Sheu pensou que a Profª Blasek não tinha ouvido o seu bom dia e, sinceramente, acreditava que a professora sequer lhe dirigiria a palavra, mas um sorriso quase cruel revelou à garota que a bruxa estava ciente de tudo o que acontecia ao redor. Apesar de sua aparência estar um pouco... distante.
- Oh...E boa detenção, minha cara.
Sheu deu apenas um sorriso amarelo, mas ela sequer notou. Voltou-se para a professora e tentou, quem sabe, adiar um pouco mais o temeroso encontro de detenção, mas Sophie não entrou na dela.
-Ah...Bom dia? Oh sim! De fato, bom dia Srta. Castells...Não ,não, pode entrar, vamos logo terminar essa detenção para você e seu irmão estarem livres pelo resto do dia...
A garota deixou escapar um longo suspiro e entrou na sala. O espaço era amplo, bem organizado, cheio de livros e pergaminhos. O falcão de estimação da professora estava lá, mas Sheu não conseguia se lembrar do nome do bichinho. Havia uma porta lateral que a garota deduziu ser o quarto da professora.
*Engraçado, nunca imaginei como seriam os quartos de professores dentro de colégios internos. Pensei que existia uma parte especial no castelo para dormitórios dos professores, mas nunca que fosse dentro da própria sala*
A grifinória mal sentou-se na cadeira ao lado da mesa central quando o seu irmão praticamente invadiu a sala, sem bater, sem pedir licença e sem noção.
-Woow... sala bacana.
Sheu empalideceu e encarou os pés.
*Esse trasgo não pode ser meu irmão gêmeo*
- Sheu, maninhaaa. Onde você estava? eu só lembro de nós na biblioteca e... oopppsss...
*Você comeu bosta de dragão?*
A garota lançou lentamente um olhar mortificante, seco como o hálito de um dementador. Seu irmão tapava a boca ciente de que falara mais do que a língua e Sheu fechou as mãos, desgostosa da completa falta de discrição do irmão.
*Eu...te...mato*, pensou e fez mímica com as mãos de alguem sendo degolado.
A professora ignorou temporariamente o comentário do Jão e sentou na mesa para escrever alguma coisa. Sheu logo imaginou que se tratava de algo relacionado à detenção e desviou a atenção para os próprios pés. O silencio que se seguiu foi angustiante e Sheu imaginou se tortura psicológica fazia parte da detenção. Enfim a professora amarrou o pergaminho na ave e o liberou para ir embora.
*Será que é algo relacionado à Profª Blasek?*, pensou, mas a voz da professora não permitiu seu devaneio.
-Voltando...Bom dia Sr. João. Então após aquele bafafá todo que aconteceu no Salão comunal e no trem, os senhores ainda quiseram se arriscar andando pelos corredor, mais especificamente pela biblioteca no meio da madrugada? Acho que vocês gostam muito de uma detenção ou falta um pouco de juízo em suas cabeças...
*Bafafá?!*
Sheu não pôde evitar um sorriso. Não imaginava que professores podiam falar assim, mas Sophie era jovem, então deixou para lá. Focou-se no esporro que recebiam por terem se aventurado na biblioteca e, mais uma vez, fez cara feia para o irmão.
*O jão e sua língua grande*
- Nós temos juízo, professora. Quero dizer, eu tenho - e fez uma expressão desgostosa para o irmão
- Mas é que voltar para Hogwarts pelo segundo ano é um tanto emocionante, sabe? Não conseguimos dormir de ansiedade. Eu achei que explorar a biblioteca não teria nada demais, afinal, estamos aqui para aprender coisas novas, não é? Mas não adiantou muita coisa, porque parece que um furacão passou por lá.
A professora olhava para eles como se fossem a coisa mais interessante do mundo, como se fossem um enigma divertido a ser solucionado e isso deixou a garota desconfortável. Apesar da postura um tanto infantil e intimista, Sheu notou nos olhos da professora que ela não era apenas um rostinho bonito e puro. De repente e sem saber exatamente o que a levou a isso, Sheu acreditou que Sophie seria capaz de qualquer coisa.
-Antes de começamos a detenção, quero saber o que aconteceu lá na floresta, e não queiram mentir sobre o ocorrido, nada que vocês falarem sairá dessas paredes. Sempre é melhor a verdade, até porque se for um problema, eu talvez poderei ajudar agora, ou num futuro talvez...Segredos em tempos como estes, não são um bom trunfo meus caros...
*Ah, então é isso* pensou a garota
*O que tem de interessante nessa história para ela?*
A garota automaticamente desviou seu olhar para o grande portal na varanda, deixando seus olhos pousarem na visão da Floresta Proibida. Ainda era tudo um tanto confuso, como peças de um quebra-cabeças cujo modelo os gêmeos não tinham para montar. Por mais que a professora parecesse um anjo, a garota sabia que nada poderia ser puro demais. Contudo, uma vontade inexplicável de conversar com a professora a fez falar.
- Como eu disse no ano passado, professora, eu ouvi uma voz me chamando para me mostrar algo. Então acabei decidindo entrar na floresta. Foi uma coisa estúpida e perigosa, verdade, e nem sei ao certo porque exatamente eu fui lá com a cara e a coragem, mas eu acho que estivemos onde deveríamos estar. Então a gente sentiu um vento frio e de repente a floresta não parecia mais a floresta, mas era uma floresta, entendeu? - Sheu coçou a cabeça, pois não era fácil fazer sentido o que não fazia sentido
- E aí a gente teve uma visão...assim...nós dois juntos, como falamos no ano passado, na Ala. É...isso é uma coisa estranha que tem acontecido desde que chegamos na escola. Mas como somos gêmeos, acho que é uma coisa que faz um pouco de sentido, né? A visão era basicamente uma perseguição de um casal a um homem, terminando com a morte dele - disse olhando para a parede, parecendo um pouco distante
- Não era algo muito belo de se assistir... atacar um homem sem varinha a sangue frio...Só poderia ser ele...
A garota começou a pensar alto, esquecendo-se, por um momento de que estava sob o olhar atento da professora. Sheu manteve-se em silêncio por alguns instantes, remoendo as lembranças que tinha em sua mente, da perseguição e da morte do homem...os olhos frios e sem vida; os olhos com ódio transbordando e sede de vingança. Como se ouvisse um estalo, a garota voltou a si e notou que o irmão e a professora a olhavam com curiosidade.
- Acho que essa visão estava lá pra gente ver. Eu li num livro tempos atrás e nem tinha me tocado - mentiu descaradamente
- que existe essa coisa...essa tal de projeção presencial, sabe? Que pode ser uma lembrança de alguém que sem querer os bruxos captam. Mas eu não sei se para isso o bruxo tem que estar presente ou se basta estar no lugar... mas não havia ninguém lá além de nós dois, Nana e a senhorita, não é? Então eu realmente não sei.
Embora a pergunta soasse inocente, havia um quê de alfinetada na professora, afinal, nada impedia que ela fosse a mulher na visão que Sheu teve. A garota precisava eliminar as opções para tentar descobrir que rumo tomar para montar esse mistério. A aluna manteve com certa destreza sua expressão extremamente desinteressada a fim de que não levantasse suspeitas. Afinal, em tempos como este, nada impedia de que ela fosse a próxima vítima do ladrão-assassino de Hogwarts.
Off¹: demorado pq fikei sem net u.u
off²: se mata pq justamente qnd fikei sem net postaram pista u.u
off³: post coisadão O.O
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narração ~ fala ~ pensamento ~ outros personagens ~ off