narrativa. Elizabeth elogiou Tiago por afastar o animal deles e informou que o haviam trancado e enviado um bilhete voador pelo corredor. Malfoy descreveu o momento da queda deles em detalhes até a primeira provação: o labirinto de túneis por onde escorregaram, como às vezes eles se separaram e se reencontraram mais à frente e as teias de aranha que reduziram a velocidade da queda no fim. Todos souberam como Malfoy salvou Potter e de que forma Lizzie curou o sonserino com a versão honesta do lufo. Além disso, Tiago explicou como Jonathan o ajudou, mesmo sem saber, a decifrar o enigma. Depois ainda discutiram sobre a magia de Hogwarts e especularam o que estava por vir. Todos concordavam que até o momento tinham muita sorte de estarem vivos e aquela não era uma aventura feita para crianças. Estavam metidos em uma grande enrascada e o maior perigo ainda estava por vir: quem seria o dono da voz?

— E se for alguém poderoso e perigoso? Antes a gente pensava em chamar um professor, mas e agora? – perguntou John.

— Convenhamos: a gente se meteu nessa enrascada sem pensar muito nisso – deduziu Peter e todos concordaram com ele.

— Bom, podemos sair dessa machucados, mortos ou até mesmo expulsos – constatou a sonserina. — Podemos, inclusive, nem sair e ficarmos presos aqui pelo resto de nossas vidas ou até quando durar a comida.

— Animador, Carter – exclamou Malfoy e a garota deu de ombros.

— Eu acho que existe um motivo – raciocinou Tiago. — Quero dizer, se Hogwarts está mesmo jogando um jogo, escolheu a gente como peça.

— Tem sentido mesmo, Tiago – constatou a grifinória. — Temos pelo menos um representante de cada casa e possivelmente estamos enfrentando um desafio dos quatro fundadores. Passamos por tudo agora porque trabalhamos em grupo. Talvez uma pessoa só não conseguisse.

— Talvez. Mas então por que Hogwarts escolheria alunos do 1º ano? Por que não alguém do 7º ano que estaria melhor preparado? O que temos de especial? – questionou Lizzie.

— Ouvimos a voz? – sugeriu Khai.

— Eu não estava lá, lembra? - rebateu Tiago.

As crianças ficaram em silêncio por algum tempo tentando adivinhar o porquê de terem descoberto tudo aquilo, mas não parecia que alguém encontraria a solução.

— Não vai adiantar queimar a cuca desse jeito. O melhor é continuar e ver no que vai dar. Não temos lá muita opção – disse John.

As meninas começaram a guardar as coisas e resolveram levar um pouco da comida daquela sala, como precaução.

— Então, como vamos sair daqui? – perguntou Peter.

— Tem apenas duas opções é claro: uma passagem secreta ou o espelho – informou Lizzie, com o olhar de aprovação da grifinória e do corvinal.

— Vamos vasculhar a sala em duplas – sugeriu Malfoy. — Tentem tocar em tudo, puxar alavancas, arrastar peças, fazer cócegas, pedir por favor ou qualquer coisa. Vamos descobrir se tiver alguma passagem secreta nesta sala.

As crianças se dividiram em duplas para a tarefa por segurança: Malfoy com Khai, os irmãos Dumbledore, Rose e Tiago e os lufos juntos. Enquanto os outros vasculhavam cada canto possível, Jonathan encarava o espelho curioso. Sua irmã analisava a sua borda folheada em ouro. Havia pedaços oxidados, com aspecto comido em boa parte das extremidades, como se fosse muito antigo. John pensou que um bruxo como o fundador de sua Casa jamais deixaria de colocar um feitiço anti deteriorização em uma peça tão bonita, então ela devia ser realmente muito antiga quando ele a encontrou. Certamente não estaria ali por acaso.

Jonathan tocou na peça, sob um olhar aterrorizado da irmã, mas nada aconteceu. Encarou os detalhes do aposento onde estavam através do reflexo para ver se algo estava diferente, como um jogo de sete erros, contudo, cada coisa estava em seu devido lugar. Então suspirou e observou seu reflexo derrotado.

“Você deveria estar mais animado, amigo”, pensou para si mesmo e então a coisa mais incrível do mundo aconteceu: seu reflexo sorriu desdenhoso e balançou a cabeça. Jonathan piscou várias vezes sem acreditar.

— Lizzie, você tem que ver isso! – chamou e posicionou a irmã ao seu lado.

— O quê? – perguntou, olhando tudo no espelho.

— Fica sozinha, parada e olha pra você. Eu juro que o meu reflexo se mexeu sozinho!

A garota o olhou desconfiada e passou a encarar sua imagem. Por mais profundo que observasse, nada mudava.

— John, você deve ter imaginado coisas. Não tem nada. Vem, vamos nos juntar aos outros para procurar – disse e se afastou do irmão.

O grifinório se recusou a sair e ficou olhando fixamente para si mesmo.

— Eu não imaginei coisas – disse baixinho, contrariado. — Eu sei o que vi e você se mexeu. Deve ser algum tipo de feitiço. Vamos, eu sei que você pode fazer uma coisa diferente. Quero dizer... Eu posso fazer, porque você sou eu e essa é a conversa mais ridícula que eu já tive na frente de um espelho.

Lizzie abafou uma risadinha e ele olhou zangado para a irmã, que observava seu téte-a-téte com os braços cruzados e um sorriso irônico.

— Você é um teimoso sem jeito – brincou. — Vocês dois – disse, apontando também para o reflexo do irmão.

E então o absurdo aconteceu mais uma vez: John fez uma cara feia e mostrou a língua, enquanto seu reflexo cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha.

— Pelas barbas de Merlim! Ele se mexeu! – gritou a garota atônita, chamando a atenção de todos. — Seu reflexo fez algo diferente de você!

— Eu te disse – afirmou, orgulhoso, enquanto os outros os rodeavam.

— O que aconteceu? – perguntou Rose.

— A saída é o espelho, só não sabemos como – informou John encarando a si mesmo.

— Ele reage a interações, mas não sabemos exatamente a que – completou sua irmã.

— Você pode nos deixar sair? – perguntou John e seu reflexo fez os mesmos gestos espelhados. — O que eu preciso fazer? Pode me mostrar? – tentou novamente, mas nada de diferente aconteceu.

— O que você disse quando ele se moveu? – quis saber Tiago.

— Eu pensei que ele precisava se animar mais se quisesse descobrir a saída e depois a Lizzie nos chamou de teimosos - respondeu. — Mas não acho que ofender seja o caminho.

— Não, ofender, mas desafiar – esclareceu Rose. — Godric sempre gostou de um bom desafio. Dizem que foi ideia dele a competição entre as Casas.

— Eu desafio você! – disse John, com toda a pompa e circunstância, mas nada aconteceu.

— Saia daí, Dumbledore. Deixe outra pessoa tentar – sugeriu Malfoy.

— Espere! Eu acho que fiz errado – rebateu, afastando o sonserino do raio de reflexo do espelho. — Ele sou eu, certo? Então eu não posso desafiar ele e isso é tão interessante e maluco – completou, sacando sua varinha e se endireitando em frente ao espelho. — Eu me desafio!

Em um movimento mais rápido do que qualquer bruxo pudesse pensar em desaparatar, o espelho se desprendeu da parede, fez um giro de 360º para frente e engoliu Jonathan até retornar à sua posição original, deixando em seu lugar um vazio sepulcral. As crianças estavam em choque. Elizabeth encarava o espelho estarrecida diante da falta de noção de segurança do seu próprio irmão, por duas vezes consecutivas. Queria muito estuporá-lo, mas acima disso, desejava que estivesse tudo bem do outro lado. Malfoy pigarreou para quebrar o silêncio.

— Hu-hum. Então... Quem é o próximo?

Tiago se posicionou e, sem dificuldades, conseguiu que o espelho repetisse a façanha. Era realmente angustiante a sensação de que seria esmagado ou que a peça se quebraria em mil pedacinhos, cortando a pessoa totalmente e levando-a a morte.

— O que exatamente estamos desafiando quando dizemos isso, Rose? – cochichou Alvo, enquanto Malfoy já se posicionava para ser o próximo. — Quero dizer, é só uma forma hipotética como a coragem necessária para ultrapassar o abismo, certo?

— Eu acho que não – respondeu, ainda chocada ao ver o sonserino desaparecer. — Eu não sei exatamente como vai ser isso, mas se pudesse dar um palpite diria que vai ser como se tomássemos um gole de veritasserum e começássemos a falar apenas a verdade, sabe? O que às vezes a gente finge não ligar só porque não queremos saber – completou, encarando as próprias mãos e brincando com a varinha.

Khai não estava muito seguro e por isso o encantamento não funcionava com ele. Deu lugar a Peter e tentou novamente, sem sucesso. Lizzie o incentivou, enquanto Rose prosseguia através do espelho e finalmente o garoto completou a passagem. Ao ficar sozinha com Potter insistiu para que ele fosse antes e Alvo acatou, entendendo que ela queria ser a última. Não havia um motivo muito claro, mas aquele não era um momento para se discutir sobre besteiras. Além disso, o garoto tinha certeza de que ela lhe diria não ser da sua conta. Alvo encarou seu reflexo por alguns instantes e começou a imaginar se tinha mesmo o olhar irônico que via refletido.

— Eu me desafio!

Seu reflexo fez uma mesura ao mesmo tempo em que o objeto caía sobre sua cabeça. O pânico durava um segundo até ser substituído por uma gélida sensação de unhas arranhando todo o seu corpo e de seu cérebro virando geléia, enquanto permanecia imóvel no escuro sem conseguir se mexer ou falar. Uma luz branca intensa o cegou momentaneamente, fazendo-o institivamente levar as mãos aos olhos, tentando se proteger. O que deu certo, pois já estava livre de qualquer tipo de feitiço. À medida que foi se acostumando ao ambiente, levou um grande susto. Estava em um octógono coberto por espelhos de cima a baixo. Via seus reflexos em todo lugar, mas, ao contrário dele, não estavam agitados. Sorriam de forma irônica e aquilo o fez tremer por dentro.

Alvo, Severo, Weasley, Potter... – enumeraram os reflexos como se fosse uma pessoa apenas falando com desdém. — Onde meus pais estavam com a cabeça para praticar uma maldição dessas? – e ergueu uma sombrancelha, inconformado. — Não acha?

Alvo estava boquiaberto diante da situação. Por todos os lados, para onde quer que se virasse, podia ver a si mesmo dizendo aquelas palavras. Logo o palpite da prima veio à mente. Era aquilo mesmo que pensava sobre o próprio nome? Quer dizer, era estranho, mas chamá-lo de maldição era demais.

— É uma homenagem aos... – começou sem saber para qual reflexo olhar.

— Só bebês acreditam nessa baboseira ridícula de homenagem – interromperam todos os reflexos. — Por que eles não fizeram isso com o James? Ele podia se chamar Alvo Severo e eu ficaria com o James Sirius. Seria mais justo! As homenagens vêm primeiro; as maldições vêm em segundo.

— Meu nome não é uma maldição! – rebateu alteando a voz.

— Não é? Oh, você sabe que sim! É tão ruim ser você que eu decidi ser eu agora. Você é motivo de piada na família sempre que encontram alguém com nome esquisito, porque nada pode ser pior do que Alvo Severo. As pessoas ficam desconcertadas e com pena. E esse lance de homenagem? James teve uma homenagem. Você ficou com o peso maldito de dois grandes bruxos que fizeram coisas extraordinárias e quem é você? Você é um nada, um garoto sem nenhum talento excepcional e muito sem graça.

— Não sou! – reclamou.

Bebê chorão! O segundo filho, uma sombra entre duas crianças tão queridas. James é o primogênito: tem um talento nato para quadribol, garotas e encrencas. É constantemente comparado ao vovô Potter por todo mundo e consegue lidar com a fama sem problemas. Lily é capaz de encantar qualquer pessoa, além de ser muito inteligente, absolutamente decidida e com uma lábia que enrola até o papai. Você? Você é um filhinho da mamãe que reclama de tudo o que o James faz de errado. É inseguro, sem talento e personalidade. O que você fez que a ideia tenha sido sua? Hein? Nada! Você não sabe se impor, fica deixando todo mundo dar opinião em tudo e no fim só sabe seguir ordens. Será um grande pau mandado... Um funcionário de quinta categoria do Ministério!

— Isso não é verdade! – gritou, secando suas próprias lágrimas. — Você é venenoso e cruel. Eu não penso essas coisas!

Não pensa? – questionou o reflexo, aproximando seu rosto do espelho. — A quem engana? A si mesmo, é claro. Por que me desafia se não está preparado para ouvir as próprias verdades que esconde? Olhe para si mesmo: você é uma ideia patética de ser parecido com o grande Harry Potter. Mesmo corte de cabelo, mesmos olhos e até os malditos óculos redondos! Só lhe falta a cicatriz. Não acha que mamãe está querendo compensar na imagem o que falta em talento? Quem é você? Um Weasley Potter? – riu maldosamente. — É uma vergonha para a própria família! Lufa-Lufa... Lufa-Lufa!! Sério??? Merlim, eu queria morrer!

— A Lufa-Lufa é uma Casa tão importante quanto as outras – se defendeu.

Por favor! Não me faça rir! É claro que o papai diria isso, mas você sabe o que ele realmente estava pensando, não é? Oh, e não era o que ele fez de errado não, porque não foi culpa dele. A culpa é sua! Você não é bom o suficiente para ser um Weasley e muito menos um Potter! Só você para dar essas decepções na família: o desajustado!

— Pare de falar! – gritou, com lágrimas escorrendo em sua face. — Diffindo! – tentou lançar um feitiço que foi absorvido pelo espelho.

Faça o estardalhaço que quiser, os espelhos são enfeitiçados. Se você tivesse o mínimo de miolos bruxos teria deduzido isso – sua imagem cruzou os braços e se afastou do espelho.

O garoto caiu sobre os joelhos, tentando segurar o choro em vão. Aquilo tudo era uma carga emocional forte demais. Não poderia negar que essas coisas passaram por sua cabeça em algum momento, mas não queria acreditar que ainda remoía aquilo. Eram pensamentos ruins. Era o seu pior lado dizendo tudo sem filtros e magoando a si mesmo.

— E eu não vou nem falar sobre ele.

— Ele?

Oh, Potter! Você é patético.O que diria a mamãe se soubesse que você está gostando da companhia desse garoto? – tamborilou os dedos no queixo. — O que diria os tios? Vovô e vovó? O papai? Ah, ele vai matar você. E o James? Isso eu quero ver.

— O Malfoy salvou a minha vida! – afirmou.

E agora você é um devedor. Garanto que ele vai te pedir algo sórdido em troca. Sabe que nenhum Malfoy é bonzinho. Sabe disso. Você vai se meter em outra decepção. Lufa-Lufa... Sinceramente? Nem Corvinal? Não, tinha que ser na esquecida, zero à esquerda Casa de Helga, que aceita todo o resto que ninguém quer.

— Você não sabe o que está falando. Eu gosto da Lufa-Lufa! – gritou.

[i]— E tem jeito? – questionou, com um sorriso irônico. — Você vai ter que aturar isso para o resto da vida, porque não tem transferência de Casas em Hogwarts. Será marcado como um lufo para sempre, a não ser que se revolte, quebre tudo, mate a todos e instaure uma nova forma de viver na comunidade bruxa como Voldemort! Ah, eu iria querer ver essa perda de controle. Seria tão interessante – disse, com os olhos brilhando de excitação.

— Mentiroso! Isso está errado! Nunca em minha vida eu pensei algo assim. Você está inventando coisas agora! – rebateu. — As outras... O que você disse antes... É verdade – admitiu triste e viu o sorriso vitorioso de seu reflexo sumir.

Uma ideia começou a se formar em sua mente.

— Você tem medo de tudo, duvida de tudo. “Papai, e se eu for para a Sonserina?”? Ah, faça-me o favor! Você é um covarde!

— Não sou um covarde, mas eu tenho medo, sim. E é normal ter medo – disse, honesto.

— Só os fracos têm medo ­– rebateu, já sem tanta firmeza.

— Todo mundo tem medo: forte ou fraco, adulto ou criança, bruxo ou trouxa – afirmou, se reerguendo e encarando um reflexo que lhe sorria amarelo. — Meu nome é estranho sim, mas o que posso fazer? É o meu nome e vou viver com ele e as piadinhas o resto da minha vida, mas eu não ligo tanto. Dá para ignorar, sabe? Você sabe que sim – desafiou o seu reflexo estreitando os olhos e o viu recuar.

— Você... Você está mentindo para si mesmo!

— Não, eu estou abrindo o jogo comigo – afirmou e abriu as mãos, sem defesa. — Pois é, eu tenho ciúmes do James. Ele é legal, descolado, capitão de quadribol, corajoso e da grifinória. Lily é a caçula. Fala sério! Todo mundo tem ciúmes dos caçulas porque eles são tão paparicados! E ela ainda é a única menina, claro que tem tudo para ela. Eu tenho que pegar a segunda vassoura do James, a segunda cadeira da mesa, o segundo quarto... Mas eu sou o segundo filho, então deve ser meio normal isso. Nunca parei para perguntar a alguém. Não acha? – questionou, agora sorrindo diante da apatia do outro.

— Você não está falando sério – exclamou, horrorizado.

— Claro que estou e você sabe disso, não é? E apesar do que todos falam sobre a Lufa-Lufa, eu acho que ela é a Casa mais forte de Hogwarts.

Seu reflexo torceu o nariz.

— Eu também achava que só o descartado ficava na Lufa-Lufa. Já fiz esse comentário maldoso com o James quando era mais novo, agora me lembro – disse, batendo na própria cabeça. — Acho que fui escolhido justamente para entender que Helga era muito inteligente. A Grifinória está cheia de corajosos bruxos, a Sonserina têm os mais ambiciosos e a Corvinal os intelectuais. E a Lufa-Lufa? Você vai me perguntar. A Lufa tem todos: os corajosos e ambiciosos, os intelectuais e corajosos e os ambiciosos intelectuais. Por não criar rótulos, podemos ser tudo. Enquanto os sonserinos pouco prezam pela amizade, os corvinais escolhem a dedo e os grifinórios se fecham em seu clubinho particular, somos nós que fazemos a ponte entre todos. Não porque somos o resto, mas porque somos um pouquinho de tudo e, por conta disso, podemos lidar com todos de igual para igual – finalizou, sentindo um calor pelo corpo e o rubor nas bochechas.

— Quem... Quem você pensa... – tentou falar o reflexo, trêmulo.

— Sou Alvo Severo Weasley Potter, filho do grande Harry Potter e da incrível Ginevra Weasley. Sou da Lufa-Lufa por escolha do Chapéu Seletor e pelas ideias geniais de Helga. Mas quem sou eu de verdade? Ainda não sei, mas não tenho pressa de descobrir – finalizou.

Todo o ambiente tremeu e Alvo sacou a varinha, assustado. Um a um os espelhos começarem a desaparecer até sobrar apenas o seu reflexo original.

— Obrigado – agradeceu de coração e viu uma abertura surgir na sua frente.

— Alvo! Graças a Deus! – exclamou Peter dando um grande abraço no amigo.

Ainda surpreso, o lufo olhou o ambiente ao redor. Parecia uma masmorra e só tinha pedras para onde quer que olhasse. A um canto, Jonathan estava sentado no chão, com um sorriso de alívio por ver Potter ali, mas seus olhos estavam muito tristes e ele se limitou a acenar. Tiago, que estava encostado em uma das paredes próximas, veio apertar sua mão, mas não sorria ou tinha a expressão inteligente, como sempre.

— Que desafio, né? – comentou Peter, baixinho.

— Nem me fale – respondeu Alvo.

Uma abertura surgiu ao lado dos lufos e dela saiu um Malfoy sério e pisando forte. Não falou com ninguém e sequer os encarou para notar que estavam ali. Tinha os olhos injetados de raiva, os punhos fechados já brancos de tanto os apertar e tentava se acalmar expirando várias vezes. O senso comum era claro e não houve uma palavra por algum tempo. Quando deu por si, Alvo tinha o olhar fixo em algum ponto da parede, sem enxergá-la de fato e estava repassando tudo o que foi dito em sua mente. Olhou ao redor e todos pareciam perdidos.

— Eu nunca me achei grande coisa, sabe? – Peter começou a falar para Alvo, baixinho, mas em virtude do espaço todo mundo dava para ouvir. — Sempre fui o gaguinho esquisito e os garotos da escola trouxa eram realmente cruéis comigo. Eu cansei de tentar entender por que eu tinha que sofrer tanto bullying.

— O que é bullying? – perguntou o amigo.

— É quando as brincadeiras deixam de ser zoações saudáveis e passam a agredir a gente. Fisicamente ou mexendo com a cabeça. Começavam me imitanto... Cara, é realmente uma droga quando fazem isso, mas você entende a zoação no início. O negócio é a insistência na piadinha sem graça. Depois davam descarga no banheiro com a minha cabeça no mictório, então, você pega a ideia da coisa – respondeu, ignorando que os outros estavam ouvindo.

— Como podem fazer isso? E não são expulsos? – perguntou Potter.

— E eu sou maluco de denunciar? Eles me pegam na esquina e me quebram na porrada, Potter. Nem todas as escolas são como Hogwarts. No mundo trouxa os professores não têm uma varinha para se defender de alunos que perdem a noção.

— Eu não sabia. Ele... Quero dizer, o seu reflexo ficou lembrando essas coisas?

Peter balançou a cabeça assertivamente e encarou suas mãos, brincando com a varinha.

— De como eu me sentia. Da raiva. Da vontade de poder ser outra pessoa e devolver tudo o que eles fizeram comigo – disse e fechou os olhos por um momento, recordando. — E eu me toquei que agora sou um bruxo e posso fazer isso – abriu os olhos e encarou a parede. — Na verdade, eu acho que já tinha deduzido isso faz tempo, mas não estava querendo pensar sobre. O meu reflexo começou a enumerar tudo o que eu podia fazer e aquilo me deu medo, porque eu não quero ser assim – concluiu, olhando para o amigo. — Escolher faz toda a diferença, não é? Como Rose disse. Eu quero ser uma pessoa melhor do que aqueles trouxas. Não preciso me vingar deles, porque depois de passar por aquilo eu me sinto mais forte. Não é porque agora tenho uma varinha que possuo o direito de pisar nos outros. Bullying é burrice e eu não quero ser um burro. E então eu saí de lá, mas essas coisas ficam na cabeça mesmo quando a gente sai – exclamou, apontando com a varinha para si mesmo. — É uma droga!

— Algumas verdades são difíceis de serem aceitas, mesmo quando a gente entende – comentou Tiago, encostado na parede. — Deixar para lá é o mais complicado e a lição do desafio de Godric Grifinória é bem clara: lutar contra um adversário pode ser mais fácil do que lutar contra si mesmo.

Os garotos ficaram em silêncio, analisando bem o que o corvinal dividia com eles. A nostalgia foi quebrada pelo aparecimento de uma morena acobreada com lágrimas escorrendo de seu rosto. Assim que identificou o primo correu para ele e o abraçou, chorando copiosamente. Alvo apenas a abraçou de volta.

— Oh, Al, foi horrível! Foi horrível! Ela... Ela... Eu... Foi tão ruim e é tudo tão verdade! O que eu vou fazer? Eu sou uma decepção, eu sei que sou.

— Rose, claro que você não é – contra-argumentou o primo, já imaginando do que se tratava.

— Eu não sou inteligente como minha mãe e nem sou boa em quadribol como meu pai. E eu tento tanto ser, Al. O que eu estou fazendo de errado?

— Rose, é óbvio que você não está fazendo nada de errado e sabe disso. Você saiu de lá, não foi?

— Foi... Saí... Mas foi tão horrível! – encarou um a um no local e continou chorando, afundando o rosto no peito do seu primo.

Malfoy rolou os olhos diante do drama da garota. Tiago a encarou piedoso e Peter não conseguia entender como ela não se achava inteligente. John pousou a mão no ombro da amiga, que o encarou e chorou ainda mais.

— O que foi? – perguntou o grifinório.

— Oh, Merlim! Que vergonha!

— Rose, desculpe. Eu não queria... – John tentou se redimir, mas foi interrompido.

— Não é você. Sou eu – respondeu a garota, tentando em vão secar as lágrimas. — Eu... Eu... Eu meio que tenho inveja de você – admitiu, encarando os pés e segurando fortemente o braço do primo. — Você é tão talentoso com feitiços e nem sabia que o mundo da magia exista há pouco tempo. Me... Me desculpe. Eu já fiquei muito frustrada com isso, mas a culpa não é sua. Eu não sou boa o suficiente.

— Do que você está falando? Os feitiços que eu sei foi você quem me ensinou ou indicou um livro. Eu estaria perdidinho sem você – respondeu honesto. — Eu só tenho sorte com a varinha, mas sem uma ideia do que fazer, eu não seria bom. E eu só sou bom nisso, lembra?

— E em transfiguração – completou a garota, já se controlando melhor.

— Hum... Eu não... – tentou contradizê-la, mas a garota ergueu a mão o interrompendo.

— Está tudo bem. Eu já admiti. Só precisava confessar, porque estava me sentindo péssima com esse sentimento dentro de mim. É uma inveja boa, tá?

— Eu só sou bom nessas coisas. Sou péssimo em Herbologia e Poções. A Lizzie... – disse e se calou, ao notar o olhar derrotado da grifinória.

— Do que adianta, John? Ela provavelmente será a medibruxa mais nova da história – assumiu a garota.

— Não é muito justo, sabe? Mesmo a gente não sabendo que éramos bruxos, ela já era a CDF de ciências da escola e queria ser médica ou cientista.

— Vocês são Dumbledores também. O sangue sempre conta – informou Alvo e voltou-se para a prima. — E sabe o que eu acho, Rose? Que o Peter é ótimo em Astronomia, Tiago passa John em Transfiguração e Malfoy é o melhor de DCAT. Você é boa em tudo. Não tem uma matéria que leve bomba, ao contrário da maioria de nós. Isso é ser bem inteligente na minha opinião.

Rose o abraçou e beijou sua bochecha.

— E você é o melhor bruxo cavalheiro que eu conheço.

— Você não conhece tanta gente assim – respondeu, corando.

As atenções foram desviadas para a abertura que surgiu na masmorra, permitindo a passagem de Elizabeth. John imediatamente foi ao encontro da irmã e segurou suas mãos, que tremiam. Por um breve momento, eles se encararam e a garota sussurrou um “depois”. Em seguida cumprimentou a todos e foi se sentar a um canto, acompanhada pelo irmão que entrelaçou os dedos em sua mão, com carinho.

Ela não chorou ou resolveu comentar o ocorrido a plenos pulmões, o que era muito digno de uma sonserina na opinião de Deymon. Eles deviam aceitar suas próprias mazelas com a cabeça erguida e, se tivessem que dividir com alguém, que fosse em particular. Claro, ele mesmo não pretendia confessar a ninguém as verdades que teve de ouvir de sua própria boca sobre sua família, seus pais e sua história. Sobre a absurda amizade que parecia insistir em se firmar entre ele e Alvo, contra a qual relutava a cada segundo. Admitiu, a si mesmo, que gostava de sua companhia e de ser tratado como um cara normal por ele, além do fato de o garoto não ser em nada parecido com a descrição que o pai fazia dos Potter. O mais velho sim, James, era o reflexo da inconsequência e necessidade de aparecer. Alvo era só um garoto comum, tentando se encaixar da melhor forma na herança de um sobrenome, assim como ele próprio.

Os minutos foram passando e o ambiente ficou desconfortavelmente silencioso. Rose tinha a cabeça no ombro do primo, enquanto folheava um livro. Alvo encarava a parede diante de si e, às vezes, se pegava olhando para todos os amigos reunidos ali. Tiago parecia encontrar alguma coisa interessante em sua própria mão, enquanto Peter brincava com a varinha no chão. Os irmãos Dumbledore permaneciam juntos sem trocar uma palavra e Deymon estava de olhos fechados, embora fosse nítido que não dormia. Apenas Khai não tinha passado pela provação ainda.

— Estou ficando preocupada – disse Rose, fechando o seu livro. — E se aconteceu algo com ele?

— Dê tempo a ele – rebateu Elizabeth.

— Mas e se ele não aparecer? O que podemos fazer? Como entrar lá e encontrá-lo? – questionou a garota.

— Acho que não podemos – respondeu Tiago. — Mas a gente precisa decidir o que fazer.

— Não vamos embora sem ele – afirmou Alvo. — Não vamos deixar ninguém para trás.

Malfoy abriu os olhos e encarou o lufo com curiosidade.

— Dê tempo a ele – repetiu Elizabeth.

— Vamos aguardar mais, Rose – concordou John. — Lizzie acha que ele vai conseguir sair, então ele vai. Ela nunca erra um palpite.

Rose ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços balbuciando com desdém “Ela nunca erra um palpite”, fazendo seu primo fracassar ao segurar um risinho e receber um cutucão por isso.

— Precisamos de um plano B – insistiu Tiago.

— Quando for a hora pensamos nisso. Agora aguardamos – Malfoy encerrou a conversa.

Os minutos passaram de forma angustiante, sem sinal de Macbeer. O ambiente já estava bem tenso com Rose direcionando seu olhar desconfiado para Lizzie, que apenas erguia a sobrancelha em desagrado. Antes que a grifinória pudesse falar alguma coisa para quebrar o silêncio, uma porta de madeira apareceu no fundo da masmorra ao mesmo tempo em que uma fenda se abria para a passagem de um sonserino irreconhecível.

Khai estava pálido, com olhos vermelhos e inchados, os cabelos grudados de suor e as mãos sangravam como se ele tivesse esmurrado a parede de espelhos, o que, de fato, havia acontecido. O garoto desabou no chão, apoiando-se em suas mãos, chorando descontroladamente e todos sabiam que não era da dor de seus ferimentos. Elizabeth desvencilhou-se do irmão rápido e pôs-se a buscar em sua mochila uma poção para curar as feridas do amigo. Malfoy levantou-se e colocou a mão no ombro do colega, o que o fez ter um acesso pior.

Rose estava angustiada, com as mãos na boca, tapando um murmúrio de lamento que não saía devido ao seu estado de choque. Como ela poderia achar que seus problemas eram o fim do mundo diante do que o reservado sonserino apresentava? Alvo tinha certeza de que o pai foragido de Azkaban tinha uma boa parcela de culpa naquilo e fez menção de ajudar, contudo Malfoy manteve todos à distância, com seu olhar frio. John olhava o cuidado com que a sonserina tentava curar as mãos do colega, que se retraía e evitada encará-la, embora deixasse que o tocasse. Tiago sequer ameaçou se aproximar, pois sabia que ele não apreciava sua companhia e observou calado, junto a Peter, a tentativa dos sonserinos em acalmar o amigo.

Malfoy balbuciava alguma coisa junto ao ouvido de Khai que ninguém conseguia entender, mas parecia acalmá-lo aos poucos. Lizzie finalmente tinha conseguido estancar os cortes e agora fazia um breve curativo com o que ainda tinha de material. Respirando melhor, Khai ergueu os olhos para Deymon e sentiu segurança nas palavras do amigo que o observava com um olhar duro, mas de plena compreensão. O garoto enxugou suas lágrimas nas vestes e se recompôs, antes de encarar a sonserina que o aguardava com um sorriso amigo. Imediatamente ele relaxou, enquanto ela lhe oferecia um bom pedaço de chocolage mágico, insistindo que aquilo o faria sentir-se melhor e segurando sua mão machucada. Malfoy tinha certeza de que não seria o chocolate a alterar a autoestima do colega.

Khai se levantou, após algumas mordidas no chocolate, ainda segurando a mão da sonserina e encarou os outros na sala. Imediatamente sentiu-se um fraco e envergonhado do seu espetáculo descontrolado. Não sabia para onde olhar e o que dizer, mas foi salvo por um lufo iluminado pelo momento.

— Estão todos aqui, vamos em frente – afirmou Alvo, desviando o assunto.

— Acho que o próximo desafio será o mais difícil, porque só sobrou o Salazar por eliminação – informou Tiago. — Malfoy, o que podemos esperar dele?

— Tudo, mas desconfio que tenha algo a ver com cobras e muita astúcia para conseguir superar esse desafio. Claro, será o mais mortal que encontraremos, porque Salazar só admite merecedores em sua Casa – completou, lançando um breve olhar ao colega que se sentiu mais reconfortado.

— Não seria melhor... – começou Rose, mas foi cortada pela sonserina.

— Descansar? Certamente, mas não acho que temos tempo. Perdemos essa noção e acredito que logo será dia e todos irão se preparar para embarcar no Expresso. Não podemos perdê-lo, portanto, vamos em frente.

— Em frente então, pessoal – confirmou John. — Varinhas a postos é claro e mantenham-se juntos. O que vier será a maior provação de todas.

John abriu a porta e um vento úmido entrou na masmorra em que se encontravam, apagando todas as chamas que mantinham o lugar iluminado e deixando-os no completo breu.

— Não iluminem – pediu Malfoy. — Se ele quisesse que víssemos algo, veríamos. Vamos jogar de acordo com as regras dele – informou.

O grifinório liderou o grupo para dentro do próximo ambiente, tateando a parede em busca de uma nova passagem e buscando com o pé segurança ao pisar. Assim que o último atravessou a porta, ela se fechou com força, arrancando exclamações de susto de todos. O ambiente ficou rapidamente úmido e um zumbido bem baixinho deixava a todos muito intrigados, contudo, ninguém se atrevia a iluminar o local. John continuou caminhando por longos minutos, mas parecia se tratar de um caminho sem fim que dobrava ora à direita, ora à esquerda. Iria sugerir se afastar da parede, mas seus pensamentos foram interrompidos.

— Por quê? – perguntou Khai.

— Por que o quê? – questionou Peter.

— Por que dar 13 passos para frente e depois virar à esquerda? – continuou. — É estranho decidir isso depois de estarmos caminhando seguindo a parede, não acha?

— Do que você está falando? Ninguém disse nada – afirmou a grifinória.

Khai sentiu sua espinha gelar e ficou parado, sem saber o que fazer. Malfoy imediatamente compreendeu o que estava acontecendo e procurou a garota Dumbledore na escuridão, na certeza de que ela estaria em busca de uma estratégia com ele.

— É, eu ouvi também – disse Deymon, acobertando o amigo. — Achei que tinham enxergado algo aí na frente.

— Não, Malfoy, estamos perdidos nesse labirinto – exclamou Alvo.

— É isso! É um labirinto! – deduziu Lizzie. — E somente nós podemos guiá-los para fora, porque nenhum de vocês é um sonserino. Isso explica o porquê de somente nós estarmos ouvindo – completou, mentindo descaradamente sobre ouvir qualquer coisa. — Vocês não são merecedores – afirmou, com certa superioridade.

— Então passem para a frente – disse John.

— Esperem! – interrompeu Peter. — E se essa voz que só vocês escutam estiver mentindo e nos levando para uma armadilha? Porque deslealdade é bem a cara de sonserinos, né?

— Eu se fosse você calava a boca, lufo – ameaçou Malfoy, seco. — Você está jogando sob as regras de Salazar e ele não gostava nem um pouco de sangues-ruins.

— Malfoy! – gritou Rose. — Você não pode falar desse jeito. É uma afronta!

— Você está no desafio de Salazar, garota. O que você acha? Que vai ser uma coisa simples como encarar a si mesmo? Descobrir um enigma ou encaixar pedrinhas? Vamos lutar por nossas vidas e saiba que se alguém tiver que morrer primeiro será o sangue-ruim, porque é assim que Salazar pensava. Não me venha com essa de ser uma afronta. Fique caladinha e cuide da sua segurança porque depois, certamente, serão os grifinórios a morrer – completou, deixando os amigos em estado de choque.

— Você não está falando sério – disse Peter, fracassando em soar desdenhoso.

— Então prove o contrário e lidere – sugeriu Khai, com ironia na voz. — Mas depois não diga que não avisamos.

Todos ficaram em silêncio, desconcertados pelo momento.

— Isso não vai nos levar a lugar nenhum – disse Alvo. — Vamos seguir os sonserinos porque tem lógica Salazar privilegiar os alunos de sua Casa, não é? Rose? Tiago?

— Sim – respondeu o corvinal.

— Então pronto. Vocês vão à frente e a gente segue. Se for uma armadilha, logo saberemos. Se não, chegaremos ao fim disso e Malfoy...

— O que?

— Não usaremos mais essa palavra ofensiva e da próxima vez a gente faz você engolir ela contra a sua vontade, porque somos 5 contra 3 – ameaçou Alvo incerto de onde veio tanta coragem e o sonserino se surpreendeu, ao mesmo tempo ofendido.

— Quem você acha...

— Ele tem meu total apoio – disse Rose.

— E o meu – responderam Peter, Tiago e John.

— Que perda de tempo são vocês, discutindo por uma expressão qualquer – desdenhou a sonserina. — Malfoy, concentre-se no que importa. Khai pode ir à frente e todo mundo fica calado, com as varinhas na mão – ordenou e organizou a comitiva.

Seguindo as orientações sussurradas aqui e ali, Khai liderou com agilidade e em silêncio todos os oito. Abandonou o acompanhamento da parede de pedras e se aprofundou no labirinto. Quando alguém questionava alguma parada brusca ou retorno, Deymon e Elizabeth tratavam de afirmar que era dessa forma mesmo e mandavam os outros seguirem sem reclamar, mas no íntimo só torciam para o amigo não estar lhes guiando a uma armadilha de cobras. De repente, Macbeer parou.

— Chegamos.

— Chegamos onde? – perguntou a grifinória.

— Ao objetivo do labirinto, é óbvio – respondeu Lizzie.

— Temos que esperar. Alguma coisa vai acontecer – Khai indicou.

— Por que só você está dando as instruções? – John questionou, desconfiado.

— Porque sim, ora. Sua irmã me mandou ir à frente – respondeu o sonserino.

— Shhh! – pediu o corvinal. — Tem alguma coisa se aproximando.

De fato, alguma coisa parecia se mover ao redor deles, mas não se atreviam a iluminar o local. Ao fundo, uma luz veio dançando pelo labirinto, indicando todo o caminho que percorreram. A respiração de todos acelerou e apertaram a varinha institivamente, apontando para o que se aproximava. Embora os sonserinos tivessem a certeza de que uma cobra estava sussurrando a indicação para Khai, nada os havia preparado para o que viria a seguir. A luz assumiu uma forma de serpente e iluminou o local em que se encontravam: um círculo de pedras completamente rodeado por serpentes negras.

As crianças seguraram os gritos de terror e outros estavam mudos pelo choque. Malfoy e Elizabeth olharam assustados para Khai, que balançou a cabeça negativamente e abriu as mãos em defesa indicando que todas as cobras apenas sibilavam, mas não emitiam nada compreensível.

— Não ataquem – insistiu Malfoy. — Elas estão testando nosso limite.

A cobra de luz sibilou e as outras começaram a se aproximar ainda mais, reduzindo pouco a pouco o círculo em que se encontravam. Quando todos os estudantes ficaram colados uns aos outros, elas pararam o movimento. Apesar de nervosos e com medo, ninguém emitiu um som ou usou a varinha, embora Rose tenha abaixado um pouco a mão de Peter, sentindo que o colega estava nervoso demais. De repente, as serpentes negras abriram caminho e a imagem mágica deslizou até as crianças, que não tinham para onde correr. Todos encararam os sonserinos que assumiram a frente e mantinham uma postura superior, sem medo da análise da magia de Salazar. Em segundos, ela deu um golpe com o seu corpo por sobre o mar de cobras, fazendo com que todas desaparecessem. As crianças sentiram um breve alívio, que foi suprimido pelo desespero ao notar o chão também se desfazer sob seus pés.

A queda foi breve, em uma superfície mole e áspera, como caules retorcidos, Algumas crianças caíram sobre uma área de frágil folhagem e se esticaram para sair. Chamavam uns aos outros no escuro, sussurrando, tentando ver se estavam todos bem. John tentou tatear a parede e parecia que o espaço era aberto, quando seu pé tocou algo viscoso.

— Tem água aqui, mas parece lamacenta – disse, mexendo um pouco o pé.

— Isso é ridículo, temos que enxergar alguma coisa – reclamou Rose.

— Se fosse... – começou Khai, mas foi interrompido pelo corvinal.

Lumus! – e diante do olhar estarrecido de todos continuou. — O quê? Achei que um pouco de ousadia soaria bem para Salazar.

— Você poderia ter matado a gente, seu idiota – vociferou Malfoy.

— Mas ninguém morreu e eu achei apropriado iluminar agora. Parece que estamos em um pântano subterrâneo – observou Tiago.

Os outros também iluminaram o local. Agora podiam identificar os longos caules verdes cobertos de musgo que amorteceram a queda deles, anormalmente inchados por água. Pelo menos foi o que pareceu ao Elizabeth esmagar e sair um líquido transparente. O lago era negro e lodoso, sem nenhuma ondulação aparente e tinha um cheiro forte e estranho. Além disso, a temperatura parecia cair a cada minuto. Malfoy e Richads encontraram totens e atearam fogo para esquentar o local, iniciando uma reação em cadeia que iluminou todo o ambiente. As folhas que amorteceram as quedas de Rose e Alvo na verdade eram uma série de lâminas pálidas que se dissolviam ao toque da mão, de acordo com a observação de Peter. Ao se aproximar para verificar, Khai perdeu toda a cor do seu rosto, junto com Rose, Tiago, Alvo e Deymon.

— Isso não é folha. É pele de cobra! – alardeou Rose.

— Isso tudo é o corpo e é enorme! Onde está a cabeça? – perguntou Alvo.

— As cabeças – respondeu John, falseando a voz.

— O quê? – questionaram os amigos.

— São três – disse a sonserina ao lado do irmão e apontou para a figura que surgia no meio do pântano.

A enorme serpente negra deslizava sob a superfície com suas três cabeças captando todas as vibrações através de suas línguas bifurcadas. Sua pele escamosa brilhava lustrosa e seus olhos amarelos estavam vivos e captando todo o movimento da margem. Ao seu redor o lago negro ondulava de forma esquisita e eles notaram, com assombro, que todas as cobras que viram no andar superior nadavam ao redor da maior.

— Que tipo de cobra é essa? – John perguntou.

Rose, Tiago e Deymon tentaram buscar na memória alguma citação para a espécie que viam, mas não conseguiam se lembrar. Já Khai parecia preso a uma das histórias de terror do seu avô, quando uma vez perguntou se existia alguma cobra pior do que a Anaconda gigante brasileira ou o Basilisco e ouviu a resposta que agora temia repetir:

— É uma Dreikronen, a rainha perdida das serpentes.

— Nós vamos morrer – afirmou Peter, recuando junto com os outros e erguendo a varinha.

— Cala a boca, Peter! – ralhou Rose, também com muito medo.

Elizabeth e Deymon encararam Khai, que tentava captar o sibilar das serpentes.

— Sinto o gosto de um sangue-ruim e meio sangue... – informou a cabeça da direita. — Como ousaram chegar até aqui?

— Matar... Matar todos... – exigiu a da esquerda.

— Só os merecedores prosseguem – sibilou a central. — É a ordem do mestre.

Khai arregalou os olhos e encarou com desespero os colegas sonserinos, balançando negativamente a sua cabeça. Malfoy e Lizzie trocaram um olhar cúmplice.

— Varinhas à mão! Teremos que lutar por nossas vidas – informou Deymon, para desespero dos outros.

— Pensem em todos os feitiços para machucar ou não teremos nenhuma chance! – gritou Tiago, nervoso.

Rose e o corvinal começaram a repassar em voz alta, como informação para todos, tudo o que se lembravam naquele momento. A garota sentiu a varinha escorregar em sua mão diante da força e tremor com o qual a segurava, suando nervosa por todos os poros. Estava profundamente arrependida de ter apoiado aquela história, porque era óbvio que não teria um final feliz. A sorte tinha-os abandonado e não possuíam conhecimento para matar aquela coisa. Tiago estava concentrado e analisando todos os detalhes da situação, antevendo rotas de fuga e esconderijos. Precisavam desesperadamente de ajuda, mas de onde ela viria? Ninguém sabia onde estavam ou como chegar ali.

John e Elizabeth deram as mãos e permaneceram juntos, concentrados na criatura que se aproximava a cada segundo. O mesmo pensamento povoava a mente dos jovens sobre a ironia da situação, descobrindo que eram bruxos para morrer menos de um ano depois. Pelo menos, estariam um ao lado do outro até o final, lutando por suas vidas como fizeram desde o momento que nasceram.

Peter tinha lágrimas escorrendo pelo rosto, mas limpava-as com frequência, porque todos ali estavam fazendo o máximo para segurar a onda. Não conseguia evitar, sentia-se o mais trouxa entre todos e se o que Malfoy disse fosse realmente verdade, a única certeza era sua morte iminente.

Khai começou a tremer e traduzir para Malfoy baixinho tudo o que a cobra dizia. Sua voz embargava com o medo e Deymon tocou seu ombro para que parasse. Não precisava de detalhes para saber que o fim se aproximava. Fariam sua análise e ele passaria ou não, pelo menos teria uma chance e Khai certamente seria poupado. Era um ofidioglota, por isso só já seria merecedor. Não que se importasse com todos os outros, mas sabia que Elizabeth jamais deixaria seu irmão perecer e sentia uma vontade enorme de defendê-la sem saber como reagir a isso. Arriscaria sua vida por ela? Pelos outros? Pelo Potter e a Weasley? Sempre foi ensinado a pensar primeiro em si, então porque agora estava com esse conflito que fazia a sua garganta se fechar?

Alvo tinha um turbilhão de coisas passando por sua mente. Sentia um arrependimento enorme de se meter em uma aventura tão perigosa. Sempre tinha achado o máximo, mas a morte iminente não era divertida. Sentia o medo pulsar por todo o seu corpo e podia notar como todos se preparavam para o inevitável. Queria tanto seus pais com ele naquele momento para protegê-lo. Pensou em como seus pais se sentiriam com o seu desaparecimento sem retorno e que, no fim, seriam eles os responsáveis pelo fechamento da escola. Tentou afastar esses pensamentos, pois precisava se concentrar. Não queria acreditar que Hogwarts não enviaria ajuda em um momento desses. Se isso era um jogo e tinha escolhido eles como peças, não faria sentido. Todos se mostraram merecedores e por mera inexperiência da idade agora seriam mortos? Não queria acreditar nisso. Queria ter esperança até o último momento.

A criatura chegou até a margem e se ergueu diante das crianças, analisando-as e sibilando com suas línguas bifurcadas esverdeadas. Era enorme, maior do que o Salgueiro Lutador no terreno da escola e seu corpo era largo o suficiente para caber um Hagrid dentro, o que fazia de todos ali presas muito fáceis.

— Matar... Matar... Devorar... – sibilou faminta a cabeça da esquerda.

— Vamos começar pelo sangue ruim? – questionou a da direita.

— Silêncio! O ofidioglota nos observa – informou a cabeça central ameaçando mordiscadas nas outras e voltando a encarar Khai. — Você é merecedor, pode chamar o barco e seguir. Você... E os sangues puros, mas a terceira da Casa de Salazar não deveria estar lá... Vou pensar sobre ela, no fim.

— Malfoy, nós passamos – murmurou Macbeer.

— Ela? – quis saber o loiro.

O amigo abaixou o olhar.

— Ainda não – Khai ergueu o olhar e voltou a balbuciar ao ouvido do colega. — Temos que sair agora. Talvez de longe a gente possa dar um jeito...

Deymon estava confuso. Seu instinto de sobrevivência ordenava que saísse e deixasse cada um lutar por si, mas havia um laço invisível que os uniu desde que o poço inundou na primeira provação. Não sabia o que tinha adiante, mas compreendeu que apenas eles dois não teriam chance com o dono da voz. Não morrer agora, poderia significar morrer depois. Não soube de onde veio a bravura ou talvez não fosse nem isso. Soube imediatamente que o grifinório estava certo: antes de um ato de coragem vem o segundo de estupidez.

— Vamos acabar com isso todos juntos – respondeu, encarando o Potter, que ascentiu.

— A...

Antes que Alvo pudesse dar o comando para que todos lançassem os feitiços e se espalhassem pelo terreno, um vulto surgiu e pegou a serpente desatenta, lançando-a ao chão. A Esfinge havia surgido para salvar a todos. A cena protagonizada por ambas as criaturas foi de muita selvageria, com garras, mordidas e reviravoltas e as crianças corriam para sair da linha de luta.

— O que estão esperando? Um enigma de como sair? – questionou irônica a Esfinge enquanto se atracava novamente com a serpente, que enrolava seu corpo escamoso na tentativa de imobilizá-la.

— Nós temos que ajudá-la – exigiu Tiago, lançando um feitiço no corpo da serpente, motivando os outros a fazer o mesmo e distraindo-a a ponto de largar sua presa.

— Como saímos daqui? – questionou Elizabeh.

— Pelo barco – informou Khai.

— Que barco? – perguntou Tiago.

— Temos que chamá-lo – disse o sonserino e assumiu uma expressão desolada ao encarar Malfoy.

— Faça o que tem que fazer – respondeu o loiro. — Depois nós damos um jeito. Escondemos até onde deu.

Khai se aproximou da borda e sibilou, em língua de cobra:

— Tragam o barco.

— O que você disse? – perguntou John, surpreso.

— Você é um ofidioglota como o tio Harry! – exclamou Rose. — Por isso conseguiu sair do labirinto. Todos vocês são?

— Apenas o Khai – respondeu Lizzie, diante do olhar questionador do irmão ao lado da garota. — Não queríamos que ninguém mais soubesse e gostaríamos que ficasse assim.

Do centro do lago, surgiu um pequeno barco prateado com imagens de serpentes esmeraldas encravadas em alto relevo. Na proa, uma enorme serpente negra esculpida encarava com superioridade a todos. As cobras que antes nadavam ao redor da Dreikronen traziam a embarcação até a margem.

— Subam, não temos tempo – informou Khai. — Se a Dreikonen vencer a Esfinge, estaremos perdidos. Duvido que minha habilidade vá reter seu ataque.

— Mas não podemos deixá-la – insistiu Tiago. — Ela está arriscando sua vida para nos ajudar.

— Você ficou surdo? – perguntou Malfoy já dentro do barco. — Ela mesma disse para darmos o fora daqui. Tenho certeza de que ela pode lidar com aquela cobra de três cabeças melhor do que todos nós juntos.

— Malfoy está certo. Ela fez uma escolha, Tiago, para nos dar tempo. Vamos garantir que ela não esteja se arriscando em vão – afirmou Lizzie, subindo com a ajuda do irmão.

— Além disso, tenho certeza de que Hogwarts a enviou em nossa ajuda – disse Alvo. — A escola não vai deixá-la perder e, tirando tudo isso, ela é “A” Esfinge, não é?

Todos embarcaram e Tiago foi o último, ainda relutante em deixar a Esfinge em sua luta particular. As criaturas estavam bastante machucadas e ainda se atacando.

— Para a saída – ordenou Khai e as cobras começaram a mover o barco adiante.

A serpente, temendo a fuga de todos, lançou-se violentamente às águas, mas foi detida pela ação da Esfinge, que a apanhara pela cauda e lançara-a em direção aos caules retorcidos, sobrevoando-a ameaçadoramente. As crianças encararam, com angústia, a luta travada por longos minutos em terra, enquanto o barco seguia para o destino que ninguém sabia onde ficava. As mordidas, os lamentos das criaturas de dor entre os ataques e a destruição de tudo ao redor era alarmente e todos tiveram a certeza de que, não fosse pela Esfinge, estariam mortos.

— Ela não vai morrer, Tiago – afirmou Rose para o triste garoto. — Ela vai vencer, porque ela pode voar para se esquivar dos ataques.

— Eu sei, acredito nisso também – respondeu o corvinal, com os olhos marejados e segurando a mão da grifinória, que corou imediatamente. — Ela se arriscou por nós, isso quer dizer que ela pensou no que eu disse. Ela quer ser livre e por isso não vai perder.

— Vejam! A porta está flutuando na água – apontou Peter, para o horizonte adiante. — A saída!

As crianças vibraram e renovaram a esperança. Contudo, o grito agudo os alertou para a outra margem, onde a Dreikronen mergulhava nas águas lodosas em direção aos estudantes com um terrível olhar assassino.

— Não! Esfinge! – gritou Tiago.

— Mais rápido! – exigiu Khai e o barco pegou mais velocidade, mas não era o sufuciente.

Com uma habilidade fora do comum, a serpente de três cabeças se aproximou o bastante para sibilar que as outras cobras saíssem do caminho e o barco ficou à deriva.

— Vamos morrer! – exclamou Peter.

— Varinhas! – comandou John e uma revoada de feitiços diferentes foi em direção à serpente, que desviada com uma habilidade fantástica, mesmo ferida.

— Vamos mesmo morrer dessa vez – repetiu o lufo.

— Cala a boca! – gritaram Rose e Lizzie.

A serpente saltou sobre as águas com o objetivo de destruir o barco, contudo, no último momento, foi fisgada pela Esfinge e mais uma vez lançada para a margem.

— Andem logo com isso, crias de humanos.

A criatura tinha o rosto e corpo marcados por mordidas que sangravam em um tom dourado.

— Espere, Esfinge! Venha conosco! – pediu Tiago.

— Eu farei o meu caminho, escolhido de Corvinal.

— Obrigado! – gritou Jonathan, enquanto a Esfinge se lançava para conter outra investida na água da Dreikronen.

— Serpentes, apresentem-se – exigiu Khai em língua de cobra e todas reapareceram. — Para a saída a toda velocidade.

O barco imprimiu um novo ânimo e a porta ficou a poucos metros. De repente, todas as cobras desapareceram e o barco continuou descontrolado e veloz em direção à porta fechada.

— Vamos bater. Segurem-se! – gritou Alvo.

A batida, contudo, nunca veio e todos foram catapultados através da porta que se abriu no último instante, rumo a mais um destino inesperado.
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Regina McGonagall
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Re: POTTER E O SEGREDO DE HOGWARTS - cap 24 a 30(att 10/03/2014)

Post by Regina McGonagall »

descobri que nunca tinha lido sua fic... :mrgreen:

dei uma corrida de olhos pelo que voc~e postou hoje e achei bem interessante... vou lá começar do começo... :lol:
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