Nana corria liderando o trio em fuga alucinada, segurando Sheu pelas mãos. A garota fazia o possível para não tropeçar nas pernas da prima logo à frente, o que fazia a sua corrida hilária para quem via. A garota corria com as pernas arqueadas, extremamente desengonçada e dava pulinhos para evitar encontrões com a prima. Nana, quando notou a forma como Sheu corria, parou bruscamente e quase deu um encontrão.
Ai Sheu desculpa! Hahaha você está tão engraçada correndo. hahahaha
Ha, ha, ha! - disse desgostosa -
Estou achando muita graça. Pois saiba que eu estava parecendo um centauro azarado por um feitiço de dança porque eu não queria que a gente caísse.
Sheu torceu o nariz e cruzou os braços. Nana parecia se divertir mais com a prima desengonçada do que preocupada com alguém da Zonko´s encontrarem eles ali. Por fim, Sheu também se entregou à diversão do momento e começou a rir de si mesma e da pequena aventura que tiveram. Apoiou as mãos no joelho, cansada com o pique que deram e de tanto rir. Limpou uma lágrima teimosa no canto do olho com o punho e viu Nana fazer uma expressão de fome. Logo em seguida, a prima pediu para que fossem na dedos de mel, pois seu estoque de feijõezinhos tinham acabado.
Ahh vamos na Dedos, preciso comprar feijoezinhos.. os meus basicamente acabaram. Me disseram pra nao comer aqueles que sobraram pq são vomito...Alias, foi o JM quem disse, e ficou com o saco...
JM! Seu descarado! Você ficou com o saco pra come-los né? Não tem gosto ruim coisissima nenhuma né?
A garota sorriu e balançou a cabeça negativamente para a prima, achando muita graça de tudo isso. Sorriu largamente quando Nana deu um pedala frontal no irmão.
- Ai, Nana! Só você mesma pra cair nos contos do Jão, sério! Ele não mudou, não. Desde o tempo em que ele dizia que se você não pegasse o sapo de chocolate antes do primeiro pulo, ele virava um doce amaldiçoado que fazia lavagem no estômago, eu não caio mais nessas coisas dele.
Dito isso, Nana tomou a direção da Dedos de Mel, com Jão correndo e pulando na prima, o que os levou ao chão. Sheu já se lascava de rir da situação quando sentiu algo estranho e olhou ao redor. Tudo parecia estar em ordem, contudo a garota percebeu quando uma página rasgada do Pasquim, jogado no chão, mudou abruptamente sua trajetória. O vento havia mudado de direção, apontando para o leste. Instintivamente ela direcionou o olhar para o final da rua e sentiu como se seu sangue tivesse congelado.
Parecia noite. Não, a noite estava apenas chegando e com a ela parecia que a escuridão ameaçava dominar o mundo. O coração da garota acelerou, num ritmo que ela não conseguia acompanhar. Bem perto, um outro som parecido a ajudava a acompanhar o galope de cavalos em disparada. Eles os perseguiam. Mas não era homens montados, eram centauros. Contudo, havia alguém ali. Alguém que não pertencia ao local, que não se encaixava, que parecia em fuga. Ele usava um capuz tão escuro como a noite e se camuflava em meio aos seres mágicos. O coração da garota tentou acelerar, ansiosa que ela estava por alcançar o grupo, alcançar aquele que era diferente, mas foi inútil. Eles desapareceram em direção ao luar que surgia.
O vento voltou a sua posição normal e a garota ainda arfante, pôs a mão no coração. Olhou para o irmão diante de si, que parecia engolir a seco. Decerto, eles haviam presenciado a mesma cena. Era ele o outro coração galopante, ao seu lado. O que significava tudo aquilo? Sheu queria ter respostas para o que via, queria tentar relacionar com alguma coisa. Seria uma lembrança? Uma alucinação? Uma visão? Seu irmão parecia ainda paralizado com o que havia presenciado.
- João?
Parecendo recordar da discussão, anterior, ele frustrou qualquer tentativa da garota em se aprofundar na visão que apareceu para os dois, como uma névoa que pairava, antecipando a madrugada fria.
- Não mesmo, os últimos são os melhores!
-Huuuuummm, quee bom este, é de morango com chocolate suíço! e este então, huuuuuuuuuuuuuummm, deliciaaa com gosto de vômito bléééééé
Os respingos do feijãozinho com gosto de vômito foram como dardos certeiros para o cashemira amarelo-dourado de Sheu e ela surtou, esquecendo-se de tudo.
- Que nojo, garoto! Eca! Sai pra lá, sai! E nem pense em limpar a boca em mim. Saaaaaaai.
Não ouvindo o pedido da irmã e sorrindo como sempre, limpou a boca nas vestes dela. Bufando como um touro, ela saiu correndo atrás dele, azarando o irmão de todas as formas possíveis, até que o alcançou e lhe deu um legítimo e forte pedala, fazendo tropeçar e cair alguns metros adiante.
- Isso é para vc aprender, seu chato!
______________________________________________________________________________________________
fala ~ pensamento ~ narração ~ outros personagens ~ off